O reacender de uma paixão antiga
Todos os santos anos tenho como resolução de ano novo (re)começar a ir ao cinema - e todos os anos falho. Lembro-me perfeitamente, há uns cinco anos, de ser uma louca apaixonada por cinema e de ir lá, pelo menos, umas duas vezes por mês - numa altura em que era bem mais complicado, porque implicava boleias dos pais e outras questões de logística normais de quem não é maior de idade. Mas, agora que o sou (já há dois anos), não tirei partido das vantagens que "ser grande" me trouxe - pelo menos nesse sentido.
Passei de ir ao cinema imensas vezes para não ir nenhuma - isto começou porque deixei de ter companhia para ir, logo passei a ir menos vezes e, gradualmente, acabei mesmo por perder o hábito. Passei a ir só quando grandes filmes estreavam e eu queria muito ir ver, ora por estar à espera daquele filme há séculos ou por ter no elenco um ator que adorava. E tinha consciência disto: que tinha deixado para trás uma das coisas que mais gostava de fazer porque - pela 5986º vez na minha vida - me vi sozinha e sem companhia. Ainda cheguei a ir uma ou duas vezes sem ninguém mal tirei a carta de condução e ainda estava naquela euforia de independência, mas não ter alguém que me puxasse fez com que fossem vezes sem exemplo. E andei uns quatro anos nisto...
Até há pouco tempo. Estava desesperada por sair de casa, de me abstrair dos problemas e dramas do dia-a-dia, por isso meti-me no carro e fui ver o meu Robert ao cinema (o último filme dele que estreou, o "Life", que eu sabia que não ia ficar muito tempo nas salas, portanto também tinha de me apressar). Apesar do filme não ser nada do outro mundo, aquela ida ao cinema soube-me pela vida e serviu para me relembrar o que eu gosto daquelas duas horas sentada naquelas cadeiras, completamente abstraída do meu mundo e absorvida no mundo que outras pessoas criaram para mim. E apesar do hábito que as pessoas criaram de ir ao cinema em grupo ou em parelhas, este é um dos poucos sítios em que não há mesmo necessidade de ter alguém a acompanhar-nos porque, no fundo, só no intervalo é que dá para pôr a conversa em dia.
Depois do "Life", já fui ver o "Perdido em Marte" e "O Estagiário" - muito diferentes, mas ambos bons. Tem sido uma óptima forma de escape - nos dias menos bons ou em que sinto que preciso de me alhear da realidade, começo logo a pensar no filme que vou ver nessa noite. Nas últimas semanas tenho passado mais tempo a ver as programações, as horas e as próximas estreias, porque sinto que reacendeu em mim uma paixão antiga. Já tinha saudades!