Um breve hiato
Desde que comecei a escrever (ou seja, meados de 2009) que nunca estive parada tanto tempo como estive agora. Nem em férias, nem entre mudanças de blogs, nem... nada. Nestes dias, simplesmente, não toquei no teclado a não ser para escrever aquela pequena nota da minha guerreira cadela, que partiu para um mundo onde não tivesse cães chatos que a perturbassem ou articulações que lhe doessem. Fora isso: nada.
Foi algo propositado mas que, ao mesmo tempo, calhou bem: queria ver qual seria a minha reação longe das palavras e, por outro lado, a vossa reação longe das minhas palavras. Só pude tirar conclusões sobre a primeira. O "plano" correu bem porque coincidiu com o final diabólico das minhas aulas (correram lágrimas, meus amigos) e uma gripe que ainda não está curada e que me deixou de cama nos três primeiros dias de férias. Mal me pus a pé, ecomecei a circular foi para acabar de comprar e embrulhar prendas, ir a jantares de natal, fazer doces e preparar as festividades que estão aí mesmo ao virar da esquina (sim, porque um Natal com dezenas de pessoas exige planeamento). E ainda houve outra feliz coincidência, patrocinada pela minha gripe que me deixou prostrada e, por isso, sem espaço para fazer nada senão ver as séries em atraso e ler um bocadinho: o começo da leitura do novo livro de Mário de Carvalho, "Quem disser o contrário é porque tem razão. Letras sem tretas - guia prático da escrita de ficção". Hei-de falar sobre esta obra mais tarde, quando a acabar (será para breve), mas tenho para mim que será uma espécie de bíblia que me vai acompanhar até ao fim da minha vida. Tem-me inspirado imenso e as páginas que li fizeram-me pensar imenso naquilo que quero e aquilo que tenho feito nesta minha vida de "escritora wanna be".
Há uma parte deste livro em que o autor fala na obrigatoriedade que o autor deve ter em escrever: deve ter um mínimo obrigatório por dia, um número de palavras que tem de escrever diariamente para não perder o treino. Podem ser notas, um romance ou uma folha do diário - mas deve escrever. E eu já sabia isso, e sei que o traquejo que tenho hoje em escrever qualquer tipo de texto se deve a escrever aqui todos os dias, sobre o que quer que seja - capacidade essa que ele também diz ser importante, pois um escritor tem de saber observar tudo à sua volta, capta-lo e escreve-lo. E ler isto num momento em que estava a fazer um hiato propositado deu-me um clique, e pensei que não podia deixar que as coisas se mantivessem assim: tinha de escrever. Se não aqui, noutro lado qualquer - mas tinha de escrever.
Por outro lado, não foi só Mário de Carvalho que me mandou de volta a este teclado. Comecei a pensar nas coisas que tinha para vos contar (os tais tópicos que rabisco na minha agenda) - e, acima de tudo, num par de novidades que há tanto tempo ando para partilhar aqui, mas que não tenho tido tempo nem me tem parecido o timing certo para contar (não, não estou grávida e não, não arranjei finalmente um namorado). Não podia abandonar isto sem vos dizer duas das poucas alegrias que preencheram este meu ano!
E assim fiquei. Por causa de um livro e por causa da minha eterna vontade de contar coisas e partilhar ideias. Tenho tido dias preenchidos com coisas más e, como sempre, ponho as grandes decisões da minha vida em causa. Acho-me demasiado nova para tomar certas decisões - que, no fundo, muitos de nós tomamos - e tenho um medo tremendo de falhar, a par do medo das consequências do falhanço (mas também da vitória, caso seja bem sucedida). Sou um ser humano difícil, com muitos alicerces mal fixos. Tenho coragem, mas tremo muito. E escrever foi um objetivo que defini para mim há alguns anos: mas escrever às vezes dói, escrever às vezes abre portas a que pessoas maldosas encontrem por onde desbravar caminho, escrever às vezes é álcool numa ferida bem aberta, escrever é uma paixão que às vezes acho que não vou leva avante por não ter capacidade de encaixe e equilíbrio.
Enfim. Um resumo deste testamento que escrevi? A vida é uma cena marada, eu sou uma pessoa muito difícil de perceber e este hiato de mais uma semana que pareceu uma eternidade tem, com este post, o seu fim.