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Entre Parêntesis

Tudo o que não digo em voz alta e mais umas tantas coisas.

11
Jan22

Os escolhidos do ano de 2021

A escrita é assim: tem vida própria, leva-nos para onde quer. Esta lista que hoje aqui trago nasceu para um post que ganhou outra vida, aquele que acabou por ser o resumo do meu ano. Aquilo que escrevi era para ser só uma breve introdução e, quando dei conta, já era todo um texto com princípio, meio e fim, já demasiado profundo, não abrindo espaço para listas ou coisas um bocadinho mais supérfluas. Deixei que seguisse o seu caminho independente e fiquei com esta lista das minhas escolhas do ano para outra altura. E aqui está ele!

Não vou matar dois coelhos de uma só cajadada: vão ser muitos! A maioria dos temas ou nomes que aqui trago estavam à espera de um texto (mais propriamente uma "review da semana") há demasiado tempo, por isso vou fazer uma pequenina descrição de tudo aquilo que gostei no ano que findou, fazendo ao mesmo tempo uma "mixórdia de temáticas" de coisas muito boas.

 

Produto do ano

- Pão da Granélia -

Estive muito, muito, muito indecisa entre dois produtos - vou prometer a mim mesma que escrevo sobre o outro - mas tenho de escolher aquele que mais chama o meu coração: o pão da Granélia.

A Granélia é uma mercearia que abriu no centro do Maia há relativamente pouco tempo, que tem a sua ideia base na venda a granel (podem comprar hidratos e leguminosas como arroz e feijão ou especiarias como caril ou matcha, levando apenas um frasquinho) mas que está recheada de outras coisas boas: produtos biológicos, locais e de boa qualidade assim como outras soluções ecológicas para produtos de limpeza, higiene corporal entre outras coisas. Mas a melhor de todas é mesmo o pão de fermentação natural. Não é produzido lá - é comprado no Pão da Terra (que fica em Matosinhos mas é fora de mão para mim) - mas revendido nesta mercearia, e é só a melhor coisa do mundo. Eu adoro pão - e já tinha escrito aqui (texto sobre um pão igualmente bom, mas não TÃO bom) que o melhor pão do mundo era o sourdough que o meu irmão me trazia de Inglaterra quando vinha cá passar férias. Pois que este é o sourdough. O tal! O maravilhoso! Mas em Portugal, e aqui tão pertinho, ao virar da esquina. Como resistir?!

Os pães estão disponíveis à quarta e à sexta-feira em várias modalidades, mas têm de ser encomendados com antecedência. Eu vou lá de duas em duas semanas buscar o meu - tenho de me conter para não comer meio quilo de pão logo no primeiro dia, por isso congelo-o para não me tentar e vou descongelando ao longo dos dias quando tomo o pequeno almoço. Foi a descoberta do ano!

 

Podcast do ano

- Conta-me Tudo -

2021 foi o ano dos podcasts. De manhã, antes de sair de casa, faço sempre uma arrumação geral para que ao fim da tarde o peso das tarefas domésticas não seja tão grande e tenhamos, eu e o Miguel, algum tempo de qualidade juntos. Mas arrumar ou limpar em silêncio é um tédio. E eu já ouço muita música enquanto trabalho... por isso virei-me para os podcasts, que cumprem uma função mais extensiva que a música: dá para rir, chorar e informar, mas tem sempre como base o entretenimento.

Este hábito começou com o conselho do meu ex-chefe para ouvir o Extremamente Desagradável, da Joana Marques. Na "review de 2021" o Spotify diz que este é o meu podcast favorito (porque ouvi não sei quantos episódios de rajada até ficar em dia), mas não é verdade. Não que não goste (senão não ouvia), mas porque acho que os humoristas têm uma tarefa inglória ao tentarem ter piada todos os dias. É verdade que é um estilo de humor diferente, mas não deixa de ser um bocadinho desgastante - para ela e para nós.

Aquele que eu mais gostei foi o Conta-me Tudo, do David Cristina. Não só pela diversidade de histórias, de temas mas, acima de tudo, pelo leque de emoções que nos faz sentir; para além disso é curto e ideal para ouvir enquanto me arranjo ou faço as lides domésticas - entre fazer a cama, esticar o cabelo e pôr a comida a descongelar, um episódio fica ouvido.

Ouvi também alguns episódios do Reset, da Bumba na Fofinha, vários d'O Avesso da Canção, da Luísa Sobral (aconselho muito o episódio do Miguel Araújo e o do Pedro Abrunhosa) e também do E Projetos Para o Futuro, do Nuno Markl em parceria com a Delta (curtinhos e perfeitos para quando o tempo e a paciência não abundam). Quando não havia mais para ouvir, entretinha-me com A Noite da Má Língua - e enquanto me ria com as opiniões parvas de uns e uns tiros certeiros de outros, ficava a par das notícias do dia-a-dia, em vez de pensar só em fait divers.

Neste momento estou à procura de novos podcasts para me entreter, por isso se tiverem sugestões, chutem!

 

Série do Ano

- Sex Education -

Sei que não é a escolha mais óbvia, por isso carece de contexto. Sempre gostei muito da ideia original do Sex Education mas fiquei muitíssimo desiludida com a segunda temporada - de tal maneira que não a vi até ao fim. Achei que desvirtuaram a linha de ação (e personalidade) de algumas personagens e até o enredo me estava a irritar. Dei uma segunda oportunidade e vi a terceira temporada, lançada em 2021, e voltei a ficar agarrada e fã. 

É claro que o fim da Casa de Papel é digno de menção, mas ao contrário da Sex Education não acho que as últimas temporadas tenham dado a volta ao texto e melhorado - como já tinha escrito aqui, a série devia ter parado no primeiro assalto e fechado com chave de ouro. Squid Game leva o prémio de série mais viciante, mas é demasiado dark para o meu gosto pessoal. Por fim, mencionar as Doce - a série em português que mais gostei no ano passado. Espero que existam mais, com a mesma qualidade, neste 2022.

 

Documentário do ano

- Three Identical Strangers -

Three Identical Strangers é um documentário sobre o (re)encontro de irmãos trigémeos, separados à nascença, que aconteceu por mero acaso. É sobre a forma caricata como se encontraram uns aos outros, mas vai muito mais a fundo: porque é que eles foram separados? Será que tinham semelhanças apesar de terem vivido mais de duas décadas sem se conhecerem? E como é que o reencontro os afetou? As respostas são pouco óbvias e muito mais obscuras do que aquilo que se pensaria.

Não sei porque é que me marcou tanto - se pela história engraçada, se pelo twist que acabou por ter -, mas a verdade é que falo dele com regularidade e por isso penso ser justo dar-lhe este "prémio". O documentário estava na Netflix mas penso que entretanto saiu. 

 

Música do ano

- You Get What You Give, dos New Radicals - 

O Spotify dita que a música do meu ano é a Spring 1, uma revitalização do clássico de Vivaldi pelo Max Richter - mais uma vez porque a ouvi vezes sem fim, principalmente enquanto escrevia ou precisava de me sentir inspirada. Mas vou de novo desdizer a plataforma de streaming: apesar de adorar a Spring 1, não considero que tenha sido a música do meu ano.

Por alguma razão que desconheço, a You Get What You Give, dos New Radicals, é a música que eu associo ao meu casamento - e o facto de eu ter contraído matrimónio foi, sem dúvida, o evento central do meu ano (ou pelo menos da primeira metade). Por isso, e embora seja um bocadinho estranho escolher uma música de 1998 como a minha música de 2021, é o que vai acontecer.

Podendo dividir a coisa em dois semestres, a Adele marca sem dúvida a segunda parte do ano, com o seu novo álbum. A minha música preferida é a "I Drink Wine", mas aquela que descreve melhor 2021 é a "Hold On". Destaque extra para a lusofonia, com a minha música preferida do ano em português: Onde Vais, da Bárbara Bandeira e Carminho.

 

 

Livro do ano

- Almoço de Domingo, de José Luís Peixoto - 

Não é difícil escolher o livro do ano porque só li... dois. Eu sei, é vergonhoso. Ao menos um deles foi óptimo!

Gostei mesmo de ler este "Almoço de Domingo" - desde a estória até à construção peculiar da narrativa (algo a que os leitores de José Luís Peixoto já devem estar habituados, mas eu não). Há livros deste autor que, devido à estrutura e estilo de escrita peculiares, não me convencem. Abri uma exceção para este e ainda bem. Fiquei inspirada pela história de vida e pela força de Rui Nabeiro, de quem não sabia muito, mas de quem me senti muito mais próxima quando acabei de ler a última página.

 

"Quando acumulamos suficiente tempo, os domingos transformam-se num período de vida. Recordamos os domingos como uma unidade, anos inteiros só de domingos, estações inteiras compostas apenas por domingos: os domingos de verão, os domingos de outono, todos os domingo de inverno e, de novo, as promessas feitas pelos domingos de primavera. Foram dias separados por semanas, antecedidos por sábados com ilusões próprias, sucedidos por segundas-feiras com agendas precisas, tarefas fatais que exigiam ser feitas, mas tudo se dissipa até ficar apenas uma amálgama de domingos. Ao serem vividos, transformaram-se nessa amálgama, como um almoço de domingo infinito, a crescer permanentemente a partir do seu interior."

 

 

Programa de TV do ano

- Trafficked by Mariana van Zeller -

Sou completamente viciada nesta série que estreou o ano passado no National Geographic. A campanha promocional foi grande mas eu só me interessei mesmo pelo programa quando percebi que a jornalista era portuguesa, quando ouvi parte da entrevista que a Mariana deu ao Era O Que Faltava, da Rádio Comercial. E que jornalista! Que "tomates"!

A Mariana van Zeller mete-se no meio de gangs, de bunkers cheios de armas, de florestas recheadas de narcotraficantes e em mundos que só ouvimos falar nos filmes ou nas otícias, naquele que parece ser um mundo e uma realidade muito distantes. São normalmente 45 minutos de programa que devem exigir horas e horas e horas de pesquisa e de tentativas falhadas para ter alguém que dê a cara (ou pelo menos a voz) por todas as coisas ilegais de que já ouvimos falar mas com as quais nunca tivemos proximidade. 

A segunda temporada está agora a passar no National Geographic aos sábados, às 22h30. A primeira, para mim, ainda é melhor. Vale muito, muito, muito a pena!

 

O (meu) post do ano

- Uma História com Princípio, Meio e Sim! -

Toda a rubrica "Uma História com Príncipio, Meio e Sim!" foi um exercício muito bom, bonito e "depurador" para mim - e marcou claramente o meu ano a nível de escrita, pois foi aí que me foquei acima de tudo, defraudando todos os outros temas sobre os quais costumo dissertar. Esta série de textos foi dolorosa em alguns momentos e curativa noutros. Fi-la muito mais para mim do que para os outros, mas eu queria muito deixar registos desta fase tão conturbada da minha vida - um evento tão bom misturado com sentimentos tão difíceis... foi uma gestão complicada que quis documentar. Dentro deles, o post do vestido de noiva foi o mais lido e também o mais sentido - hoje choro quando o leio. Mas o mais importante de todos, o post do meu ano, foi o último, em que falo do casamento e da terapia.

 

A viagem do ano

- Maldivas -

Só fiz duas, Maldivas e Açores, e ainda quero escrever sobre ambas (ainda que já leve meio ano de atraso). Mas é claro que as Maldivas - perdoa-me Açores!!! - arrecadam este meu galardão, pois roubaram o meu coração. Quero tanto voltar!

 

A palavra do ano

- Resiliência

 

A foto do ano

Não há "a" foto. Há muitas, felizmente! E tendo em conta que este ano tive um fotógrafo por minha (nossa) conta num dia tão especial, a foto do ano tinha de ser uma das muitas que ele nos tirou. Mas de tão boas é difícil escolher... por isso, em vez de uma, vão duas:

 

C&M_TheStorytellers-1977.jpg

C&M_TheStorytellers-2035.jpg

 

O vídeo do ano

Não há grandes dúvidas: o casamento foi o evento do meu ano e tudo roda à volta dele. Ainda não tinha mostrado nenhum vídeo daquele dia, por isso fica aqui em modo best of (este é o teaser, mais curtinho, bom para terem um glimpse daquilo que foi este dia tão bonito). 

 

27
Jul19

Uma carta à... #5 NOS

Querida Nos,

Tem calma: este post não vai ser uma reclamação, como as dezenas (centenas?) que recebes diariamente. Também não te entusiasmes: não vou estar aqui a elogiar os teus serviços, igual a todos os outros. Mas há uma coisa em que, desde o início, és brilhante: a publicidade. E isso há que admitir! Desde o "Don't Stop Me Now", que marcou o lançamento da marca, passando por vários anúncios geniais com o Bruno Nogueira. Mas, confesso, estes últimos é que me roubaram o coração: o duo Ana Bacalhau e Samuel Úria a cantar músicas em forma de serenata a jovens desesperados com dramas do século XXI (coisas gravíssimas como o acabar da net móvel ou o não ter wi-fi fora de casa) são a minha paixão dos últimos tempos. Daí a minha carta. O mundo precisa de ter aquelas canções completas e não apenas sketchs de 30 segundos. A genialidade não deve ter fim.

Até porque ainda há tantos assuntos do género por tratar e cantar! Como isto não pode ser só pedir e não dar nada em troca, eu tomei a liberdade de usar os meus parcos dotes de compositora para vos ajudar nesta árdua tarefa. Escrevi sobre três temas distintos: as falhas recorrentes das boxes, a lentidão da net e o momento em que o dinheiro do nosso cartão SIM chega ao fim. Peço-vos, por favor, que leiam isto ao som da melodia desenvolvida pela Ana e pelo Samuel, só assim isto resulta como deve ser. Ora vamos lá:

 

 

Se a box está sempre a falhar

Tu tem calma

Não a mandes para um certo lugar

Chama os nossos assistentes,

Eles são giros e carentes,

Acredita, eles não te vão falhar.

 

Se a tua net está lenta

É uma questão de tempo até recuperar

Não te irrites

Não nos grites

Prometemos uns convites

E ao cinema vais poder voltar.

 

Acabou-se o dinheiro no cartão?

É bom que tenhas umas notas à mão...

Vai buscar ao mealheiro,

Ao teu pai,

Ao galinheiro,

Paga o que deves ou pede ao teu irmão...

 

Posto isto, sinto que já fiz um grande contributo para a causa. Qualquer coisinha, é só apitar. Tenho a certeza que sabem o meu número, não é verdade? Essas bases de dados devem servir para alguma coisa de útil.

 

Beijinhos,

Carolina

27
Jan19

Uma carta à... #2 TVI

Querida TVI,

Temos de falar. O teu desprezo para com as crianças deste país é qualquer coisa de bradar aos céus. Para os adultos fazes novelas a torto e a direto, renovas as edições do Love on Top só para ver se passa mais sexo na TV e agora até já te adiantas nos preliminares com o novo First Dates (agora que penso, a tua desconsideração passa também por todos aqueles que não falam inglês e não conseguem perceber metade dos nomes de todos estes programas - mas enfim). 

Falemos então dos mais novos, esses que estão a levar com os mesmos programas matinais de fim-de-semana há mais de uma década. Por esta  altura, a Vila Rica do Banco dos Quatro já é "Conjunto de Freguesias das terras de não sei onde" e o bando já passou a ser uma associação contra o crime sem fins lucrativos; os jogadores do Campeões e Detectives já devem estar a chegar à idade da reforma; os miúdos do Detetive Maravilhas já desbotaram aquele diário mágico do avô depois de tanto procurar por soluções mágicas. E isto para não falar no Inspetor Max, um dos casos mais berrantes: vai-se a ver e o Tiago - filho do inspetor - daqui a nada já tem filhos (só eu sei como ficou este meu coração quando vi o rapagão em que ele se tornou) e a velha empregada de limpeza, a Justina, até já morreu...

Eu percebo a lógica por detrás disto: supostamente os miúdos deixam de ser miúdos, o que faz com que se fartem rapidamente de ver estas coisas, e a plateia vai-se renovando sem vocês fazerem nenhum, passando episódios em modo loop como quem não quer a coisa, à espera que ninguém repare. Pois eu, adulta que prefere assistir a estes programas a ver a missa de domingo (ou a deixá-los correr em pano de fundo enquanto tomo o pequeno-almoço), reparo - e estou aqui a dar o corpo às balas, depois de quase saber de cor os diálogos do Bando dos Quatro e companhia. Faço-o porque os miúdos, principais interessados nesta batalha, para além de não terem grandes meios para se expressar, escrevem quase todos com tantos erros ortográficos e de concordância que mal se perceberia o que quereriam dizer. E lembrem-se: nós somos jovens, temos a memória fresca, fica tudo cá dentro - não é como nos reality shows, em que repescam os concorrentes como quem recupera e fuma as beatas até ao fim, até não haver nada de útil que se aproveite.

A modos que é isto. Se querem continuar a repetir coisas, ao menos que troquem de programas e que deixem de nos tratar como se fossemos velhinhos com Alzheimer. Senão, daqui a nada, preferimos mesmo ver a missa - o discurso também é sempre o mesmo, mas ao menos temos mais probabilidades de ir para o céu.

Cumprimentos desta jovem,
Carolina

30
Ago18

Eu, miúda saudosista da geração morangos, me confesso

Morangos-com-Açúcar-Joana-e-Pipo.jpeg

 

No facebook não se fala de outra coisa: há 15 anos, neste mesmo dia, começava uma série que ia mudar a juventude de todos os que por lá passaram nessa época. Lembro-me perfeitamente de começar a ver e de pensar que nunca nenhuma novela iria bater a "Saber Amar", uma novela protagonizada pela Leonor Poeiras e pelo Rodrigo Menezes (o meu primeiro amor platónico), que tinha terminado precisamente antes dos Morangos com Açúcar. Também me recordo, pouco tempo depois, de ter dado a mão à palmatória: os Morangos eram melhores. Não havia nada como os Morangos.

Isto porque era uma novela para todos, sobre todos. Eu nunca fui a miúda fixe da escola, nunca tive grandes amigos, nunca tive namorados - e havia personagens como eu. Também havia os rebeldes, os betos, os surfistas, os skaters, os graffiters. O bar do Pipo, o bar do Fred, as primeiras bebedeiras, os primeiros "spots", as "primeiras vezes", os namoros, as traições, as gravidezes na adolescência, as zangas com os pais, as férias com os amigos, os bons e os maus. Na verdade, era o retrato de todo um mundo em que eu estava a entrar (tinha 8 anos quando a série estreou), mas que acabou por me moldar e definir um bocadinho daquilo que sou hoje.

Lembro-me de andar a suspirar pelos cantos em pleno 4º ano, apaixonadíssima pelo Simão (aka Pedro Teixeira - há coisas que nunca mudam...) e de também querer beber um MorangIce. Lembro-me de ter usado uma camisola laranja no dia depois do Francisco Adam (o grande Dino!) ter morrido, por ser essa a sua cor favorita. Lembro-me de regular a minha vida e os meus trabalhos de casa de forma a estar - religiosamente! - às 18h à frente da tarde para ver a repetição do episódio do dia anterior e às 19h o episódio do dia. Lembro-me de quando o Colégio da Barra foi infetado por um vírus terrível, quando a Ana Luísa se perdeu no deserto e de quando a Matilde foi esfaqueada (e se eu vos disser que não pesquisei nenhum destes nome e que ainda está tudo na ponta da língua?!). Lembro-me de ter todos os CD's com as bandas sonoras, de os esfregar até à exaustão para ficar com o cheirinho a morango nos dedos e de chorar quando ouvia a "Picture of my own", dos Fingertips (a música do Simão e da Ana Luísa). Lembro-me de um talk show, à tarde, feito por atores da série (que toda a gente parece ter esquecido e que eu também não me recordo do nome) e do teatro dos Morangos. Lembro-me de várias letras dos DZR'T de cor e ainda vibro de cada vez que ouço "Ação, é o clique da claquete, presta atenção a este show de marionetas (...)". Lembro-me de dizerem que a série era uma má influência para os adolescentes, que a certa altura só faziam rabiscos nas paredes para tentar imitar o Manel e a Becas. Lembro-me de muitas, muitas personagens (não se nota nada...). Lembro-me de uma das séries de verão em que eles estavam numa "surf house", que ainda hoje existe no meu imaginário e é idealizada como as minhas férias de sonho com amigos (que não tenho, mas que na altura sonhava ter). Lembro-me do SACO do Rafa - Serviço de Apoio à Cabula Organizada. E lembro-me do dia em que me apercebi que já não via Morangos, que essa fase já tinha terminado (talvez algures na 7ª temporada), e do quão triste fiquei com isso.

Quer queiram, quer não, os Morangos foram um marco para a minha geração. Para mim, foi tão indescritível que é impossível pôr em palavras ou descrever as lembranças, até porque foi um fenómeno partilhado (ainda o é hoje, quando vejo os meus sobrinhos a ver episódios no Panda BIggs). As personagens faziam parte do meu grupo de amigos, os seus dramas eram os meus. Eu podia não ter amigos, podia não ter nada em comum com quem me rodeava - mas era certo que os Morangos eram um tópico seguro, porque toda a gente via e adorava.Tudo aquilo que escrevi no parágrafo acima é só uma pequena parcela do que me lembro, assim como das saudades que tenho. Apesar de tudo, ainda era um mundo um bocadinho diferente - nessa altura, as televisões davam-se ao luxo de repetir um episódio que havia passado no dia anterior, nunca sonhando que dez anos depois qualquer um podia andar com a emissão para a frente e para trás. 

Este post já era para ter sido escrito há uns três meses, quando o meu coração palpitou de saudades ao ver um reencontro da família Morangos, relatados em muitos instagrams alheios (o da Mariana Monteiro é um bom exemplo, podem ver esses posts aqui e aqui). Foi aí, ao ver que muitos dos meus atores preferidos da época já têm rugas, cabelos brancos e provavelmente filhos para criar - e isto depois de ter passado alguns minutos até conseguir reconhecer alguns -, que percebi que tinham passado 15 anos desde a primeira série. Primeiro fiquei de queixo caído. Depois lembrei-me que os anos não passam só para alguns e que eu também sofri a passagem do tempo; que a menina de 8 anos, algures no 3º ano, que esperava ansiosamente pelos episódios em frente ao mono a que chamava TV, também já se foi embora há muito tempo.

 

06
Fev18

Um post um tanto ao quanto adulto no Delito de Opinião

Comecei a escrever diariamente em 2009, em blogs que hoje em dia já não andam por aí e cujos textos só moram na cabeça de alguns. Acho que ainda sou uma miúda, mas na altura era MESMO miúda - não tinha sequer feito o 9º ano. Não fazia ideia que a escrita ia ser uma parte essencial da minha vida e do que estava para vir; e muito menos esperava que fosse isso a mudar o rumo da minha formação e vida profissional (uma vez que tinha ideias muito fixas relativamente aquilo que queria fazer no futuro).

Lembro-me de ir ver os rankings dos blogs mais visitados do país - numa altura em que o "meu" Twilight Portugal estava nos lugares cimeiros, ao lado d'"A Pipoca Mais Doce" e outros blogs de futebol, se a memória não me falha - e de estar lá o nome do Delito de Opinião. Eu era miúda, não lia esse tipo de blogs. O Delito era (e é) um blog adulto. Tem opiniões de quem já teve uns anos para pensar sobre muitos assuntos e sabe apresentar argumentos de acordo com aquilo que acha, já para não falar do traquejo e da experiência de escrita que a maioria dos autores tem no lombo. Fala sobre política, livros, filmes e coisas do dia a dia - mas, pá, de forma adulta. Com algumas palavras difíceis, com uma aura de quem sabe o que diz - mesmo que não concordemos com o que está lá escrito.

Leio pontualmente alguns posts deste espaço que, para mim, é uma das bandeiras do Sapo - em grande parte por se ter aguentado durante todos estes anos, pela frequência de posts e diversidade - e foi mesmo com enorme espanto que, aqui há dias, recebi um convite para escrever lá um texto. Disse logo que sim, mas depois vi-me grega para saber o que escrever. "O quê que eu vou escrever no Delito? O quê que se escreve para pessoas adultas? O quê que se diz num blog sério?". Pensei durante uns dias e decidi dissertar sobre um tema que, mais tarde ou mais cedo, iria discutir aqui: a série Casa do Cais. Mete youtubers, dinheiro público, adolescentes e comportamentos fora do padrão/cada vez mais no padrão: um mix perfeito para uma boa troca de ideias e para um post completo. Sério. Adulto, talvez.

 

"Foi com enorme surpresa que, aqui há uns tempos, vi um anúncio na RTP a uma série que claramente pretendia chamar a atenção de um público mais jovem: chamava-se Casa do Cais e tinha como “actores” vários youtubers portugueses, com um guião inspirado na história real acerca da vinda de um desses youtubers para Lisboa, após ter saído da sua terra natal, o Entroncamento (detalhe que só vim a descobrir mais tarde)."

 

Hoje convido-vos, por isso, a ler o meu post do costume, mas num estaminé diferente. Hoje escrevi no Delito. Caraças, hoje percebi que cresci. Talvez esteja a ficar adulta como os outros.

 

Casa do Cais: retrato real ou forçado de uma geração?

(clicar para ler)

21
Fev17

Quem foi o génio que decidiu pôr uma série dobrada em Portugal?

Este fim-de-semana, enquanto tomava o pequeno-almoço, liguei o AXN só para fazer barulho de fundo enquanto comia - era melhor que os desenhos animados que passavam na RTP2 ou a missa que dava no primeiro canal. Ao menos via um pedaço de uma série qualquer e ficava entretida. Mas quando liguei, e sem qualquer tipo de espanto, passavam anúncios. Estranhei quando ouvi várias vozes portuguesas, naquilo que me pareceram ser cenas de ação ou de diálogo, e olhei para a TV.

Fiquei em choque quando me apercebi que o anúncio estava dobrado para português. Sim, essa coisa horrível, típica de brasileiros e espanhóis, que fazem com que séries e filmes sérios pareçam autênticos desenhos animados, enquanto alguém fala por cima da imagem de outra pessoa que se nota perfeitamente que não está a dizer nada daquilo que ouvimos. É absolutamente medonho. Apressei-me a escrever no facebook e a comentar aqui em casa, mas o assunto morreu.

À noite, quando falava com a minha cunhada, ela comentou comigo que aqui há dias tinha visto uma série no AXN dobrada, que tinha ficado espantada com o que viu - e aí é que me caiu a ficha. Eu achei, na minha ingenuidade, que o AXN tivesse tido um ataque de loucura (ou pelo menos de experimentação) e passado apenas (!) um anúncio dobrado, tal como faz o TLC; o que nunca me passou pela cabeça é que a série fosse, efetivamente, dobrada! No TLC os anúncios passam todos em português mas as séries mantêm o formato original, apenas com legendas. Mas, no caso do Einstein, pelos vistos não acontece o mesmo.

É claro que fui logo a correr ao facebook do canal, já a prever o chorrilho de críticas que por lá havia. Não me enganei. Aliás, o primeiro comentário já era mesmo um esclarecimento do próprio AXN, em que dizem "As séries dobradas não perdem o seu valor original, ganham um novo valor, como se pode comprovar em vários países. No caso de Einstein, os diálogos são tantos e tão rápidos que não era possível legendá-los todos porque se sobrepunham continuamente, e acabávamos por perder muito conteúdo importante e imprescindível para poder entender a história. Como tal, e para benefício do espetador, o AXN decidiu assumir a dobragem da série.". Ri muito. 

Não havia um único comentário positivo relativamente à dobragem. Um! O que não me surpreende, porque em Portugal só se faz dobragens nos filmes de animação - e, mesmo assim, conheço muito boa gente que vê as versões originais (eu me confesso). Não temos essa cultura - e ainda bem! Por só ouvirem as suas línguas é que os brasileiros e os espanhóis não conseguem falar mais nada direito; já nós apuramos os ouvidos desde pequenos e desde sempre que nos habituamos a ler legendas. Para além de que temos uma aversão natural a tudo o que é dobrado, tal como os hispânicos parecem ter ao inglês e línguas estrangeiras. 

Por acaso nunca calhou de ver a série, mas tenho a certeza de que não aguentaria dois minutos a ver algo de ação com as nossas vozes de pasmaceira (mesmo que estejam aos gritos, o português nunca parece fidedigno neste tipo de cenas, desculpem lá). De qualquer das formas, já vi um comentário algures dizendo que o AXN vai também transmitir a versão original, em alemão. Parece-me uma melhor ideia. Porque uma coisa é certa: quem teve a esperteza de dobrar uma série em Portugal, não é de certeza absoluta nenhum Einstein.

19
Set16

É oficial: sou uma Game of Thron'iana!

Ahhhhh, a notícia pela qual todos esperavam! Finalmente comecei a ver Game of Thrones!

O milagre aconteceu há mais ou menos um mês, numa fase mais parada das minhas férias, em que precisava de algo para me entreter. Devorei a primeira temporada em poucos dias; atirei-me logo à segunda, vi tudo de rajada mas não fui a tempo de ver o último episódio antes de ir acampar. E depois, mal voltei, entrei a 200% por cento na vida adulta (ainda à mistura com a vida universitária, porque ainda tive o tal exame e trabalho para fazer), pelo que não consegui ver o dito episódio até há dois dias atrás. Sim, meus amigos, é possível esperar três semanas para ver um final de temporada de Game of Thrones que está guardado no computador e sobreviver!

Conclusões a tirar: estou a gostar muito e agrada-me a ideia de ainda ter várias temporadas pela frente para me ir entretendo (o problema vai ser mesmo arranjar tempo para as ver). A série tem uma onda que eu gosto e tem uma componente de "fantástico" grande, da qual eu sou uma adepta afincada há vários anos. Por outro lado, consegue ser pesada quanto baste em alguns episódios - espadas pelo coração adentro e cavalos cortados pelo pescoço não fazem parte das coisas que goste mais de ver num ecrã (e devo confessar que me custa mais a morte dos animais do que das pessoas). Ainda assim, não é algo que me afaste da série, até porque não a acho "negra" no seu todo (Outlander, por exemplo, consegue ter episódios verdadeiramente pesados, escuros e violentos, tanto física como psicologicamente, e eu não deixo de adorar a série por causa disso).

O que me admira aqui é que, mesmo com este cocktail improvável e pouco fácil de ter clientela, esta é, sem dúvida, a série do momento (quer dizer, agora esmoreceu um bocadinho por só voltar para o ano, mas não há como não lhe atribuir esta nomenclatura). Sei, por falar com as pessoas, que tudo o que mete fantástico ou é profundamente odiado ou adorado - conheço tantas pessoas que adoram como tantas que detestam. Por outro lado, há também muita gente que não tolera violência. Acho que estes dois fatores juntos, numa outra série qualquer sem o prestigio que Game of Thrones conquistou nos últimos anos, podia mesmo ditar um fracasso, a menos que fosse uma coisa de nicho. E aqui, contra tudo aquilo que eu acho, vejo e ouço, é a receita perfeita para um sucesso de massas como nunca antes se viu numa série (nunca esquecendo, claro, a qualidade dos atores, da cenografia e da realização, que numa série de nicho é dificílimo ter, até porque Game of Thrones é exímio em todos estes aspetos).

Devo confessar que, para mim, o lado pior da série consegue ser muitas vezes a história (ou o guião, não sei - como nunca li os livros, não sei onde estão as falhas). Sinto que há muitas pontas deixadas um pouco ao acaso e coisas sem grande explicação aparente (ou explicadas em tempo útil, uma vez que há coisas que só conseguimos entender muito tempo depois), o que muitas vezes dificulta a minha organização mental e faz com que certas partes me passem ao lado. 

No que diz respeito a desgostos em relação a personagens e ao vício do George R. R. Martin tem de matar tudo a torto e a direito, posso afirmar que - até agora - estou a salvo. Tive a grande vantagem de só ver agora a série e, por isso, vir de sobreaviso - tenho tido o cuidado de não me "apegar" demasiado a nenhuma personagem, para não ter nenhum sopapo quando a decidirem matar (e, por acaso, tenho achado tudo mais ao menos previsível). Houve alguns spoilers que também chegaram até aqui (é impossível sobreviver ao facebook em dias de episódio, não é verdade?), pelo que sei que posso estar descansada em relação ao Jon Snow, por exemplo.

E pronto, é isto. Era só para vos dizer que sou agora uma mulher mais atual e completa, agora que percebo (quase) todas as private jokes, mêmes e piadas facebookianas em relação a Game of Thrones. Quando chegar ao fim da última temporada, naquele dia em que me bater uma tristeza profunda por me sentir órfã de série, grito por socorro.

15
Jul16

Sobre os guilty pleasures desta vida, uma amizade incondicional e um autógrafo

Há duas coisas importantes a saber sobre mim. A primeira é que tenho um punhado de amigos, poucos, mas verdadeiros; sim, eu sou aquela pessoa que distingue os outros categorias: "desconhecidos", "conhecidos" e "amigos" - na verdade, devia haver uma categoria qualquer entre os "conhecidos" e os "amigos", que não sei bem o nome, mas em que caem várias pessoas que me rodeiam. Ainda assim, amigos, tenho poucos - e, surpreendentemente, com alguns deles não tive mais do que uma dúzia de vezes na vida.

A outra coisa que têm a saber é que o meu guilty pleasure do último par de meses tem sido ver a "Massa Fresca", a última série de tarde lançada pela TVI. Podem rir-se à vontade, dizer que é para meninos e que é a Floribella 2. Não quero saber. É uma série levezinha, com personagens super engraçadas e dois atores principais que adoro - principalmente a Mafalda Marafusta, que faz de Maria, e que é das atrizes mais expressivas que tenho visto nos últimos anos a passar na televisão. 

Agora que já sabem estas duas coisas sobre mim, é só junta-las. Resumindo: uma grande amiga (sim, uma dessas com quem só estive uma meia-dúzia de vezes) cruzou-se duas vezes com a Mafalda Marafusta, aquando dos jogos do Euro. Da primeira vez, disso-mo e eu confessei-lhe que adorava a série e a Mafalda - e ela, como provavelmente vai acontecer convosco, gozou-me por (com 21 anos) estar a ver o chamou "um remake da Floribella". Da segunda vez que a viu, sem uma folha para lhe pedir um autógrafo, sacou de um lenço de papel e pediu-lhe um autógrafo - algo que só sei agora, que acabo de receber uma carta com um lencinho rabiscado lá dentro, até porque a sacana andou uma semana a esconder isto de mim!

E vocês dizem: "oh, que grande coisa... já pedi imensas vezes autógrafos para os meus amigos!" Pois, mas têm de ter em conta o facto de tanto eu como ela sermos as pessoas mais envergonhadas deste mundo no que diz respeito a autógrafos. Sabem aquela dor aguda que nos dá quando batemos com o dedo mindinho do pé numa esquina? Pronto, nós temos uma dor semelhante a essa só de pensar em pedir um autógrafo. Eu, para além disso, fico a suar como se tivesse corrido a maratona. Por isso, sim, pedir um autógrafo é, para nós, uma prova de amizade incondicional. 

Não é que eu alguma vez tenha tido dúvidas. Mas agora com um autógrafo da "Maria" está tudo oficializado. Obrigada 

 

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04
Jul15

Miúda de 95 36#

O intervalo noturno do canal Panda

 

Eu já fui uma sortuda por ter televisão quando era miúda (os meus pais não podem dizer o mesmo) e de ter, como é óbvio, o Canal Panda para me fazer companhia. Era isso e as cassetes em espanhol, com os filmes da Disney e etc (que não gostava tanto porque, já na altura, me deprimiam com aquelas histórias tristes). Nada comparado com o que há hoje, como é óbvio - agora há Disney Channel 1 e 2, o Panda normal, o Panda Biggs, o Cartoon Network com dobragem em português, o Baby First e devem haver tantos outros que me estou a esquecer. 

Na minha altura era só o Panda e a RTP2 e não era durante vinte e quatro horas por dia, como se vê agora. A RTP2 era de manhã (como ainda penso que é), o Panda era só durante o dia. Chegava a uma hora da noite (se calhar era mesmo à meia-noite) que fechava a loja e a aparecia uma imagem horrível, a dizer que só voltavam amanhã; mesmo como quem diz "vá, vão para a cama que já são horas de dormir e já estamos fartos de vos aturar". Era triste, principalmente se não conseguíamos adormecer e nos aparecia aquela imagem do demónio.

Eu não gostava, porque era escura e parada, mas conheço muito boa gente que tinha horror àquilo. Tinham mesmo medo! Ainda por cima ouvia-se um panda a dormir e a ressonar. Ou seja, à noite, com tudo escuro, aquela imagem e aquele som... eram mesmo razões para fugir. Ou trocar de canal num ápice, mas correndo o risco de apanhar coisas ainda piores pelo caminho.

Enfim, a verdade é que muitos dos pesadelos das crianças da minha geração deveram-se a esta imagem de fim de emissão. As crianças de hoje em dia não sabem o que nós sofremos com isto.

 

 

23
Jun15

Até Voares

A reportagem de ontem da TVI é, por um lado, um murro no estômago e, por outro, uma esperança na humanidade. Ouvir as histórias daquelas pessoas - que foram vendidas por um garrafão de vinho, que foram queimadas, que viveram no meio dos animais - fazem parecer os nossos problemas uma ninharia; isso e a bondade daquele homem, que parece não ter fim. 

Tive uma cadeira de ética este semestre onde falamos que "nunca se deve reduzir o homem ao seu crime". Estampei isso em todos os trabalhos que tive de fazer para a cadeira, mas nunca senti, de facto, o peso das palavras que escrevi - seria hipócrita da minha parte dizer que não o faço, que não julgo uma pessoa porque matou outra ou coisas menos graves. E, no entanto, aparece-nos este homem, que acolhe tudo e todos de braços abertos e olhos fechados aos atos do passado.

Do muito que se pode dizer sobre esta reportagem, retiro duas coisas que me marcaram particularmente:

Primeiro, a relatividade das coisas. João Almiro questionou, e bem, como é que uma rapariguinha não há de matar alguém quando, em miúda, foi violada e queimada nos seios e nas axilas quando o homem ainda não tinha tido prazer suficiente? Como é que uma pessoa destas pode ser "normal", boa, feliz, quando sofreu um abuso deste tamanho? De facto, postas assim as coisas, matar não é assim tão complicado.

Segundo, foi uma resposta que deu um dos residentes da casa, quando questionado sobre o quê que vê agora quando olha para si. Respondeu: "vejo que sou um homem". Parece redundante (porque, supostamente, todos somos homens ou mulheres), mas neste caso é tudo menos isso. Ele, agora, já se consegue ver um homem - porque antes não conseguia. Uma questão tão basilar como esta - sentir-se um ser humano - era antes posta em causa e isso, a mim, mexeu-me com as entranhas.

Parabéns à TVI, à jornalista, ao repórter de imagem e ao editor pelo belíssimo trabalho (e sim, eu agora já sei dar valor individual a cada um deles e percebo que cada um fez um trabalho espetacular). Que belo trabalho.

 

Para ver aqui.

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