As tentações do AliExpress
Ou o facto de eu sair à minha mãe por comprar coisas-giras-mas-inúteis
Há uma fase da nossa vida em que, por uma razão ou por outra, damos por nós a pensar "caraças, sou igualzinho ao meu pai" (ou à minha mãe, é como der jeito). Creio que acontece muito quando já somos pais, numa daquelas inevitáveis alturas em que um filho enraivecido pelas hormonas nos atira à cara exatamente as mesmas coisas que nós atirávamos aos nossos progenitores naquela idade. Eu fui precoce. Não tenho filhos e já penso, muitas vezes: "caraças, estou a ficar igual à minha mãe".
Num Natal, para gozar com ela, ofereci-lhe uma caixa de "Coisas Giras mas Inúteis". Era, basicamente, um compêndio de utensílios culinários - dos mais estranhos, invulgares, estúpidos e inúteis que encontrei no mercado nacional - para brincar com a sua vontade louca de encher as gavetas (e as prateleiras) da cozinha com tudo o que é ferramenta para cozinhar ou para auxiliar esta atividade. O quinto piso do El Corte Inglês ou até o mero corredor da secção Kasa do Continente são locais onde não se deve deixar a minha mãe sozinha. Pelo menos, não com a carteira.
E sim, agora vou dizer aquilo que estão a pensar:
Eu sou igual.
Há meia dúzia de anos gozava com a minha mãe e hoje sou eu que adoro tralhas de todos os géneros. Nesse aspeto até se pode considerar que sou pior: apesar de ter uma pancada particular por items de organização, gosto de tudo aquilo que acho que possa ser uma ideia inovadora - ainda que tenha 99% de hipóteses de ser inútil ou ineficaz naquilo a que se propõe. Há ainda mais uma agravante: eu não preciso de sair de casa para cair em tentação. Nem de um cartão de crédito físico! Abro o AliExpress e ele satisfaz-me todos os desejos-estúpidos-de-coisas-giras-mas-inúteis. Ele sabe o estilo de coisas que eu gosto. Ele sabe que eu sou forreta e não gosto de pagar portes de envio. Ele sabe que as coisas baratinhas devem vir primeiro na lista. E como é que eu posso resistir a um descascador de castanhas a um euro e meio, se tenho sempre medo de cortar castanhas com a faca (e levar um dedo atrás)? E a um cortador de papel de embrulho por meio euro, que nem dá para um café, e é coisa que me chateia tanto (cortar o papel de embrulho é chato, toda a gente sabe)? E aquelas prateleiras extensíveis, que tanto jeitinho davam no meu quarto de banho com tão pouca organização?
Pronto, não resisto. E se há coisas que, quando abro após chegarem do correio, me dão vontade de devolver para a China de tão embaraçosas - de más - que são, há outras que até são bons achados. Diria até que o AliExpress pode ser o paraíso dos freaks da organização. Mas, por outro lado, é um mundo de tentações sem fim - e, acreditem, há tentações muito parvas. Há que saber escolher - e perceber que a expectativa nem sempre corresponde à realidade. Podia - e vou, em breve - mostrar como tenho transformado muitos espaços da minha "nova casa" com a ajuda deste meu novo melhor amigo. Mas, por hoje, ficamo-nos por um bom choque de realidade - que é como quem diz, de "vergonha alheia".
"1 par de palmilhas de algodão de apoio para o antepé" (vá, isto trocado por miúdos)
(e a beleza daquele mindinho que não encaixa, hun?)