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Entre Parêntesis

Tudo o que não digo em voz alta e mais umas tantas coisas.

22
Dez17

Uma loja de porta aberta 1#

The Feeting Room, onde a moda se saboreia lentamente

 

No início eram os sapatos. Depois o caminho do lifestyle começou a falar mais alto e apareceram as roupas, as revistas, as esculturas, as pinturas e o estacionário: tudo o que um cliente precisa para se vestir, de cima a baixo, e ainda levar na bagagem algumas experiências, cultura ou até o estômago quente forrado com um café.

O papel do The Feeting Room é mesmo esse: ser tudo um pouco e reinventar o conceito de retalho. “A inovação não está só no produto mas também no modelo de negócio”, diz Guilherme Oliveira que, em conjunto com Edgar Ferreira, forma a dupla que fundou e gere o projecto.

“Percebemos que havia uma lacuna nas marcas portuguesas: existem muitos produtores de qualidade que não chegam sequer ao mercado português ou não estavam disseminados”, explica Guilherme que quis, com o seu sócio, “criar uma plataforma não só de venda mas também de promoção das marcas”. O The Feeting Room vê-se por isso como uma incubadora e curadora de projetos, com quem desenvolve eventos, ajuda na comunicação e, acima de tudo, proporciona a oportunidade de estar em dois sítios premium: no Largo dos Lóios, Porto, e no Chiado, em Lisboa.

São muitas as marcas diferenciadoras que recheiam ambos os espaços, capazes de satisfazer os gostos de uma ampla plateia de clientes. A ideia baseia-se na co-criação de valor: “há um co-branding positivo entre todas, que se entreajudam a vender muito mais. Não se canibalizam – potenciam-se”, afirma Guilherme.

Uma boa relação qualidade-preço, a intemporalidade e qualidade das peças e a história dos projetos são pontos essenciais para figurar nestes espaços: “no retalho tradicional, o sumo e a identidade da marca acabava por se perder no processo dos intermediários e aqui não”, afirma Edgar, explicando que os funcionários têm formação sobre as marcas de forma a manter vivo o seu ADN. Por isso é que “tu cá, tu lá” é, provavelmente, a forma certa de descrever a relação do The Feeting Room com os seus parceiros, deixando também para trás a relação de distância do comércio tradicional: “temos um contacto direto com eles, damos um feedback de rentabilidade, de coolness e de feeting”, revela Edgar Ferreira.

Apesar do frenesim da moda, do movimento constante nas ruas e da procura incessante de novas marcas e novidades, no The Feeting Room as coisas querem-se slow: quer seja pelos momentos no The Coffe Room – um spinoff da própria loja portuense, que tem no seu piso superior um espaço de café onde os clientes podem desfrutar do espaço, enquanto conversam ou lêem uma revista –, quer pela filosofia inerte às roupas que vendem (onde o slow fashion já tomou lugar) ou até pela organização do espaço, feita de forma espaçosa e ordenada, sem apertos ou o caos instalado. Tudo sem pressas, enquanto se respira e absorve moda, enquanto o mundo continua a correr lá fora.

 

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10
Out17

Há um equilíbrio possível entre o turismo e as gentes da cidade?

O meu facebook está inundado com uma notícia sobre um alfarrabista portuense que foi despejado do local onde estava há quase duas décadas, na Rua das Flores, aqui no Porto. A razão? O prédio foi vendido e querem pô-lo fora para fazer render o peixe. Para quem não conhece, a Rua das Flores é atualmente uma das mais movimentadas da cidade, cheia de lojas, restaurantes, bares e tasquinhas - a maioria vocacionadas para turistas, como é óbvio. É uma rua pedonal que, como quase todas as ruas, estava deserta há pouco mais de cinco anos. Hoje em dia desenvolveu-se de tal forma que, por vezes, não se consegue andar normalmente sem atropelarmos meio mundo e a calcarmos outro meio.

Há duas posições que quero deixar aqui claras: a primeira é a minha "admiração" perante um feed de facebook tão culto e intelectual. Eu não conheço o alfarrabista em questão, mas aparentemente toda a gente o conhece - ou, pelo menos, finge que conhece (esse e muitos outros...)! A verdade é que eu, que adoro livros, raramente entro em lojas deste género - não sei bem explicar porquê, mas sinto que há um maior sentimento de pertença por parte dos donos e por isso sinto-me um pouco "vigiada", não sei explicar. Por outro lado também sinto que está tudo mais apertado, é mais difícil encontrar o que quer que seja, por isso desisto com facilidade de encontrar algo que me agrade. Ou seja, surpreende-me que eu, que gosto de ler, não conheça estes sítios mas metade do facebook sim. Mas ainda bem, é sinal de que somos todos muito cultos e que queremos que a cidade continue super intelectual (cof cof cof).

A segunda questão que quero deixar evidente é que, como é óbvio, não apoio este tipo de atos. Tenho muita, muita pena que o comércio local esteja a desaparecer e a dar a vez a lojas de souvernirs, Nut's e coisas do género - porque eram essas lojas que também faziam do Porto, o Porto e o seu desaparecimento é também o esquecimento de uma identidade muito própria e muito nossa, com a qual me identifico quando digo que sou "uma mulher do norte". Mas a hipocrisia que se vive nas redes sociais é coisa para me irritar. Porque a verdade é esta: se o alfarrabista em questão fosse um sucesso, se vendesse imensos livros, não tinha de sair, porque provavelmente conseguiria pagar a renda pedida pelos novos donos - ainda que seja provavelmente absurda, dado os preços impossíveis que se praticam hoje em dia na cidade.

Mas não vende. Porque nós queremos as lojas lá, porque são bonitas, porque fazem parte da nossa identidade, mas não as apoiamos, não compramos lá coisas - e eu contra mim falo, como se leu acima. Porque nós somos práticos e preferimos mandar vir os livros da net, onde muitas vezes podemos ler o primeiro capítulo do livro que nos interessa sem estarmos a ocupar o corredor de uma loja e ter a obra em mãos em dois dias úteis sem termos levantado o rabo da cadeira. Porque nós adoramos as lojas de ferragens ali na zona de Ceuta, mas quando precisamos de uns parafusos vamos ao Leroy Merlin, onde até aproveitamos para comprar o tapete da casa de banho que fazia falta. Porque nós achamos imensa graça aos joelheiros na baixa do Porto, mas quando precisamos de um anel para oferecer às nossas mães vamos ao NorteShopping porque há mais variedade. Porque nós gostamos imenso daquele tasco na Rua dos Caldeireiros, mas arranjar estacionamento lá é uma loucura e por isso preferimos ir ao Madureira's que oferece o bilhete do parque lá ao lado. Porque nós simpatizamos com a senhora da frutaria ali ao pé do trabalho, mas esta semana o Continente está com 15% na secção de fruta fresca por isso temos de ir aproveitar. Porque aquelas lojas de artigos em segunda mão na Rua do Almada também têm boas pechinchas... mas para quê comprar um armário que ainda vamos ter de lixar, limpar, pintar e envernizar quando podemos comprar um no IKEA pelo mesmo preço? 

É muito fácil criticar o estado, o governo e as políticas quando somos incapazes de olhar para o nosso próprio umbigo. As coisas não acontecem por acaso e a evolução que estamos a assistir não aconteceu só graças aos estrangeiros, mas também por nossa causa. As gerações mudaram, as necessidades e os hábitos são outros. Nas redes sociais e nos blogs pede-se mudança, uma política que proteja os habitantes das cidades - e, meus amigos, eu compreendo e concordo! Principalmente quando demoro meia hora a percorrer um quilómetro de carro na baixa, só porque a afluência de turistas a passar nas passadeiras é de tal forma que não dá folga para os veículos circularem. Mas não se pode ter tudo. E eu acho que, neste caso em particular, não há um equilíbrio - havemos de ter passado por ele no meio de todo este processo, mas há muito que a balança se desequilibrou. Porque isto é um ciclo vicioso difícil de quebrar: o turismo gera emprego, algo que nós precisamos de como pão para a boca; o crescimento do emprego faz dinamizar a economia, que por si só atrai investimento e por aí fora. E o dinheiro, como quase sempre, está primeiro que as pessoas. É "apenas" o mal estar de alguns, enquanto muitos outros esfregam a barriga de contentes. E enquanto forem mais os que estão contentes do que aqueles que são despejados, que são obrigados a ir viver nos suburbios ou os que não conseguem dinheiro para uma renda, as coisas vão continuar assim. 

Eu amo a minha cidade e adoro vê-la dinamizada - já disse aqui várias vezes que me lembro de ver o Porto morto, deserto e de ficar triste ao ver aquele cenário. Mas sabem: mesmo aí, as coisas estavam prestes a fechar. Porque nessa altura, nem nós comprávamos no comércio de rua, nem os turistas - porque eles simplesmente não existiam. E por isso é ainda mais difícil comparar esses tempos com os atuais, decidir o que é melhor para nós enquanto habitantes.

O ideal era ter o melhor de dois mundos: sermos o melhor destino Europeu, mas impedir grandes franchisings de vir para cá ganhar dinheiro; aumentarmos a qualidade de vida, mas não sermos confrontados com rendas e preços impraticáveis dentro da nossa própria cidade; mantermos vivo o tradicional, mas preferindo usufruir das novas tecnologias e do conforto. Mas, para já, os milagres ainda não existem. E uma coisa é certa: todo este problema não se vai resolver enquanto olharmos para ele com olhos hipócritas, como todos nós não estivessemos também a usufruir ou a contribuir - um bocadinho que seja! - para este fenómeno.

13
Jul17

Uma visita ao Terminal de Cruzeiros de Leixões

Já conheço alguns terminais de cruzeiros pela Europa – principalmente no norte e, brevemente, ali no Mediterrâneo e na zona do Adriático – mas ainda não conhecia bem o nosso novo terminal em Leixões. É uma coisa comum, não é? Conhecermos e explorarmos coisas fora das nossas cidades, quais turistas de categoria, mas ver aquilo que é nosso… nicles.

Já lá tinha ido no Portugal Fashion, ver os desfiles do Luís Buchinho e da Katty Xiomara, e gostei muito do edifício e da vista. Mas quem já foi a estas coisas sabe que aquilo é tudo caótico, gente para todos os lados, uma pessoa não sabe onde se sentar e quanto mais para onde ir, por isso não dá para ver bem o que quer que seja. Para além disso, na altura, só se podia ver a entrada e o terceiro piso, onde decorreram os desfiles, por isso não deu para grandes explorações.

Mas num destes fins-de-semana aconteceu aqui no Porto um evento chamado Open House, que consiste em várias visitas guiadas a muitos sítios ilustres no Porto e em Gaia (aliás, muitos deles até sem visitas – basicamente os espaços estão abertos para quem os quiser ver, de forma gratuita). Dos muitos locais que havia para escolher, optamos por ir conhecer melhor o terminal e a visita valeu muito a pena!

Fomos cedo, por volta da hora do almoço, e por isso não apanhamos com o mar de gente que invadiu o espaço a meio da tarde. O guia era muito simpático e a visita em si foi muito interessante, até porque o espaço está muito bem concebido e pensado, com imensos símbolos e estruturas relacionadas com o mar, a água e os animais que lá vivem. Pudemos ver todas as partes do terminal, incluindo aquelas por onde passam os passageiros quando atracam os navios, portanto foi uma visita muito completa e que pode ser ainda mais gira para quem não faz ideia de como funciona um terminal de cruzeiros.

Eu, que já passei por vários, não tenho qualquer tipo de dificuldade em afirmar que este é, sem dúvida, o terminal mais bonito onde já pisei os pés – e os vários concursos e prémios que o edifício já ganhou são prova disso. Só aqueles azulejos lindos – são mais de um milhão, todos postos à mão! – fazem valer a visita, pelo sentimento de estrutura e relevo que dão a todo o espaço.

Se forem do Porto, não deixem de aproveitar um domingo (dia em que o terminal está aberto para visitas, da parte da manhã) de sol para visitar o espaço e tirar algumas fotografias. Vale a pena!

 

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03
Jul17

O novo museu na casa Andersen e o Jardim Botânico do Porto

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É com alguma vergonha que confesso que, aos 22 anos, tripeira de gema, nunca tinha posto os pés no Jardim Botânico. Eu sei, eu sei, é um crime e é vergonhoso mas o quê que querem? Jardins e espaços verdes não são sítios que frequente muito - já o Palácio de Cristal e Serralves são locais que raramente visito - e nunca tinha surgido uma boa oportunidade para ir dar um passeio ao Jardim Botânico e à Casa Andersen. Até ontem.

Isto porque foi no sábado inaugurado o Museu de História Natural e da Ciência da Universidade do Porto, que tem esta semana entrada gratuita (estão a apontar?) e que prometia o esqueleto de uma baleia no centro da casa, o que só por si me pareceu uma boa razão para lá ir. E assim matava dois coelhos de uma só cajadada: o novo pólo do museu e o jardim. E gostei muito... de ambos.

O museu é pequeno - e pareceu ainda mais com tantas pessoas lá dentro (acima de tudo porque estava um calor infernal e, como a casa não tem ar condicionado, estava toda a gente a abafar). Só tive 50 minutos para o visitar, já fomos perto da hora de fecho, mas penso que dado o tamanho e a quantidade de coisas que há para ver, já é o bastante; passamos algumas partes mais a correr, mas deu para ver e ler todas as descrições (ainda que algumas por alto). Agora que olho para trás, não vejo um grande fio condutor entre toda a exposição, mas de um ponto de vista individual (de cada sala) é bastante interessante para quem gosta de ciências e para quem, em biologia, ficou encantado com Darwin e a teoria da evolução das espécies. Tem algumas coisas sobre a seleção natural, a evolução dos animais e de alguns vegetais; mostra a diversidade e homogeneidade entre uns e outros, de formas interativas e outras estáticas mas visualmente muito atrativas, que dá vontade de ficar ali a olhar e admirar.

É tudo claramente pensado ao pormenor e feito com muito brio: porque mais do que transmitir conhecimento, é bonito de se ver. Desde o mais pequeno detalhe às grandes estátuas de animais e do próprio Darwin, que está sentado com uns coelhinhos ao colo mas que, de tão realista, eu não me admirava se se pusesse de pé e andasse dali para fora. 

Acho que até para crianças pode ser uma exposição interessante e que pode ajudar a que elas entendam alguns princípios básicos da ciência e da vida, assim como coisas mais práticas do dia-a-dia. Pode não ser o museu mais espetacular aqui do pedaço, mas é visualmente muito bem conseguido e está inserido numa casa lindíssima, com uma escadaria e algumas salas de fazer cair o queixo. Ah, e não esquecendo o esqueleto da baleia, que é logo um "baque" mal se entra e nos faz pensar "o que somos nós, pequeninos, comparados com isto?". É de facto imponente e faz-nos relativizar. E se não gostarem da exposição... bem, podem sempre ir passear nos jardins, que estão cheios de recantos giros para ler ou tirar uma sesta à hora do almoço, enquanto se ouvem os passarinhos e se sente a calmia e o cheiro da natureza.

 

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23
Out16

Mudam-se os tempos, mas as vontades nem por isso

Ontem levei o meu sobrinho mais velho ao Estádio do Dragão. Ele nunca tinha ido e estava em pulgas, eufórico com a novidade. Leva-lo ao estádio era algo que já há muito que gostava de fazer com ele; foi um momento marcante para mim, lembro-me do quão encantada fiquei quando pisei aquele sítio pela primeira vez e queria muito poder proporcionar-lhe uma experiência semelhante. Como ele começou há tempos a interessar-se por futebol, jogadores e etc., achei que seria a altura ideal.

E adorou, pois claro. Eu fiz questão de ir ver um jogo mais "fácil" (embora, nos dias de hoje e no estado em que o FCPorto se encontra, todos os jogos são uma incógnita), para termos mais probabilidades de ganhar - e vencemos por três, o que já deu para tirar a barriga de misérias e para ele saltar de emoção vezes suficientes. Para além disso, à saída, ainda apanhamos o Helton, que é um querido e estava a tirar fotos com a malta toda - e tirou uma também com ele, por isso o batismo não podia ter sido melhor. A pior parte foi mesmo no fim, porque como em qualquer batismo... apanhamos com água. Muita água. O rapaz até ficou atarantado de tão encharcado que ficou - eu, tia, mais velha e experiente, já estou mais habituada a estas coisas, mas devo confessar que já não apanhava com uma carga de água tão grande há uns anos largos. 

Mas enfim, o mais giro disto tudo eram as coisas que ele me ia dizendo no decorrer do jogo - que eram exatamente as coisas que eu dizia e pensava quando era mais nova! Primeiro disse-me que gostava de ser um daqueles meninos que estão atrás dos painéis publicitários, a apanhar e mandar bolas (eu também dizia que queria ser menino e ir para as escolinhas só para ir para lá); depois ainda se lembrou dos outros meninos que entram com os jogadores em campo, porque também gostava de ir de mão dada a eles - principalmente com o Herrera e o André Silva, os seus preferidos (eu era igual, mas a minha crush era mais o Vitor Baía, o Derlei ou o Benny McCarthy); durante o intervalo começou a dizer que fixe, fixe era estar nos lugares mais baixos para poder falar com os jogadores - e no fim do jogo, quando saímos para a zona das comidas onde existem televisões, viu o André Silva a entregar a camisola a uma miúda e enfatizou ainda mais este pensamento, acrescentando que o melhor lugar era mesmo ao ladinho do túnel (e eu era tal e qual: pedia encarecidamente ao meu pai para ir para os lugares de baixo para os ver mais de perto, algo que ele sempre me negou por se ver muito pior o jogo).

Senti-me um bocadinho velha quando o ouvi repetir tudo aquilo que em tempos ia na minha cabeça e, pior, quando achei que fazia sentido responder as mesmas coisas que o meu pai me respondia a mim. Ok, talvez não tão pragmática (não lhe disse "mas para quê que tu queres uma camisola mal-cheirosa de um jogador de futebol de 20 anos!?"), mas disse-lhe que, de facto, ver os jogos nos lugares de baixo era muito pior e outras coisas que tais. A parte boa é que continuo a ser uma criança como ele em certas coisas: continuo a querer ser pequenina e andar nas escolinhas de futebol para ser apanha bolas e, na verdade, também gostava de ter uma camisola de um jogador qualquer. Também ainda não cheguei à fase de preferir ver os jogos em casa do que no estádio mas devo admitir que aquelas correntes de ar não são boas para ninguém (e sim, passei a minha vida a perguntar-lhe "não tens frio?", "aperta lá o casaco"...) e que, quando cheguei ao carro estilo pingo, só queria um sofá onde me esticar e uma mantinha quente sobre o corpo.

Afinal de contas estou velha, mas só um bocadinho.

 

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16
Out16

Quando os turistas viram praga (ou o desvirtuar de uma cidade)

Já estive várias vezes para escrever sobre isto, mas o tempo vai-me fugindo por entre os dedos e as oportunidades vão passando. Penso que agora (e, feliz ou infelizmente, por muito mais tempo) faz outra vez sentido eu querer falar sobre isto.

Há uns anos estranhei quando uma vez li um texto de uma catalã que dizia que o mal de Barcelona eram os turistas e que a situação estava a ficar insustentável. Não percebi aquilo, achei parvo, pensei para mim mesma que os turistas eram uma das grandes causas para aquela ser uma cidade tão evoluída e no dinheiro que aquele turismo assoberbado acarreta (o que não deixa de ser verdade). Mais tarde vi outro texto muito semelhante, mas com enfoque em Lisboa - mais uma vez, ignorei. Porque, de facto, só quando nos toca a nós é que nos dói na pele.

Lembrei-me pela primeira vez destes dois textos quando há uns meses (talvez um ano) andava a passear pela Rua das Flores, aqui no Porto. Aliás, permitam-me a correção: andava a tentar passear. Porque era impossível dar dois passos naquela rua sem travar, sem fazer um desvio, sem parar encostada numa parede para deixar passar a enchente. Nessa altura percebi um bocadinho aqueles textos que tinha lido: senti que me estavam a roubar a cidade que eu amo.

E isto é feio, parvo e egoísta, mas foi mesmo esta a sensação que tive. Eu sei que não posso pensar assim (e não penso, foi algo "na hora", de uma pequena fúria que tomou conta de mim), até porque eu adoro viajar e sou obrigatoriamente turista nas outras cidades por onde passo. Eu sempre fui grande fã deste pulo que o Porto deu e, quer se goste ou não, acho que se têm de dar os créditos ao Rui Rio por ter aberto esta cidade ao mundo, como nunca antes se tinha feito. Eu (só) tenho 21 anos e lembro-me perfeitamente de um Porto morto, triste, velho, a cair de podre. Sempre adorei andar na baixa, muito por arrasto da minha mãe, mas há muito pouco tempo o Porto era uma cidade deserta, com o comércio local pelas horas da morte e completamente sem vida. E assim, de um momento para o outro, explodiu em todos os sentidos: turísticos, culturais e até habitacionais, principalmente ao nível da reabilitação de infraestruturas, que deram logo um ar de cara lavada à cidade. E apesar de ficar passada com o aumento absurdo do número de pessoas nas ruas e do trânsito caótico que aumenta de dia para dia, continuo a apoiar.

Mas há dias aquela sensação de "roubo" tornou a apoderar-se de mim, com a notícia de que iam fazer um mercado da Time Out na Estação de São Bento. Achei que, por parte da organização, esperavam uma grande recepção - mas daquilo que eu vi, os portuenses de gema como eu detestaram a ideia. Porque há um limite até onde as coisas se podem dinamizar; há uma linha que separa o "dinamizar" de "estragar" e "desvirtuar". A Estação de São Bento é muito mais que uma estação; não importa se tem poucos comboios, se só recebe os que são regionais. Aquilo é um monumento lindo, um espaço amplo, uma coisa à antiga - que querem transformar numa coisa nova, com cheiro a comida e mesas lá no centro. E a isto chama-se desvirtuar um espaço e não dinamiza-lo. Nós já temos um mercado no Bom Sucesso - esse sim, que precisava de ser dinamizado! -, não precisamos de outro. 

Há que saber parar. Os turistas atraem o investimento e, como tudo o que envolve dinheiro, também uma sede louca por lucros desmesurados e sem limites. E a continuar assim, o Porto deixa de ser o Porto - autêntico, lindo, real - para ser só mais um embrulho de atividades pré-pensadas para os visitantes, em que já nada é como se apregoa e onde as pessoas da cidade são esquecidas em prol de quem só vem ver a paisagem.

09
Jun16

Níveis de inveja preocupantes

Vou dizer isto de forma direta e virtualmente gritante:

 

EU JÁ NÃO AGUENTO VER MAIS POSTS SOBRE A FEIRA DO LIVRO EM LISBOA!

 

A sério. Para uma book lover que resida fora da capital, ver todos os dias um post sobre a feira é quase como arrancar uma unha lentamente. Ou seja: é doloroso. São livros novos, promoções, sessões de leitura, sessões de autógrafos e, claro, milhões de livros no mesmo sítio. E, segundo dizem, até comida boa têm direito!

E vocês dizem: "mas porquê tudo isto se vocês aí no Porto também têm uma feira do livro?". Amigos, mordam essa língua: a nossa feira do livro, desde que a APEL entrou em rotura com a Câmara do Porto (se não estou enganada), nunca mais foi a mesma - e não chega nem ao dedo mindinho dos alfacinhas. Porque, acreditem, é fraca. Não se trata de um conjunto de editoras encontrar-se no mesmo espaço, mas sim de livreiros e alfarrabistas - o que, no fundo, faz daquilo uma fnac ao ar livre e com uma programação um bocadinho diferente do habitual. Ainda assim, as promoções são muito poucas e as presenças de autores ainda menores. É triste, tendo em conta que ainda há poucos anos tínhamos uma feira do livro a sério a decorrer nos Aliados, que era só um do meus eventos favoritos do ano.

Para além da qualidade da feira ter diminuído a olhos vistos, também acho o "novo" local bem pior: pessoalmente, e apesar de achar o Palácio de Cristal muito bonito, prefiro muito os Aliados. Parece mais uma feira a sério, maior, mais ampla, mais urbana. 

Tenho saudades da feira antiga e, por conseguinte, muita inveja de quem tem uma feira de jeito para visitar. Tudo o que me apetece é meter-me num comboio para Lisboa e reclamar o meu direito de também ser uma bookworm como deve ser e me ver no paraíso dos livros. (Mas, como não o vou fazer, aproveitem por mim - mas, por favor, parem de nos mostrar aquilo que nós perdemos em posts de nos fazer roer de inveja).

16
Fev16

Sabiam que os melhores rebuçados do mundo já chegaram ao Porto?

Já aqui mencionei muitas vezes que os melhores rebuçados do mundo são os da Papabubble - loja de rebuçados artesanais, até agora só presente em Portugal na nossa fabulosa capital. Lembro-me bem do dia em que uma embalagem com um mix destes rebuçados me chegou pelo correio, num envelope almofadado, enviados pela melhor amiga alfacinha que alguma vez podia ter arranjado; também me lembro que os devorei a todos numa questão de dias e que me servi da desculpa de estar em época de exames para acabar com eles, sem dó nem piedade, em troca de uma suposta "inspiração".

Pode-se dizer que esse dia alterou a minha vida - ou as minhas ancas, é capaz de ser mais isso. Porque, meus amigos, acreditem no que eu vos digo: depois de provarem estes rebuçados, nunca mais vão querer outra coisa. As minhas viagens seguintes a Lisboa passaram sempre pela Rua da Conceição, uma perpendicular à tão famosa Rua Augusta, onde esta marca tem loja. Rendi toda a gente à minha volta: família, amigos e conhecidos ficavam de olhos em bico depois de os verem (porque são lindos) e depois de os provarem, então, ficavam todos sem palavras.

A loucura foi tal que, na minha viagem de finalistas a Barcelona - cidade de onde a marca é originária -, andamos com o Google Maps atrás para encontrar a loja! A única coisa que posso dizer é que trouxemos tanto rebuçado que eles até nos deram um pacotinho de oferta. Provavelmente ingerimos mais açúcar nas horas seguintes do que devíamos ingerir num ano inteiro, mas o que seria de uma viagem de finalistas sem alguma loucura, não é verdade?

Mas, bem, a boa (ou má) notícia é que estes rebuçados chegaram ao Porto. Fi-nal-men-te! Arranjaram um espacinho na (triste) Rua 31 de Janeiro e espero que por lá continuem por muitos e bons anos e que, já agora, ajudem à restituição daquela zona. Eu cá já ando a fazer o meu trabalho e a espalhar a palavra - ou melhor, os rebuçados - para que ninguém morra sem provar estas relíquias. Acreditem que, para além de lindos, são os melhores rebuçados que as vossas pupilas gustativas alguma vez terão o prazer de provar. Por isto, até vale a pena engordar!

 

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15
Dez15

Uma parelha improvável em plena baixa

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Todas os domingos se realiza, no centro do Porto, a feira dos pássaros - que é isso mesmo, uma grande feira onde se vendem pássaros. Pequenos, grandes, lindos ou mais feios... há de tudo, para todos os gostos e carteiras. Nos últimos dois anos a minha mãe tem vindo a desenvolver um mini-jardim-zoológico de aves no nosso jardim interior e este é o sítio onde vem buscar todos aqueles passarinhos lindos que alegram a nossa casa e os nossos ouvidos (um dia destes fotografo-os, pois são dignos de serem mostrados ao mundo).

No passado domingo fui lá com ela buscar comida para os bichos e ver se arranjávamos mais um canário de que gostássemos e eu decidi levar a minha máquina fotográfica, para ver se treinava e se apanhava algo digno de ser fotografado. Há muita gente lá a tirar fotos aos pássaros, mas a verdade é que embora alguns deles sejam sejam lindos de morrer, com figuras imponentes e cores exuberantes, o facto de estarem em gaiolas faz com que as fotos fiquem feias. Ainda assim, decidi ir com a câmara às costas, porque a baixa é sempre a baixa e pode sempre aparecer algo giro para captar.

E a verdade é que apareceu, quando já estávamos de saída e eu meio desanimada por ainda não ter apanhado nenhum momento giro para fotografar. Estava de máquina ao ombro e a minha mãe tinha acabado de me pôr uma caixa com um novo passarinho na mão quando vi um pai e um filha a passearem por lá; ele a puxar um carrinho com o que parecia ser o espólio de sua casa e ela atrás, descontraidamente, exibindo um estilo que faria inveja a muitas fashionistas mais naturalistas que por aí andam. Tinha uma cara de capa de revista e umas rastas lindas - e isto dito por alguém que detesta rastas! E, claro, um pormenor: ambos tinham um agapone (um pássaro) pousado no ombro, o que significa que os educaram para andarem com eles de um lado para o outro.

Achei aquilo... lindo. Apressei-me a pegar na máquina só com uma mão, muito desajeitadamente, e limitei-me a disparar. Não tive tempo (nem mãos) para ajustar os parâmetros que queria (e devia). A foto ficou mais escura do que era suposto, apanhou chão demais e um camião que de nada serviam para o enquadramento (já cortados na fotografia de cima) e, o mais grave de tudo, está com uma nitidez enorme em toda a profundidade, quando aquilo que eu queria era que só se vissem essas duas pessoas e, para lá delas, tudo ficasse meio desfocado. Fiquei chateada com o resultado final, embora saiba que, naquele momento, já foi um pequeno milagre ter conseguido disparar a máquina na direção devida.

Apesar disso tudo e do resultado estar longe daquilo que queria, que tinha imaginado e que o "quadro" merecia, acho que continua a ser partilhável. Continua a parecer-me uma cena de filme: daqueles bonitos e que nos inspiram. 

02
Out15

A irracionalidade do futebol que não quero explicar

Na terça-feira fui ao estádio ver o meu Porto jogar contra o Chealsea. Ah!, e as saudades que eu tinha de ir a um estádio de futebol e vibrar com aquilo tudo! A última vez que entrei no Dragão foi em Julho do ano passado e foi num jogo de celebração do Deco - ou seja, foi giro mas não houve adrenalina à mistura.
Eu sei que muita gente não percebe esta panca do futebol, que tem mil e uma coisas a criticar (muitas que eu subscrevo), mas é de facto, para mim, um mundo maravilhoso. Representa provavelmente o único campo onde eu deixo a racionalidade de lado e simplesmente... sinto. Ainda há uns dias estive numa espécie de discussão em que tentei explicar que não gostava nem do Mourinho nem do Ronaldo - com as minhas razões, claramente mais emocionais do que racionais, mas que não deixam de ser as minhas. É algo que eu não quero ter de explicar ou discutir - é algo tão meu, tão estúpido, tão irracional como adorar o FCPorto desde o fundindo do meu coração desde que me lembro de existir. Sinto tudo - com muita intensidade - e isso basta-me. Já faço questão de me explicar, debater e argumentar em tudo o resto, por isso deixo que o futebol seja o meu espaço de irracionalidade pura, de ódios de estimação e de paixões assolapadas.
Ir ao estádio é a consumação de tudo isto - só não vou mais vezes porque não tenho companhia, senão até o lugar anual comprava e fazia questão de lá estar praticamente todas as semanas. Neste jogo consegui arrastar o meu pai, mas é caso raro - ele é mais adepto de sofá, sem as correntes de ar do estádio e os palavrões dos adeptos que saem em cada direção. Porque ir ao estádio é mesmo sentir aquela energia da multidão, gritar quando os outros gritam e cantar quando os outros cantam - mesmo que não saibamos a razão para o protesto ou a letra da canção. É, literalmente, o "go with the flow". Porque para se ver futebol a sério mais vale ficar em casa - vê-se dos vários ângulos, com repetições, com linhas imaginárias para o fora de jogo; e não há gente mais alta do que nós e que nos impede de ver para a frente, pessoas a mandar-nos o fumo do tabaco diretamente para a cara ou a gritar impropérios praticamente aos nossos ouvidos. Ir ao estádio é sentir a união e a força de milhares de pessoas todas diferentes mas que querem uma coisa em comum: a vitória do clube que amam.
E quando essa vitória é frente a um treinador de quem não gostamos particularmente e que é dito como o melhor do mundo... tudo sabe infinitamente melhor. Ai, ai... como eu fui feliz na terça-feira =)

 

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