Entre Parêntesis

A um metro de mim. Encostava a sua testa desgastada pelo tempo à sua bengala meia tingida a vermelho. Fechava os olhos, que com certeza não não são o que eram, numa tentativa de esquecer o mundo - visualizar novos cenários? Pensar na vida? ou talvez na morte - essa que está sem dúvida mais próxima.

As suas mãos enrugadas e as suas veias salientes mostravam o passar dos anos naquele homem. Falavam-lhe alto - talvez ouvisse mal. Mas andava e falava tal e qual um sexagenário e demonstrava a sua plena lucidez a cada palavra que proferia.

E continuava com a sua velha testa encostada à bengala - cansado, quem sabe? Viver cento e dois anos é muito tempo (demasiado?).

- Senhor Manoel de Oliveira, pode entrar.

E entrou.

Março 2011

A fermentação da dor começa a causar-me raiva e impaciência. Atira-me contra uma parede de mágoas, causando ferimentos graves no meu rosto e hematomas internos. Essas que de sangue não se tratam, mas sim de um vazio devorador, qual buraco negro.

Os embates na parede maciça actuam como um dementor verdadeiro, arrancando todo o tipo de felicidade e esperança que resta de dentro de mim. E eu embato contra ela quase de livre e espontânea vontade, espelhando todos os últimos acontecimentos e reflectindo todas as más conclusões e percepções da minha vida.

Janeiro, 2011

"As minhas pálpebras pesam sobre os meus olhos tal como grandes pedras pesam sobre o chão. O cansaço eleva-se a tal ponto, e a frustração sobe até tal nível, que só lágrimas poderão passar sobre o peso do meu olhar."

Novembro, 2010