Um reencontro forçado - um texto do concurso de escrita criativa
Dado o feedback sobre no último texto sobre o concurso de escrita criativa, aqui vai uma das minhas participações. O mote: um reencontro entre quatro amigos, 20 anos depois de se terem visto pela última vez.
A sua respiração estava pesada, depois de começar a subir a escadaria. Nestes momentos lembrava-se que já não tinha quinze anos e que a idade começava a pesar – nomeadamente nas suas pernas, que se faziam sentir depois de meia dúzia de degraus.
Ao cimo, um homem estava encostado ao corrimão, abatido. Quando chegou ao topo, viu-lhe a camisa apertada pela barriga, a cabeça calva e os olhos azuis, que naquele preciso momento deixaram de ser estranhos.
- João, não me reconheces? – disse, ainda a recuperar a respiração.
- Não posso crer! Joel, aos anos! – Encontraram-se num abraço ruidoso, por entre as palmadas características de quem não se vê há demasiado tempo. – Como estás?
- Pergunta mais “como estamos”. Velhos, pá. E gordos, olha só para ti… para nós! – respondeu, arrependendo-se logo do que dissera, esquecendo-se que já não estava a falar com o amigo de antigamente.
- É verdade… Enfim, pena encontrarmo-nos nesta situação. Como é que soubeste? – perguntou João.
- Li no jornal. Quis vir cá vê-lo. E tu?
- Também. É assim a vida… Está lá dentro o Manel, encontrei-o há pouco.
Entraram na sala escura e Joel sentiu um misto de sentimentos. Que bom era voltar a estar na mesma sala com quem partilhava as suas raízes; que triste ser esta a ocasião. Lá estavam os quatro, de novo, vinte anos depois. Os seus três melhores amigos da primária: João, o aventureiro; Manel, o dono da casa com o melhor quintal da vila; e o Carlos, o autor das histórias mais memoráveis. Que saudades tinha daqueles tempos, em que jogar à bola e saber quem seria a vítima das próximas tropelias era a maior das suas preocupações.
Hoje, arranjar flores foi o seu principal problema. Não podia deixar de se despedir do seu velho amigo.