Uma história com princípio, meio e sim! #3
Casar pela igreja? It's a no for me!
O casamento pela igreja era uma não-questão. Isto porque era daquelas que, para além de saber bem aquilo que queria, era também dos tópicos em que eu não iria ceder (isto tendo em conta o noivo que tenho; se fosse alguém extremamente devoto, a história poderia ser diferente).
Se há coisa que eu prezo na vida é a coerência - foi assim que fui ensinada e é algo que gostaria de manter. Se é verdade que as pessoas mudam, também o é que não mudam assim taaaanto. A minha parca ligação com a igreja é algo constante - em nenhuma fase da minha vida fui praticante ou tive um contacto mais presente com a religião. Sou batizada mas, para além disso, só pus os pés em igrejas para funerais e casamentos (nunca fui à catequese). Costumo dizer que sou católica pela cultura que tenho e pelos princípios com que rejo a minha vida - a preocupação com o bem do próximo, a solidariedade, etc.
Tenho fé - mas não é algo que caiba dentro dos "parâmetros" normais, justificada por um Deus. Não a encontro em locais de cariz religioso. A minha fé materializa-se no acreditar numa qualquer forma de perpetuação das pessoas que já partiram e que fizeram parte da minha vida; sinto a sua presença em pequenos detalhes do dia-a-dia, e em mim própria, em várias ocasiões... e é nisso que acredito. Mas, para mim, isso em nada tem que ver com a igreja.
Diria até que, ao nível da igreja-instituição, a minha relação tem-se vindo a degradar. A ideia dos peditórios, dos dogmas, das ideias fixas e pouco flexíveis e os escândalos afastam-me cada vez mais desse tipo de práticas.
O curioso é que embora sempre tenha gostado de marcar a minha posição, a religião é um tema muito sensível, sobre o qual tive dificuldade em impor o meu ponto de vista numa fase inicial da minha vida. Apesar de nunca ter sabido qualquer tipo de reza, não gostava de estar calada numa igreja onde todos pareciam saber os cânticos e os rituais; tinha a tendência de mexer os lábios para dar a ideia de que estava a dizer algo e procurava manter um ritmo natural daquele levanta-senta chato a que somos submetidos em todas as missas. Cheguei até a fazer uma leitura no funeral da minha avó e a andar com o cestinho a fazer a recolha das dádivas! E esse foi o ponto de viragem.
Aquela não era eu. Nunca fiz parte de grupos e nunca me preocupei por não fazer parte de um rebanho - pelo contrário, sempre me orgulhei disso. Porque é que ali, naquele sítio, tinha de ser diferente? Porque é que tinha de fingir saber fazer algo que de facto não sabia? Porque é que tentava fazer parte de algo que não me dizia nada?
Deixei de me benzer quando entro numa igreja. Deixei de mexer os lábios durante a missa. Deixei de me sentir pressionada naquele ambiente tão cheio de rituais e aceitei que não os sabia. Sento-me e levanto-me à medida que os outros o fazem e não me importo de ser a última a fazê-lo. Recusei fazer uma leitura no funeral do meu avô. Porque se é para ser coerente, é para o ser em toda a linha.
Por isso, relativamente ao casamento, não é preciso dizer nada, pois não? Se nunca fui praticante, porque me havia de casar pela igreja? Por ser bonito? Por ter um altar? Por ser costume? Não.
Não me esqueço de algo que o padre que celebrou o casamento do meu irmão lhe disse. Podendo falhar-me aqui alguma coisa na sua narrativa, a ideia é que hoje em dia só vamos à igreja em três ocasiões, transportados pelos 3 C's: primeiro por um carrinho, quando somos batizados; depois de carrão, quando casamos; e por fim de carrela, quando morremos. Eu quero ser coerente e quebrar este ciclo. Quando fui batizada não tive escolha (e, honestamente, não é algo que me afete) - mas hoje, adulta, acho que devo ir de encontro às minhas crenças e as minhas práticas (ou, neste caso, à falta delas). Se não frequento a igreja no dia-a-dia, também não me faz sentido lá ir num dia que para mim é tão importante.
Nos dois casamentos a que fui, ambos os padres, de diferentes paróquias, fizeram menção a esta hipocrisia em que todos vivemos mas que fazemos questão de assobiar para o lado de cada vez que nos toca a nós. Que devíamos frequentar a igreja no dia-a-dia, não só nestes dias especiais; que as igrejas não eram só para este tipo de celebrações. E a verdade é que estão corretos - estão a pedir coerência.
Aqui entre nós, devo confessar que quando vejo aquelas fotos dos noivos de joelhos no altar, compenetradíssimos nos seus pensamentos, penso para mim: "será que eles estão a fazer o que eu faço durante a missa inteira? A pensar o que vou fazer para o jantar durante a próxima semana ou que emails ainda tenho por responder?".
No dia do meu casamento eu quero ser feliz - e isso implica, provavelmente, quebrar tradições e fazer o menor número de fretes possível. Não quero uma celebração chata, num local que não me diz nada para além da sua beleza arquitetónica e regida por alguém que acha ter em si a palavra de um Deus em que não acredito. No meu casamento eu quero ser eu. E, como tal, a igreja nunca esteve na equação.