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Entre Parêntesis

Tudo o que não digo em voz alta e mais umas tantas coisas.

25
Abr19

O meu Can Can (ou a minha evolução às teclas de um piano)

Sempre que tenho um tempinho livre e a minha cabeça não está preocupada com trinta mil coisas diferentes dedico-me a arrumar as minhas pastas de fotos - o meu projeto para este ano, como já tinha contado por aqui. Ainda estou a "destralhar" milhares de fotografias que tinha tiradas no telemóvel e que simplesmente depositava em pastas quando a memória ficava cheia...

E se tudo isto é por vezes uma chatice, algo que nos dá cabo da paciência, noutras alturas é uma autêntica viagem no tempo (ainda há uma hora estava a ver fotos tiradas com o meu telemóvel algures em 2008, onde se vê mais granulado que pessoas, mas tem graça na mesma). E uma das coisas em que eu noto mais diferença - e, neste caso, evolução - é no piano. 

Sempre me filmei a tocar (porque gosto de me ouvir, de mostrar ao mundo que toco e porque é uma boa forma de me auto-avaliar). No próprio estúdio temos essa política - depois dos alunos aprenderem bem a peça que prepararam para o recital, gravamos sempre para que ele fique com aquele registo para a posteridade. Muitos fazem fita, que não querem, que não gostam de câmaras nem deste tipo de registos, mas a verdade é que é algo muito valiosos - pela graça de nos ver tocar algo e, acima de tudo, para muitas vezes percebermos a nossa própria evolução. Quando estamos em frente às teclas não temos bem a noção do quanto crescemos e melhoramos, mesmo que seja em poucos meses. 

Em mim, a diferença foi abismal. Dei por mim a rever a primeira peça que toquei neste estúdio e parte da 5ª Sinfonia de Beethoven (em modo hiper simplificado, como é lógico) e nunca diria que aquela miúda estaria, desde há meio ano para cá, a dar aulas de piano. Foi um salto gigante, muito impulsionado pelo amor que fui ganhando pelas teclas, pela sorte que tive em encontrar alguém certo para me ensinar e pelo apoio que tive em casa, por me darem liberdade para ir aprender, me impulsionarem a fazer mais e me darem o presente de uma vida (o meu querido piano de cauda). Tive sorte, mas também tive (e tenho) muita vontade de fazer mais, e esforço-me sempre para melhorar.

O início de 2019 foi altura de duetos - um dos meus temas favoritos! - e escolhi tocar o Can Can. Diverti-me à brava a tocar isto, a fazer ajustes, a ensaiar a quatro mãos para que no dia do recital fizéssemos (eu e a minha professora) um brilharete. E conseguimos. Adoro esta música e o resultado final! Quem vê este vídeo e os vídeos de há ano e meio atrás, não acharia que eu era a mesma pessoa...

Partilho hoje convosco. O nosso Can Can:

 

 

25
Mar19

A "senhora professora" *

É um bocadinho assustador perceber o quão importante o piano se tornou para mim nos últimos tempos. Em Setembro de 2017, ao perceber que me estava a tornar numa miúda que só falava de trabalho, achei que voltar a tocar seria uma boa forma de me distrair e de pensar noutras coisas para além de têxteis-moda-notícias-jornais e etc. O que eu nunca poderia imaginar é que ano e meio depois estava não só a aprender como a dar aulas – e capaz de aguentar o barco, ensinando todo o tipo de alunos, sempre que necessário.

Se pensar bem, fiz com o piano o mesmo que fiz com a escrita (e que achei que nunca voltaria a fazer): tornar um hobbie no meu trabalho. Acho que, frequentemente, isto resulta na aniquilação de um passatempo, algo que nos relaxava e fazia bem, para a criação de mais uma responsabilidade e uma coisa que nem sempre nos apetece fazer (como tudo o que é obrigatório nesta vida). Mas não consegui rejeitar esta oportunidade – acho que é disto que se faz a vida, no agarrar de pequenas oportunidades que por vezes nos parecem descabidas e descontextualizadas, completamente fora do nosso plano, mas que se tornam importantes para nós e que eventualmente nos adoçam os dias.

Hoje, dentro da instabilidade constante que é a minha vida, já consegui chegar a um certo equilíbrio – dou aulas duas vezes por semana, só a adultos. Percebi durante o primeiro mês que não conseguia ensinar crianças – aliás, eu conseguia... mas sofria demasiado pelo caminho. Não sou uma pessoa que goste de lidar com os mais novos, tenho dificuldade em perceber porque é que se portam mal, sou demasiado exigente e fico nervosa por não conseguir que eles façam aquilo que eu planeava para eles, o que acabava por não tornar as aulas prazerosas nem para eles nem para mim. Nessa altura foi importante voltar a lembrar-me que isto era um hobbie – para eles e para mim, ainda que esteja a ser recompensada por ele – e que não fazia sentido que nenhum de nós não estivesse a retirar prazer daquilo. E, daí em diante, foi essa a minha condição: dou aulas, mas não a miúdos (a não ser em casos excepcionais). E tudo melhorou.

Continua a ser um desafio – tanto ao nível da gestão de tempo como de aprendizagens, porque também eu tenho de aprender certas coisas antes de lhes ensinar – mas, nesta dose, tem sido recompensador. Acho que melhorei muito a minha capacidade de interagir com os outros, de perceber o estilo e os limites de cada um. Continuo a ficar muito surpreendida de cada vez que alguém dá um feedback positivo sobre mim e sobre as minhas aulas, porque sempre pensei em mim como um bicho-do-buraco que não nasceu para lidar com pessoas. E, no fundo, isto é um crescimento útil para o resto da minha vida, independentemente do que venha fazer a seguir.

Estou a delinear o meu caminho e acho que estou no trilho certo. Faz confusão a muitos que eu não esteja inteiramente dedicada a uma só coisa – ou nas empresas da família, ou a ensinar piano, ou a terminar a pós-graduação – mas a verdade é que acho que esta miscelânea é tudo o que melhor me define. Nunca fui óptima a fazer uma coisa, mas sempre fui boa a fazer muitas, por isso sinto que esta fase meio caótica da minha vida me assenta que nem uma luva.

É lógico que um dia vou ter de assentar. Quando a minha posição nas fábricas começar a ficar mais definida e me começar a cair trabalho a sério – algo que, espero, só comece a acontecer mais a meio do ano, porque prefiro acabar a pós-graduação sem essa pressão extra – eventualmente vou ter de prescindir destes pequenos devaneios, que me ocupam tempo mas que dão cor à minha vida. Até lá, podem continuar a chamar-me de professora (e eu continuarei sempre incrédula a olhar para trás e a pensar: “quem, eu?!”).

 

*e sim, tenho alunos mais velhos que me tratam por “senhora professora”. Respeitinho, hã?!

 

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14
Mai18

Um presente para a vida

Já aqui tinha dito: eu queria um piano de cauda. Sempre quis – sempre achei que esta era uma das peças mais bonitas que se pode tem em qualquer sítio – mas, desde que comecei a tocar piano (e o meu velhinho piano vertical já começava a dar de si), esse desejo intensificou-se.

Comecei a perceber que, eventualmente, isso ia acontecer. Quer fosse um presente, quer fosse eu a compra-lo com o dinheiro que tenho de parte, eu sabia que era uma questão de oportunidade. Ia vendo o que aparecia em sites de segunda-mão (comprar um novo estava fora de questão, tanto por questões financeiras – um piano por estrear pode custar o mesmo que um carro ou até um apartamento – como pelo trabalho já nele desenvolvido, um vez que os instrumentos novos tendem a ser mais “esganiçados” e eu prefiro-os mais maduros) e houve um dia em que apareceu um.

Basicamente os astros juntaram-se a meu favor. Era de um pessoa de quem eu já tinha referências e é extremamente competente, o preço era incrivelmente bom, o piano já carrega uma história de mais de cinquenta anos e já está “mole”, fazendo com que o bater nas teclas seja um ato de meiguice e não de luta. Para a idade que tem – e tendo em conta que era um piano em que o antigo proprietário tocava e não servia apenas um objeto de exposição – está em ótimo estado, com pequenas mossas que só nota quem estiver à procura. Tem as teclas em marfim (algo que eu não estava certa se queria, porque se degradam mais facilmente) mas até isso já raramente se vê. E, obviamente, é lindo. Isso é indiscutível. E fica ainda melhor na minha sala do que aquilo que eu imaginava!

Isto serviu como prenda de anos um bocadinho atrasada – o que não importa absolutamente nada, porque um presente destes não tem preço, nem data, nem valor sentimental possível. Não descorando tudo aquilo que recebi ao longo da vida – e foi muito! - acho que esta foi, sem dúvida, a melhor prenda de todas. Um carro, por exemplo, é muito mais útil, é quase indispensável para a minha locomoção... mas esta é uma peça emocional. É todo um outro nível. Passaram-se quase dois meses (sim, atrasei-me a divulgar esta boa nova, mas a malta do instagram já sabia há algum tempo – sigam em @carolinagongui) e eu ainda suspiro de cada vez que entro na sala. Passaram-se quase dois meses e eu ainda dou por mim com a cabeça encostada a ele, enquanto me sento no seu banquinho. Passaram-se quase dois meses e eu ainda agradeço sempre ao meu pai, de cada vez que ele olha para mim enquanto toco (e isso é quase diário). Acho que pode passar o resto da vida e esta será sempre uma das melhores coisas que me caiu nas mãos.

(e enquanto estive no Brasil passou-se quase uma semana sem lhe tocar – e as saudades que eu tive!)

 

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20
Fev18

Quatro mãos num piano e uma música especial

No fim do último recital de piano do ano passado a minha professora entregou-me aquela que viria a ser a minha música de Janeiro (todos os meses apresentamos músicas novas, que estão sujeitas ao tema do mês). Neste início do ano o mote eram peças a quatro mãos. Normalmente somos nós que escolhemos a música que mais gostamos e começamos a estudar a partir daí, mas naquele dia ela entregou-me aquela peça, que achava que era a minha cara, e assim ficou. O primeiro baque deu-se quando eu olhei para a pauta. As pautas, aliás. Eram dez: cinco para ela, cinco para mim (pânico!). O segundo  foi quando eu ouvi a parte dela e nem sequer percebia por onde os seus dedos andavam. E o terceiro foi quando, em casa, percebi a extensão e a dificuldade da música.

Tive a opção de fazer uma estafeta, em que vários alunos tocavam uma pauta da peça. Mas fui esperançosa e um tanto ao quanto gananciosa quando decidi ficar com ela toda para mim. Assim, fiz contas à minha vida, decidi fazer o esforço e dar mais meia hora do meu dia ao piano (para além do tempo que já dou habitualmente) para conseguir ter a peça pronta a tempo.

Acabou por ser uma jornada e tanto. De uma peça que eu desconhecia (assim como a maioria), passou a ser algo que faz parte de mim; nem sequer era uma música que eu ouvisse pela primeira vez e me apaixonasse. Mas, como me foi atribuída pela professora, com o significado que isso tem, deixei-me ir... e todas aquelas horas que passei a treinar acabaram por me fazer perceber o quanto eu podia gostar da peça e o quanto eu já gosto de tocar piano. Apesar da luta que me deu - e não foi pouca - foram sempre momentos de puro prazer.

Sim, porque tocar uma peça a quatro mãos tem que se lhe diga. A principal dificuldade é a coordenação - para além das duas pessoas terem de estar "alinhadas", as suas peças têm de estar perfeitas ao nível dos tempos, senão o resultado final não vai soar direito. Como só podia tocar com a minha professora durante uns quinze minutos por semana - e por eu ser um tanto ao quanto obsessiva no que o piano diz respeito - estava a dar em maluca - primeiro porque não estava a conseguir alinhar-me com ela, segundo porque aquilo que eu tocava parecia estar sempre descontextualizado. A solução para tudo isto envolveu o uso do metrónomo (foram muitas horas a ouvir aquele horroroso "toc toc toc plim! toc toc toc plim!" enquanto tentava tocar nos tempos certos) e a tocar ao mesmo tempo que uns russos - dos poucos que disponibilizaram a música no Youtube - de forma a conseguir perceber onde devia entrar e interiorizar a parte da minha professora. Para além de tudo isto, por a peça ser enorme, eu tinha mesmo de ler a pauta - era-me impossível decorar aquilo tudo!

Cheguei ao fim do mês com a peça pronta. Encravei em muitas partes ao longo do processo, ainda hoje há trechos que eu respiro fundo antes de tocar, mas quando ficou pronta (e a gravei) fiquei com uma sensação agridoce: por um lado de dever cumprido, por outra triste por esta jornada partilhada ter acabado. Foi a primeira vez que senti no piano uma extensão de mim. Mais tarde toquei-a no recital, correu-me terrivelmente e fiquei despedaçada: tantas horas para depois me enganar na hora H. Enfim, acontece. Ao menos já tenho o vídeo como prova. 

As peças nunca estão acabadas, nunca estão perfeitas, por muito que as toquemos - e aqui cabem anos! Sei que se tocar isto daqui a um ano, tudo vai soar melhor - já vejo isso quando toco peças que aprendi há quatro meses atrás. Mas sinto que se não partilhar esta música com os meus, não partilho mais nenhuma. Mesmo sabendo que daqui a uns tempos vai soar melhor, mesmo detestando a minha cara de concentração profunda enquanto toco. Esta teve um sabor especial. Para a maioria, será só mais uma; para mim, acho que vai ser sempre "uma das".  

 

Sonatina by Diabelli; Op.163 n.1, quatro mãos:

(são cinco minutos de vídeo, sei que estou a testar a paciência até aos mais pacientes. se quiserem só uma amostra, saltem para os 4.30min)

22
Jan18

Um dia vou ter um piano de cauda

Desde que me lembro que esta casa tem um piano. Sei que não o compraram mal viemos para aqui, mas não tenho memória da minha sala sem aquela peça. É um piano vertical antigo – acho que terá mais de cem anos -, com as teclas em marfim, como hoje em dia já não se fazem (e ainda bem). Foi nele que comecei a tocar, com cerca de sete anos – mas, se a memória não me falha, já não estava em perfeitas condições.

Os anos foram passando e ele continua ali, com as fotografia e um par de candeeiros em cima. Até há bem pouco tempo era mais uma peça de mobiliário do que propriamente um instrumento musical. Ao longos destes anos em que estive parada, muito de vez em quando, ia lá tentar dar uns acordes e tocar algo, mas o piano estava tão desafinado que era impossível tocar o que quer que fosse ali e fazer com que soasse bem. Ia sempre desistindo.

Entretanto voltei a tocar. Pedi emprestado o piano eletrónico da minha sobrinha, que estava parado, e coloquei-o longe de grandes centros comuns, para poder tocar sossegada (e sem chatear ninguém, usando os headphones). Mas, por outro lado, quando queria tocar para a minha família, recorria ao velho piano da sala. Mandei vir cá a casa um afinador e o som que sai das teclas já se aproxima ao desejado – mas tocar nele continua a ser dificil. As traças comeram-lhe as almofadinhas das teclas, há umas mais acima e outras mais abaixo, outras em que se tem que clicar com mais força, outras com menos. Os sons agudos são fracos, os sons graves reverberam pela caixa toda. E eu soube, pouco depois de voltar a tocar, que mais cedo ou mais tarde ia querer um piano novo.

Fixei a data de 2020, quando tivesse 25 anos. Pensei: “vai ser a minha prenda de aniversário”. Eu tenho uma casa e uma sala grande e um dos meus sonhos sempre foi ter um piano de cauda. E nessa altura, pensava eu, já ia tocar bem o suficiente para ter um piano dessa envergadura.

Não é o que estão a pensar: não comprei um piano novo. Mas dei autorização a que o bichinho se instalasse e dei por mim a querer muito um piano melhor aqui para casa. Este mês tenho tocado várias vezes no piano de cauda lá da escola e é incrível o poder e o som daquilo; é tão fácil tocar ali, tão leve, parece que os sons saem diretamente da nossa pele. E enche-nos a alma de forma tão grande e impactante, quase como se enchessemos os pulmões de um ar profundamente bom... é incrível.

É lógico que comprar um piano não é propriamente igual a comprar-se uma camisola ou um casaco. Tem de ser uma coisa muito pensada, ponderada e experimentada e eu vou dar tempo a isso tudo. Quando fixei a data de 2020 era também para me certificar que não ia deixar o piano de lado outra vez; não quero fazer um investimento num piano de cauda só para ele ser uma peça de cenário. E a vida muda, dá muitas voltas, mas a cada dia que passa eu gosto mais de tocar. Ainda não se passou meio ano desde que voltei a aprender, mas já olho para trás e penso “o quê que eu fazia quando não tocava piano? Com quê que eu ocupava o meu tempo aos sábados de manhã e nesta hora diária que agora passo ao teclado?”.

A modos que é isto: se tudo correr bem, a médio prazo, quero comprar um piano de cauda. Até lá tenho de decidir o que faço ao meu antigo piano vertical (que não sendo um piano excepcional, é uma peça pela qual tenho bastante carinho), que tipo de piano é que quero (há pianos de um quarto de cauda, por exemplo) e onde e em que valores quero comprar. Já ando de olho no OLX, atenta a qualquer boa oportunidade. Até lá, é ir amadurecendo a ideia e ir treinando, treinando, treinando, para dar pelo menos uma boa razão para não esperar até 2020 para ter um instrumento novo.

24
Out17

Estou a perder-me no piano

Antes costumava ouvir muitas vezes a expressão "ai... o rapaz está a perder-se", nomeadamente em relação aos meus colegas rebeldes da escola. Normalmente este é um dizer que tem uma carga negativa: é alguém que está a ir por maus caminhos - drogas, tabaco, más companhias -, a desviar-se do percurso padrão que os mais velhos querem que o jovem - agora rebelde - siga.

Nesse aspeto, sempre fui um anjo com as ideias muito fixas e os pés bem assentes na terra. Nunca dei problemas, porque nunca tive medo de dizer "não" ou detetar aquilo que, segundo os meus valores, era bom ou mau. Mas acho que, pela primeira vez na vida, esta expressão se adequa a mim. Estou a perder-me. Mas há sempre o twist do costume: não sei, neste caso, se será uma coisa necessariamente má. Porque o meu objeto de "perdição" é o piano.

Não se trata propriamente das horas que passo a treinar - normalmente toco duas vezes ao dia, talvez meia hora em cada um dos treinos. O pior é tudo o resto: o tempo que passo a ver partituras, vídeos de tutoriais no Youtube, a procurar aplicações para instalar no tablet para aprender a tocar músicas de que gosto ou simplesmente a deliciar-me com covers de outras pessoas. Enquanto trabalho e escrevo ouço sempre música de fundo - e enquanto estudava devorava bandas sonoras de forma repetitiva - e muitas vezes, por deixar o youtube correr, vou parar a playlists comerciais. Mas neste momento, o meu consumo de covers é de tal forma elevado que só me aparecem pianos no visor de cada vez que me é sugerida alguma coisa. E eu, bem mandada, clico. Tenho aumentado bastante a minha lista de subscrições no último mês, graças a estas descobertas "patrocionadas" pelo Youtube.

Mas bom, ando perdida: gasto o tempo que tenho (e que não tenho) embevecida a olhar para o ecrã, a pôr em full screen os vídeos para perceber o movimento dos dedos e a pensar "será que eu já sou capaz de tocar isto?". Na verdade ainda não me aventuro muito em peças alheias: como todos os meses tenho recitais e quero ter as músicas que vou apresentar o mais perfeitas possível, repito tudo até à exaustão até me parecerem apresentáveis (e sim, isto tem um toque de obsessivo e de perfecionista). Neste momento estou mergulhada em Yann Tiersen, com o maravilhoso soundtrack da Amélie. O tema deste mês do estúdio eram bandas sonoras e pudemos escolher entre o Tiersen ou o John Williams - compositor do Harry Potter, do E.T., Indiana Jones, Jurassic Park, entre muitos outros. E sim, eu preferi a Amélie ao Harry Potter... foi uma escolha dura, mas há tantos anos que eu sonhava tocar a Comptine d'un Autre Été que não houve escolha possível. Entretanto despachei a música tão rápido (e de forma tão apaixonada, devo acrescentar) que vou também tocar a L'Autre Valse d'Amélie, que me tem dado água pela barba. Depois de bem prontas, talvez as mostre aqui.

Nos entretantos, para desenjoar de tanta Amélie, vou-me vingando nos meus vídeos do Youtube e sonhando com o dia em que poderei tocar assim. Estou sinceramente empenhada. E felicíssima com a brilhante ideia que tive em voltar a aprender.

 

Uma da melhores descobertas que fiz nos últimos dias foi o Constantino Carrara, que tem covers inacreditáveis de músicas pop. Vale a pena conferir, seguir e descobrir mais se gostarem do estilo. Já eu acho impossível alguém não gostar ou apreciar o dom deste rapaz.

 

17
Set17

Um regresso maravilhoso

O ano ainda não acabou, mas eu quase me arrisco a dizer que a decisão de voltar ao piano foi das melhores que tomei em 2017. Parece ser daquelas raras situações em que uma pessoa tinha saudades mas só nota quando se reencontra com algo. Estas duas semanas foram de um reencontro bonito. O redescobrir de algo que gosto muito e que, acima de tudo, me relaxa e ajuda a focar só na música, deixando os problemas fora do piano (esta era uma vertente que, quando eu tinha dez anos, não conseguia apreciar, mas que agora valorizo imenso).

Dou por mim a sentar-me ao piano mal tenho quinze minutos livres - mesmo com sono, mesmo com dores de cabeça, mesmo com lágrimas a rolarem-me pela cara abaixo. Tem sido o sítio perfeito para canalizar as más energias e transforma-las em algo bonito: o que, nestas semanas, tem sido particularmente útil.

Como já tinha a formação base não comecei mesmo do principio e a professora deu-me uma peça mais avançada do que à partida eu achava conseguir ter pronta até ao fim do mês. Mas à medida que os problemas e as dúvidas foram aparecendo, eu fui perguntando, relembrando coisas que já tinha esquecido há dez anos atrás, e a evolução acabou por ser muito rápida. Em duas semanas consegui ter a peça pronta - e fiquei tão, tão feliz e orgulhosa! É de facto uma sensação especial começar do zero, com uma música e uma pauta que nos são estranhas, e elas depois acabarem por fazer parte de nós, entranharem-se de tal forma que os nossos dedos já as tocam praticamente sozinhos.

Talvez por estar a rever muitas coisas que não me lembrava, sinto que estou a andar muito rápido. É provável que isto abrande nos próximos tempos, até porque nem sempre terei tempo para treinar duas vezes por dia, tal como tenho feito - mas tem-me dado um gozo imenso sentir que melhoro a olhos vistos de cada vez que toco, ver-me a ultrapassar as dificuldades, os "nós" e os erros sistemáticos que às vezes criamos quando estamos a aprender a tocar algo. É motivador perceber que as diferenças são significativas quando o treino é regular e intenso - o que me faz sempre querer tocar mais. Às vezes penso "ok, esta é a última vez e depois vou embora"; mas essa tentativa não correu bem, errei ali e acolá, por isso repito, dizendo para mim mesma "mas é mesmo a última vez!". E depois torno a errar. E a repetir. E a errar. Até aquilo sair bem ou, no mínimo, até me sentir satisfeita com a evolução.

Acho que conspirou a meu favor: o timing que escolhi para voltar - estou numa fase em que preciso urgentemente de algo que me motive e me faça descarregar as más energias -, a escola que encontrei para me reencontrar com o piano, a professora que rege essa escola e os seus métodos de estudo, o facto da minha sobrinha não utilizar o piano dela e poder eu usufruir desse privilégio. Neste aspeto, estas duas semanas foram maravilhosas e mal posso esperar para me sentir mais à vontade para tocar as músicas que gosto, que ouço e que canto a altos berros no carro - e poder presentear os outros com elas.

Para já, e porque é mesmo um orgulho imenso para mim ter conseguido trabalhar uma peça que, ainda que não seja difícil, é desafiante, mostro aquilo que treinei nestes quinze dias. Ainda não está perfeito, há detalhes a polir. Mas já estou feliz com este resultado.

 

 

02
Set17

De volta aos teclados (e não é do computador)

Devia ter uns oito anos quando comecei a aprender piano. A minha mãe tinha-se inscrito na escola de música, levou-me por arrasto e eu, por acaso, até tinha jeito para a coisa. Mas, passado relativamente pouco tempo, quis desistir. Não tenho a meu favor a perseverança: não me lembro de nenhuma atividade onde quisesse ficar durante mais do que meia dúzia de meses (também não andei em muitas, só me lembro da ginástica - onde não durei nada, uma vez que era, e sou, uma absoluta desgraça - e da natação, atividade que repeti ao longo dos anos e de que ainda hoje gosto muito). Mas, por outro lado, tenho uma série de desculpas muito convincentes: a melhor de todas é que o meu professor adormecia nas minhas aulas.

Isto tem graça quando eu conto e até pode ser visto como um elogio ("ui, tocavas tão bem que até o adormecias!") mas era uma situação muito embaraçosa para mim, que acabava a partitura e não sabia o que fazer a seguir. Ir para aquelas aulas significava estar numa posição desconfortável, porque já sabia o que ia acontecer e ficava a pensar "continuo a tocar? páro? acordo-o? saio da sala?". Enfim, era chato. E eu fiquei muito desmotivada com tudo aquilo e quis desistir. Nunca deixei de gostar de tocar, mas não me apetecia continuar com aquilo - e quando temos oito anos não temos maturidade suficiente para perceber que é aquele professor que nos desmotiva, que gostamos mesmo daquela atividade e que queremos dar a volta. Se em adultos já é difícil contornar situações em que estamos assim, em crianças é quase impossível. Por isso, mesmo contra a vontade dos meus pais (o meu pai sempre me disse que quando eu fosse crescida e estivesse na faculdade todos os meus colegas iam adorar ouvir-me ah ah ah), deixei de tocar piano. Tinha algum jeito e aptidão para aquilo, para além do meu amor já existente pela música, que não só se manteve como aumentou com o passar dos anos. Já tocava peças com algum grau de dificuldade e safa-me realmente bem. Mas a partir do momento em que se estagna, que não há ninguém a puxar por nós (mesmo que a dormir...) ou a exigir algo mais, é difícil evoluir. E eu parei de tocar por completo.

Ao longo destes anos voltei a sentar-me algumas vezes em frente do piano, mas nunca durava muito. Deixei de saber ler fluentemente as partituras e o meu piano, mesmo antigo, está todo desafinado e com muitas falhas ao longo do teclado. E sempre teve uma grande desvantagem, que sempre me coibiu de tocar muito: está na sala, no centro da casa, e toda a gente o ouve. Isto é bom quando queremos "dar espetáculo", mas péssimo quando queremos treinar. Como tenho sempre a casa cheia de gente, nunca conseguia tocar sozinha - e é muito chato estarmos a praticar, enganarmo-nos, chatearmo-nos (só quem nunca tocou piano é que não sabe como são aqueles ataquinhos de raiva em que batemos contra todas as teclas de uma só vez) e estar o mundo todo a ouvir. Já o era quando tocava e continuava a ser naquelas poucas vezes em que decidia tentar tocar de novo, tentando interpretar algumas das minhas músicas favoritas do momento. Tinha sempre gente a espreitar, a dizer "uau, afinal ainda dás uns toques!" ou a bater palminhas no final de uma interpretação intragável. E, por isso, desistia sempre.

Mas nos últimos tempos a música tem atingido uma dimensão tal na minha vida e anda-me tanto a apetecer fazer algo diferente (para além de trabalhar) que decidi ir procurar uma escola de música para voltar a aprender. Neste momento já conheço melhor o meu emprego, os meus horários, as pessoas com quem trabalho e a fase da adaptação e de agitação já passou - e eu sinto mesmo que precisava de fazer algo diferente, de conhecer outras pessoas, de ter a cabeça noutro lado, de me motivar de alguma forma. E lembrei-me do piano. 

Fui hoje fazer uma aula experimental, gostei imenso do espaço, da professora e dos métodos e estou muito ansiosa para voltar a tocar. Já há algum tempo que não me apetecia tanto fazer alguma coisa! São incríveis as mudanças que acontecem em dez anos: ainda vi coisas em papel, mas agora aprende-se com tablets, que ajudam a ler as partituras e que dão a música de fundo, podendo ajustar-se o ritmo, treinar só uma mão e tudo mais. Para além disso, como ouro sobre azul, a minha sobrinha tem um piano eletrónico - que não usa -, daqueles que dá para pôr phones e só nós ouvirmos as asneiras que damos ou aquilo que estamos a tocar. Ou seja,o meu problema de ter a casa toda a ouvir os meus treinos tem finalmente um fim à vista! E no futuro, se vir que estou mesmo empenhada, pondero comprar um.

Até lá, é ir experimentando. Sinto que a partir do momento em que a escrita passou de hobbie a trabalho, "perdi" o maior entretenimento da minha vida - e desde que o trabalho começou a entrar nos eixos e que eu tenho tempo livre que me sinto muito perdida e cada vez mais desmotivada com tudo à minha volta. Estava mesmo a precisar de algo que me desse vontade de sair de casa e fazer algo diferente. Estou muito esperançosa e muito feliz por ter decidido arriscar! Espero que valha o esforço!

 

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19
Jan13

Uma chance ao piano

Depois do episódio do piano passado na última festa de anos a que fui - e que acabei por não fazer jus, porque não vos disse que um dos rapazes que estava a tocar era giro que só ele -, decidi dedicar-me um bocadinho a esta arte. Estou perra, desajeitada, envergonhada e com muitíssima falta de treino, mas enfim.

A questão é que tocar piano não é um mar de rosas e a fase inicial não tem nada de belo para os ouvidos - uma pessoa engana-se, irrita-se, vira-se contra o piano, cansa-se, repete os erros. E tocar para os outros é fantástico quando a música sai dos nossos dedos fluidamente - mas quando nos ouvem tocar fragmentos de música repetidamente e desconexadamente, toda a beldade vai pelo cano. E eu, para evitar isso, tento tocar o mais sozinha possível - o que, nesta casa sempre cheia de gente, se torna impossível. Resultado? Mesmo quando tenho vontade, não vou para o piano. Para além disso, há uma relação estranha com o piano por estes lados: todos podem não pousar lá as mãos durante séculos, mas quando eu ou alguém está lá, vai tudo atrás, com vontade de tocar, experimentar e tudo mais.

Estou a tentar atinar com a música que está aí baixo, que é sem dúvida das minhas favoritas. Eu queria mesmo muito conseguir tocar mas, tendo em conta as experiências anteriores, a desistência é o mais o acontecimento mais provável nos próximos dias.

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