Eu ontem não vi o Robert Pattinson
Este título só faz sentido para quem me lê há muito tempo (pelo menos há cinco anos) porque, como canta o José Cid, "há muito, muito tempo, ainda era eu uma criança", eu escrevi um post com um título muito semelhante - mas na positiva. O que também só faz sentido se me lerem - ou conhecerem - há mais tempo, para perceberem toda a história que tenho com a série Twilight e se souberem que o Robert está cá, em Portugal, para participar em duas sessões do Lisbon&Sintra Film Festival.
Há cinco anos eu fui a Lisboa de propósito para o ver no Centro Cultural de Belém. Na altura a questão não se colocou: eu ia e ponto final. Passei muitos anos da minha vida a publicar fotos dele, a "segui-lo" para todo o lado, a ver os filmes dele, a suspirar por ele - e se ele vinha cá, eu ia atrás, pelo menos para ter a certeza de que o homem era de carne e osso. E ainda hoje acho que aquilo que eu fiz - quer concordem quer não, quer achem que foi uma palermice de adolescente ou também não - foi coerente com a minha posição ao longo dos tempos e com o meu trabalho no blog, que eu levei a sério e com muito profissionalismo ao longo dos anos.
Recordo-me bem de muitos momentos - alguns dos mais felizes, relacionados com esse evento, nem sequer foram lá, mas sim quando soube que ele vinha cá em plena aula de físico-química - mas, olhando para trás (e lendo que escrevi na altura), aquilo não foi um momento espetacular para mim. A histeria e as centenas de miúdas que estavam lá fizeram com que eu começasse a ter um ataque de pânico - proporcionado também pelo cansaço das horas passadas à espera, e de pé, e também pelo stress da envolvência de tanta gente que falava comigo e que estava à minha volta - e deitasse um pouco a experiência a perder, até porque cheguei a um ponto em que me encostei a um canto, fechei os olhos e esperei simplesmente que ele passasse na passadeira para os berros cessarem.
Tenho vindo a pensar e cheguei à conclusão que um dos meus problemas, em tudo, sempre foi fazer parte dos grupos e não fazer parte deles. Ou seja, eu fazia parte de algo porque me identificava, integrava ou era alguma coisa - mas os meus comportamentos divergiam sempre do clássicos das pessoas que o completavam, por isso, na prática, eu não estava dentro do grupo. Eu era adolescente, porque tinha 15 anos, mas não era adolescente no sentido da maluqueira, das irresponsabilidades, das paixões assolapadas e das asneiras; eu andava na universidade - e por isso era universitária - mas não fiz a praxe, não trajei, não fui a nenhum jantar de curso, nunca apanhei uma bebedeira, nunca fui à queima, nunca vi a latada ou a serenata; e eu era "twilighter", porque adorava os livros, os filmes, os atores e tinha um blog sobre o assunto, mas não tinha posters no quarto, não andava a dizer que era "team Edward", não era estridente, esganiçada nem histérica. Em último caso, também não queria ser identificada com esses grupos: não queria que olhassem para mim e pensassem "olha, é mais uma", tal como eu própria pensava. Foi por isso que nunca trajei, por saber que (infelizmente) o traje tem uma grande ligação com a praxe; e foi por isso que tentei evitar ao máximo meetings e encontros, porque eu não queria ser mais uma das estridentes que grita por um ator que nunca irá olha para ela.
Passaram-se alguns anos desde o dia em que ele veio cá. Tirei um curso, comecei a trabalhar, deixei de publicar no blog sobre o Twilight, passei a ter responsabilidades - mas nunca deixei de seguir o seu trabalho e, confesso, o seu estado civil. E quando soube que ele vinha cá contive-me como não me contive naquela aula de fisíco-química de 11º ano, mas o coração tremeu um bocadinho e pensei logo "é claro que vou!". E podem achar isto parvo porque, de facto, já tenho idade para ter juízo - mas, na verdade, acho que sempre o tive; dentro das maluqueiras que fiz por causa do Twilight, sempre fui contida, reservada, responsável, calada, respeitadora. E eu lembro-me de pensar que se um dia tivesse a oportunidade de estar com alguns daqueles atores que preencheram a minha vida durante tantos anos, eu não iria perder a chance; porque era justo para mim, que tanto os admirei, um dia ter a oportunidade de os ver à minha frente. Fazia-me sentido, quer tivesse 15 anos ou 63. E eu tinha a intenção de manter essa promessa.
Mas depois a minha mente voou para aquele momento em que eu estava aninhada contra uma parede no Centro Cultural de Belém; comecei a ver comentários e comentários como há anos não via no facebook do blog do Twilight, já com alguns uivos virtuais, e comecei a pôr o pé no travão. Eu não me ia meter nisto outra vez. Eu podia fazer-me de erudita, fingir que ia às sessões para ver de novo o Cosmopolis ou o Good Time - que ainda não vi, nem tenciono, porque me parece um tanto ao quanto tenebroso -, mas estaria a mentir. Eu ia lá - como tantas foram - ver o miúdo do Twilight, que é coisa que ele já não é e que sei que quer deixar para trás.
E por isso não fui. Ajudou o facto de ser em Sintra, de ter de passar mais uma noite fora de casa, mais o cansaço das viagens de comboio, num mês já suficiente difícil e com uma agenda demasiado ocupada. Não fui porque não queria reviver o CCB outra vez; não fui porque não queria tornar a sentir na pele o sentimento já muito comum, mas que nunca deixará de ser desconfortável, de estar no meio de um grupo a que na realidade pertenço mas onde não me integro; não fui porque sei que a razão que me levaria não era exatamente a razão pela qual eu devia lá estar. Tomei a decisão de não ir, e custou-me muito; pensei muito, arrependi-me um bocadinho... mas voltei sempre à mesma decisão. Parece simples, mas não foi tomada de ânimo leve. Nunca é fácil quebrar promessas antigas, ainda mais aquelas que fazemos a nós mesmos; nunca é fácil deixar o passado lá atrás e fecharmos a gaveta de vez. E eu sei que nunca o farei.
Ontem estava cá, já a tentar escrever este texto, mas também estava lá, com um bocadinho de inveja de todas as pessoas mais simples que eu, que não pensaram em nada destas coisas e simplesmente foram. Eu nunca fui assim, nunca serei. Lá no fundo, sempre tive um quê de crescida. Mas hoje vejo que momentos houve em que, apesar de ser assim, ainda consegui pôr as minhas paixões e maluqueiras em primeiro lugar; agora, o pensamento prevaleceu. Fui mesmo crescida. E ser crescida, como dizem as más línguas, é mesmo uma merda.