Uma história com princípio, meio e sim 4#
Casar em casa ou numa quinta?
Este post podia chamar-se "a segunda grande - ou gigante, vá - cedência".
Se eu um dia casasse, iria fazê-lo em casa. Foi essa a premissa com que cresci, embora durante muitos anos casar não estivesse na equação. Quando me juntei ao Miguel e se começou a ver a seriedade da coisa, o meu pai relembrou-me: se te casares, casas aqui! E, neste caso, eu partilhava da sua vontade.
O meu irmão - o único casamento "a sério" na minha família nos últimos 25 anos - casou numa quinta, mas a verdade é que, principalmente do lado do meu pai, sempre houve a tradição de se fazer casamentos e festas de grande calibre dentro de portas. A minha avó já estava calejada, com vários casamentos, batizados e comunhões celebrados na sua casa, que era bem mais pequena que a nossa. A minha própria festa de batizado foi lá - e dizem que foi tudo óptimo! Também os meus sobrinhos tiveram a sua festa de batismo em casa dos meus pais - montou-se uma pequena tenda, contratou-se um serviço de catering e estava a festa pronta. Foi a primeira que fizemos e a que recorremos a serviços de fora, montagem de infraestruturas e etc., mas correu tudo bem e ficou-se com a ideia de que era uma coisa viável para se repetir.
Mas se no batizado dos meninos éramos uns 60, no meu casamento poderemos chegar aos 170. Mal soube deste número liguei ao meu pai, que tem uma noção de espaço bem melhor que a minha, já com a pergunta na ponta da língua: "é possível pôr está gente toda lá em casa?". Ele respondeu que sim. Um alívio!
E aí começamos a pensar na logística da coisa: onde seria o copo de água, a cerimónia, o espaço de dança; já tínhamos uma ideia mais ao menos concreta e contactamos empresas de aluguer e montagem de tendas e pedimos orçamentos. Quando começamos a olhar para os espaços fomos colocando "e se's". Haviam sempre detalhes que não nos agradavam ou que não eram exequíveis - ou, quando eram, aumentavam os preços de forma louca. É engraçado pensar que uma casa pode ser enorme, mas que por vezes nenhuma área se adequa perfeitamente àquilo que precisamos ou idealizamos; a ideia era fazer tudo no exterior, com recurso a tendas, mas a certa altura tudo se complicou - ora porque havia árvores no meio, ora porque o chão não estava nivelado, ora porque havia elementos que iriam ficar no centro dos espaços e que não eram possíveis de remover... um sem fim de coisas. Depois partimos para outros problemas: e as casas de banho, como era? Utilizavam-se as dos quartos? E o catering, onde ficaria, tendo em conta que queriam água, fogões, fornos e coisas que tais? E os cães, onde ficavam? Podiam estar presos, mas iam ladrar a cerimónia inteira... E os meus pais, onde dormiam naquela noite perante todo o barulho? E se os vizinhos se queixassem? E se a tenda ocupar o espaço de passagem dos carros, como é que se vai passar para o interior? E quem vai limpar a bagunça toda depois da festa?
Fui vendo as pessoas a desistir uma a uma perante os entraves que iam aparecendo a cada ideia que tínhamos. Eu fui a única que me mantive firme na minha vontade. Sabia que ia dar mais trabalho. Sabia que ia ocupar mais tempo. Sabia que ia custar mais caro. Mas era o meu casamento e ia ser único - não ia haver fotos no mesmo sítio que 356 casais, não ia haver protocolo definido, não ia haver um igual. A ideia do controlo e da flexibilidade total das coisas deixou-me agarrada até ao último minuto. Queria muito poder escolher tudo, desde as coisas mais macro (onde montaríamos as tendas e a própria data do casamento) até aos detalhes mais micro (as flores, toda a decoração, o altar). O paraíso de qualquer control-freak.
Iam-me dando sempre conselhos em contrário, com argumentos muito válidos. O mais relevante de todos era de que um casamento em casa iria dar mais trabalho e custar mais dinheiro do que um numa quinta, onde tudo estará pronto sem termos de nos preocupar com o antes, o durante e o depois. E eu sabia que sim, mas continuava agarrada à ideia de casar em casa, embora o saco dos contras fosse pesando cada vez mais nas minhas costas.
Acedi a ir a uma quinta sob o mote de ter noção dos preços praticados e para tirar ideias em relação a toda a organização (tanto em termos de timings como de espaço) - mas sabia que, lá no fundo, aquilo era o princípio do fim do meu casamento de sonho. Apercebi-me disso mal nos metemos no carro, após a primeira visita, e toda a gente se mostrou deslumbrada com o espaço, enumerando todas as coisas maravilhosas de que gostaram. Só eu é que tinha uma lista maior de contras do que de prós - e fiquei tristíssima quando percebi que o meu casamento ia mesmo acabar por ser mais um num calendário cheio deles, igual a todos os outros, nos moldes em que outras pessoas o queriam.
Sem saber muito bem como, a partir da visita àquele primeiro espaço, comecei num sprint de quintas que só terminou no último dia de desconfinamento - e já com uma quinta escolhida. Foram cinco dias de loucura pura, de um cansaço horrível e de um processo de luto do meu próprio ideal de casamento... que foi triste e duro para mim.
Sei que a decisão foi para bem de todos e não estou arrependida - mesmo ainda não tendo o casamento acontecido. Para mim os problemas não eram o trabalho nem o dinheiro - mas coisas tão simples como o conforto e a paz dos meus pais (e dos meus cães) e o fator de instabilidade que o processo iria criar em todos nós. Gosto da quinta que escolhemos - tanto pelo espaço como pela flexibilidade que me proporcionam, que me traz de volta um bocadinho da sensação de controlo que tanto gostava num casamento em casa - e acho, no fundo, que tomamos a decisão certa. Mas as decicões certas também doem.