"Mulher prevenida vale por duas", não é verdade? Porque mulher que é mulher anda sempre com mil e uma tralhas na carteira, muitas delas que só utilizamos aí umas três vezes ao ano. Ainda assim, uma coisa é certa: no dia em que as tiramos da mala, é o dia em que precisamos delas. Por isso lá andamos carregadas, com quilos nos ombros só na eventualidade de alguma coisa acontecer.
É uma caneta, bloco de notas; são comprimidos para as dores de cabeça, para as cólicas e para uma doença qualquer que arranjamos sabe-se lá como; são batons, lápis e rímel; são elásticos para o cabelo e um par de ganchos para situações de emergência; toalhitas para qualquer desastre que aconteça; uma lima das unhas para fazer desaparecer aquela aresta que nos está a chatear há horas e também uma pinça, porque nunca se sabe quando se encontra um pêlo incomodativo. Ah, e agora com esta nova lei dos sacos, lá andamos nós com um saquinho de pano metido na mala, just in case. Cansativo, não é? Os homens, de cada vez que pegam numa mala nossa, reviram os olhos e resmungam durante horas a fio. Até ao dia. E qual é o dia?
É o dia em que estão com dores de cabeça e precisam de um comprimido. E quem tem o comprimido? Somos nós.
É o dia em que, com um azar do caraças, calcam um poio de cão no chão, não querem sujar os tapetes do carro e precisam de uma toalhita. E quem tem a toalhita? Somos nós.
É o dia em que lhes liga alguém do trabalho, com o número de telefone do indivíduo de quem eles andam atrás há meio século e precisam urgentemente de uma caneta e de um papel para escrevinhar. E quem tem a caneta e o papel? Somos nós.
Somos sempre nós que temos tudo e são sempre os outros que não têm nada. Mas chega sempre o dia em que nós, com umas dores desgraçadas, precisamos de um comprimido: vamos à carteira, abrimos a bolsinha dos nossos primeiros socorros e... não há comprimidos para ninguém. E com sorte também já se acabaram as toalhitas e o elástico já se perdeu no cabelo de alguém. É uma espécie de lei da vida, traçada desde os tempos em que as mulheres decidiram prever em vez de remediar: nós é que andamos precavidas, carregadas até ao tutano, mas o que temos acaba sempre, irremediavelmente, para ir para os outros (e nisto incluem-se homens, mulheres, amigos, colegas de faculdade ou namorados). Enfim, é só mais uma das trezentas coisas que temos que arcar como consequência de sermos mulheres.