Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]

Entre Parêntesis

Tudo o que não digo em voz alta e mais umas tantas coisas.

19
Jul21

Uma história com princípio, meio e sim! #9

O fim de um conto de fadas chamado "vestido de noiva"

O vestido de noiva foi, provavelmente, o tema central dos seis meses de preparação do casamento. Isto aconteceu por várias razões: primeiro porque, apesar de nunca ter planeado casar, sempre adorei ver vestidos e era talvez a coisa que mais ansiava fazer – ver, vestir e escolher o meu vestido; segundo porque com as restrições de circulação e o fecho das lojas algures em Fevereiro, as minhas provas foram sendo adiadas – na prática o meu vestido foi feito em menos de dois meses, o que provocou taquicardias às pessoas mais próximas de mim; terceiro porque o vestido é sempre um tema importante, das coisas que as pessoas mais perguntam; e quarto porque eu própria fiz do vestido “o tema” quando quis que o meu namorado me ajudasse a escolhê-lo.

Mas comecemos pelo início. Mal marcamos o casório decidi logo que ia fazer o vestido no atelier da Pureza de Mello Breyner. Houve duas razões para o fazer, mas a principal foi o facto de sempre ter desejado um casamento único e diferente. Nesta altura já sabia que o casamento não se ia realizar em minha casa (e por isso, sendo numa quinta, já ia ser igual a 2453 casamentos) e sentia que o fator diferenciador estava a ir pelo cano; assim, quis mesmo que a peça central fosse feita só e exclusivamente para mim. Para além disso tinha na ideia fazer um vestido mutante, que se pudesse ir adequando ao longo da festa – e isso dificilmente se consegue numa loja de noivas normal.

Mas a verdade é que ao longo da minha vida sempre tive uma marca de vestidos de noiva que segui religiosamente e cujas coleções conhecia de fio a pavio há mais de dez anos: a Rosa Clará. Fiquei num impasse muito grande, em ir lá experimentar alguns dos vestidos que gostava, ou não; na verdade tinha medo de me apaixonar por algum, tendo já uma prova marcada na Pureza. Acabei por acatar o risco, depois de uma conversa com uma amiga que tinha casado há pouco tempo e que me disse uma grande verdade: experimentar não custa. A ideia de ir lá e saber que, à partida, não ia trazer nada... era-me estranha. Parecia que ia lá fazer perder o tempo das pessoas. E custa-me dizer que “vou pensar” quando na verdade já sei o que quero. Ainda assim, optei por ir: primeiro porque, apesar de tudo, estava com uma mente aberta (caso contrário nunca teria medo de me apaixonar por um vestido deles) e segundo porque sabia que ia ser uma mais-valia quando fosse construir o meu vestido. É importante perceber o que nos fica bem e mal, o que é confortável e, acima de tudo, se aquilo que temos em mente para nós próprias nos favorece. E a verdade é esta: ainda bem que fui!

Foi a primeira grande lição – e embate – em relação a este tema. A primeira coisa que me passou pela cabeça mal vesti o primeiro vestido foi que todo aquele processo era extremamente desconfortável: subir para o pedestal, colocar o saiote, estar praticamente nua, ter alguém a vestir-te e a pôr as maminhas e tudo no sítio. Uff! Depois veio a desilusão de cada vez que me olhava ao espelho: todos os vestidos, sem excepção, tinham qualquer coisa que não era do meu agrado. Eram todos lindos no geral – e, modéstia à parte, ficavam-me todos muito bem – mas no particular, nos detalhes, falhavam todos em qualquer coisa. E, para mim, os pormenores são essenciais pois acredito que são eles que dão magia ao todo.

Tinha levado uma lista dos vestidos que queria experimentar e rapidamente percebi uma coisa: aquilo que nós vemos na internet está longe de ser a realidade. Ou então, fazendo aqui um trocadilho, é a realidade... mas vista de longe. Eu achei que tinha escolhido vestidos simples mas todos eles tinham um fru-fru ou blink-blink que não se via nas fotografias. Eram lantejoulas, brilhantes, missangas. Os tules nunca eram simples: ora tinham bolinhas ou cortes estratégicos. E isto para não falar do que é tê-los vestidos! Um dos meus vestidos favoritos, que andava a namorar há meses (mesmo antes de ficar noiva), tinha mangas compridas – mais uma vez, tooooodas recheadas de missangas. E o desconforto que aquilo é, a arranhar-nos os braços, quase como se 100 formigas andassem ali para cima e para baixo (e de vez em quando dessem umas picadinhas)? E o peso das trinta camadas de tule? E a dificuldade de movimentos que um saiote implica? Experimentei até um vestido cai-cai, sob a sugestão da senhora que me atendeu; levar uma peça sem alças não era uma opção, mas lá lhe fiz a vontade, o que só serviu para ter mais certezas daquilo que já queria. Para mim não se tratava de um vestido, mas sim de um autêntico espartilho! O corpete tinha pelo menos seis arames à volta do tronco para garantir que nada saía do lugar – e, de facto, era eficaz. Tão eficaz que respirar se tornava numa tarefa hercúlea... e eu gostava de não morrer no dia do meu casamente.

Houve um vestido que gostei, no geral, mas cujos detalhes não me convenceram – pedi o orçamento para ter uma ideia daquilo que me esperava e saí da loja com um gigante peso no peito. Hoje, olhando para trás, percebo que corri o risco e valeu a pena, no sentido em que não adiei o inadiável: um gigante balde de água fria que me viria a acompanhar até praticamente o final do processo. O conto de fadas caiu logo por terra – o que foi bom, porque iria acontecer mais cedo ou mais tarde.

Diria que nada ali foi óptimo: nós estavamos com o tempo contado, pois a prova ficou entalada entre as várias visitas a quintas que tínhamos marcadas para aquele dia. O stress, portanto, não ajudou. Acho que apesar de simpática, a senhora que me atendeu também não foi perspicaz o suficiente para perceber a onda em que estava e aquilo que eu gostava, sugerindo-me coisas que não estavam dentro dos meus gostos ou exigências para o vestido. Depois de sair de lá, enquanto digeria tudo aquilo, fui ver os vestidos que tinha experimentado e vi muitos outros que me podiam ter sugerido e que, quiçá, me tivessem convencido mais. Mas enfim! A cereja no topo do bolo, para mim, foi sentir-me forçada a tomar uma decisão por causa da "falta de tempo" - se quisesse um vestido para Junho, tinha de o comprar naquele momento, pois cinco meses era um prazo muito apertado. Pressão nunca ajuda - muito menos quando implica uma compra de uma peça de roupa no valor de milhares de euros. E, assim, saí da loja de mãos a abanar - algo que já previa, pois tinha ideia de mandar fazer o vestido. A questão não estava nas mãos vazias, mas sim no coração apertado com que saí de lá. 

Durante anos vi fotos e fotos de vestidos que, percebi naquele momento, não correspondiam à realidade - se por um lado parecem muito maiores, fluídos e confortáveis do que são verdadeiramente, por outro todos os detalhes (para o bem e para o mal) ficam escondidos aos olhos das lentes fotográficas. Também não ajudou ter visto demasiados episódios do “Say Yes to the Dress”, com pessoas a encontrar os seus vestidos de sonho.

Porque eu não tive o meu. Senti-me frustrada, triste... quase enganada. Foi um monte de expectativas derrubadas de uma só vez que fizeram com que este tópico passasse de um dos mais ansiados do meu casamento para um dos mais temidos. E eu não sabia o que ainda estava por vir. 

 

(continua...)

vestidos.PNG

2 comentários

Comentar post

Pesquisar

Mais sobre mim

foto do autor

Redes Sociais

Deixem like no facebook:


E sigam o instagram em @carolinagongui

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Leituras

2024 Reading Challenge

2024 Reading Challenge
Carolina has read 0 books toward her goal of 25 books.
hide


Estou a ler:

O Segredo do Meu Marido
tagged: eboook and currently-reading
A Hipótese do Amor
tagged: currently-reading
I'm Glad My Mom Died
tagged: currently-reading
Spare
tagged: currently-reading

goodreads.com

Arquivo

    1. 2024
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2023
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2022
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2021
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2020
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2019
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2018
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2017
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2016
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2015
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2014
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2013
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2012
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2011
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D