Uma história com princípio, meio e sim! #18
Os momentos de um casamento diferente
A entrada dos noivos (errrr, perdão - do noivo)
Basta recordar um dos momentos mais marcantes do meu casamento para se perceber que se tratou de uma cerimónia diferente do habitual. Ao contrário de todos os outros, é da entrada do noivo que todos se lembram. A minha entrada foi "normal"; a do Miguel foi "A" entrada.
Começou por ser uma ideia "parva" e um tanto ao quanto descabida... até ao momento em que se tornou realidade. Os meus sobrinhos, ao saberem que as irmãs/primas iam ser as minhas meninas das alianças, indignaram-se por os rapazes não terem nenhum papel de destaque no casamento. Aí o Miguel lembrou-se de os incluir na sua entrada... mas com um twist inesquecível: os rapazes escoltariam o Miguel até ao altar ao som da Marcha Imperial do Star Wars, todos vestidos a rigor: Stormtroopers, Boba Fett e Darth Vader. Correu tudo lindamente: os miúdos guardaram segredo (até dos pais!) durante uns cinco meses, os fatos eram super giros (mandamos vir da Amazon) e toda a gente ficou a perceber que não estavamos ali para brincar - pelo menos na parte em que dissemos que aquele ia ser um casamento para mais tarde recordar, recheado de trunfos na manga, que guardamos em copas durante todo aquele tempo.
Eu e o meu pai, presos no camarim, fomos os únicos que não testemunhamos este momento - mas soube, mal entrei, que tinha sido épico.
A minha entrada é dos momentos que não gosto particularmente de recordar: primeiro porque estava chateada por ter estado tanto tempo presa no camarim, segundo porque fiquei ainda pior quando percebi que a música que estava a tocar não era a correta e terceiro porque contempla um momento de sufoco para mim, em que já consigo olhar para o altar e vejo o Miguel a chorar como uma perdido à minha espera. Para muitos é fofinhó-coiso, para mim é só sinónimo de sofrimento, ver alguém a chorar assim, mesmo que seja de emoção ou felicidade.
Por isso a entrada resume-se a isto: ao Miguel, ao seu Star Wars e eu, finalmente, a chegar até aos braços dele.
Os votos e a cerimónia
A cerimónia foi feita pelo meu irmão mais novo - algo que, mais uma vez, partiu de uma ideia à partida parva e descabida, mas que acabou por se tornar realidade. Os meus irmãos são das pessoas mais importantes da minha vida e eu queria muito que tivessem um papel preponderante neste momento. Assim, a minha irmã e o meu irmão mais velho foram os padrinhos - uma escolha particularmente difícil no campo masculino, tendo em conta que tenho dois irmãos e não queria deixar um de fora. A solução? Incluir o não-pradrinho na cerimónia e, assim, cada um teria o seu papel.
No início ainda estivemos na dúvida sobre o que fazer: levar o conservador à quinta, contratar um cerimoniante ou arriscar de facto no meu irmão para esse papel. Fomos pela última hipótese; costumo dizer que é o meu irmão palhaço, por isso aquilo tinha tudo para correr bem. Queríamos muito que a cerimónia fosse intimista, muito nossa; que o cerimoniante nos conhecesse, que conseguisse falar com conhecimento de causa. A vantagem aqui era poder juntar uma pontinha de humor e que, embora emocional, a cerimónia fosse também divertida para quem estivesse a assistir.
Mais uma vez foi uma "idiotice" que nos saiu melhor que a encomenda. O meu irmão, nervosíssimo, foi muito mais sério no discurso do que aquilo que eu imaginava - mas saiu-se lindamente, com palavras lindas e muito emotivas também.
As madrinhas leram um texto cada uma (com muitas lágrimas à mistura) e depois chegou a nossa vez. O dele lido com a voz embargada e carregado de emoção; o meu, já quase decorado de tantas vezes o ter rescrito e relido, declamado ao mesmo tempo em que olhava de soslaio para o meu marido, com direitoa algumas piadas pelo meio, para que tudo aquilo não fosse só choro. Foram momentos muito bonitos e muito especiais, em que o poder das palavras tomou uma dimensão enorme e nos encheu o coração de amor.
A entrada na sala
Confesso que sempre achei este momento-cliché um bocadinho parvo, mas acabou por ser provavelmente o meu preferido de toda a festa. Primeiro porque foi precedido pelos únicos cinco minutos que tive sozinha com o Miguel, no camarim, enquanto toda a gente entrava na sala e se sentava - e como é bom saborear o silêncio num dia como este, ao lado da pessoa que está no olho do furacão connosco! Segundo porque foi genuinamente feliz e improvisado, desprovido de stress, tensões ou emoção em demasia e em que a música (Crazy Little Thing, dos Queen) estava em harmonia perfeita com o nosso estado de espírito. Diverti-me imenso a rodear as mesas, a dançar (sob o olhar de espanto dos meus convidados) e a poder olhar para as pessoas que partilhavam este dia connosco. Com o bónus de, no final, termos dado abraços bem apertados às duas mesas mais especiais do nosso casamento: a nossa (com os nossos pais) e a dos padrinhos. Recordo-o com saudade.
O vídeo e o discurso aos pais
O almoço ia a meio mas as surpresas ainda estavam só no início. Primeiro foi para nós, depois foi para os outros.
A irmã do Miguel, numa homenagem à vida de ambos, fez um vídeo cheio de fotos nossas, recordando todo o percurso que havia de nos levar até ali. Um gesto que eu, confesso!, já esperava - mas que independentemente da expectativa, de se saber ou não, nos comove sempre. Não só por olharmos para o passado mas por percebermos que houve quem dedicasse o seu tempo para nos proporcionar aquele momento.
Depois chegou a nossa vez. Se os irmãos são das pessoas mais importantes das nossas vidas e os queríamos incluir neste dia, os nossos pais deram-nos vida e, como tal, não podiam ficar de fora. No bolso do Miguel escondia-se um pequeno discurso, escrito um par de dias antes do casamento, que lemos para os nossos pais, como forma de expressarmos por eles o nosso amor e um agradecimento público por tudo aquilo que nos proporcionaram até ali - incluindo aquele momento. Algures na minha parte, agradeço-lhes por aturarem e acederem às nossas maluqueiras e manias, ao que o meu pai diz, a alto e bom som: "que remédio!". Ouviu-se um riso generalizado - pois sabiam que, no fundo, é verdade ;)
Depois do riso veio a descompressão, naquele que para mim foi o momento mais emotivo de toda a festa. "Casamento" e "pais" não são, para mim, palavras fáceis de conjugar - e acho que, de uma forma geral, este é visto como um momento de rompimento na relação entre os filhos e os pais. Nunca concordei com essa forma de pensar, fiz tudo para que não acontecesse, mas não quer dizer que não me afete. E ali, num dia tão recheado de emoções, não tive como fugir àquele momento.
A música ao vivo (e o jogo de Portugal)
Já contei aqui que a música ao vivo foi uma decisão de última hora - mas foi a melhor decisão do mundo! O S. Pedro colaborou e os nossos planos puderam ir avante, por isso o concerto foi no exterior e pudemos todos estar sem máscara, distanciados e a desfrutar do dia e da música incrível que os Simple Sound nos proporcionaram.
Percebi que, sim, é possível fazer um baile à tarde. Que sim, é possível ser ao livre. Que vale a pena não ter medo de arriscar em coisas fora do comum, porque compensa em dobro! Pude confirmar a minha teoria, de que não é preciso escuro, luzes loucas e bolas de disco para se fazer a festa. Foi um momento incrível, com a melhor vibe de todo o casamento. Se me dissessem que todas as festas eram assim, eu passaria a ser uma party person.
Se toda a gente aproveitou? Não. Ficaram na sala os mais velhos, os mais friorentos (se dançassem, o frio passava logo) e os mais chatos. Ah, e os futeboleiros. Tivemos o azar do casamento calhar em dia de jogo decisivo para Portugal, em pleno europeu. Fomos obrigados a tomar uma decisão: ou fingir que o jogo não existia ou aceitar e embarcar na viagem de ver um jogo em conjunto. Não havia opção ideal - isso seria não haver futebol. Mas havia e, com as novas tecnologias, metade dos homens ia estar agarrado ao telemóvel a ver o resultado em tempo real. Por isso aproveitamos o projetor que já tínhamos alugado para o vídeo e projetou-se o jogo. Muita gente não foi à partida para o exterior por causa disso; outros ouviram parte da música e, à hora marcada, subiram para ver o futebol.
Preferimos assim. Como diz o ditado: só faz falta quem cá está, e na plateia dos Simple Sound foi isso que senti. Nós, os noivos, não vimos nem uma coisa nem outra por completo: do concerto tivemos de sair a meio para ir tirar as fotos ao pôr-do-sol (com muita pena minha, pois estava gostar MUITO); do jogo só vimos o fim, com Portugal já a perder. É a vida. Foi da maneira que não "estragou" mais casamentos.
O corte do bolo
O corte do bolo tem todo um protocolo (que só nos dizem três minutos antes de acontecer) e por isso - mais uma vez! - é um momento pouco natural. Se por um lado dá fotos espetaculares - nisto tenho de dar o braço a torcer - por outro é só mais uma coisa feita de propósito para o livro de recordações. Aqui não mudei de ideias: se de facto desfrutei da entrada na sala (quando achava que não ia acontecer), aqui foi só o cumprir do momento. Se foi bonito? Foi. Se foi giro? Também. Se acrescenta valor? Nem por isso.
Mas a verdade é que as pessoas adoraram, elogiaram imenso o momento e creio que o retiveram na memória. Nesse aspeto fico feliz em ter cedido na questão do fogo de artifício em cascata (não queria porque, lá está... #clichê) porque dá um efeito diferente, algo mágico. Sem isso o corte do bolo seria só mais um momento do protoloco ainda mais sensaborão.
A primeira dança (aliás, canção), a valsa e o baile
Já se tinha passado todo um dia de festa mas nós ainda tínhamos uma surpresa na manga. Provavelmente a maior de todas.
Nunca gostei de dançar - e desde o ciclo que tenho muita vergonha em fazê-lo em público, por causa de umas aulas horríveis que tive na altura. O Miguel não tem traumas do género, mas não é atividade que lhe dê grande gozo. No fundo é como eu, que danço quando o rei faz anos... ou quando alguém se casa ou há uma passagem de ano animada ao ponto de me fazer mexer as ancas. Por isso só a ideia da "primeira dança" me (nos?) dava arrepios. Decidimos logo que essa seria uma das tradições que passaríamos à frente. Mas queríamos algo que servisse para abrir a pista, altura em que toda a gente se juntaria e não seríamos só nós o centro da atenção. E o que fizemos? Cantamos.
Algures em Março estava muito em voga a música "Maldita a Hora", do João Só; o Miguel passava a vida a cantarolá-la quando chegava a casa e, quando ouvimos com atenção a letra, percebemos que fazia todo o sentido na nossa história. Passamos por várias fases: ser outra pessoa a cantá-la para nós, ser o Miguel a cantar esta música e eu cantar outra, mas acabamos por fazer um dueto no casamento. Acho que foi o dueto mais improvável da história, tendo em conta a cara das pessoas que nos rodeavam. Eu prefiro cantar a dançar, mas o Miguel prefere não fazer qualquer das duas coisas. Foi, mais uma vez, uma prova de amor. E, dadas as reações, a garantia de que vale a pena fazer diferente, se assim desejarmos.
A dança veio depois. O mote foi dado por uma valsa que a família da minha mãe ensaiou e que trouxe muita gente para a pista. Foi um momento clássico mas muito giro, e que agora já não é assim tão comum - se antes de começava sempre com valsas, agora são as músicas contemporâneas que chamam as pessoas à pista. Mais uma coisa que combina connosco, velhinhos de alma, que demos de frosques mal a coisa começou a virar mais arockalhada.