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Entre Parêntesis

Tudo o que não digo em voz alta e mais umas tantas coisas.

02
Fev22

Uma carta ao.... #6 Mercadona

Querido Mercadona,

Sou assumidamente tua fã. (Será que já inventaram alguma alcunha para os vossos fãs? Mercadonnas, para agarrar a clientela italiana? Merca-ladies, a piscar o olho aos anglo-saxónicos? Merca-dónas, para atrair as donas de casa portuguesas? Tudo um bocado preconceituoso, mas serviria o propósito. Se calhar vou pesquisar naquele grupo do "Feedback Sincero - Produtos Mercadona" que há no facebook - de certeza que já se auto-apelidaram de alguma coisa.)

Enfim, divaguei, desculpa. Na verdade é mais ao menos como faço contigo: entro na loja e em vez de ir direta ao pão ou ao presunto, vou dando umas voltas para ver o que encontro de novo. E isso tem-me trazido consequências. Graves. Gravíssimas. Não porque o resultado tenha sido mau... é só pessimamente bom.

Porque é assim: já todos sabemos que os produtos do Bosque Verde cheiram muito bem, que as vianinhas estão fresquinhas e no ponto, que a carne sai sempre bem, que a tua peixaria é o mais próximo que um supermercado tem de uma lota, que os mirtilos são dos melhores que se encontra no mercado, que os pãezinhos com alho são um mimo, que os iogurtes de proteína têm uma excelente relação qualidade-preço, que as pizzas são muito boas, assim como os morangos, os gelados, as castanhas congeladas, o pão ralado e, claro, o presunto que é de bradar aos céus de tão delicioso. Mas é assim... há uma linha que separa. Que separa o bom do diabolicamente bom; o desejável do irresistível; a capacidade de escolha e o vício. Que separa aquilo que se quer daquilo que não se consegue evitar. Que distingue o querer comer e não ter escolha. O querer parar e o não conseguir.

E é aqui que entram os teus chocolates, os Fusion Oreo, que eu descobri enquanto passeava e olhava para as prateleiras, numa das minhas últimas visitas. É que uma coisa são os iogurtes, a carne, o peixe e até o presuntinho. Outra coisa são aqueles chocolates, importados diretamente pelo Diabo, para nos infernizar as papilas gustativas para todo o sempre - e que, mal habituadas, não querem saborear mais nada desde então. Sabias que a gula é um dos sete pecados mortais? E que os cúmplices são tão culpados quanto os próprios culpados? 

Como tal, teremos de tomar medidas - até porque nenhum de nós quer ir parar ao inferno, certo? A medida mais sensata da tua parte seria retirar isto do mercado; tal como as drogas são proibidas, chocolates neste calibre de viciação e gostosura não deveriam ser permitidos. A outra alternativa será eu deixar de frequentar os teus supermercados e arrumar o meu crachá de merca-dóna - sei que parece exagerado e será duríssimo viver sem o teu jámon reserva, mas para grandes males, grandes remédios, e já se sabe que a ideia de resistir a comprar aquele pedacinho de céu (perdão - inferno) é perfeitamente utópica. Podemos arranjar também aqui uma solução intermédia, algo que te ficava bem de qualquer das formas, uma vez que o mal já está feito: criar vários clubes de chocolatólicos anónimos distribuídos pelo país, para todas as pessoas que, tal como eu, já só têm oito quadradinhos de chocolate e que não sabem como será a vida depois deles acabarem; serviria também de apoio a todos aqueles que se sentem fortes o suficiente para deixar o Fusion Oreo de vez, partilhando as suas emoções e dores neste processo de doloroso desmame para as papilas gustativas e o corpo de uma forma geral.

Neste momento já fomos obrigados a tomar medidas aqui em casa e a única coisa que me separa do restinho da tablete que jaz na cozinha é a providência cautelar que o meu marido colocou para salvaguardar as minhas ancas, muito queixosas desde o dia em que descobri o maldito chocolate. Ele ameaça-te com processos judiciais, nomeadamente por achar que isto se pode encaixar num quadro de adultério, uma vez que acha que neste momento gosto mais do chocolate do que dele. E o pior é que não sei se ele não terá razão.

Há por isso várias vertentes de peso envolvidas nesta questão: a fé (queremos ir ambos para o inferno?), a moral e a ética (será correto ter um produto destes no mercado?) e até a justiça (por ciúmes do meu marido). Não valerá mais a pena cortar o mal pela raiz e segregar o chocolate de vez das tuas prateleiras? Por favor. Por mim, pelas minhas ancas e glicémias. Por nós, no fundo, e pela relação que temos vindo a construir ao longo do último ano. E, claro, pelo meu marido - pessoa que, não sabendo a chocolate, eu também gosto muito. 

Conto com a tua compreensão.

Obrigada,

A tua merca-dóna favorita,

Carolina

 

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02
Jul20

Uma carta à.... #5 Mimosa

Querida Mimosa,

Sei que não me tens em grande consideração depois de ter dito, há um ano e tal, que as natas da Longa Vida eram incomparavelmente melhores que as tuas (não mencionei nomes, mas é fácil servir-te a carapuça, uma vez que são vizinhas de prateleira).

Gostava que a nossa relação melhorasse a partir daqui e acho que a lição que é importante tirar do nosso pequenininho incidente é que cada um é bom em diferentes coisas - e se as natas da Longa Vida são, sem sombra de dúvida, as melhores do mercado, já os seus iogurtes frutados são tão desenxabidos como o queijo Filadélfia que potencialmente também vende. Estás a ver? Isto é só uma questão de procurar... E eventualmente cai para cima de todos ;)

Dito isto, e agora que já avançamos na nossa relação, gostava de falar sobre os teus iogurtes magros. São óptimos, os meus preferidos. Mas quem te diz que eu gosto simultaneamente de morango-kiwi, banana e pêssego? Ou côco e morango? Ou morango-kiwi e manga? Esta tua mania de tentar prever combinações de sabores que agradam às papilas gustativas dos teus consumidores é um bocado chata. E a verdade é que nem toda a gente tem a mesma sorte que eu. No frigorífico lá de casa as embalagens são divididas irmãmente: o homem come tudo o que meta morango, eu devoro tudo o resto. Mas e quem vive sozinho? E quem não tem uma cara metade que coma, literalmente, metade do pacote?

As questões que se colocam são então estas: porque é que o morango tem de estar sempre metido ao barulho? Porque é que o pêssego, a banana, a manga ou o côco não podem ser livres e independentes, tendo sempre que estar acompanhados com aquele fruto vermelho que mais parece um pau-de-cabeleira? São maiores e vacinados, já correm mundo há muitos anos, e está na altura de lhes dar espaço, quais filhos crescidos. Eu quero iogurtes de banana. E de côco. E de pêssegos. Sozinhos. Aos pacotes e sem packs. Não quero ter de espiar constantemente o frigorífico para ver se o meu namorado já comeu os iogurtes-pau-de-cabeleira, para poder comprar uma embalagem nova. Eu, tua consumidora fiel, exijo a independência dos sabores mais irreverentes. E como sou amiga, para poupares algum dinheiro no processo criativo e continuares na tua linha de combinações, ajudo já com a promoção dos iogurtes de banana (sou suspeita, pois são os meus favoritos!). Ora cá vai:

 

Iogurtes de Banana

Combina bem com tudo

Até com uma bifana!

 

Se isto for muito arrojado, aí vai um comercial mais soft...

 

O bom sabor de Verão

Agora com independência

O clássico sabor a banana

A compensar estes anos de ausência!

 

Posto isto, e tendo em conta toda a ajuda que já disponibilizei, aguardo ansiosamente junto às prateleiras dos lacticínios.

 

Até lá, sempre vossa (menos no que diz respeito às natas, mas isso são mágoas do passado),

Carolina

 

Queremos independência!.png

27
Jul19

Uma carta à... #5 NOS

Querida Nos,

Tem calma: este post não vai ser uma reclamação, como as dezenas (centenas?) que recebes diariamente. Também não te entusiasmes: não vou estar aqui a elogiar os teus serviços, igual a todos os outros. Mas há uma coisa em que, desde o início, és brilhante: a publicidade. E isso há que admitir! Desde o "Don't Stop Me Now", que marcou o lançamento da marca, passando por vários anúncios geniais com o Bruno Nogueira. Mas, confesso, estes últimos é que me roubaram o coração: o duo Ana Bacalhau e Samuel Úria a cantar músicas em forma de serenata a jovens desesperados com dramas do século XXI (coisas gravíssimas como o acabar da net móvel ou o não ter wi-fi fora de casa) são a minha paixão dos últimos tempos. Daí a minha carta. O mundo precisa de ter aquelas canções completas e não apenas sketchs de 30 segundos. A genialidade não deve ter fim.

Até porque ainda há tantos assuntos do género por tratar e cantar! Como isto não pode ser só pedir e não dar nada em troca, eu tomei a liberdade de usar os meus parcos dotes de compositora para vos ajudar nesta árdua tarefa. Escrevi sobre três temas distintos: as falhas recorrentes das boxes, a lentidão da net e o momento em que o dinheiro do nosso cartão SIM chega ao fim. Peço-vos, por favor, que leiam isto ao som da melodia desenvolvida pela Ana e pelo Samuel, só assim isto resulta como deve ser. Ora vamos lá:

 

 

Se a box está sempre a falhar

Tu tem calma

Não a mandes para um certo lugar

Chama os nossos assistentes,

Eles são giros e carentes,

Acredita, eles não te vão falhar.

 

Se a tua net está lenta

É uma questão de tempo até recuperar

Não te irrites

Não nos grites

Prometemos uns convites

E ao cinema vais poder voltar.

 

Acabou-se o dinheiro no cartão?

É bom que tenhas umas notas à mão...

Vai buscar ao mealheiro,

Ao teu pai,

Ao galinheiro,

Paga o que deves ou pede ao teu irmão...

 

Posto isto, sinto que já fiz um grande contributo para a causa. Qualquer coisinha, é só apitar. Tenho a certeza que sabem o meu número, não é verdade? Essas bases de dados devem servir para alguma coisa de útil.

 

Beijinhos,

Carolina

17
Fev19

Uma carta ao... #4 Instagram

Caro Instagram,

 

Acabei de passar uma semana inteirinha com os meus sobrinhos, por isso encarnei um bocadinho a vertente de "mãe", sentindo-me na obrigação de os educar sempre que achava necessário. Essa onda ainda não saiu de mim, por isso vais ter de levar um sermãozinho neste domingo. Então é assim:

Vivemos na época das igualdades. As mulheres já votam; os salários querem-se iguais entre os dois géneros. Por falar em géneros: já há quem não seja homem nem mulher, e está tudo bem com isso. Já é permitido em muitos países o casamento entre pessoas do mesmo sexo. As mulheres podem ser trolhas e os homens dançarinos; as mães podem ir trabalhar e são os pais a desfrutar da licença de parto. Pessoas normais tornam-se figuras publicas em dois tempos, utilizando plataformas democráticas e onde todos têm acesso. Agora eles cozinham e elas lavam os carros; eles depilam-se e elas deixam de se depilar. As mulheres podem bem ser o sustento da família e eles pais a tempo inteiro. Há mulheres na política e na liderança de empresas - e há homens também. Tudo dá para os dois lados, ou para todos os lados. O acesso a tudo quer-se democratizado e justo, sem diferenças ou discriminação.

Mas tu, rede social da nova geração que ajudas a veicular muitos destes valores, és o primeiro a discriminar. Primeiro, passei meses sem poder pôr músicas nos instastories - não havia atualização ou desinstalação que me valesse, estava condenada a ficar com o mísero som dos meus vídeos. Mas, mais grave que isso, é não conseguir pôr swipe up quando quero dirigir os meus leitores aqui para o estaminé. "Ah e tal, só com não sei quantos mil seguidores é que essa função fica ativa". Porquê? Porque é que os fixes, os famosos e os populares é que têm direito? É uma lógica estilo Blogs do Ano, em que se promove ainda mais quem não precisa de se promover? Facilitar a vida a quem já a tem simplificada, porque já tem um alcance orgânico muito maior à partida? É só parvo, injusto e discriminatório.

Isto tudo para dizer que estás em contra-ciclo. E que estava na horinha de mudares de atitude, ouviste, meu menino? Ainda tu não tinhas nascido e já eu andava na escola, estás a perceber?

Então pronto. Fico à espera de mudanças.

 

Carolina 

(@carolinagongui para os amigos do insta que não podem ver os meus "swipe up")

 

Instagram-Stories-Redbull.png

 

03
Fev19

Uma carta à... #3 Primor

Olá Primor,

 

Antes de mais, não tens de quê: estou prestes a revelar ao mundo que produzes a melhor manteiga que há no mercado, a Primor com Cristais de Sal. Não há palavras para descrever o quão bom é comer uma torrada, quentinha, e barrada com esta manteiga, até apanhares uma daquelas pepitas de sal que parecem deixar todo o sabor ainda mais intenso. Porque a verdade é mesmo essa: para quem gosta de manteigas salgadas (que é como quem diz, boas), não há cá President ou marca Continente que se safe. A tua é a melhor. Infelizmente é a melhor para o palato, mas não para o ambiente.

Acredita que eu percebo o conceito de produto premium - mal fora se não entendia, depois de já ter perdido a conta às aulas de marketing que já tive ao longo da vida. Percebo que queiras cobrar 1,39 euros por um pacote com 125 gramas de manteiga e tenhas de justificar o preço de alguma forma. Mas vender o produto dentro de caixas de plástico rígido, com a manteiga envolvida em papel de prata lá dentro, é só parvo. "Ah e tal, é para não ficar a saber a frigorífico - ninguém quer que uma manteiga desta altíssima qualidade perca o seu esplêndido sabor". Verdade - mas a pensar assim também todos os queijos, fiambres e coisas do género teriam de vir em caixinhas - e não vêm. Porquê? Porque 99% das pessoas têm uma coisa em casa chamada tupperwares que, veja-se só!, foram mesmo pensados para esse efeito: guardar coisas para que elas não se estraguem ou deteriorem.

Deves estar a pensar: "lá vem esta miúda com as teorias ecologistas da geração dela, que não percebe que precisamos de vender quer o mundo acabe ou não daqui a 200 anos". Não é verdade. Sou até bastante despreocupada em relação a este tópico, nada extremista (já me chega ser extremista em quase tudo o resto), mas acho que todos temos um cérebro e devemos pelo menos tentar rentabiliza-lo. Eu gosto de caixas, caixinhas e caixotas (basta entrar no meu quarto para se perceber isso), mas sou incapaz de dar utilidade às dezenas de caixas minúsculas que advém dessa embalagem. Já não tenho mais clips, totós, ganchos e molas para guardar; já nem sequer tenho mais espaço para empilhar caixinhas na eventualidade de vir a precisar delas no futuro. Sou obrigada a deita-las fora. E numa altura em que até querem abolir as palhinhas e os cotonetes, produzir uma caixa de bom plástico só por uma questão de vendas não é só parvo: é irresponsável.

Imaginemos que, de facto, as pessoas não têm tupperwares em casa (essas pessoas existem?!). Tudo bem, vende-se a manteiga com a caixinha. Mas para todos os outros que ou já têm sítio onde guardar ou que já compraram a vossa bela e durável embalagem com tampa dourada, a dizer orgulhosamente "Primor", a melhor ideia era vender a manteiga em separado. Até podiam baixar o preço por não terem de pedir tantas caixas ao vosso fornecedor, já viram? E, baixando o preço, mais pessoas provarão e ficarão viciadas na vossa maravilhosa manteiga. E mais vendas é sinónimo de mais dinheiro. E mais dinheiro é aquilo que a Primor quer, certo?

Apercebo-me agora que estou quase a dar um serviço de consultoria à distância e a custo zero, mas é para que se perceba o meu amor a este produto. Gostava muito de não o comprar com peso na consciência ou a pensar "e agora, onde é que vou utilizar mais uma caixa?!". Ou, pior, ver esta manteiga extinta do mercado porque é demasiado cara ou por não ter clientes que, ao contrário de mim, são mais radicais nestas coisas.

Pensem nisso. 

 

Obrigada,

Carolina, o meio ambiente e os arrumos de casa da Carolina que já não têm mais sítio para albergar caixas da Primor (as únicas que não agradecem são as minhas ancas, mas vamos optar por ignorar)

 

manteiga primor.jpg

27
Jan19

Uma carta à... #2 TVI

Querida TVI,

Temos de falar. O teu desprezo para com as crianças deste país é qualquer coisa de bradar aos céus. Para os adultos fazes novelas a torto e a direto, renovas as edições do Love on Top só para ver se passa mais sexo na TV e agora até já te adiantas nos preliminares com o novo First Dates (agora que penso, a tua desconsideração passa também por todos aqueles que não falam inglês e não conseguem perceber metade dos nomes de todos estes programas - mas enfim). 

Falemos então dos mais novos, esses que estão a levar com os mesmos programas matinais de fim-de-semana há mais de uma década. Por esta  altura, a Vila Rica do Banco dos Quatro já é "Conjunto de Freguesias das terras de não sei onde" e o bando já passou a ser uma associação contra o crime sem fins lucrativos; os jogadores do Campeões e Detectives já devem estar a chegar à idade da reforma; os miúdos do Detetive Maravilhas já desbotaram aquele diário mágico do avô depois de tanto procurar por soluções mágicas. E isto para não falar no Inspetor Max, um dos casos mais berrantes: vai-se a ver e o Tiago - filho do inspetor - daqui a nada já tem filhos (só eu sei como ficou este meu coração quando vi o rapagão em que ele se tornou) e a velha empregada de limpeza, a Justina, até já morreu...

Eu percebo a lógica por detrás disto: supostamente os miúdos deixam de ser miúdos, o que faz com que se fartem rapidamente de ver estas coisas, e a plateia vai-se renovando sem vocês fazerem nenhum, passando episódios em modo loop como quem não quer a coisa, à espera que ninguém repare. Pois eu, adulta que prefere assistir a estes programas a ver a missa de domingo (ou a deixá-los correr em pano de fundo enquanto tomo o pequeno-almoço), reparo - e estou aqui a dar o corpo às balas, depois de quase saber de cor os diálogos do Bando dos Quatro e companhia. Faço-o porque os miúdos, principais interessados nesta batalha, para além de não terem grandes meios para se expressar, escrevem quase todos com tantos erros ortográficos e de concordância que mal se perceberia o que quereriam dizer. E lembrem-se: nós somos jovens, temos a memória fresca, fica tudo cá dentro - não é como nos reality shows, em que repescam os concorrentes como quem recupera e fuma as beatas até ao fim, até não haver nada de útil que se aproveite.

A modos que é isto. Se querem continuar a repetir coisas, ao menos que troquem de programas e que deixem de nos tratar como se fossemos velhinhos com Alzheimer. Senão, daqui a nada, preferimos mesmo ver a missa - o discurso também é sempre o mesmo, mas ao menos temos mais probabilidades de ir para o céu.

Cumprimentos desta jovem,
Carolina

20
Jan19

Uma carta à... #1 Longa Vida

Dou por mim muitas vezes a pensar que queria dizer umas coisas a uma certa pessoa, objeto ou marca. É uma espécie de reclamação interior, que não posso entregar a ninguém mas que me contamina o cérebro de coisas parvas durante um tempo indeterminado, enchendo-me de vontade de deitar tudo cá para fora, mas sem grande forma de o fazer. Nunca quiseram endereçar uma carta insultuosa àquele canto da cama que insiste em vos destruir o mindinho do pé? E dizer umas coisinhas àquela senhora que está sempre a fazer depósitos no banco com 50 mil moedinhas? Ou à outra que anda a vasculhar os cupões no momento do pagamento, em plena caixa do Continente? Pois, bem me queria parecer que não sou a única.

Então, no Verão, lembrei-me: se eu tenho um blog, porque raio é que não despejo lá tudo isto? E por isso, quase meio ano mais tarde, cá estou, estreando esta nova rubrica de cartas a entes desconhecidos/intangíveis/incontactáveis. O primeiro texto vai para a marca que despoletou tudo isto, que é recordista em me fazer escrever cartas mentalmente, e que eu amaldiçoo de cada vez que me deixa mal numa visita ao supermercado: a Longa Vida. Ora vamos lá.

 

 

Querida Longa Vida, 

Acho que te posso tratar assim, por tu, visto nos conhecermos há muitos anos. Foi contigo que aprendi a fazer chantilly e é em parte por tua culpa que desde cedo que me atiram as taças de natas para as mãos, com a desculpa de que "nunca me caem". Mas a verdade é que não sou eu - és tu.

Não há que ter vergonha em admiti-lo: tu és uma espécie de Viagra das natas. Contigo, sobem sempre. Não vale a pena estar a gastar dinheiro com os teus concorrentes, porque já se sabe que não é a mesma coisa e que vai dar asneira; que não podemos virar a tigela por cima da nossa cabeça, em jeito de demonstração, porque sabemos que não vai resultar.

Mas o facto de tu teres o monopólio do mundo das natas não te dá o direito de menosprezares assim os teus clientes. Quantas vezes é que eu fui atrás de ti e me deparei com uma caixa vazia, solitária, no corredor dos lacticínios? Quantas vezes é que já saí de grandes superfícies de mãos a abanar, sem natas para adoçarem os meus morangos, a minha pavlova, as minhas natas do céu ou o meu agelatinado?

Por ti, já cheguei a correr 4 supermercados em menos de meia hora. Quem não disser que isto é amor, não percebe nada do assunto. Mas numa relação a sério as provas têm de vir dos dois lados (embora o Salvador cante "o meu coração pode amar pelos dois", toda a gente sabe que isto, a longo termo, se torna insustentável), e eu estou cansada de lutar sozinha. Está na altura de fazeres alguma coisa - comprares mais vacas, empregares mais gente, arranjares mais máquinas ou despedires o responsável pela distribuição. Qualquer coisa. Mas fá-lo por nós e pelo bem da nossa relação, já tão duradoura.

O preço da gasolina está caro e eu já não vou para nova, e não aguento picos de emoções como aqueles que me acontecem quando me deparo com a prateleira do supermercado vazia, quando vou em tua busca.

Por favor pensa em mim. Em nós. Em todos os amantes de natas que não aguentam a tristeza de não as ver subir, embora as batam durante meia hora. Isto já para não falar das vezes em que atiram as culpas para cima de nós – mulheres - e do nosso ciclo menstrual, com o mito secular de que as natas não pegam se estivermos com o período. Todos sabemos que a culpa é da Mimosa e outras que tais. Precisamos de ti e só tu nos podes ajudar.

Porque com mais natas Longa Vida no supermercado, nunca mais ninguém ficará frustrado!

Obrigada e até breve,

Carolina

 

natasfrescas.jpg

 

P.S. Giro, giro era se alguém um dia respondesse. Aí é que era!

 

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