Movida, ou travada, a medos
Quando era pequena caía muito e, a partir de uma certa idade, passei a precaver-me e a olhar sempre para o chão. Tenho muito cuidado por onde ando e com os caminhos que faço, para tentar ao máximo evitar cair, porque tenho medo de me magoar (como tantas vezes fiz em miúda). E isto aplica-se na vida real mas também metafóricamente. Eu tenho medo, muito medo de tudo e coíbo-me de fazer (precisamente) quase tudo por causa disso. Sou a miúda menos arriscada história: e quando o faço, é de coração nas mãos, sempre com todas (e mais algumas) consequências em mente. E não, nunca são positivas.
Tenho medo de fazer, tenho medo de arriscar, tenho medo de me arrepender, tenho medo de me candidatar, tenho medo de ligar, tenho medo de falar, tenho medo de mandar mensagem, tenho medo de gastar dinheiro indevidamente, tenho medo de me queimar, tenho medo não me integrar, tenho medo de fazer figura de parva, tenho medo de não saber sair das situações, tenho medo de não gostar, tenho medo que não gostem de mim, tenho medo de falhar, tenho medo de desiludir, tenho medo de não ser bem sucedida, tenho medo de não ser lembrada, tenho medo de médicos, tenho medo de ratos, tenho medo que os meus morram, tenho medo de morrer. E só eu sei como cada vez tenho mais medo de não estar a viver.
Só há muito pouco tempo é que me apercebi disto, deste medo generalizado. Sim, há muitos anos que olho para o chão quando ando na rua e sim, desde sempre que me lembro de ser muito ponderada e precavida em todas as decisões que tomo na minha vida. Mas só quando olhei de cima e para o discurso que tinha no meu dia a dia, quando falava de assuntos corriqueiros e as minhas frases começavam sempre por "sim, mas eu tenho medo de..." é que percebi a dimensão do medo na minha vida.
Eu tenho uma vontade gigante de fazer pelo menos uma coisa boa - e grande - na minha vida. Gostava que as minhas futuras empresas fossem um sucesso ou gostava de escrever um livro bom e que vendesse aqui em Portugal. Sempre achei que a minha vida profissional seria melhor que todas as outras dimensões da minha vida, e pensei que era isso que me movia. Mas apercebo-me que talvez não. Em vez de me mover, talvez eu esteja constantemente a ser travada por algo ainda mais central na minha vida: estes medos encastelados que parecem não ter fim.