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Entre Parêntesis

Tudo o que não digo em voz alta e mais umas tantas coisas.

23
Out23

Porque é que as bolas vêm sempre aos pares?

Calma, suas mentes depravadas. Estou a falar das bolas de berlim.

O verão acabou há um mês, mas eu já estava em modo-luto de bolas de berlim há muito tempo. Isto porque podem fazer o que quiserem, mas não há nada que saiba igual a uma bola de berlim na praia. Podem inventar todo o tipo de marmitas (são, no entanto, automaticamente elegíveis para uma picada de peixe-aranha se levarem coisas saudáveis para a praia - sabiam disso, certo?) ou até comprarem a bolinha na pastelaria mais próxima e levá-la na mochila térmica - está cientificamente comprovado pelas minhas papilas gustativas que não é igual. A bola de berlim a sério compra-se (e come-se!) na praia, aos vendedores que gritam "bolinhaaaaa" e que, preferencialmente, fazem rimas e trocadilhos como ladainha para a sua venda; tem de sair de uma arca em forma de mala de picnic e ter como vizinhas muitas outras bolas, ainda que de sabores e recheios diferentes. Só o preenchimento de todos estes requisitos é que determina a compra da verdadeira bolinha de berlim. Isto faz com que só no verão é que tenhamos hipótese de degustar esta iguaria que, apesar de nome de capital alemã, é bem portuguesa.

Dados os meros três a quatros meses de vida, por ano, da real bola de berlim, somos muitas vezes obrigados a recorrer à contrafação. É mais ao menos como as Louis Vuitton - quando não há dinheiro para uma verdadeira, compram-se na feira, parecidas, mas com um preço mais simpático. Aqui é semelhante: à falta de berlineiros de serviço, pode-se sempre ir a uma pastelaria ou supermercado. Ainda há dias vi um vídeo da La Dolce Rita (pasteleira cujas receitas eu adoro) a comparar as bolas de berlim de supermercado. Como boa pasteleira que é, não conseguiu eleger nenhuma como a melhor (pois essa, a real, e se leram bem os parágrafos acima, só pode ser encontrada num certo e determinado local, com areia e água à volta) - mas provou-as e apontou os pontos fortes e fracos de cada uma delas. 

E eu não consegui ficar como mera espectadora - a saliva crescia-me na boca à medida que os minutos do seu vídeo iam passando. E eu, que não punha o dente em nenhuma bola desde Julho, fraquejei e tive de recorrer à contrafação de supermercado. Vi as várias opções disponíveis nos estabelecimentos mais próximos e foi no Lidl que descobri a que mais me agradou (e que, por acaso, a Rita não provou): a bola de berlim de alfarroba, com creme. Não me posso queixar - era boa, tendo em conta que é uma bola pré-congelada e que eu não estava de férias a apanhar sol na praia.

Há, no entanto, um problema generalizado: em todos os supermercados as bolas são sempre vendidas aos pares. E eu, que tenho um marido pouco dado a doces, deparo-me com uma constatação difícil: se quiser uma bola, terei de comer duas. É um verdadeiro problema de primeiro mundo - principalmente para as minhas ancas, que gritam de horror só com a perspetiva. Mas agora a sério: depreende-se que as bolas de berlim são para ser partilhadas? Ou que são tão boas que nunca se consegue comer só uma? Ou que as bolas... vêm sempre aos pares? São muitas dúvidas. Preciso de esclarecimentos. 

 

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(esta é das reais, com certificado de qualidade)

22
Ago19

As idiossincrasias das bolas de berlim

Sempre fui muito esquisitinha. Não gosto de nada que fuja da norma, de comida gourmet, de temperos arrojados, de especiarias, de texturas estranhas, de vegetais, de papas ou coisas moles. Sou muito simplória no que toca a comida, vá. Mas pode-se dizer que na praia viro uma pessoa bastante eclética.

Há uns anos escrevi aqui sobre a bolacha americana de côco - uma delícia que, pelos vistos, entrou em extinção este ano. Enquanto estive no Algarve chamei pela senhora, que me disse que já não faziam essa pequena relíquia da praia. Uma pena. Era óptimo e muito menos enjoativo que a bolinha. Mas enfim, uma pessoa aceita - ainda que com uma tristeza no estômago, de quem sabe que não vai voltar a provar uma coisa destas tão cedo.

Ataquei portanto o senhor das bolinhas com uma descoberta que tinha feito o ano passado: "tem bolas de beterraba?". "Não, já não fazemos de red velvet". Tau! Mais uma machadada neste meu coração, mais um golpe duro nas minhas papilas gustativas. Tudo num só ano... Mas ele colmatou: "mas temos de tinta de choco!".

E foi assim que eu comecei a começar bolas de berlim pretas, para grande impressão de todos os que me rodeavam. Mas choquem-se: são boas! Tal como as da beterraba, o doce é cortado por estes sabores mais atípicos, tornando os bolos muito menos enjoativos. Fiquei muito fã!
Quando agora fui para o Alvor a escolha das bolinhas era mais reduzida - embora a escolha por entre os vendedores seja bem mais vasta. Se em Albufeira há com creme, sem creme, morango, Nutella, doce de leite, tinta de choco, entre outros, no Alvor ficam-se pelo básico. Mas, mesmo assim, tornei a inovar: marcharam umas bolinhas de alfarroba que, para mim, batem as bolas simples.
Agora estou em Vila Praia de Âncora e não há grande alternativa: ou é com creme ou não há nada para ninguém. É o fechar de um ciclo: começo nas estranhas e regresso à base, normais mas fresquinhas, tal como se querem.

Aguardo agora com ansiedade os novos sabores do próximo ano. Bolas de café, para abrir a pestana em plena praia? De maracujá, com um toque crunchy? De abóbora menina, já a antecipar sabores de natal? De cenoura, com toque caseiro? Ou uma total inovação, como bolhinhas de carvão ativado, para evitar os gases noturnos?

Ficam as ideias, senhores das bolas. Surpreendam-me!

 

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26
Jun18

Salvem os golfinhos das pranchas de esferovite!

Não, meus amigos: eu ainda não ultrapassei o facto de ninguém me ter dado os créditos por, o ano passado, terem surgido todo o tipo de insufláveis (eram flamingos, fatias de pizza, ananases e melancias e até uns gelados ocasionais), após eu ter escrito, no ano anterior, sobre a falta de originalidade nas boias, que andavam sempre entre o golfinho desequilibrado, a orca assassina e o crocodilo-fofo. Tudo coincidências, dizem! Mas eu cá não acredito nessas falinhas mansas. Mas enfim, a vida continua.

Hoje estava outra vez na valiosa - e subvalorizada - atividade de observação quando me apercebo de uma menina a carregar uma daquelas pranchas de esferovite, que devem custar uns 32 cêntimos na China, que têm coisas estampadas de um lado e uma espécie de saco de ráfia preto no outro. Ainda sem ver nada, apostei comigo mesma que por detrás da parte negra estaria um golfinho. E bingo, acertei!

Porque a falta de criatividade ao nível dos produtos aquáticos aqui no Algarve não abrange (ou abrangia) somente os insufláveis. As braçadeiras para criança continuam a ser cor de laranja e as pranchas têm, 90% das vezes, imagens de golfinhos assustadoro-pirósos no seu verso mais colorido. O que é de louvar, tendo em conta que é difícil tornar um animal tão querido como o golfinho em algo quase aterrador. Mas eles conseguem!

As restantes 10% das pranchas são para os pais das crianças - na sua maioria rapazes - que não deixam que os filhos andem com essas coisas “amaricadas”. Há que comprar coisas com um ar de macho. Um tubarão e os seus 357 dentes, porque não? Ou então labaredas bem laranja, que fazem o olho de qualquer pirómano brilhar de alegria. Tudo coisas bonitas, portanto. E é incrível ver como, ano após ano, esses artigos de tecnologia altamente avançada se continuam a vender quais pãezinhos quentes! São gerações e gerações de golfinhos maltratados!

Venho, por isso, pedir que libertem os bichos dessa praga que os assombra desde que eu tenho idade para me lembrar. Mas, ao contrário do que fiz com as boias, não vou deixar sugestões de novos designs que poderão potenciar a venda deste objeto tão resistente, que perante as enormíssimas ondas de 40 centímetros fazem “crack”, deixando os filhos em lágrimas e os pais a chorar os 7,5€ que deixaram na papelaria ao lado do hotel. Ainda é com alguma dor que recordo que, embora me tenham roubado o projeto golfinhos-e-orcas-nunca-mais, nunca chegaram a concretizar a minha ideia de fazer uma bóia-Andorinha, que faria certamente furor por essas praias fora. Posto isso, que pensem sozinhos em novos padrões para libertas os pobres golfinhos das pranchas de esferovite, seus empreendedores de meia tigela! Não têm de quê!

 

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21
Mai18

O resumo de uma breve passagem por Fortaleza, Brasil

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O melhor do Brasil: a praia

 

Cheguei há uma semana do Brasil. Já recuperei da ressaca do jet lag e do cansaço acumulado (dormi uma noite e uma manhã inteiras e achei que me tinham posto qualquer coisa na comida, porque nunca me senti tão pedrada na vida) e, não estando fresca que nem uma alface, já estou bem melhor. Um coisa ainda continua igual desde que vim: sinto-me uma pintura ambulante. Porquê? Porque cheia de medo de outras potenciais queimaduras, já que apanhei logo uma no primeiro dia em que lá estive, pedi à minha mãe que me espalhasse protetor solar 50 nas costas e nos braços (os sítios onde não chego). Pois qual não é o meu espanto quando, antes de vir, olho-me ao espelho e percebo que tenho os dedos da minha querida mãezinha tatuados no meu braço e outro tipo de pinturas abstratas em toda a minha dorsal. Estou incrível. Achei que isto ia desvanecer, mas passado uma semana ainda parece uma escultura de barro arredondada. 

De resto, vim do Brasil com mais sardas, uma cor de pele um tanto ao quanto mais saudável (estava com um ar terrivelmente macilento), com várias tapiocas no estômago (eu sabia que aquilo era delicioso e nada como aquela porcaria que vendem aqui!) e mais uma experiência no lombo. Estive em Fortaleza, num evento sobre moda de autor brasileira, e ainda estou em overdose de tanta passarela. Esta foi a primeira press trip que fiz (talvez a última?) e conto mais tarde escrever sobre aquilo que acho destas viagens organizadas. Mas posso já adiantar que uma das coisas mais interessantes é a troca de experiências e opiniões com outros jornalistas do ramo – no meu caso, estive sempre acompanhada por um senhor da Argentina, uma senhora do Uruguai e uma londrina, com quem me dei muito bem e com quem tive oportunidade de praticar o meu inglês.

 

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Hora da lontrice: o melhor prato que lá comi, uma moqueca, e, claro!, a tapioca

 

Não vos vou maçar com detalhes ou opiniões sobre o evento, por ser uma coisa que me cheira mais a trabalho do que a lazer. Mas gostava, como faço sempre, de fazer um mini-resumo da minha viagem – ainda que não haja muito para contar! A verdade por detrás das viagens de trabalho é que são sempre super cansativas, ainda para mais se forem transatlânticas – acima de tudo porque são curtas e intensas, não dando tempo ou chance para uma pessoa se recompor. Neste caso, tive algumas manhãs livres, mas o evento acabava muito tarde, pelo que eu acabava sempre por me deitar para lá da uma da manhã (cinco da manhã aqui) e, como acordava cedo, ora para trabalhar ora porque o sol não me deixava dormir, nunca conseguia repor as energias. O dia que mais aproveitei foi o da vinda, pois só tinha voo à noite – de resto, todos os minutinhos livres foram de praia, que é de facto maravilhosa.

 

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 (descubram o Wally!)

 

Nesta altura é Outono por lá, mas as temperaturas não saíram dos 30 graus – choveu bastante num dos dias, mas foi azar nosso. Segundo vi nas notícias, foi o dia mais chuvoso do ano naquele estado, por isso só posso considerar que tive pontaria. Chovia a sério, muita água e em gotas gordas, mas o ar continuou abafadíssimo como em todos os outros dias (ou talvez pior, que aquela humidade não é feita para “gringos” como nós). Ainda assim a praia estava vazia, ainda que com estas condições incríveis e com uma temperatura óptima – tanto fora como dentro de água. No primeiro dia – o do escaldão, em que não havia sol à vista mas estava muito quente – haviam umas dez pessoas em centenas de metros de areal. Como não adorar?

A verdade é que no aspeto “praia”, o Brasil subiu na minha consideração. Quando fui à Bahia, há mais de uma década, lembro-me que foi uma desilusão. A água era suja e pouco quente, o areal era avermelhado por causa do tipo de rocha lá presente e relativamente pequeno... e havia tubarões a dar à costa, o que não alimentava a confiança para dar grandes braçadas. Aqui era tudo o contrário – apenas uma nota relativamente ao mar, sempre super agitado, que não permitia que uma pessoa respirasse durante sete segundos sem levar com mais uma tromba de água na cara. E havia palmeiras, espreguiçadeiras e todas essas coisas que estão no nosso imaginário quando falamos de países tropicais, por isso tirei a barriguinha de misérias.

Reparei que no hotel onde estava só havia brasileiros; a percentagem de estrangeiros devia rondar os 5%, uma coisa meramente residual, o que é estranho dado o tipo de hospedagem (tudo incluído, parque aquático ali ao lado e praia literalmente em frente).

Isto pode ser explicado pela fraca irrigação que o aeroporto local tem, que vive praticamente de voos internos e que tem das piores condições que vi ultimamente. Para além disso, a cidade em si não tem muito que ver e a pobreza das gentes é evidente. Quase tudo o que vi foi de carro, não tenho uma única foto tirada com a máquina, e não pude explorar nada a fundo. A única coisa que de facto visitei foi o mercado central (um edifício com quatro pisos, gigante, embora bastante feio), mas como fui ao domingo de manhã (e ainda por cima coincidindo com o dia da mãe) muita coisa estava fechada. Há imeeeeensas coisas baratíssimas, principalmente para quem gosta de artesanato mais clássico, como toalhas de mesa rendadas e saídas de praia trabalhadas. Eu vim de lá cheia de tralhas – desde vestidos de praia, biquínis e uma carteira – e fiquei com pena de não ver mais.

 

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PIntura à entrada do mercado

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 No mercado (neste momento, já não queria saber do nível de viscosidade da minha pele ou a horrorosidade do cabelo. Deixei-me vencer pela humidade)

 

Ainda na press trip, visitei um centro comercial, com uma dimensão colossal, que contrasta com tudo o que se vê lá fora: o centro comercial era arejado, minimal, com ótimas lojas; nas ruas está tudo a cair de velho, imensos edifícios cuja construção ficou a meio e outras paisagens típicas de países em desenvolvimento. De facto, safa-se a praia.

Devo admitir que não me lembro se a Bahia era bonita, mas sei que todo aquele caos me assustou imenso. O trânsito era medonho, gente a buzinar por todo o lado, estradas em muito mau estado – e embora aqui isso também não fosse exemplar, era muito melhor do que aquilo que eu me recordo da minha viagem anterior.

Os brasileiros continuam naquela sua típica boa disposição, independentemente da sua qualidade de vida. Confesso que muitas vezes tudo aquilo que me soa a falso, mas uma pessoa acaba por se habituar – já é algo que faz parte da identidade cultural deles. Nunca andei sozinha na rua, mas tive sempre muita atenção em não ter nada valioso comigo, por isso nunca me senti minimamente ameaçada – mas estava sempre atenta e com os olhos em todo o lado, porque já se sabe que uma mulher prevenida vale por duas.

 

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Venda de milho na rua

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Um talho aberto, a que eles chamam "frigorífico" (cof cof cof)

 

Um dos temas mais presentes desta minha viagem foi a exportação e a vontade que eles têm em crescer, particularmente a moda brasileira. Mas, muito honestamente, acho que estão muito longe disso. Não se podem definir objetivos enormes sem se passar pela base – e eles falham numa coisa tão simples como falar inglês. Nem no hotel sabiam! Os estilistas não conseguiam comunicar com a minha colega londrina, era sempre preciso um intermediário; fomos a uma empresa e uma das figuras mais altas não sabia dizer o que faziam noutra língua sem ser a dele. E isso, para mim, é grave. Na moda e em tudo. Também isso terá certamente impacto negativo para o turismo.

Uma pessoa anda por lá e pensa que o que não falta é potencial. Eles têm tudo. Mas falham nas bases: no ensino, nos políticos, na forma de estar – e sabem-no. Em conversa com alguns brasileiros, percebi que eles têm noção tanto daquilo que podiam ser como de tudo o que fazem mal. Criticam objetivamente os políticos, por exemplo, mas acho que ainda falta alguma auto-crítica por parte de cada um deles. Aquele “jeito de ser” que tanto nos encanta neles, tão divertidos quanto leves, tem tanto de encantador como de mau, principalmente para eles próprios, que têm muito para fazer se quiserem sair do eterno status de “em desenvolvimento”.

Dado o meu estado de espírito um bocadinho atribulado durante a viagem, perguntaram-me se me arrependia de ter ido. Nunca. Não sei se, sabendo o que sei hoje, voltaria - mas arrepender-me de uma coisa que fiz pela primeira vez, para pelo menos tentar, nem pensar. Foi só mais um bónus da vida. Nunca pensei voltar ao Brasil e, em menos de uma semana, lá fui eu. Já aprendi umas tantas coisas :)

 

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A praia

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O pôr do sol em frente ao local do evento

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As pinturas nas paredes são a forma mais comum de publicidade - algumas líndissimas!

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O adeus a este país tropical <3

24
Abr16

Here comes the sun

Na altura da mudança da hora, um post ficou aqui por escrever (tal como, literalmente, dezenas deles...). Seria qualquer coisa assim, numa versão mais completa:

 

Ainda sobre o mudar da hora:

A toalha já está na mala do carro e o livro no lugar do passageiro, em forma de esperança de uns fins-de-tarde na praia, logo após o trabalho.

 

Não escrevi o post, mas a toalha foi mesmo para a mala do carro e o livro também anda comigo. E na sexta-feira - um dia já demasiado longínquo daquele em que mudou a hora - pude finalmente fazer uso deles. Saí um bocadinho mais cedo do estágio e atirei com as minhas tralhas todas para a mala do carro- só veio comigo o telemóvel e as chaves do carro, a par da toalha e o livro. E lá fui eu, para o meu primeiro dia de praia do ano. Tirei as sapatilhas, subi as calças até ao joelho, escolhi o meu spot e estendi a toalha. Por ali fiquei uma hora e meia, entre algumas fotografias para registar o momento, leitura quanto baste e, claro, uma constante apreciação da melhor coisa que há nesta Terra: o mar. (E, já agora, das centenas de surfistas que por lá andavam). Foi só a melhor hora e meia do meu dia. Quiçá da minha semana.

Agora já sei: vou juntar um fato de banho ao meu pack de praia. Para a próxima já não vou de calças de ganga.

 

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19
Jul15

Um picnic em família

Nunca, em vinte anos de vida, tinha ido a um picnic - mas sonhei muito com isso. Os meus pais sempre me contaram as suas histórias, de quando iam com os meus avós para terras que já mal se sabe o nome e passavam dias inteiros naquilo; o que levavam de comer, o que comiam e como brincavam. A juntar a isso, tinha no meu idílico todas as histórias e livros que li desde criança, que metiam picnic's deliciosos/românticos/super-divertidos pelo meio.

Claro que, quando anunciaram que ia haver um picnic de família, quase dei saltinhos de alegria! E ontem, quase um mês depois do anúncio, lá fomos nós! A pensar no que tinha lido e sonhado, levei tudo o que me lembrei digno de picnic: a ceirinha de palha (com a manta dentro para não "arrefecer" a comida), a mochila (para transportar tudo o que fosse meu), a polaroid e a máquina fotográfica (para registar os momentos marcantes), os liteiros (para nos deitarmos no chão), o papagaio (embora não houvesse vento) - e houve quem levasse uma barraca, uma cama de rede, uma mesa de campismo, cadeiras e tudo o que tínhamos direito. Como se isso não bastasse, acabamos por ficar literalmente numa clareira a meio do mato (e o que eu já sonhei com clareiras, à custa deste programa de televisão!), perfeita para a ocasião - com as medidas certas, com as árvores à distância correta para a cama de rede, com "caminhos" bem escondidos para as "casas de banho", etc. Por fim, e não menos importante, ficava muito perto de um praia... deserta. À semelhança de muitas praias nas redondezas, os acessos são terríveis, tanto para os carros (com caminhos em terra e pedras) como para as pessoas (obrigadas a descer a ravina com alguma perícia e dedicação). Mas eu, com uma coragem rara, lá subi e desci aquilo três vezes - provavelmente a razão pela qual hoje estou toda partidinha.

O dia estava farrusco (chegou até a orvalhar um bocadinho), mas depois acabou por ficar divinal. Depois de comermos os salgados em família e na nossa clareira, depois da hora do almoço descemos todos à praia - o sol decidiu abrir e, com o areal quase só por nossa conta, fomos quase todos à água (alguns em roupa interior), tiramos fotos a saltar (estilo filme), jogamos raquetes, brincamos com as crianças, apanhamos sol e tudo o que tínhamos direito. Quando voltamos para cima foi hora de comer os doces e a fruta, cantar os parabéns à aniversariante e brincar mais um bocadinho, à picnic tradicional: os homens a jogar à malha (muito macho!) e as mulheres a um jogo semelhante, com bolas, de que não me lembro do nome. 

Quando dei por mim, eram horas de ir embora, que tinha o Jamie Cullum à minha espera na Praia do Cabedelo. Ainda foram umas horas valentes em família, mas passaram num abrir e piscar de olhos, como se de magia se tratasse. Esperei vinte anos por isto, mas pelo menos foi em bom.

 

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25
Jan15

Primeiro fim-de-semana

Primeiro fim-de-semana de férias desde que o semestre começou: as aulas acabaram, os trabalhos estão mais que entregues, os exames estão todos feitos e só se esperam os resultados. Primeiro fim-de-semana que não tive de acordar cedo para estudar ou acabar um trabalho; primeiro fim-de-semana que tive tempo para pensar em tudo que se passou neste último mês, em que não me escondi por detrás dos livros e dos resumos para esquecer. Primeiro fim-de-semana que foi de limpezas, mudanças e de ar fresco - tudo um bocadinho do que não tinha há meses!

Com meio mundo doente e com gripes de caixão à cova (eu já tive a minha dose), ontem saí sozinha para sair um bocadinho da rotina casa-faculdade e casa-ginásio, que me estava a desgastar. Também admito: já tinha saudades de estar umas horas só comigo mesma. Fiz uma visita rápida ao IKEA, para comprar umas molduras para algo que tinha em mente (ver em baixo) e depois, como a praia ficava ali ao lado e o pôr-do-sol estava quase a acontecer, despachei-me para o apanhar. Fiquei ali meia hora, a ver o sol descer em direção ao mar.

Hoje foi dia de tirar TUDO o que tinha em cima da secretária e nas gavetas, arquivar a tralha e os milhares de papéis relacionados com a faculdade e dar um toque novo ao quarto, com umas ideias que vi num blog. Preciso de empurrar 2014 para o fundo de uma gaveta - e isso inclui varrer tudo o que possa lá para dentro, para me esquecer de tantas dores de cabeça que o ano passado me deu.

Este fim-de-semana foi bom. Espero que seja o primeiro de muitos.

 

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09
Set14

Um povo dado a proximidades

Nós, portugueses, temos necessidade de calor humano. É esta a conclusão que eu tiro depois de várias idas - e já alguns anos de experiência - à praia. 

Se há coisa que me irrita quando entro nas praias portuguesas é ver toda a gente amontoada, com 40 centímetros de distância entre toalhas vizinhas como se a praia fosse pequena. É guarda-sóis colados uns aos outros, são pessoas às camadas, umas por cima das outras, quase sem espaço para respirar. E eu pergunto: PORQUÊ? Custa assim tanto andar meia dúzia de metros, dói assim tanto nos pézinhos de princesa, queima demasiadas calorias para o típico Zé Povinho que tem de fazer a manutenção da sua barriguinha de cerveja? 

Ainda ontem, depois de andar umas centenas de metros, eu e a minha mãe nos sentamos numa área onde não tinha muita gente, para podermos estar mais à vontade. No segundo em que parámos para assentar as coisas aparecem 4 jovens um pouco mais velhos que eu, que se estendem a um metro atrás de nós: um gesto de mau gosto, tendo em conta que nós estávamos ali e ainda nem se percebia onde íamos ficar e qual seria o tamanho do nosso 'acampamento'. Prostraram-se ali e já está. Mas melhor aconteceu meia hora depois quando um casal de reformados, ao ver o panorama geral e a verificar que à nossa direita estava uma clareira demasiado grande e sem gente, vem espetar o lindo guarda-sol... Ao nosso lado. Tão perto que a minha mãe pegou nas tralhas dela e mudou de lugar, já a ver a vida dela andar para trás. 

Como é óbvio, todos eles eram portugueses, nem sequer é preciso que abram a boca. Português que é português, abanca o mais perto possível da toalha do lado, não vá o pessoal ter frio com a nortada e precisar de se aquecer com o calor humano. Temos de ser uns para os outros e protegermo-nos de uma tragédia dessas, não é verdade? Somos um povo muito dado a proximidades, quanto mais não seja para ouvir a conversa do lado. 

08
Ago14

A minha praia

Percebo as pessoas que criticam e não compreendem quem vai passar férias para o mesmo sítio vezes e vezes sem conta; percebo e até sou apologista daquela máxima de "uma vez por ano, vai a um sítio onde nunca tenhas ido". Mas um ano tem doze meses, cinquenta e duas semanas: e numa delas - de preferência no verão - eu quero mesmo ir para aquele sítio, o meu sítio, a Minha praia. Porque tenho outras cinquenta e uma semanas para poder ir a outro lado qualquer.

É óbvio que, quem vai sempre para sítios diferentes e não tem grande apego "material" pelas coisas, não sente isto; somos diferentes, é assim a vida. Mas eu adoro revisitar o mesmo sítio, todos os anos: gosto do mesmo hotel, até do mesmo quarto, da mesma piscina. E esta ligação é tão forte que, aqui há dias, passei por uma foto no Instagram, onde estava um casal e, por detrás, a Minha praia. Foi instantâneo: eu conheço aquelas falésias como se fizessem parte de mim, sinto aquele cheiro mesmo a 600kms de distância, sinto os olhos de água a sugarem-me a pele como se lá estivesse enterrada. Acho que até um arrepio me passou pela espinha.

É talvez o sítio de onde sinto sempre mais saudades, e que mais saudades tenho, de todas as partes do mundo onde já pisei os pés.

 

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