Perda de liberdade vs. maior segurança
Ontem vieram instalar um alarme cá em casa - por nenhuma razão em especial, só precaução. Eu estava a dormir enquanto montaram a parafernália toda e portanto, quando acordei, encontrei vários aparelhos espalhados por casa que desconhecia e que não percebia para que serviam.
Lá me estiveram a explicar, eu vi tudo com atenção e, a certa altura, torci o nariz. Agora tenho câmaras em casa - e a minha primeira reação foi dizer "detesto isto! Big brother is watching you". Eu faço sempre vinte e três mil filmes na minha cabeça de coisas que possam acontecer, relaciono com coisas que li, ouvi e vi, mesmo que sejam o mais disparatadas possíveis, e apercebi-me naquele momento que, para todos os efeitos, George Orwell podia ter razão. É claro que temos de confiar nas seguradoras e essas coisas todas - mas e se...? E se um maluco qualquer com vontade de dominar o país toma de assalto estas agências todas, com acesso direto a milhares de casas, e começa a vigiar passo a passo tudo o que fazemos? E se alguém com más intenções ou vinganças pessoais, integrado numa destas seguradoras, pega nestas imagens e nos vigia 24 horas por dia? O único sítio onde nos sentimos 100% confortáveis e seguros, aquele onde podemos fazer e dizer tudo o que queremos, está, por um lado mais seguro, mas por outro permanentemente vigiado.
Perante isto, a minha mãe disse-me algo como "a liberdade é limitada - se queremos mais segurança, temos de nos privar de alguns privilégios". E eu acenei em concordância, porque percebo isso. E hoje de manhã, depois de uma noite mal dormida por saber que mais de uma centena de pessoas foram massacradas em Paris, percebi que aquilo que a minha mãe sabiamente disse não se aplica só a mim, a nós, mas também à Europa. Temos um acordo de Shengen maravilhoso, onde podemos circular à vontade, algo que todos apreciamos - mas será que não vamos apreciar mais sentirmo-nos seguros, mesmo que tenhamos de rasgar esse contrato? O acordo já anda pelas ruas da amargura com a entrada desmesurada de refugiados, mas acho que o debate sobre a sua continuação está mais atual que nunca, perante os recentes acontecimentos.
Há um longo caminho a percorrer, há muitas cabeças para educar e acalmar (se o objetivo é implantar o terror e incitar uma retaliação feroz, devemos fazer exatamente o oposto do que os terroristas querem e continuar normalmente com as nossas vidas) e, suponho eu, muitas medidas a serem tomadas por quem manda. Infelizmente, acho que o caso do acordo de Shengen é só o início dos muitos privilégios que nós, europeus, temos e que vamos ter de privar em prol de um bem maior: a segurança.