Um picnic em família
Nunca, em vinte anos de vida, tinha ido a um picnic - mas sonhei muito com isso. Os meus pais sempre me contaram as suas histórias, de quando iam com os meus avós para terras que já mal se sabe o nome e passavam dias inteiros naquilo; o que levavam de comer, o que comiam e como brincavam. A juntar a isso, tinha no meu idílico todas as histórias e livros que li desde criança, que metiam picnic's deliciosos/românticos/super-divertidos pelo meio.
Claro que, quando anunciaram que ia haver um picnic de família, quase dei saltinhos de alegria! E ontem, quase um mês depois do anúncio, lá fomos nós! A pensar no que tinha lido e sonhado, levei tudo o que me lembrei digno de picnic: a ceirinha de palha (com a manta dentro para não "arrefecer" a comida), a mochila (para transportar tudo o que fosse meu), a polaroid e a máquina fotográfica (para registar os momentos marcantes), os liteiros (para nos deitarmos no chão), o papagaio (embora não houvesse vento) - e houve quem levasse uma barraca, uma cama de rede, uma mesa de campismo, cadeiras e tudo o que tínhamos direito. Como se isso não bastasse, acabamos por ficar literalmente numa clareira a meio do mato (e o que eu já sonhei com clareiras, à custa deste programa de televisão!), perfeita para a ocasião - com as medidas certas, com as árvores à distância correta para a cama de rede, com "caminhos" bem escondidos para as "casas de banho", etc. Por fim, e não menos importante, ficava muito perto de um praia... deserta. À semelhança de muitas praias nas redondezas, os acessos são terríveis, tanto para os carros (com caminhos em terra e pedras) como para as pessoas (obrigadas a descer a ravina com alguma perícia e dedicação). Mas eu, com uma coragem rara, lá subi e desci aquilo três vezes - provavelmente a razão pela qual hoje estou toda partidinha.
O dia estava farrusco (chegou até a orvalhar um bocadinho), mas depois acabou por ficar divinal. Depois de comermos os salgados em família e na nossa clareira, depois da hora do almoço descemos todos à praia - o sol decidiu abrir e, com o areal quase só por nossa conta, fomos quase todos à água (alguns em roupa interior), tiramos fotos a saltar (estilo filme), jogamos raquetes, brincamos com as crianças, apanhamos sol e tudo o que tínhamos direito. Quando voltamos para cima foi hora de comer os doces e a fruta, cantar os parabéns à aniversariante e brincar mais um bocadinho, à picnic tradicional: os homens a jogar à malha (muito macho!) e as mulheres a um jogo semelhante, com bolas, de que não me lembro do nome.
Quando dei por mim, eram horas de ir embora, que tinha o Jamie Cullum à minha espera na Praia do Cabedelo. Ainda foram umas horas valentes em família, mas passaram num abrir e piscar de olhos, como se de magia se tratasse. Esperei vinte anos por isto, mas pelo menos foi em bom.