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Entre Parêntesis

Tudo o que não digo em voz alta e mais umas tantas coisas.

30
Jan18

(Tentar) Voltar aos sabores de infância

Acho que todos nós temos alguns sabores idílicos dos nossos tempos idos; paladares que guardamos em recantos da nossa memória e que deixam muitas saudades, porque são quase sempre irrecuperáveis. Normalmente são de comidas feitas por alguém que já cá não está (quantos elogios já ouvi às comidas de tantas avós!), provadas em sítios onde não voltaremos ou que simplesmente fazem parte de um pacote de memórias irrepetível.

Felizmente eu não tenho muitas lembranças dessas. Nunca tive avós que cozinhassem para mim e a pessoa que faz as minhas comidas preferidas - a minha mãe - ainda está cá para as fazer sempre que lhe peço. Tenho vários sabores que me remontam à infância, alguns dos quais nem sei dizer se eram bons ou maus... são apenas lembranças. Assim de repente só me lembro de duas coisas que adorava e que tenho realmente saudades: a primeira são as verdadeiras tapiocas brasileiras, que comia todos os dias ao pequeno-almoço quando fui ao Brasil. Durante muitos anos nem soube o nome daquilo e só recentemente, quando a moda apareceu por cá, é que me caiu a ficha e percebi que era aquilo que eu tanto tinha adorada na minha primeira viagem ao estrangeiro; ainda não experimentei em restaurantes, mas tentei fazer várias vezes cá em casa e o resultado foi desastroso.

A segunda coisa era o meu bolo favorito do mundo, feito numa pastelaria que fechou aqui há uns anos e da qual eu guardo as melhores memórias. Sempre que alguém fazia anos cá em casa era lá que íamos - e normalmente era a mim e ao meu pai que recaía a (difícil) tarefa de ir levantar a encomenda. Esta não era uma pastelaria qualquer: era uma coisa antiga, só com venda ao público (sem sítio para sentar ou estar), localizada numa viela sem acesso a carros, longe da vista de qualquer consumidor comum. Tenho as melhores memórias desses momentos: eu e o meu pai, gulosos como somos, atacávamos imediatamente a caixa das miniaturas e depois tentavamos disfarçar os doces em falta, afastando-os entre si, para que em casa ninguém desse por nada. Ele comia os jesuítas, eu os éclairs: eram o meu pastel favorito. Entretanto, deixaram de ser - foi ali que defini o meu padrão, eram aqueles os meus éclairs de referência, e nunca mais encontrei uns sequer parecidos.

Para além disso, faziam o melhor bolo-pão-de-ló com ovos moles do mundo (com cobertura de massapão, de açúcar e amêndoa) e, muito antes de sermos invadidos por esta moda do cake design, já eles faziam coisas incríveis. Eu tive direito a Minnie's, a Tweeties, a Borboletas, a Capuchinhos Vermelhos e, entre outros que já não me recordo, o meu favorito de sempre: um palhaço (de tal forma que até repeti ao longo dos anos). Era a coisa que eu mais ansiava no meu aniversário: aquele bolo. Até ao dia em que eu fiz anos, a minha mãe tentou ligar para a pastelaria para encomendar o bolo e ninguém atendeu. Foi lá e bateu com o nariz na grade, já que a porta estava entreaberta. Pesquisei, perguntei, quis muito que aquela decisão voltasse atrás. Mas nunca mais. 90% das vezes que passo na rua que dava acesso à tal viela, sinto o sabor e a suavidade daquele bolo na minha boca. E tenho saudades.

Tantas que fiz uma coisa que quase nunca dá resultado: tentei reproduzir o bolo. Por mero acaso a minha pasteleira de eleição (a La Dolce Rita) deu a receita deste bolo, tipicamente servido em aniversários, e eu aproveitei que a minha irmã fazia anos para pôr a mão na massa (dado que estou em dieta e não posso fazer doces para além das datas excepcionais). Fiz a receita direitinha (com muito custo, diga-se de passagem: só à terceira é que consegui que o doce de ovos me saísse direito), fui pesquisar receitas de massapão (que também tive de repetir, porque a primeira correu mal) e lá montei o bolo. Acho que nunca estive tão ansiosa para cantar os parabéns! Queria tanto, tanto, tanto que o sabor estivesse lá. Queria tanto acertar.

E estive perto. Quando meti uma garfada à boca, quis pôr logo outra. O sabor estava lá. Faltava alguma humidade no bolo, precisava de mais doce de ovos e o manuseamento da massapão também não foi o ideal (embora fosse algo meramente estético). Mas tudo estava lá. Viajei no tempo enquanto saboreei a minha própria obra e desfrutei do meu dia da asneira. Tirei notas mentais sobre o que tinha de melhorar da próxima vez e já anseio pelo próximo aniversário para o meu paladar voltar aos tempos de criança. Que saudades traz um simples bolo...

 

bolos.jpg

 (alguns dos meus bolos antigos)

 

bolo2.jpg

(o bolo que fiz para a minha irmã. as flores de açúcar, comestíveis, foram compradas - não tenho arte para tanto)

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