Uma personalidade forte
Acho que uma personalidade forte é tida como uma qualidade - e, com muito orgulho, é das coisas que tenho certamente no meu "curriculum". De todas as coisas boas que posso ter (e que podem não ser consensuais) esta é, sem dúvida, a que gosto mais. Posso escrever bem, posso ser determinada, posso ser simpática e educada, mas a coisa que gosto mesmo mais em mim é a minha personalidade forte: e por isso incentivo-me, trabalho nela.
Achei curioso que, ainda há uns tempos, comentaram isso no meu facebook, que se lembravam de mim bem pequenina mas já com uma personalidade bem definida. Começou desde cedo, sempre fui assim, nunca consegui ser uma "Maria-vai-com-todas", nunca consegui não dar o remate final numa conversa, nunca consegui deixar de ver o outro lado da questão, nunca consegui ser flexível em alguns aspectos da minha vida ou em algumas opiniões mais vincadas.
Mas compreendo que essa mesma personalidade que é tida como uma qualidade, também afasta os outros a longo prazo - no início é muito giro, uma mulher com garra, que não se deixa deter pelos outros ou por opiniões fortes, vozes mais grossas, grupos ruidosos; mas por outro lado é chato quando calha a essas mesmas pessoas a sorte de não terem a mesma opinião que eu. Formam-se roturas, criam-se colisões às vezes definitivas.
E, mesmo para mim... às vezes custa tanto. Custa tanto mantermo-nos firmes, conforme os nossos princípios; às vezes custa tanto termos só a nossa voz para argumentar, quando temos todas as outras contra nós; o simples ato de nos levantarmos, firmes e sem vacilar, de uma sala, pode custar-nos os olhos da cara. Não sei até que ponto esta personalidade me trouxe mais tristezas do que alegrias, problemas do que felicidade; continuo a achar que vale a pena, que sou eu, que tenho a capacidade de me erguer perante o mundo e não ser igual a ninguém, não me misturar na carneirada que tanto detesto. Mas às vezes somos arrebatados e só me apetece desistir, mandar tudo e todos à merda, deixar toda a gente ir por maus caminhos, seguir modas, continuar a pensar segundo o modelo que lhes foi imposto ou foi ensinado, deixar que aquelas cabeças só sirvam para ter cabelo, que se intrometam na carneirada para, dali a pouco, serem como eles.
Mas depois de uma noite de descanso não consigo desistir, porque isso seria desistir de mim. E a minha personalidade, mais uma vez, volta a falar mais alto e eu torno a ter a necessidade de gritar as minhas verdades ao mundo, mesmo sabendo que cada vez menos pessoas as tencionam ouvir.