A questão da matemática
Durante aqueles dias terríveis em que pensei que o meu exame de português iria dar - no máximo - para um doze e que a minha entrada para a faculdade estava mais que comprometida, não conseguia pensar em nada de positivo. Não sabia o que havia de fazer da vida se não entrasse no único que curso que, de momento, me atraí - se entrasse noutro qualquer ou, pura e simplesmente, decidisse ter um ano em aberto.
Essa fase já passou, estou mais segura da minha entrada na universidade, mas agora é que começo a pensar nas vantagens que esse gap year poderia ter para mim. Acho que ia aprender alemão; talvez fosse matar saudades de Londres e também do meu irmão; mas, muito provavelmente, ia dar o nó na ponta solta que mais me dói: a matemática.
É verdade que eu lido muito mal com a frustração e há um recanto vazio em mim por ter deixado a matemática de lado. Sinto que investiram tanto em mim sem pedir nada em troca, que acreditaram na minha pessoa e que me atribuíram capacidades que só muito, muito tarde vim a descobrir que tinha... e no dia em que eu passei do 8 ao 80 (ou, como quem diz, de tirar um 6 ou um 7 a matemática, passar a tirar 17), abandono o curso de ciências.
Passou mais de um ano que isto aconteceu: na altura, senti um certo alívio por me livrar daquele fardo que, embora soubesse que conseguia ultrapassar, me estava a cansar demasiado; no entanto, à medida que o tempo foi passado, o cansaço foi dando lugar a um sentimento de "vingança", a uma necessidade de não deixar as coisas a meio, de provar a mim e aos outros que era capaz, de que apesar de ter ido "para o lugar dos burros", eu sou tudo menos isso.
Da mesma forma que nunca devemos dizer nunca, acho que também não nos podemos certificar em ter muitas certezas: mas se pudesse arriscar, diria que enquanto este fardo não me abandonar, eu não descanso. Ainda vou acabar licenciada e a estudar matemática de 11º ano nos tempos livres. Há malucos para tudo.