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Entre Parêntesis

Tudo o que não digo em voz alta e mais umas tantas coisas.

23
Dez24

A história de um legado e os votos de um Feliz Natal

Há dias, em consulta, percebi que a minha irmã me deixou muita coisa em vida (as experiências, as memórias, o amor) mas que, na sua morte, me deixou também um propósito. Um legado. Não que alguma vez me tenha pedido alguma coisa: a morte dela não teve nada que ver com os filmes, com mensagens inspiradoras e bonitas, uma moral da história ou recadinhos para ler em fases mais tardias, com mensagens preciosas que no futuro nos guiarão a vida. A sua partida (e o caminho até lá) foi só uma experiência aterradora e incessantemente triste, pois morreu uma mulher que não queria morrer, naquilo que nos pareceu um processo eterno mas que na realidade foi um ápice. Não houve tempo para pedidos ou recados porque, na verdade, também não houve tempo para uma mentalização firme daquilo que estava acontecer. A vida engoliu-nos para um buraco negro; e nós ficamos com a cabeça à superfície mas perdemo-la a ela. Ainda hoje estamos a aprender a respirar.

Cada um está a reaprender a usar os seus pulmões gerindo o seu luto e as suas batalhas. Eu fui trabalhando em muita coisa ainda enquanto cuidava da minha irmã e consegui transformar muito daquilo que vivi com ela em coisas verdadeiramente positivas. Juro que falo a verdade quando relembro muitos momentos que seriam aparentemente maus com imensa alegria. Porque chegou uma fase em que eu já só queria colecionar sorrisos e memórias, independentemente do local onde estava ou da tarefa que estávamos a fazer; era indiferente se estávamos na quimioterapia ou no sofá... O importante era o sor(riso) dela e as nossas mãos dadas.

O que sobrou dessa forma de estar foi a vontade de continuar a recolher momentos. Já não o posso fazer com ela, mas ainda consigo fazê-lo com os outros, aqueles que importam na minha vida. A morte precoce da minha irmã mostrou-me que a fava pode sair em qualquer fatia do bolo-rei, inclusive a nossa: e eu sinto-me responsável por aproveitar os dias que me restam (independentemente se são 30 ou 25 mil). Se ela já não pode, como é que eu me posso dar ao direito de não o fazer? Como é que isso seria honrar a memória dela? Eu sinto-me responsável por viver, por saborear, por ser feliz... Porque ela já não pode sê-lo. Porque eu não sei o dia de amanhã.

E assim percebi que transformei o evento mais trágico e triste da minha vida numa missão. Que ela, sem querer, me deixou um legado. E isto tem mudado tanto, tanto a minha forma de ver a vida e de fazer as coisas; tem alterado os meus objetivos a curto e a longo prazo, mudou a forma de eu olhar para os outros, para o trabalho e para os problemas. E isto é algo porque passamos, talvez, na adolescência - o adequar das nossas prioridades e preocupações àquilo que almejamos ser, àquilo que queremos ver na sociedade e nos outros. E é algo desestruturante para mim estar a refazer todas estas narrativas agora, já adulta; do nada, olho para uma coisa qualquer à minha volta e percebo que já não me identifico com a forma como pensava há um ano, e tenho de fazer de novo todo o caminho para me posicionar de acordo com aquilo que sou hoje, depois de ter vivido o que vivi. É confuso, cansativo e transformador; requer tempo e espaço mental... mas eu sinto que não tenho alternativa senão fazê-lo. Isto também é parte do luto - albergar todas as alterações decorrentes daquela morte. Por isso é um caminho que tenho feito com a calma possível e paciência - embora, tal como uma adolescente, me irrite com muito mais facilidade com todas as pessoas que não estão alinhadas com a minha nova linha de pensamento.

O que me leva ao Natal. As festividades de 2023 ficarão eternamente encapsuladas para mim, pois foi a última vez na minha vida em que as passei com a minha família de raiz-nuclear: os meus pais e quatro irmãos. É irrepetível. E por isso valorizo-o muito mais. Se houve chatices, desentendimentos, zangas? Houve. Se olhando para trás e tendo em conta aquilo que perdi, se isso importa? Zero. Quando as circunstâncias assim obrigam nós temos facilidade em priorizar as coisas; e aquilo que outrora foi relevante deixa de o ser.

O exercício que tenho tentado fazer é determinar prioridades certas logo desde início; que não seja preciso um evento trágico para as alinharmos da forma como sempre deviam ter estado. O Natal é um poço sem fundo de chatices, de fretes, de inconvenientes, de zangas e de mal entendidos. Tudo serve de desculpa: as prendas, as famílias, a casa onde fazer a festa, o tamanho do bacalhau. Passam-nos a mensagem de que é a época mais mágica do ano quando, em adultos, passa a ser a altura mais chata de todas. Agora pensem que uma das pessoas mais importantes da vossa vida morre hoje. Têm a certeza de que se querem chatear sobre o número de prendas que cada um dá ou se vale a pena fazer finca-pé para não juntar a família dos dois lados? Acham mesmo que é isso que importa? 

Por isso, o meu desejo para este Natal é longo mas claro: que aproveitem os vossos rituais e tradições como se fosse o último Natal. Que desfrutem da família e da unidade que formam, independentemente se são três ou trinta e três. Que refaçam o protocolo as vezes que forem precisas para encontrarem consensos, meios-termos e equilíbrios; que deem o braço a torcer as vezes que forem precisas mas que dialoguem se a conclusão a que chegam não vos trouxer o mínimo de paz de espírito ou justiça. Que procurem a felicidade em locais e momentos onde nem sempre ela reina - mas onde vive, ainda que mais escondida. Porque tudo isto, sim, é amor: é aprendizagem, flexibilidade, adaptação, união e equilíbrio. 

Que esta época seja recheada de todos estes ingredientes e de menos intrigas. 

Feliz Natal.

24
Dez23

Feliz Natal!

Nos últimos tempos tenho pensado muito em como são curiosas as parecenças entre organizar um Natal e um casamento - têm sido tantos os mini-dramas familiares por conta desta edição-2023-natalícia que tenho recuado muito a 2021 e aos seis meses de organização do meu casório. Ora: são ambos são eventos que envolvem família - e tudo o que isso implica, se é que me faço entender...-, ambos exigem cedências, ambos requerem regras e critérios e, acima de tudo, ambos passam num fósforo tendo em conta todo o tempo que demoram a ser preparados.

E eu dei conta desta "pormaior" porque, em conversa, me apercebi de que, curiosamente, me recordo muito pouco das noites ou dos dias de Natal - são parcas as memórias que tenho da azáfama das refeições, da abertura de presentes ou do convívio. Mas lembro-me perfeitamente de determinadas prendas que ofereci e onde é que as comprei; recordo a ida anual a Santa Catarina para fazer as compras com a minha mãe; lembro-me de ir levar pencas à mãe do meu ex-patrão; recordo-me de me levantar cedo para ir fazer os doces com a minha mãe e a Dona Joaquina; lembro-me dos sacos de linho, cor de lavanda, que embrulhavam os presentes que a minha avó me oferecia e dos envelopes azuis em que o meu avô me dava algum dinheiro; lembro-me do caminho até casa do meu tio, onde festejamos alguns Natais, onde passávamos pela margem do rio Douro, com as luzes da cidade reflectidas nas suas margens; recordo as poucas vezes em que me aventurei em patins no gelo e da senhora muito velhinha que, todos os invernos, vendia castanhas na Praça dos Poveiros - e que me dava sempre uma castanha extra; lembro-me de arrastar a árvore na Natal escada acima, mesmo sem o consentimento da minha mãe, pois todos os anos teimava em montá-la antes do dia 1 de Dezembro.

O Natal é a minha quadra preferida do ano inteiro, mas não é pelo dia em si; é pelo caminho até lá. Há poucas coisas que me deixam mais feliz do que uma casa decorada com luzes amarelas e quentes, uma árvore recheada de bolinhas e muitos presentes a seus pés. Amo andar ao final do dia na cidade, apreciando as suas luzes; adoro dedicar tempo a pensar nas prendas para as pessoas que me são mais próximas e sentir que aquele objeto tem mesmo a cara da pessoa em que questão; delicio-me com músicas de Natal, com as feirinhas e com a ideia de ter de embrulhar um montão de presentes. Gosto muito de planear as mesas, de pensar na disposição da sala e de ir provando as sobremesas na véspera de manhã. Depois a noite chega e o dia evapora-se - e tudo o que parece ficar é o que veio antes.

Compreendo que haja pessoas que não gostem do Natal - principalmente por ser uma quadra altamente emocional, em que faz ainda mais falta quem cá não está e onde se recordam facilmente traumas que preferimos esquecer. Também tolero todas as outras razões (o facto de ser uma época consumista, por dar muito trabalho, por ser só mais uma obrigação ou mais um foco de intrigas e chatices familiares), mas estaria a mentir se dissesse que lhes dou crédito ou que as perceba. É mais ao menos como me dizerem que não gostam de chocolate: não entendo, recuso-me, alguma coisa não está bem ali. Porque o Natal é um caminho de ansiedade para algo bom, com um cheirinho quente e característico - é, na verdade, a única altura do ano em que fazemos uma contagem universal decrescente, em forma de calendários do advento docinhos. E isso não é por acaso, certo?

Hoje percebo o porquê de, durante muitos anos, os dias de Natal serem um bocadinho agridoces. Sempre que chegava a casa com o saco cheio - e mesmo durante o decorrer do caótico dia - sentia-me sempre algo triste. E acho, agora, que já entendo a razão por detrás disso: porque a parte que eu mais gostava tinha, infelizmente, chegado ao fim. Porque aquilo que eu sempre apreciei foi o caminho - um, que hoje acaba, pelo menos por este ano.

Hoje é só o epíteto de um mês de expectativa, trabalho, esperança e reflexão. É mais um que posso passar com os meus... E é, claro, a oportunidade perfeita para começar a contar os dias para o ano que vem.

Que este ano o saco do Pai Natal me traga, em forma de prenda, a sabedoria que, aparentemente, eu sempre tive em relação a esta época: a aprender a saborear o percurso, em vez de ter sempre o olho num qualquer fim. A dar valor aos dias bons, ainda que o caminho não seja sempre asfaltado. E tempo. E, acima de tudo, saúde.

A vós, desejo-vos o mesmo.

Um Feliz Natal! 

 

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(o ano passado, com os meus pais)

14
Jan22

Eu não quero desmontar a árvore da Natal

Todas as época do ano são bonitas na sua forma distinta de ser, mas nenhuma traz preparativos como o Natal. O verão pode ser digno de ânsia, mas não tem chocolates para fazer contagem decrescente; o São João é muito giro, mas não começamos a preparar a decoração um mês antes.

O Natal é sinónimo de esperança do que vem, nem que sejam os chocolates para nos adoçar a vida; é uma de perspetiva de futuro, por termos algo que ansiar. É perceber que o amor e a partilha se calhar têm um cheiro - a canela, cravinho e vinho do porto. É ter curiosidade sobre o que é que nos espera no sapatinho, mais por saber que alguém pensou em nós do que pela prenda em si.

O Natal para mim é tudo isso. É luz quente, é um coro de vozes como pano de fundo, são as músicas mais bonitas do ano inteiro. Um calor interno que não se explica.

E para mim, este ano, foi especial: passei-o pela primeira vez em minha casa, com os meus pais e a família do Miguel (agora minha também). Foi a celebração do meu espaço e da família que criámos. Foi um dos dias mais bonitos do meu 2021. E por isso, e não só, custa-me desmanchar a árvore, tirar o presépio, arrumar o centro de mesa e esconder a rena. É como se desmantelasse memórias a cada galho da árvore que ponho na caixa.

Um ano passa rápido, mas tão devagar também... O que temos para ansiar nos próximos tempos? A que cheiram estes meses frios que se seguem? A quê que nos agarramos para uma vida mais doce, somente com o calendário da secretária e sem o do advento?

Sei, racionalmente, que não faz sentido manter a árvore todo o ano - porque é o símbolo de uma época específica, porque é estranho tê-la ali parada e faz com que pensem que tivemos simplesmente preguiça de a desmanchar. Mas, agora que penso, é exatamente por ser simbólica que eu gosto tanto dela. Uma árvore de Natal é muito mais do que uma simples árvore, não é?

Mas, mais do que aquilo que os outros pensam ou acham, eu vou tirá-la para, daqui a uns tempos, a poder montar de novo. Porque magia não rima com rotina, e eu quero que esta época continue especial e diferente, destacada do resto do ano; porque quero que a hora de montar a árvore continue a ser um momento de felicidade - e, para o fazer, não tenho outra hipótese senão a desmanchar.   

Por isso, este fim-de-semana, já preparada emocionalmente, dispo a muito custo o Natal aqui de casa, mas só para ter algo com que ansiar nos próximos onze meses. Porque dentro das incertezas normais da vida, o Natal é a certeza de um momento feliz; o resto do ano é incerto. Só sabemos que não tem árvores de Natal. 

 

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23
Dez20

Um Natal de primeiras vezes

As fotos da árvore 2020

Este Natal vai fazer jus a este ano: vai ser estranho, diferente e recheado de primeiras vezes. Acredito que, por força das circunstâncias e do momento em que vivemos, esta estranheza não recaia só sobre mim. Mas, por coincidência, este ano vai ser de outras estreias que nada têm que ver com consequências-covid.

Pela primeira vez não vou passar a consoada com os meus pais.

Isto porque, também pela primeira vez, passarei o Natal com os meus sogros. 

E assim passarei, pela primeira vez, o Natal em pleno com o meu namorado.

Como se isto não bastasse, por culpa do maldito vírus, não vou ter a casa cheia como tenho sempre; este ano vimo-nos obrigados a partir a família em núcleos, para prevenir grandes ajuntamentos. E assim, pela primeira vez na minha vida, não reunirei com a minha família materna - e a ausência de todos eles, da azáfama e do barulho, será muito sentida.

Sinto que este ano o Natal está envolto numa aura meia estranha, cheia de receios e regras. Até há bem pouco tempo não sabíamos se teríamos limite de pessoas à mesa ou se podíamos ir visitar os familiares à nossa cidade-natal. Há muita gente desmotivada, sem vontade para prendas e convívios. E de forma a contrariar isso, para me obrigar a imbuir no espírito (não que precisasse: eu adoro sempre o Natal!), fiz questão de montar a árvore mais cedo. Mais uma vez de forma atípica, não publiquei aqui fotos logo após a montagem: com as minhas novas rotinas e com o recolher obrigatório aos fins-de-semana nunca conseguia apanhar fins-de-tarde para tirar fotografias, com o tempo e a dedicação que empenho anualmente. No dia em que consegui fazê-lo, não houve tempo para escrever. E fui adiando até que achei que o melhor seria publicar neste dia especial: a véspera da véspera do Natal. É aquele limbo, em que ainda não chegamos ao dia a sério, mas os níveis de entusiasmo e de stress já estão lá no topo.

Serve por isso este post para desejar a todos vós um óptimo Natal, repleto de felicidade - mesmo que a mesa não esteja tão cheia como dantes, tal como a minha. Mesmo que seja diferente... como o meu.

A árvore deste ano é branca e cinza, para ir de encontro com os nossos desejos: acima de tudo, muita paz e saúde. Sentimos que as cores vibrantes e quentes não combinavam com os últimos tempos e, por isso, redecoramos com algumas coisas novas, de modo a ficar tudo em modo branco-prateado. Agora é só mais umas horas na cozinha e depois: família, comida e prendas! Whohoo!

Sejam felizes! Bom Natal!

 

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08
Dez19

Ei-la! A minha árvore de Natal!

E mais uns quantos pensamentos sobre o significado desta época

Já é um must da época natalícia. Fazer a árvore de Natal é uma das minhas coisas favoritas de todo o sempre e este ano, apesar de todo o caos, não foi excepção. Reservamos um sábado para a fazer, decidimos o tema - esta época fugimos dos dourados e viramo-nos para os prateados e vermelhos - e pusemos mãos à obra.

É sempre um momento de partilha e união muito importante para a mim e para a minha mãe. Mas desta vez, diria, ainda foi mais essencial. Foi uma forma de eu dizer e fazer sentir que continuo ali, apesar de ter recentemente saído de casa - que é como quem diz, passei a dormir fora. Dar a perceber que aquela árvore continua a ser a minha árvore. A nossa árvore. Que continua a ser o nosso momento. A nossa festa. Uma partilha constante, como é a vida - e como vai ser sempre, partilhada com aqueles que me criaram e fizeram de mim quem eu sou hoje.

Este sábado foi pintalgado por um sentimento um bocadinho triste, pelo menos para mim, que nada teve que ver com a cama onde durmo neste momento (e a minha "saída" de casa). Os meus sobrinho visitaram-nos enquanto decoramos a árvore e eu fiquei perplexa com a forma como reagiram quando a viram.

Nada.

Nenhuma reação, para além de uns olhares de esguelha. Não se atiraram às bolas para a decorar, não perguntaram se podiam participar. Ignoraram. E isso, para mim, foi um murro no estômago. Eu, que sempre quis montar a minha e todas as árvores de Natal a que pudesse deitar a mão; que pedia encarecidamente aos meus irmãos, quando era miúda, para ajudar a decorar o símbolo máximo desta época festiva.

E eles... nada.

O mesmo "nada" que representa para eles a manhã de Natal passada na cozinha a fazer doces; que escolher as compras de Natal, pensadas para cada um, mais do que as comprar; que montar uma árvore de Natal e perceber que é muito mais do que um processo decorativo. 

Entristece-me que os miúdos vejam o Natal como um dia em que recebem prendas quando, para mim, é todo um mês de partilha. De dar muito mais que receber. Um mês para estar. Um mês para ficar, sentar, desfrutar. Sentir. 

A minha árvore é muito mais que uma árvore. É o sinónimo de tudo isto, de tudo o que o Natal significa para mim. Que, como se nota, é muito.

 

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05
Dez18

A minha árvore de Natal

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Este ano antecipei-me na montagem da árvore de Natal: nem sequer esperei pelo fim-de-semana de 1 de Dezembro, o clássico para inaugurar as decorações natalícias. Sinto que é muito trabalho para tão pouco tempo de "exposição" - e a verdade é que todos os anos me esqueço do quão grande é a árvore, de como sinto que acabei de fazer um treino de pernas depois de a ter montado e do quão bonita ela é, independentemente de como a decoramos. Nota-se muito que o Natal é a minha festividade favorita?

Este ano, para além do dourado, decidimos dar-lhe um toque de vermelho. A minha mãe não adorou - diz que parece demasiado uma árvore de shopping -, já eu gostei muito. É mais impactante do que nos outros anos mas, mesmo assim, adoro-a. Para além disso inovamos um bocadinho: depois de passar um ano a ver árvores de natal alheias, achei boa ideia pôr algumas flores (falsas) na árvore, para lhe dar um bocadinho de cor e dinâmica, para além das típicas bolas-luzes-cordões. 

Quando fui ao Leroy Merlin comprar algumas coisas deparei-me com uma árvore igual, a metade do preço que eu tinha comprado há dois anos - fiquei fula! Aliás, as árvores grandes devem estar na moda: havia uma enorme - perto dos quatro metros -, linda, com um preço assustador de quatro dígitos, mas que enchia o olho a qualquer um. Eu, ainda assim, fico com o prémio de consolação: quando comprei a minha e fiz uma ampla exploração no mercado por uma árvore com mais de dois metros, havia muito pouca oferta. Comprei o que havia e era uma mentira se dissesse que não a adoro de paixão. Fui uma pioneira . De qualquer das formas, se com esta já tenho de ir ao último andar do meu escadote para colocar as decorações, com outra ainda maior tinha obrigatoriamente de comprar uns andaimes - talvez não seja por isso uma óptima ideia.

Posto isto, vou deixar-me de paleio. Aí ficam as fotos e o vídeo da montagem do meu pinheir'inho - um clássico aqui no blog. Que comecem as festividades!

 

 

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27
Dez17

O pós projeto de Natal: e agora o que faço da minha vida?

Sabem aquela sensação de quando acabam de ler um livro que adoraram ou quando terminam a última temporada de uma série que gostaram muito? Um feeling quase de abandono, de não saber o que havemos de fazer à vida depois daquilo, de quase nos sentirmos "orfãos" de alguma coisa? É isso que eu sinto neste momento depois de ter acabado o meu projeto de Natal. Perdida, quase com horas a mais. Eu estava exausta, mas movida por um objetivo. Agora estou só exausta.

É incrível como as ondas de cansaço que nos invadem depois de relaxarmos de algo que nos stressou e moveu durante meses. No dia 25, depois de a 24 ter passado o dia todo na cozinha e me ter deitado às 4 da manhã, após ter posto a mesa, almoçado e brincado um pouco com o meu sobrinho, decidi "ir ver televisão para a sala". Adormeci por quatro horas. Nessa noite dormi bem, na seguinte também. E continuo a acordar cansada, enquanto sinto os meus trapézios a ficarem mais macios a cada dia que passa - embora nunca fiquem normais, porque as minhas contraturas já têm ali morada fixa. 

Os prazo que eu tinha eram demasiado curtos para um projeto tão ambicioso. Este é um dos exemplo que cabe bem numa coisa que eu digo muito, o "trabalho ingrato". Eu sei que as pessoas têm alguma noção do trabalho que me deu ver todos os vídeos, organiza-los e seleciona-los. Mas eu cresci com a máxima de que só há uma forma de fazer as coisas - bem - e não sei trabalhar de outra forma. Por isso eu fui buscar transições e sons para acompanhar (que tinham de bater certinho com a imagem), as músicas ideais para colocar como fundo (que, em certas batidas, tinham de coincidir com certas imagens), fiz uma introdução completamente desnecessária mas hilariante, que me demorou mais que todos os vídeos juntos, e outros pormenores assim do género que ninguém nota quando o resultado final é harmonioso - e que, aliás, pelo contrário, só se nota quando não estão lá. Isto levou-me muito tempo, obrigou-me a fazer noitadas - coisa que já não fazia há muitos anos -, a gerir o stress e conciliar com o trabalho, o que não foi mesmo nada fácil. Mas, caraças, o resultado valeu mais do que a pena! Não só os vídeos em si, mas também o feedback e as reações despoletadas nos outros - onde se incluíram lágrimas e tantas, tantas gargalhadas, que valem pelo mundo.

Uma das poucas coisas que me leva racionalmente a equacionar ter filhos - porque, como muitos sabem, não é algo que eu alguma vez tenha tido nos meus planos, embora nunca tenha excluído uma possível mudança de opinião ou de estado de espírito, ainda que ache improvável - é a perspectiva de dar continuidade à família, de dar aos outros aquilo que eles me deram a mim: pessoas com sangue do meu sangue, que partilham comigo não só laços de amizade, como laços de vida. Ter uma família grande é das maiores alegrias da minha vida e eu gostava de ser coerente e proporcionar esse crescimento, de dar frutos, de fazer com que os meus filhos sentissem o que sinto quando estou envolta dos meus. 

Sou sempre pessimista e um bocado céptica em relação a tudo, por isso, ao longo deste processo, nunca pensei que os vídeos fizessem tanto sucesso. Como hoje em dia todos temos uma concentração de peixes e o Natal é uma época de convívio e não para estar a olhar para um ecrã, sempre esperei que o pessoal visse, gostasse, mas que fosse deitando o olho enquanto punha o dente numa rabanada ou dava duas de conversa com a pessoa do lado. Mas não. Parou tudo para ver, toda a gente se riu imenso e no fim agradeceu e deu os parabéns - e eu fiquei consoladíssima. Primeiro porque tinha as expectativas baixas e segundo porque consegui proporcionar a toda a gente um momento diferente, de nostalgia, de saudade e ao mesmo tempo de alegria, bem representativo da união de família que se vive e sempre se viveu ao longo destes anos.

Foi um momento feliz - nem sei se foi mais para mim ou para os outros - e pronto, agora eu estou de ressaca, a recuperar do cansaço, da barriga e do coração cheio. Preciso de voltar aos dias normais - passei demasiadas horas sentada, ganhei quilos que não devia - mas isto deu para perceber que eu preciso disto para (sobre)viver. Preciso de coisas que me movam, bem além do trabalho. São este tipo de coisas o combustível da minha vida, que me dão forças para além do cansaço para avançar. É raro serem tão recompensadoras como esta foi, mas é nestes dias que percebo que eu sou pessoa de fazer e não de ver passar os outros. E até ao fim do ano, para além do trabalho, só quero descanso. Depois disso, vou pegar na pá e passar para outra obra. 

24
Dez17

Feliz Natal, queridos leitores

Hoje, em conversa aqui na cozinha, enquanto eu e a minha mãe andávamos de um lado para o outro, quais baratas-tontas para dar conta do recado, falava-se do espírito natalício. E eu dei conta que, de facto, o espírito natalício vai para além de montar a árvore de Natal, de comprar os presentes, de juntar a família. O Natal para mim é acordar demasiado cedo com o barulho dos tachos na cozinha, é pegar na tigela da minha bisavó - só usada uma vez por ano - para fazer os bolinhos de bolina, é perguntar a opinião sobre se está doce ou salgado, é chatear-me porque as opiniões não coincidem e dizer "olha, então para o ano fazes tu!!!", é lavar uma pilha de loiça e é cair para o lado no sofá depois de estar duas horas em frente ao fogão, enquanto vejo a minha mãe também a tirar uma merecida sesta perto de mim. 

No fundo, Natal é partilha, em todos os sentidos: até a partilha dos hábitos e tradições, perceber o valor daquela tigela onde durante tantos anos se fizeram aqueles bolos e aquela receita que a nossa mãe nos ensinou - e que a avó dela tinha ensinado à sua mãe, que por sua vez ensinou à minha. Natal é trabalho, mas se não fosse, pelos menos para mim, não era Natal. Este ano essa máxima foi levada a um expoente não tão agradável - não foi só o dia e a véspera de Natal que foram trabalhosos, mas sim o mês todo.

Fui engolida por Dezembro e a minha noção de tempo psicológico está um bocadinho dividida: por um lado, olho para trás e parece que passou tudo à velocidade da luz; por outro, enquanto vivia as coisas e ouvia o meu tic-tac cerebral a dizer-me que as coisas tinham que ficar feitas e que todos os dias os prazos apertavam cada vez mais, o tempo não parecia andar ao mesmo ritmo que eu, não me acompanhando o passo. "O lume brando é sempre o melhor tempero", dizem, e eu acho que o mesmo se aplica à vida: saboreamos muito melhor as coisas e damos-lhe muito mais paladar no final se tudo for feito lentamente. É assim que gosto de viver Dezembro e a época natalícia - e foi precisamente o oposto do que fiz, porque às vezes não temos escolha.

Mas é dos pequenos momentos que retiramos as melhores coisas, por isso há que os aproveitar. O meu projeto natalício ficou concluído e estou ansiosamente à espera para ver as reações da minha família a todos aqueles momentos que reuni. As rabanadas estão prontas, a aletria também, e os mais de três quilos de bolinhos de bolina que preparei estão à espera que eu termine este post para serem fritos. As prendas estão todas embrulhadas, com a certeza que depositei nelas todo o carinho, pensamento e atenção possível dada a época. E a minha peça de Natal no piano foi concluída com sucesso, ainda que longe da perfeição, mas no meio do caos destes dias não há como não ficar orgulhosa, senão do resultado final, pelo menos da minha preciosa gestão de tempo.

A minha mensagem natalícia é por isso acompanhada da minha pequena "performance", que serve para marcar também um dos maiores presentes que eu recebi este ano: o meu retorno ao piano. Desejo-vos então um óptimo Natal, com tudo o que desejam, para além de tudo o que é essencial: o quentinho da família, o sossego de uma boa saúde e a esperança de tantos Natais que ainda estão por vir. 

 

Feliz Natal!

 

 

19
Dez17

A praga dos jantares de Natal (ou a desilusão com os britânicos)

No último fim-de-semana estive duas noites em Inglaterra, onde fui buscar um dos meus sobrinhos para vir passar o Natal connosco. Já lá tinha ido uma vez em Novembro, mas nunca tão perto do Natal, o que me permitiu chegar a uma conclusão: se acham que marcar uma mesa em Portugal por esta altura do ano é um filme, nem vos passa o que acontece em Inglaterra. Eles são maluquinhos por jantares de grupo natalícios!

Não estou a gozar quando digo que achei mesmo que não ia conseguir jantar. Éramos quatro e fomos entrando em todos os restaurantes que vimos à procura de mesa. Um. Dois. Três. Quatro. Nada. “Fully booked, I’m sorry”. Estava tudo a abarrotar pelas costuras e eu a ver que iamos acabar no Domino’s para ir buscar uma pizza e comer no hotel. Por sorte, acabamos por entrar num restaurante italiano que tinha uma mesinha onde nos conseguimos encaixar, engolindo algo o mais rapidamente possível, para fugir daquele barulho infernal mal pudemos.

Porque para além de cheios de gente e cheios de barulho, os restaurantes estão cheios visualmente. Eles vestem-se a rigor! E não falo só daqueles corninhos de renas que nós pomos por brincadeira ou daqueles óculos com uns pais-natal: são mesmo fatiotas, de alto a baixo, com direitinho a sapatinho de vela vermelho e tudo. Fatos de Pai Natal, tuxedos pintados nataliciamente, camisolas de malha com desenhos de pinheirinhos, flocos e bonecos de neve, gingerbreads, bengalinhas e tudo o que mais têm direito... Isto para não falar das coroas de papel que toda a gente usa, por saírem sempre em forma de brinde nos típicos crackers - que, para quem não conhece, são uns “rebuçados” feitos em papel com uns brindes lá dentro, que fazem “crack” quando se abrem. Enfim, uma festa!

Isto para não falar dos bêbados. O meu quarto de hotel ficava no sexto andar e às tantas da manhã eu ainda ouvia gritos, risos e garrafas a cair no chão - cujos vestígios, partidos em mil pedacinhos, ainda se notavam bem na manhã seguinte. Já me tinha apercebido disto, mas a cultura de cair-para-o-lado-de-tanto-beber ainda está mais implementada lá do que cá, o que é absolutamente decrépito. No restaurante onde ficamos, um rapaz caiu para o lado em cima da mesa e um dos amigos puxou-o de tal forma que ele varreu os pratos e os copos cheios de cerveja para o chão, qual cenário de filme. A melhor parte? Deixaram-no ficar ali, caído, enquanto foram fazer qualquer coisa - nem um ficou lá! - e, quando voltaram, passaram por cima dos vidros, da cerveja e das pizzas como se um tapete de pétalas de rosa se tratasse.

E eu adoro Inglaterra, sempre disse que se um dia tivesse de emigrar era para lá que iria e, confesso, durante alguns anos o meu homem idílico era um rapaz com british accent - lembram-se daquela velha máxima "don't worry if you're single, God is saving you for a British boy"? - mas, de cada vez que lá ponho os pés, sinto-me mais distante daquele estilo de vida. Adoro as cidades (isto que vos conto foi em Bristol, a sul de Londres) mas a forma de estar de quem lá vive não coincide com a minha - ou, pelo menos, com aquilo que pensava dos ingleses. Talvez fosse uma ideia irrealista. Talvez seja eu que estou mais intransigente a cada dia que passa. Ou então talvez seja apenas a época natalícia a dar com toda a gente em doida. Tudo é relativo: até a praga dos jantares de Natal, para os quais nunca mais vou olhar da mesma forma depois desta experiência. Aqui em Portugal somos uns autênticos meninos.

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