Um povo dado a proximidades
Nós, portugueses, temos necessidade de calor humano. É esta a conclusão que eu tiro depois de várias idas - e já alguns anos de experiência - à praia.
Se há coisa que me irrita quando entro nas praias portuguesas é ver toda a gente amontoada, com 40 centímetros de distância entre toalhas vizinhas como se a praia fosse pequena. É guarda-sóis colados uns aos outros, são pessoas às camadas, umas por cima das outras, quase sem espaço para respirar. E eu pergunto: PORQUÊ? Custa assim tanto andar meia dúzia de metros, dói assim tanto nos pézinhos de princesa, queima demasiadas calorias para o típico Zé Povinho que tem de fazer a manutenção da sua barriguinha de cerveja?
Ainda ontem, depois de andar umas centenas de metros, eu e a minha mãe nos sentamos numa área onde não tinha muita gente, para podermos estar mais à vontade. No segundo em que parámos para assentar as coisas aparecem 4 jovens um pouco mais velhos que eu, que se estendem a um metro atrás de nós: um gesto de mau gosto, tendo em conta que nós estávamos ali e ainda nem se percebia onde íamos ficar e qual seria o tamanho do nosso 'acampamento'. Prostraram-se ali e já está. Mas melhor aconteceu meia hora depois quando um casal de reformados, ao ver o panorama geral e a verificar que à nossa direita estava uma clareira demasiado grande e sem gente, vem espetar o lindo guarda-sol... Ao nosso lado. Tão perto que a minha mãe pegou nas tralhas dela e mudou de lugar, já a ver a vida dela andar para trás.
Como é óbvio, todos eles eram portugueses, nem sequer é preciso que abram a boca. Português que é português, abanca o mais perto possível da toalha do lado, não vá o pessoal ter frio com a nortada e precisar de se aquecer com o calor humano. Temos de ser uns para os outros e protegermo-nos de uma tragédia dessas, não é verdade? Somos um povo muito dado a proximidades, quanto mais não seja para ouvir a conversa do lado.