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Entre Parêntesis

Tudo o que não digo em voz alta e mais umas tantas coisas.

28
Fev17

Ora então... bom Carnaval!

Que me perdoem os foliões, mas eu não gosto nada do Carnaval. Acho que mesmo quando era pequena não era algo com que vibrasse muito. Tive um Carnaval que me marcou muitíssimo, passado com a minha família, mas não passa disso. Acho que a última vez que me fantasiei foi há uns oito anos, para uma festa onde uma amiga minha me levou de arrasto: fui de gato, esquecendo-me (na minha inocência) de que este animal fofinho tem uma conotação meio sexual, e passei a noite a ouvir "miaus" e coisas do género. Já não me bastava ter de estar numa festa e ainda levei com aquilo. Jurei que, enquanto me lembrasse, não me metia noutra (e, como se vê, ainda me lembro muito bem, portanto o retorno não está para breve).

Mas a verdade é que mesmo não participando no Carnaval há já muitos anos, em Maio do ano passado tive os meus 10 minutos carnavalescos, patrocinados obrigados pela minha mãe. Quando em Londres, numa visita a Camden, andávamos lá às voltas até que a minha mãe encontrou uma espécie de estúdio de fotografia, onde as pessoas se mascaravam para fazer sessões fotográficas temáticas; sei que havia três temas possíveis, mas só me lembro das damas antigas e da máfia. No fundo, é um souvenir personalizado (e caro) de uma visita a Londres.

A minha mãe delirou com aquilo, adorou a ideia, mas eu disse logo que nem pensar, não me ia vestir coisíssima nenhuma. Mas o dia não nos estava a correr bem, estávamos com o estado de espírito pelas ruas da amargura e, numa segunda passagem, a minha mãe voltou a folhear as fotos que havia à entrada e quis fazer uma coisa daquelas. E, pronto, uma pessoa pelas mães faz tudo. Lá escolhemos o tema, as roupas e os acessórios (eram postos por cima das nossas roupas), as raparigas puseram-nos um bocado de maquilhagem e lá fizemos a sessão fotográfica. Foi uma coisa de partir o coco a rir, eu achava que estava alucinar e nem me acreditava que me tinha metido naquilo. O fotógrafo dizia-nos como segurar no livro, para levantar o queixo, para olhar para o canto, para fazer isto e aquilo... e eu estava sempre à beira de um ataque de riso.

Ataque de riso esse que aconteceu mal nos sentamos no sofá e começamos a ver as fotos. Nem sequer consigo explicar bem, mas sei que estavam já outras pessoas a ser fotografadas (aquilo era um open-space, só com umas cortinas, o cenário era todo o mesmo para os diferentes temas mas tinha "cantos" específicos para cada um) e eu e a minha mãe começamos a rir-nos estéricamente daquilo que estava a passar no ecrã. Eu chorava, chorava, chorava de rir... acho que mal respirava. De cada vez que a rapariga mostrava uma nova, eu ia morrendo. Foi uma risota pegada e um drama para conseguirmos escolher três para imprimirmos e trazermos para casa (no início, só pensávamos trazer duas... mas as pérolas eram tantas que não deu para evitar).

Lá escolhemos, pagamos e mais tarde passamos para as levantar. Quando as vimos, voltamos a rir-nos à gargalhada. De facto, a experiência teve muita graça, mas aquilo é algo tão fora de mim que só mostrei as fotos a um par de pessoas (já a minha mãe, mesmo contra todos os meus pedidos, esparramou aquilo no facebook...). Ainda hoje, quando passo pela foto que a minha mãe emoldurou (!!!), me encolho de vergonha. Sim, teve graça, mas ainda não me acredito que posei como Dama Antiga, com um fotógrafo a dizer-me o que fazer e o diabo a quatro. 

Há uns dias, enquanto pensava no Carnaval e nos posts aqui no blog, lembrei-me disto. É uma pérola que tenho escondida há quase um ano - aliás, quando tive as fotos na mão, achei que as ia guardar para a vida. Mas a verdade é que há coisas demasiado boas para estarem escondidas - e embora esta seja uma faceta que, no meu caso, é pouco comum e que, sinceramente, eu tenho muita dificuldade em mostrar, ela há-de existir algures em mim. Por isso, meus amigos, bom Carnaval.

 

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11
Fev17

Uma semana de viagem: o resumo

É engraçado pensar que apenas viajei durante uma semana. Enquanto a vivi, a azáfama foi tão grande que o tempo pareceu passar a correr (pelo menos a maior parte, fora aquelas em que eu me ia abaixo, escondida nos arrumos, e contava quase os micro-segundos a passar). Agora que quero fazer um resumo das minhas peripécias, começando por Madrid, parece que passou tanto tempo que já nem as lembro de uma forma muito viva. Por um lado é mau, porque a veracidade das coisas já não vai ser espetacular; mas por outro, quer dizer que sorvi cada segundo daquela experiência, o que não podia ter sido melhor. Vamos lá por partes.

 

   1) Passei apenas uma noite em Madrid, mas viajei com três malas de porão, com 24 quilos cada uma. E não, não foi culpa minha - era material que tinha de ir para a feira e que não chegou a tempo para seguir por uma transportadora, por isso não houve volta senão ir comigo no avião. O que me valeu é que conhecia pessoas que - não tendo viajado lado a lado comigo - me ajudaram depois a transportar a carga.

   2) Mal cheguei fui logo trabalhar, não houve tempo para passagens pelo hotel. Quando lá cheguei, à noite mesmo antes do jantar, percebi que era um quarto habilitado para pessoas portadoras de deficiência. Nada contra, mas a casa de banho era terrível: para poder albergar uma cadeira de rodas, o chuveiro não tinha limites ou paredes, pelo que de cada vez que tomei banho alaguei a casa de banho in-tei-ra. Não foi bonito.

   3) Jantei com pessoas que não conhecia de lado nenhum. É engraçado como em situações que nos são estranhas acabamos por nos adaptar - já de tarde tinha falado espanhol (ou portunhol) como nunca tinha feito na vida (sempre tive imensa vergonha) - e depois ali estava eu, com três pessoas estranhas, a partilhar mesa e um jantar. Foram, por acaso, muito simpáticas e acabei também por estar com elas no pequeno-almoço. A verdade é que foi muito mais estranho o momento antes do jantar e o pós (como agora, em que estou a pensar nisso) do que o momento em si. Na altura limitei-me a ligar os meus instintos não-anti-sociais e tentar parecer alguém normal.

   4) O vôo Madrid-Porto foi o pior da minha vida. Foi sexta-feira à noite e, pelo que sei, houve um vendaval por todo o país (e também em Espanha, onde foram adiados jogos de futebol e etc.). Só tivemos uns 20 minutos de sossego - os outros 40, entre descolagem e aterragem, foram do pior. Vi a minha vida a andar para trás, à medida em que ia sentido o avião a balançar da esquerda para a direita de forma incessante, as malas acima da minha cabeça a baterem umas contra as outras e os compartimentos do avião onde os hospedeiros guardam as comidas e todas aquelas tralhas a remexerem-se todas. Chegou uma altura em que tive de me agarrar ao banco da frente para me estabilizar e procurei o saquinho de papel, caso precisasse. Vim depois a saber que houve pessoas que tiveram mesmo de o utilizar. Eu só queria chegar a terra - e rezava para que dali a umas horas o temporal já tivesse passado.

   5) Tinha vôo para Munique apenas seis horas depois de chegar de Madrid, pelo que estava no aeroporto apenas 4 horas depois de lá ter saído. O plano era tratar da mala mal chegasse à noite, mas dado o meu estado de oura, preferi dormir duas horas primeiro e depois trocar as tralhas essenciais de uma mala para a outra (que já tinha deixado pronta). Estava a tratar disso quando percebo que havia umas bolsas que estavam abertas e não deviam. Fui roubada no aeroporto de Madrid. Felizmente não tinha objetos de valor, mas roubaram-me dois colares (ambos Parfois, mas estavam bem tratados, devem ter achado que roubaram grande coisa) e os meus cartões de memória da máquina fotográfica, que estavam naquele saquinho que vos tinha mostrado aqui - também estavam vazios. Deixaram o colar mais valioso, tanto na nível monetário como emocional, pois era da minha avó. Ao menos isso. Ainda assim, chateou-me o facto de terem andado a remexer nas minhas coisas.

   6) A primeira noite em Munique foi de festa, num bar português, onde vimos o Porto ganhar ao Sporting. Vim a saber que aquele era o poiso dos jogadores do Bayern de Munique e o meu sobrinho mais velho quase me trucidou quando lhe disse que estava lá um tal de Rafinha (quem?) e eu não lhe tinha pedido um autógrafo.

   7) Aprendi que o schinitzel - o panado - é a minha salvação numa terra onde só se comem salsichas, algumas com um aspeto definitivamente horrível. Não como salsichas de uma forma geral, é algo que me faz aflição, e estar numa feira onde só se serviam snacks com salsichas pelo meio foi algo medonho.

   8) A feira onde fui tinha 19 pavilhões. Andei uma média de 10 quilómetros por dia, só dentro da feira. Saía do hotel pelas 7.30 locais (6.30 daqui) e houve dias em que cheguei depois da meia-noite. Fiquei morta. A certa altura tinha pessoas a gozar comigo, sem eu me aperceber porquê - só quando me olhei no espelho do elevador é que entendi que, embora tentasse estar bem-disposta, a minha cara me denunciava. Olhos raiados de sangue e olheiras até ao chão não perdoam. Passei essa semana a levantar-me às 5 da manhã de Portugal e aprendi que sei dormir em qualquer lado.

   9) Apercebi-me disso no dia em que fiquei sozinha, porque relaxei do frenesim da feira. No caminho de volta de Dachau adormeci sentada no metro, algo que nunca na vida me tinha acontecido. Depois à ida para o aeroporto aconteceu-me o mesmo, agarrada à mala (tenho a certeza que o gajo que estava à minha frente me tirou fotos). E tornei a adormecer enquanto esperei para fazermos o embarque.

   10) É engraçado ver a reação das pessoas quando se apercebem que uma miúda nova está sozinha. Ao jantar, certificaram-se que tinha dito que a mesa era só para um. Depois, quando veio o meu pernil, o empregado desfê-lo por mim (tinha ido ao mesmo restaurante no dia anterior, com pessoas, e isso não aconteceu) e sempre que passava sorria-me e perguntava-me se estava tudo bem. No dia seguinte, no aeroporto, uma senhora alemã ajudou-me a pôr as alças da mochila direitas quando se apercebeu que as tinha deixado tortas quando a coloquei nas costas. Achei o gesto enternecedor.

   11) Relativamente a estar sozinha, o meu maior receio era andar de noite - ali em redor do hotel havia muitos bares de strip e algumas prostitutas, sendo que havia também alguns magotes de homens que eventualmente podiam tentar algo. Meti os pensamentos maus atrás das costas e fiz-me à rua, e ainda andei uns dois quilómetros, desde o restaurante ao hotel. Certifiquei-me apenas que jantava cedo e voltava cedo para o ninho, para evitar andar sozinha a altas horas da noite. Achei a cidade muito morta, passei por sítios onde não passava vivalma e onde não havia animação, nem mesmo em montras. 

   12) No dia seguinte, o dia S (de "sozinha"), a vida não estava a colaborar. Fiz o check-out logo depois do pequeno-almoço, deixei as malas no hotel e fiz-me ao caminho para Dachau. Lá no campo comecei a enregelar seriamente mas, entre tirar telemóvel para tirar fotos e etc., perdi os phones e uma luva. Fiquei fula. Os phones eram a minha companhia e a luva, naquele momento, parecia essencial para a minha sobrevivência. Mal punha a mão de fora parecia perder a atividade, de tanto frio que fazia.

   13) Dirigi-me depois a Marienplatz, a praça mais antiga e principal da cidade, onde sabia que havia umas lojas pelas redondezas. Fui a uma H&M e comprei umas luvas. Quando ia a pagar, olhei para a carteira e apercebi-me que me faltava dinheiro - tinha-o deixado no cofre do hotel! Não tinha os documentos do hotel comigo, não tinha internet no telemóvel para saber sequer o número para ligar para lá. Meti-me no metro e fui a correr de volta, com o coração nas mãos. Quando cheguei, fiquei a saber que não só tinha deixado o dinheiro como o passaporte, que deixei lá por segurança, caso me roubassem o cartão de cidadão. Foi uma sorte e ficarei eternamente agradecida às senhoras da limpeza por terem guardado e entregue tudo. Nesse momento, para além de estar esgotada e a bater o dente de frio, senti-me derrotada. Já não queria passear, já não queria saber: só queria dormir, ir para o aeroporto e vir para casa. Mas fiz um esforço, voltei a abandonar o hotel e fiz-me à estrada.

   14) Comprei uns phones, já tinha outra vez companhia. Comprei também uns ímans para o frigorífico, para a minha mãe, e uns croiassaints e uma água para quando a fome apertasse. Dei mais umas voltas no centro histórico, sem grande plano definido, porque percebi que a vida não estava para essas coisas. Nas minhas pesquisas pré-viagem tinha visto que se podia subir a uma torre, mas quando lá passei não vi ninguém e parecia estar tudo fechado. Voltei a tentar, empurrei portas e lá acabei por encontrar a entrada. Estava cheia de frio e achei que aquela era uma boa forma de aquecer. Subi. Subi. Subi. Subi. Olhava para cima e as escadas não terminavam. Estava a deitar os bofes pela boca e só pensava "ainda bem que comprei uma água, quando chegar lá acima vai-me saber pela vida". Cheguei, mais viva que morta, e abri a água. Vi bolhinhas. Tinha comprado água com gás, algo que sou perfeitamente incapaz de beber. Roguei-me pragas.

   15) Tirei fotos, respirei, e voltei a descer, dando graças por aquilo não ter começado a arder quando eu estava lá em cima. As escadas eram todas de madeira e se algum dia algum louco passa por ali, está tudo condenado a uma morte certa. Quando cheguei cá abaixo, lembrei-me de ler o letreiro: 91 metros de altura, 306 degraus. Entre subida e descida, 612. As minhas pernas pareciam piores que gelatina, quase como se tivesse saído de um treino de PT. Roguei-me pragas mais uma vez, por não ter lido o letreiro antes de subir.

   16) Dei mais umas voltas, bebi um chocolate quente e voltei para o hotel. Peguei nas malas e fui para o metro, em direção ao aeroporto. Aparato policial, a porta para a linha da estação de metro que precisava estava fechada. Perguntei ao polícia uma alternativa, não percebi o que me disse, dei duas voltas à estação gigante para perceber se havia outra porta e nada. Como já dominava o metro, entrei noutra linha e depois troquei para a que queria - uma volta maior, mas não tinha outra alternativa. Tinha uma mochila carregada de coisas, entre computador, carregadores,máquina fotográfica, objetiva, porta-moedas, carteira de medicamentos, bloco de notas. Enfim, pesava chumbo - mais a mala grande. Ainda tive de subir escadas pelo caminho, decifrar as linhas de metros e estava esgotada.

   17) Quando cheguei ao aeroporto, depois de despachar a mala, ainda esperei uma meia hora para entrar na segurança, que é caótica em Munique graças a umas máquinas de raio-x que demoram o dobro do tempo. As minhas costas gritavam por descanso e tenho noção de que o meu caminho até à porta de embarque foi penoso - ia a passo de caracol, já com um olho meio aberto e outro fechado. Quando cheguei, atirei-me para uma cadeira e, com os phones nos ouvidos, fui dormindo. Depois entrei no avião e, bem... missão cumprida. Consegui, caraças.

 

A verdade é que no meio disto tudo, destas peripécias que agora aqui escritas parecem pequenas coisas, ninharias de nada, eu senti-me exausta. E quis desistir, ir direta ao aeroporto num táxi e arrumar aquilo. Dizer à vida: "porra, ganhaste". Mas optei pela escolha difícil. Saí do hotel depois de achar que tinha perdido o dinheiro e o passaporte; fui de metro mesmo tendo de andar o dobro para ir para o aeroporto. Algo tão pequeno como a falta de música nos meus ouvidos ou a falta da água no topo da torre fizeram-me repensar em tudo, em dizer que se calhar esta ideia de viajar sozinha não é assim tão boa e que a vida estava só a tornar isso tão claro como a água.

E eu digo-vos uma coisa: eu levo estes feelings e estas mensagens muito a sério, costumo ouvi-las. Mas há momentos em que temos de lhes fazer frente, porque temos algo a provar - e que queremos muito que se concretize. Portanto, segundos depois de quase lhe dizer "porra, ganhaste", dizia-lhe "bate mais, bate! Eu hoje chego ao aeroporto, nem que seja a arrastar-me". E cheguei. Viajei sozinha e sobrevivi. Vi todas as barreiras à minha frente e não só as ultrapassei como nunca escolhi o caminho mais fácil. E isto sozinha, como estou sempre. Como sempre estive e como acho que vou sempre estar.

É isto, vida. Estamos quites. Se fazia outra vez? Com todo o gosto. Não só para me bateres mais um bocadinho, mas também para te dizer que sou capaz. 

 

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03
Dez16

E adormecer que é bom... nada

Ando cansada, com os horários todos trocados. Agora tenho uma vida de "velha": deito-me cedo e acordo cedo e, muito sinceramente, é assim que gosto. Deixei a minha veia de notívaga nos tempos do secundário e agora prefiro usufruir de um dia cheio do que dormir até às 11 da manhã. 

Isto foi uma rotina que me obriguei a ter desde o início deste ano, quando comecei a estagiar. Percebi rapidamente que estar muitas horas seguidas em frente ao computador me desgastavam imenso e que precisava de dormir mais para compensar o cansaço mental; comecei a deitar-me gradualmente mais cedo até perceber que já não precisava de dormir durante a tarde para conseguir estar bem acordada e desperta. Atualmente mantenho a mesma tática - apesar de já estar habituada a estar muitas horas em frente ao PC, adoro deitar-me cedo e acordar naturalmente pouco depois do sol nascer - aliás, acordar sozinha às horas que preciso é o meu "sonho". Ainda para mais agora tenho o ginásio, que tento frequentar antes de ir trabalhar, o que me obriga a madrugar ainda mais que o costume, por isso as noitadas são impensáveis se não quero andar aí aos caídos.

Mas a semana passada apanhei um susto que me alterou todo o esquema e, desde aí, durmo menos e ando cansada, porque este corpo não é de pouco sustento ao nível das horas de sono. Passava pouco mais da uma da manhã e eu estava sozinha em casa (coisa raríssima), já deitadinha confortavelmente na minha cama, quando o alarme toca. Eu não tenho medo de estar sozinha, quer de dia quer de noite, mas também não sou pessoa de reagir: pelo contrário fico um bocadinho petrificada enquanto o meu cérebro gira a 300 à hora em busca de alternativas e soluções. E foi isso que aconteceu: passei de um sentimento de relaxamento total para um estado de alerta absoluto, como se me tivessem injetado gelo pelas veias. 

Fiz os procedimentos normais, mas sem nunca perceber se de facto estava a ser assaltada. Calcei umas botas, alarmei de novo a casa e sentei-me na cama, à espera de ter uma ideia genial sobre o que fazer... quando o alarme toca de novo. E aí não foi só o alarme que tocou mas também todas as sirenes de pânico no meu corpo, que me devem ter injetado uma quantidade absurda de adrenalina pelas veias. Chamei a polícia. Tornei a sentar-me à espera que eles chegassem - e pensava, pensava, pensava, enquanto ouvia o silêncio e tentava detetar quaisquer sinais de anormalidade. Estava tudo normal a não ser o meu batimento cardíaco, as minhas pernas e as minhas mãos, que tremiam qual estado gravíssimo de hipotermia. Racionalmente eu sabia que devia estar tudo bem: não havia sinais exteriores de que algo estivesse mal, mas o meu corpo não me deixava relaxar. 

A polícia veio, foi-se embora, eu deitei-me em total estado de vigia e o alarme toca outra vez. Desligo. E finalmente quando estou a conseguir relaxar, ainda sentada e com as luzes todas ligadas, o filho da mãe toca outra vez. Depois não tornou a tocar, mas tive um chorrilho de mensagens e telefonemas que não me deixaram dormir.

E desde esse dia que não consegui dormir decentemente. Quando adormeço até corre bem, mas o problema é mesmo chegar aí: agora não me apetece deitar com as galinhas, não quero estar na cama à espera que o sono chegue, naquele estado em que há uma semana fui arrancada tão violentamente. O meu cérebro uniu o sono àquele sentimento de susto que vivi naquela noite, de tal forma que eu agora não tenho vontade de ir dormir, por muito sono e cansaço que tenha. Estou a ver-me grega com isto e o meu sono, as minhas olheiras, os meus tiros ao ginásio e as minhas sestas durante a tarde são a prova disso.

 

P.S.: No final era tudo falso alarme, descansem. Eu também gostava de descansar se esta história me saísse da cabeça.

15
Ago16

O que seria de uma viagem sem um pouquinho de aventura?

Há uma semana atrás estava a voltar da Régua. Fui no meu antigo carro, uma vez que éramos três pessoas, mas sempre com medo do que dali poderia vir. Desde que tenho o smart que ele está mais parado e há um ano já me tinha deixado apeada na Avenida da Boavista, quando sobreaqueceu e ameaçou derreter-me o motor do carro. Sem me alongar muito, basta dizer o esperado: aconteceu outra vez.

Estavam perto de 40º no Douro Vinhateiro e o caminho que decidimos fazer, por Mesão Frio até à auto-estrada, ainda tem uns bons quilómetros de nacional. A casa onde estávamos já ficava bem alta e, antes de irmos, decidimos passar pelo centro da Régua para comprar os rebuçados que tanta gente gosta - o que implicava descer e depois tornar a subir. Assim fizemos. Eu estive sempre de olhos postos na rodinha que assinala a temperatura, já com um feeling do que podia acontecer, porque aquelas subidas são íngremes e eu via-me obrigada a puxar pelo carro. A temperatura subia um pouquinho e depois voltava ao normal, andava nisto, até que de repente saltou para o extremo do vermelho e o carro perdeu a potencia toda e eu tive um dejá-vu daquela tarde na Boavista. A diferença é que neste caso estava na nacional, em cima de duas curvas e sem sítio para encostar.

Coisas importantes a saber: eu não tinha telemóvel; a amiga que estava comigo tinha bateria mas menos de 1 euro para gastar e o outro amigo que também estava no carro tinha 8% de bateria. Uma gestão difícil, portanto. Não vale a pena entrar em grandes pormenores do que aconteceu: com o meu irmão a seguir-me de guia e "calmador espíritual", abri o capôt, tentei descobrir o sítio onde se coloca a água (não descobri...) e passado algum tempo (já depois de triângulo posto e colete vestido) seguimos para uma bomba de gasolina ali pertinho. 

Depois de pedir ajuda aos senhores que lá estavam e de ouvir as centenas de bitaites e experiências que tinham para me contar, e como o carro já tinha voltado ao normal, fiz uma segunda tentativa. Durou pouco mais de um quilómetro, onde o carro voltou a aquecer e eu desisti e tive de chamar o reboque. É verdade: 21 anos, 3 de carta, a 100kms de casa, fui rebocada pela primeira vez. 

Mas o que importa aqui não é o facto de ter sido rebocada, mas sim a forma como encarei tudo isto. Sejamos sinceros: um carro avariar é sempre uma situação chata e stressante, principalmente se não percebemos nada do assunto e estamos no meio de uma nacional onde a visibilidade e a probabilidade de acidente é muito maior. Confesso que nos momentos iniciais tive medo, acima de tudo pelo sítio péssimo onde estávamos, mas depois passou. E quis levar aquilo da forma mais relaxada que pude, sem stresses de maior, e aproveitar a experiência que espero não ter de repetir muito mais vezes na vida. No fundo, eu sabia como não queria encarar a situação: não queria berros, não queria choros ou desespero porque a situação não era digna de uma reação de fim de linha. Tenho andado a trabalhar muito nesta minha parte mais emocional, racionalizando-a; vejo os outros a fazer cenas por coisas mínimas e penso: "eu não quero ser assim". E não fui.

Estava com amigos, a rir-me meia em pânico porque não sabia como ia saltar abaixo do reboque e com aquela adrenalina de quem já é crescidinha e soube tomar conta da situação. O reboque saiu primeiro, ainda esperamos vinte minutos pelo táxi, e depois lá seguimos por aquelas estradas em "S" com um taxista louco ao volante - tão louco que, apesar do avanço do reboque, ainda o conseguimos ultrapassar em plena auto-estrada.

No fim de contas, a GoPro da minha irmã ainda serviu para documentar o sucedido e deixar uma recordação para a história. Rebocada e feliz. É isto a vida.

 

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24
Fev16

Cenas que só me acontecem a mim

Ontem, na sequência deste post, lá fui eu para o ginásio onde me planeava inscrever, já vestida a rigor para uma aulinha de zumba. Saio de casa com meia-hora de antecedência, para ainda ter tempo de preencher papelada e descobrir o caminho sem grandes pressas. Meto-me no carro, insiro a morada no GPS e tudo me parece bater certo com as indicações que tinha sobre o local.

Chegada ao sítio indicado, não vejo ginásio nenhum. Ando para trás e para a frente, dou voltas a rotundas, entro dentro de uma empresa de transportes, meto-me num quelho que me obrigou a andar praticamente dois quilómetros até conseguir fazer inversão de marcha. No fim, já passavam praticamente vinte minutos da hora prevista para a aula. E eu vim embora para casa, sem conseguir encontrar o ginásio.

Para a próxima talvez seja melhor ir enquanto há luz do dia. Ou isso ou tenho mesmo de comprar uns óculos.

22
Set15

Três apontamentos sobre a zumba

  1. Dois anos e meio depois consegui, finalmente, fazer aquele movimento de ombros super latino.
  2. A zumba anda a arruinar o meu gosto musical. Dou por mim a ouvir kizomba e a cantar "Miúda pega, tarraxa, me abusa vem dançar o som; enquanto dança, me usa, me beija que está tão bom". E sim, isto é muito grave.

 

  1. Mas mais grave ainda é estar a dançar isto, na aula, a sentir mesmo aquilo e o professor vir dançar comigo. E, ao primeiro passo, eu mando-lhe uma joelhada e ele desiste. Há coisas que não mudam nesta vida.

29
Abr15

Dia mundial da dança

Passava pouco mais das sete e meia da manhã e eu conduzia para a faculdade enquanto ouvia a rádio Comercial. A Vanda Miranda começou a anunciar os "dias de", altura em que normalmente me rio muito com aquelas palermices. Mas hoje foi o contrário - ouvi aquilo e tudo o que me apeteceu foi chorar - de alívio por já ter passado e de riso por ter feito tanta coisa parva. Pois que hoje é o Dia Mundial da Dança. Passou-me em dejá vù três anos da minha vida em que este dia em particular era penoso: um dos piores dias do ano, a par daqueles em que tinha de ir ao médico ou outra coisa terrivelmente parecida. E porquê, perguntam vocês leitores esquecidos?

Porque do 7º ao 9º ano tive aulas de dança na escola - as responsáveis por todo um trauma que se mantém até aos dias de hoje. E o dia 29 de Abril era o dia em que expúnhamos os nossos trabalhos sobre os vários estilos de dança, em que pendurávamos desenhos de bailarinos em tamanho real pela escola fora e, claro, em que apresentávamos as nossas obras de arte em forma de "dança". 

E quem diz "obras de arte" ou "dança" fala em coisas como coreografias em que eu fazia de andorinha com uma meia enfiada na cabeça, de anjo com asinhas feitas de cartão e algodão (com 14 anos, atente-se!), em que vestia uma mini-saia ao som de Nelly Furtado e, não menos importante, onde dancei a "dança da agricultura" em frente a toda uma plateia. Dito isto, acho justo que tenha o pleno direito de esganar quem voltar a dizer, como em tantos posts espalhados por esse facebook fora, que "a dança é a melhor coisa do mundo".

Experimentem enfiar uma meia na cabeça e dançar de andorinha e depois falamos, está bem?

11
Abr15

Isto é para os apanhados, certo?

Já várias vezes na minha vida que achei que estava a ser filmada para os apanhados. Consigo nomear um par delas, mas sei que já houve mais vezes em que pensei "isto só pode ser para os apanhados". Hoje aconteceu mais uma vez. Então o que aconteceu?

Fui ao cinema com uma amiga e escolhemos um sítio onde pouca gente vai, uma vez que já tínhamos planeado chegar em cima da hora e queríamos garantir lugar. Isso acabou por não ser necessário porque, no final de contas, éramos pouco mais de uma dezena naquela sala de cinema. Ficamos na ala central, a par de um casal atrás de nós (na casa dos quarenta anos) e outro à nossa frente (com idade próxima dos sessenta); na ala esquerda estava um grupo de amigos (divididos em duas partes - um casal de namoraditos, propositadamente num canto, e os outros, meia-dúzia de filas abaixo, para garantirem que ninguém se sentia incomodado). 

É claro que do casalito de miúdos que estava no canto ninguém esperava que vissem o filme com grande atenção. Como estavam longe e eu estava concentrada no filme, toda a ação naquela ala me passou ao lado. O pior - e o inusitado - foi o casal atrás de nós. Desconfio seriamente que tenham resolvido tirar a lua-de-mel no cinema, porque aquilo estava... intenso. 

No início até pensei que, quando entrei, tivesse visto mal a idade deles - eu só ouvia beijos, abraços e movimentos! Na tela passavam-se cenas de alta tensão e eu a tentar evitar as lágrimas de tanto rir daquela situação completamente inacreditável. Se já é detestável ter um casalinho de namorados adolescentes em pleno clima de romance junto de nós, pior é quando esse casal já tem idade para ter juízo - e casas, com quartos incluídos (coisas que os adolescentes, normalmente, não têm).

E foi aí que pensei: eu estou nos apanhados! Tudo aquilo era tão óbvio que o grupo de amigos que estavam a uns metros de todo o centro de ação se aperceberam do sucedido e se juntaram em plena galhofa durante o intervalo, rindo a bandeiras despregadas. E eu não consegui evitar fazer o mesmo. Acho que vou estar atenta aos próximos programas de apanhados que passarem na televisão, continuo a achar que aquilo não pode ter acontecido "na vida real".

27
Fev15

Tudo em nome das lombas

Antes as lombas mal existiam para mim. Não gostava delas, é um facto, mas ignorava-as facilmente. O meu carro tinha - e tem - uma suspensão diretamente vinda do paraíso - os buracos mal se sentem, as lombas passavam-se na boa sem grandes solavancos. Uma paz.

Agora a história é diferente. Andando, quase diariamente, no smart (um carro pelo qual me tenho vindo a apaixonar cada vez mais, diga-se de passagem), há todo um novo mundo de buracos e lombas chatas que não se ignoram tão bem como antigamente. Primeiro porque a suspensão do carro não é nem parecida com o do anterior e depois porque é um smart, um carro mais pequeno onde as rodas estão obviamente mais próximas, o que faz com que a amplitude do carro em relação às lombas seja bem maior que nos carros "normais" e que se sinta a vibração de forma mais consecutiva. Moral da história: agora fujo das lombas a sete pés. 

Então no MarShopping é que é! No corredor principal do estacionamento aquilo é todo um caminho feito de lombas, uma festa. Uma pessoa anda ali aos pinotes, tanto que o estômago até se queixa de andar acima e a abaixo. Assim, desenvolvi uma técnica: ando no corredor normalmente, até chegar à lomba; como os últimos lugares do estacionamento estão sempre desocupados (que são os que estão mais longe das portas), meto por os lugares de modo a não passar nas lombas e depois retorno ao caminho principal. É tipo aqueles exercícios que fazemos em educação física, para futebol, em que temos de contornar os cones, mas desta vez em modo carro.

Por isso se virem alguma maluca aos "esses" dentro do parque de estacionamento do MarShopping, digam olá! Sou eu! 

27
Jan15

Um carro novinho em folha

Ter um carro que acabou de sair para o mercado é uma experiência, no mínimo, interessante. Quando fui buscar o smart, o número de carros iguais a estes a circular pela cidade contavam-se pelos dedos de uma mão. Na verdade, ainda hoje não vi mais do que dois ou três smarts for two dos novos a circular, pelo que o carro ainda não se começou a difundir (o mesmo não se pode dizer do smart for four, que começou a ser distribuído, aparentemente, mais cedo pois já vi uns quantos).

Posto isto, sinto-me quase uma apregoadora smart, a mostrar este novo carro ao mundo. Quando vou buscar o carro que está estacionado algures deparo-me com pessoas a analisa-lo; quando estou a passear com o vidro aberto ouço coisas como "olha o novo smart!"; já tive mesmo quem tirasse fotos ao carro, enquanto estávamos os dois em andamento (eu e o "fotografo")! É como se tivesse uma placa no carro a dizer: "olhem para aqui, sou novo e preciso de irmãos gémeos a circular na estrada!".

Tem sido divertido.

Smart Fortwo a1.jpg

 

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