Uma história com princípio, meio e sim! #8
As idiossincrasias das quintas e a derradeira escolha de um espaço
Não fui com a mente propriamente aberta aquando da visita às quintas. No total visitamos sete espaços: a Quinta das Camélias, a Quinta do Avesso, o The Astoria, o Palacete Camarinha, a Quinta de Sonhos, a Casa Montevidéu e a Quinta do Alferes de Crasto - tudo em três dias, num autêntico tetris de horários e disponibilidades, porque sabíamos que em breve tudo iria fechar portas e precisávamos de ter uma decisão caso quiséssemos que o casamento andasse para a frente ainda este ano.
A primeira, claro, foi a mais visada pelo meu mau humor, pois a ideia de não fazer o casamento em casa ainda não estava interiorizada e a minha vontade de o fazer noutro sítio qualquer era praticamente nula. Mas a verdade é que foi um teste para fazer logo uma lista daquilo que queria num espaço, já que a minha casa estava posta de parte. De um ponto de vista estético, a ideia era que o tema fosse rústico, com muitas madeiras (soalho era um ponto fulclar) e folhas verdes. Mas, acima de tudo, eu precisava de me sentir livre - livre de fazer mudanças e escolhas no que diz respeito à decoração, livre para definir o plano do meu dia sem grandes entraves (e isto refere-se a horários, locais e etc.), livre de alguém do protocolo que me estivesse sempre a guiar, como se de uma criança se tratasse. Era esse o meu maior requisito, que nem sempre é fácil de perceber numa primeira reunião ou visita. O que me leva a outro ponto: o anfitrião. É esta a pessoa que nos explica o conceito por detrás de um espaço e eu nunca achei que alguém pudesse ter tamanha importância na nossa decisão. Mas a verdade é que tem. Identificarmo-nos com alguém é meio caminho andado para dizermos que sim e fazer negócio - e houve vários sítios em que isso não aconteceu.
Percebi duas coisas: 1) há quintas que querem realizar casamentos à sua medida, não à medida dos noivos - o ideal, claro, é que estas duas ideias coincidam, mas quando assim não o é, e mesmo que o negócio esteja em causa, a disponibilidade para mudar é pouca. Um exemplo: num dos sítios as mesas estavam dispostas em linha reta, corridas; perguntamos se as podíamos espalhar pelo espaço (até por causa do covid), e a resposta é que a quinta não se identificava com esse conceito, que o que fazia sentido eram mesas grandes como se fosse um jantar de família. Fiquei muito confusa - e embora mais razões tenham pesado para descartar este espaço (que, só por acaso, era o que eu mais gostava do ponto de vista estético), só este "pormaior" me fez desistir e passar para outra. 2) As soluções chave na mão devem ser algo muito procurado, pois quase todas as quintas têm parcerias e tudo projetado para poder fazer tudo sem que os noivos tenham de se preocupar de sobremaneira. Acho que é uma faceta de tal forma vincada que as quintas se adaptaram e acomodaram ao fácil, fazendo sempre tudo da mesma forma. Em vários espaços me disseram que "o noivo entra por ali, a noiva depois entra por aquele portão, e o corte do bolo é em cima daquela ponte sobre o lago, onde vão sair alguns cones de fogo de artifício". E se eu não quiser entrar por aquele portão? E se me apetecer cortar o bolo na mesa? E, imagine-se, se não quiser fogo de artifício!? Ser tudo tão óbvio e pensado só me recordava do quão único iria ser um casamento em minha casa - e como agora, sendo numa quinta, iria ser igual a outros 589 que lá tinham feito.
Estas duas questões encostaram logo o The Astoria e a Quinta das Camélias para canto - embora ambas sejam esteticamente bonitas (a Quinta das Camélias é demasiado "branca" para o meu gosto, com misturas de dourados que também não me convenceram, mas foi a favorita dos meus pais). O Palacete Camarinha é uma pérola escondida, mas para um conceito de casamento que não era o meu - muito mais indicado para quem sonha com um casamento de princesas. A Quinta de Sonhos ficava numa zona que não nos agradou e o espaço era pequeno -esta última característica foi comum à Casa de Montevideu (onde fomos super bem tratados!) e a Quinta do Avesso (que tinha o look e o conceito perfeito, tal e qual como desejávamos, mas com um espaço muito limitado).
Ao nível de preços, as quintas que visitamos oscilavam entre os 80 e os 140 euros (menus base) por cabeça. No entanto é preciso ter muita atenção a tudo o que está ou não incluído - há quintas que não incluem a decoração floral, por exemplo, o que vai logo mudar os preços finais. Para além dos serviços acrescidos com outros parceiros (quase todas elas aconselham um determinado fotógrafo ou DJ), estes espaços funcionam com base em escalões - o mais baixo tem, por exemplo, dois tipos de buffets e qualidades de vinho mais "fracas", o intermédio já tem mais um buffet e já oferecem o bolo, assim como bebidas de mais nome; e o alto já tem mariscos, sushi's, champanhe e coisas que tais. Tudo o resto é pago à parte: se quiserem um copo ou um prato diferente, um centro de mesa mais pomposo, uma mesa de madeira, um bar de cocktails... enfim! É normal que também se cobrem pela execução do casamento civil, devido à preparação do local e decoração. É por isso muito fácil ver a conta a crescer se não estivermos atentos e as prioridades bem definidas.
A nossa escolha acabou por recair sobre a Quinta do Alferes de Crasto, acima de tudo, por três razões: primeiro por ser linda (muito amadeirada, tal como queria) e ter um espaço exterior muito amplo, com sol, sombra e muitos lugares onde sentar, ideal para estes tempos de pandemia onde tudo o que se quer é distância e ar livre; segundo por ter aquilo que achamos ser a melhor relação preço/qualidade - das quintas que visitamos, situa-se num ponto intermédio no que diz respeito ao preço por cabeça; terceiro, por termos sentido versatilidade, liberdade de movimentos e de escolha por parte da quinta, que dentro dos espaços e serviços que dispõe, estão abertos a sugestões e àquilo que os noivos desejam fazer.
Foram cerca de cinco meses de preparação e nem tudo foi um mar de rosas - algo que também aconteceu devido ao volume inacreditável de trabalho que estas quintas estão a ter nesta fase. Toda a gente se casou este ano! Penso que ajudou muito sermos uns noivos descontraídos, pois acho que me teria sentido muito desamparada se fosse uma noiva muito preocupada/stressada; não senti que o acompanhamento tivesse sido incansável - foi profissional e o suficiente, mas para pessoas mais ansiosas, creio que é pouco.
Houve alguns episódios no decorrer das visitas e do planeamento que também não nos agradaram. Um que me chateou particularmente, porque sou muito picuinhas neste tópico, foi dizerem à minha cunhada (à minha frente) que os noivos não têm de saber de tudo, que aquele é um dia de surpresas. Acho que isto é única e exclusivamente da decisão de quem vai casar - e cabe à pessoa que está encarregue do nosso casamento fazer uma leitura do tipo de noivos que tem à frente ou, pelo menos, ser cautelosa. Nunca gostei de surpresas - muito menos num dia que andei meses a preparar ao pormenor! O que se tem de fazer nestas situações é falar com os noivos e perguntar se há algum convidado que tenha flexibilidade para fazer surpresas, tomar decisões ou comandar a festa quando nós não podemos ou é suposto não sabermos de algum pormenor. Esse alguém deve ser apontado por nós - senão, do nada, tínhamos um discurso da tia-avó afastada que só nos vê quando o rei faz anos... e as coisas não podem funcionar assim. Se forem como eu mais vale porem as cartas em cima da mesa e serem claros: não há surpresas a não ser que se trate disto ou daquilo, organizado por aquela ou outra pessoa.
O incidente mais grave aconteceu na primeira prova de degustação. A quinta mudou o catering com quem costumava trabalhar e aquele foi o primeiro jantar que serviram para um conjunto de noivos e suas famílias - e foi um autêntico desastre, desde o rissol de entrada até ao bolo de bolacha da saída. Foi tão mau que diria que os nossos pais puseram a realização do casamento em causa. Ficamos com o coração nas mãos. Eu não tinha as expectativas altas - servir boa comida em eventos deste género, onde tem de se dar de comer a mais de 100 pessoas, é uma tarefa difícil. Mas vai um longo caminho entre comida razoável e aquilo que nos serviram - e o pânico ficou instalado. Depois de reunião de urgência e reclamações veio uma nova degustação - e a diferença foi da noite para o dia. Tanto na comida como no tratamento - desta vez já pudemos escolher os acompanhamentos, trocar isto por aquilo, de forma a que os pratos ficassem mesmo a nosso gosto.
Tal não impediu que, até ao dia do casamento, não ficássemos com o coração nas mãos, em dúvida com aquilo que tinha acontecido (coisa que ainda hoje não percebemos), mas tudo caiu por terra no final do dia D. Arrisco-me a dizer que foi das melhores comidas que já provei em eventos desta envergadura - e que estava tudo ainda melhor que na segunda degustação. Houve muita gente a repetir ambos os pratos, tanto de peixe como de carne, e nós não podíamos ter ficado mais felizes.
Da quinta também não temos nada a dizer: todas as guidelines que tínhamos dado em termos de decoração foram cumpridas (nós levamos muita coisa de casa - menus, placas decorativas, table sitting, etc), foram-se adaptando às contrariedades do dia e aos atrasos típicos (o dia começou chuvoso, por isso estavam a montar a cerimónia no interior - algo que mudaram uma hora antes do início da mesma, quando se aperceberam que o sol começou a aparecer)os atrasos são inevitáveis) sem nos chatearem de sobremaneira, estava tudo lindo, limpo e com um serviço impecável, com pessoas atenciosas e muito educadas. Não podíamos pedir mais. Apesar de não ter sido o sonho inicial, diria que nos saiu melhor que a encomenda - e ficamos 100% satisfeitos, assim como toda a gente com quem falamos.




(as fotos do casamento só deverão chegar algures pelo Natal - pelo que, por agora, só tenho poucas fotos para vos mostrar do meu dia. quando as receber, eventualmente, atualizarei os posts. quanto às outras quintas, uma breve pesquisa será suficiente para verem imensas fotos!)







