Eu não quero desmontar a árvore da Natal
Todas as época do ano são bonitas na sua forma distinta de ser, mas nenhuma traz preparativos como o Natal. O verão pode ser digno de ânsia, mas não tem chocolates para fazer contagem decrescente; o São João é muito giro, mas não começamos a preparar a decoração um mês antes.
O Natal é sinónimo de esperança do que vem, nem que sejam os chocolates para nos adoçar a vida; é uma de perspetiva de futuro, por termos algo que ansiar. É perceber que o amor e a partilha se calhar têm um cheiro - a canela, cravinho e vinho do porto. É ter curiosidade sobre o que é que nos espera no sapatinho, mais por saber que alguém pensou em nós do que pela prenda em si.
O Natal para mim é tudo isso. É luz quente, é um coro de vozes como pano de fundo, são as músicas mais bonitas do ano inteiro. Um calor interno que não se explica.
E para mim, este ano, foi especial: passei-o pela primeira vez em minha casa, com os meus pais e a família do Miguel (agora minha também). Foi a celebração do meu espaço e da família que criámos. Foi um dos dias mais bonitos do meu 2021. E por isso, e não só, custa-me desmanchar a árvore, tirar o presépio, arrumar o centro de mesa e esconder a rena. É como se desmantelasse memórias a cada galho da árvore que ponho na caixa.
Um ano passa rápido, mas tão devagar também... O que temos para ansiar nos próximos tempos? A que cheiram estes meses frios que se seguem? A quê que nos agarramos para uma vida mais doce, somente com o calendário da secretária e sem o do advento?
Sei, racionalmente, que não faz sentido manter a árvore todo o ano - porque é o símbolo de uma época específica, porque é estranho tê-la ali parada e faz com que pensem que tivemos simplesmente preguiça de a desmanchar. Mas, agora que penso, é exatamente por ser simbólica que eu gosto tanto dela. Uma árvore de Natal é muito mais do que uma simples árvore, não é?
Mas, mais do que aquilo que os outros pensam ou acham, eu vou tirá-la para, daqui a uns tempos, a poder montar de novo. Porque magia não rima com rotina, e eu quero que esta época continue especial e diferente, destacada do resto do ano; porque quero que a hora de montar a árvore continue a ser um momento de felicidade - e, para o fazer, não tenho outra hipótese senão a desmanchar.
Por isso, este fim-de-semana, já preparada emocionalmente, dispo a muito custo o Natal aqui de casa, mas só para ter algo com que ansiar nos próximos onze meses. Porque dentro das incertezas normais da vida, o Natal é a certeza de um momento feliz; o resto do ano é incerto. Só sabemos que não tem árvores de Natal.