É verdade: às vezes não sobram minutos
Uma das minhas regras de ouro aqui no blog é não apagar posts. Se achar que, por razão de força maior, algum deve mesmo ser retirado da vista do público, coloco-o em privado, de forma a que só eu o leia - mas nunca, jamais, apago o que quer que seja. A escrita é o testemunho mais real que tenho da minha própria vida - e mesmo que, passado uns anos, já não concorde com as opiniões que tinha ou não me reveja em determinados sentimentos que descrevi, sei que na altura foram reais. Não os esqueço nem os monesprezo. Fizeram parte de mim, do meu crescimento, da minha vida - e por isso têm e vão ter sempre lugar aqui.
A verdade é que não há muitos posts de que me envergonhe. Não me lembro de nada que tenha escrito que hoje me apeteça apagar; acho que nunca cometi nenhum erro crasso. Aliás, continuo a concordar com muito do que aqui escrevi. Não sei se isso é bom ou não: se por um lado tenho opiniões consistentes, que não têm tendência a mudar como quem muda de cuecas, ou se sou uma teimosa incorrígivel que não consegue mudar a sua própria mentalidade. Pode cair para cada um dos lados. Cá para nós, devo confessar que guardo um certo orgulho pela minha estabilidade a este nível...
Mas estes dias tenho pensado muito em algo que antes dizia e que hoje não consigo subscrever. Não sei se alguma vez escrevi sobre isso, mas sei que o pensei durante muito tempo. Tem que ver com o tempo - ou a falta dele. Sempre disse que arranjamos tempo para aquilo que queremos, basta fazer uma boa gestão de tempo e de prioridades. Recordo-me de ouvir as pessoas queixarem-se disto e de eu pensar que com uma agenda e um bocadinho de cérebro a coisa se resolvia. Até me lembro de dizer que, na loucura, se devia dormir menos. Coisas que se dizem quando se tem energia para tudo, não é verdade? (Gostaram deste discurso de velhinha?)
Hoje vejo que não é bem assim. Sempre me considerei muito boa a gerir o meu tempo e agora olho para mim, frustrada, sem saber o que fazer da minha vida. E continuo a achar que tem tudo que ver com a gestão da agenda e das prioridades - mas agora percebo que às vezes as prioridades tomam conta da nossa vida, sufocam-nos. A pós-graduação - que entrou agora na reta final, benzó-deus! - e todos os consequentes trabalhos que vêm com ela, tomam conta de grande parte do meu tempo. Dar aulas de piano é mais uma quantidade de horas em que estou longe do mundo, só centrada nas teclas e nos meus alunos. Estar no início de uma relação também não ajuda: a quantidade de tempo que passamos com a pessoa é proporcional à nossa felicidade, por isso queremos estar o máximo de tempo possível com ela. Faço do trabalho na fábrica, aquele que ainda tem menos obrigações, o meu tempo "ninja" - aquele que manipulo consoante as minhas necessidades e exigências. Mas, mesmo assim, há muitas coisas que saem para fora das 24 horas que têm o dia.
Estar com os meus pais e com a minha família não deixou de ser prioridade - nunca deixará. Escrever aqui não deixou de ser prioridade. Tudo o que não o era saltou fora da minha vida neste momento: o ginásio, os outros blogs, as redes sociais, até alguns amigos e umas boas horas de sono. Mas chega uma altura em que não dá para cortar mais e só nos resta o exercício de fazer caber em pequenos pedacinhos de tempo tudo aquilo que nos preenche mas que, nestas fases, nos faz sentir vazios, por não conseguirmos dar vazão a tudo.
Não tinha razão quando dizia que há sempre tempo para tudo. É verdade que somos nós quem define as prioridades, quem tem de saber pesar as vantagens e as consequências de cada ato - e podemos cometer loucuras, deixar de fazer coisas obrigatórias em prol de outras facultativas... mas, pela lógica normal das coisas, há mesmo fases em que não sobram minutos. Estou numa dessas, pelo menos até acabar o curso. Já vejo a luz no fundo do túnel, mas só a meio de Julho é que verei a luz do dia. Estou ansiosa, acho que nem vou saber o que fazer com tanto tempo livre!
Para já, resta-me tentar ser eficiente em todas as tarefas que me enchem a agenda, de forma a despachar tudo de forma efetiva. E contentar-me com os buraquinhos de tempo que me aparecem - como este, que me permitiu escrever este texto, e que me soube pela vida. Agora... siga!