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Entre Parêntesis

Tudo o que não digo em voz alta e mais umas tantas coisas.

19
Mai23

Chávena de Letras: "All Aboard Family"

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Comprei este livro online, sem nunca o ter folheado; sigo há relativamente pouco tempo esta família e achei que o livro "viajaria" por alguns destinos que tinha na minha lista a curto prazo, pelo que achei que seria uma boa ajuda e que poderia seguir de guia. Não aconteceu.

A qualidade física da edição é evidente, entre papel e capa. Mas mal abri o livro e olhei para a fonte escolhida (e o tamanho e o espaçamento), não gostei do que vi; o meu primeiro pensamento, ainda que um pouco exagerado, foi que se parecia a um livro de crianças.

Não costumo ler livros sobre viagens (sejam crónicas ou relatos simples) - embora seja um estilo que aprecie e que tendo a fazer muito -, mas infelizmente não acho que este seja um bom exemplo. Primeiro porque, sendo um livro, esperava relatos extensos, descritivos, que acrescentassem algo; percebo que nas redes sociais não haja espaço para grandes escritos (nem paciência dos leitores) mas, com um livro, a predisposição é diferente - e, na minha perspectiva, era exigido mais. Nesta obra tudo fica pela rama. Faltam coisas simples - em que hotel ficaram, qual é o nome do santuário de elefantes a que foram, qual é a moeda usada em cada país, etc. Tanta coisa...

Para além disso, falta edição. É gritante a ausência da mão de um editor. Apontei uma frase como exemplo: " Numa pausa rápida para almoço, tínhamos um buffet com banana assado, vários tipos de arroz, vários tipos de carnes e peixes e vários tipos de molhos". Vários de vários de vários. Repetições constantes. Escrita muito pouco coloquial (com o uso excessivo da palavra "coisas", por exemplo - uma muleta que é muito usada na oralidade, mas que num livro devia ser poupada) e falhas ao nível da pontuação.

Acredito que esta família tenha muito para contar - e é óbvio que, com filhos às costas e um doente renal, são uma fonte de inspiração para muita gente, que faz de pequenos pormenores autênticos obstáculos, quando não tem de ser assim. Mas um livro não é um post no Instagram ou num blog; um livro pede mais. Ou, pelo menos, devia.

26
Abr23

Chávena de Letras: "O Caso Alaska Sanders"

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O Dicker está, sem dúvida, no meu top 5 de autores favoritos. A capacidade de nos fazer virar a página com leveza e voracidade é simplesmente notável, e distingue-o dos restantes - embora tenha muitas outras características que o tornam muito bom, como a construção de um enredo profundo, capaz de dar 31 voltas e acabar mesmo assim numa direção diferente daquela que esperávamos.

Gostei muito deste livro - mas foi mais um do Dicker. Muito bom no universo dos livros, mas bom no universo Dicker. É o problema de ter a fasquia alta - ultrapassa-la fica cada vez mais difícil. Achei "O Caso Alaska Sanders" demasiado longo; tenho medo que o autor esteja um bocadinho "viciado" em livros extensos, quando isso não os torna melhores. Não sei o que vem a seguir (o fim já antevê mais um livro...), mas assim de repente lembro-me de uns três tópicos que foram explorados na obra - e que "gastaram" páginas - que não contribuíram nada para a narrativa... Percebo que para tornar as personagens menos superficiais seja necessário dar-lhes contexto e que para tantas reviravoltas na história seja necessário espaço e tempo, mas confesso que se pode tornar cansativo.

Gostava que o próximo livro fosse mais curto mas que não perdesse o fator wow - sem nunca descurar aquilo que mais gosto no Dicker, que é a leitura rápida. Veremos o que vem a seguir. Curto ou longo, estarei cá para ler.

17
Abr23

Chávena de Letras: "Verity"

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Wow, que viagem foi esta? Este foi o primeiro livro da Colleen Hoover que li e sei que não será o último. Não que o tenha adorado - na verdade, creio que me deu alguns pesadelos à noite - mas tem a característica que mais gosto numa obra/num autor: é um page turner incrível. Houve alturas em que até fiquei tonta - talvez porque me esquecia de respirar, tal a voracidade para chegar ao fim da história. É um livro que se sorve num só trago; faz de nós criaturas insaciáveis pelo final.

O que não faz dele perfeito - pelo contrário. Há falhas típicas aqui, e até parece que não somos os únicos a querer saber o fim da história - a própria autora precipitou-se em alguns momentos, parecendo que também ela queria acabar de escrever para perceber onde as palavras a levavam. A construção das personagens tem lacunas - a evolução da relação entre os dois protagonistas é abrupta e rápida demais, e isto vai além da percepção - do nada, por exemplo, o Jeremy já trata a Lowen por um diminutivo como se se conhecessem há meses... e nem sequer é feita uma menção a isso, um pensamento qualquer onde isso seja posto em causa... é simplesmente interpretado como normal. A própria aproximação física é estranha, não acontece na realidade - pelo menos não na realidade que eu conheço. Já para não falar de uma sequência de acontecimentos pouco prováveis - mas que se perdoam por isto não ser a vida real (e ainda bem!) - e de uma certa previsibilidade da narrativa, o que mesmo assim não tira o ímpeto de continuarmos a ler.

Mas a ideia por detrás da história é boa - macabra, mas boa - e deixa-nos em eterna dúvida. É capaz de ser a primeira vez que leio um livro cujo final é fechado... mas que, mesmo assim, não fecha nada em concreto, o que é um twist engraçado.

Estou curiosa para ler outra faceta da Colleen em breve.

30
Mar23

Chávena de Letras: "Mãe, Doce Mar"

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Li este livro rapidamente na tentativa de não esmorecer a leitura, pois rapidamente me apercebi que o estilo de escrita não era o meu favorito. Já tinha lido João Pinto Coelho, mas se a memória não me falha, nem o "Perguntem a Sarah Gross" (que adorei)  nem "Os Loucos da Rua Mazur" (gostei menos) tinham uma escrita tão poética como este "Mãe, Doce Mar". Aqui, tinha muitas vezes de reler a frases para entender o seu significado; sinto que, principalmente no início da obra a articulação das frases era rebuscada, tornando até a compreensão da história um pouco mais difícil. Um exemplo:

 

"Fora o mar que me arrastara e cercara a toda a volta, mas deixando à tona de água até as certezas mais firmes, agora cascas de noz à deriva no oceano. Podia dizer o mesmo daquele pedaço de terra para onde Catherine me levara. Era a ilha do tesouro ou o meu cesto de gávea, esse posto de vigia de onde eu me observava, com a distância que falta aos marinheiros de água doce."

 

Senti isto na primeira metade do livro. Não sei se foi por me habituar, mas na segunda tudo fluiu muito melhor - menos paragens para reler, mais cadência na narrativa e, consequentemente, mais vontade de continuar a leitura.

E a verdade é uma: que história bonita. Triste, mas bonita. As personagens são bem desenvolvidas, com uma história de fundo que justifica os seus comportamentos e forma de estar, tornando tudo muito coerente. Não adoro a forma como a história está construída, com muitas analepses em diferentes tempos, mas sei que só assim se consegue entregar o final que o autor pretende. João Pinto Coelho é sempre um autor para manter debaixo de olho.

23
Mar23

Chávena de Letras: "Born a Crime"

born a crime.jpg

Não sou espectadora do Daily Show nem conhecia o trabalho de Trevor Noah como humorista - mas não acho necessário estarmos familiarizados com uma personalidade para gostarmos e simpatizarmos com a sua biografia. O importante é ter algo para contar - e Noah tem quanto baste!

Filho de uma mulher negra e de um homem branco - um crime na África do Sul, em tempo de Apartheid, daí o nome do livro -, o autor explica como sobreviveu (e viveu) num país onde após a ascensão de Mandela se deram passos efetivos para a liberdade mas onde os estigmas se mantiveram durante muitos anos, continuando a existir um enorme gap de oportunidades (e tantas outras coisas) entre pessoas de diferentes cores.  Noah explica muito bem o que é o racismo - e como ele próprio, sendo mestiço, o sentiu na pele (mas fugindo ativamente de estigmas e rótulos).

É um livro rico, cheio de histórias que refletem um país. Noah tem graça a contar as suas experiências de vida e torna leve muitos episódios que devem ter sido muito pesados de os viver na altura. De um par de vídeos que tinha visto do autor, antes de ler o livro, a ideia que tinha era de alguém ponderado, equilibrado e com empatia - e a raiz de tudo isto é descrita nestas páginas, fruto de uma educação livre mas bem conduzida e de um homem que procurou concretizar-se desde muito cedo.

Trevor Noah é novo mas tem já uma bela história de vida para contar - digna de livro e digna de ser lida. Acho que todos podemos aprender algo com este "Born a Crime". Tenho pena que, só tendo o áudio-livro, não tenha conseguido sublinhar algumas ideias que transmite, nomeadamente sobre o racismo, que me pareceram preciosas. Apesar disso, achei a construção da obra um bocadinho confusa, pois pareceu-me que não estava organizada por ordem cronológica.

Sobre o áudio-livro: Noah tem uma voz incrível e que insta à audição; imita os sotaques e vozes de quem o rodeia, o que torna tudo ainda mais dinâmico e aprazível. Os capítulos são muitos longos e por isso não há alturas muito propícias para fazer pausas. A linguagem é de fácil entendimento - já o sotaque do autor exige a alguma concentração, pelo menos no início, e em particular quando entoa as vozes de outras personagens da sua vida, onde tende a intensificar os sotaques e maneirismos na fala. Ainda assim, no geral, é um óptimo livro para se ouvir.

09
Mar23

Chávena de Letras: "Spare"

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Sigo há muitos anos a família real inglesa e, como tal, a fã british que vive dentro de mim não me permitiria passar sem ler este livro. 

Diria que a obra pode ser descrita, rapidamente, em quatro partes: 1) os primeiros 20% são dedicados à infância e adolescência de Harry, obviamente marcados pela morte da mãe, em que se fala da turbulência na escola, a(s) dor(es) na sua relação com o irmão e das indecisões do futuro; 2) os seguintes 30% relatam acima de tudo a sua história militar, as suas idas ao Afeganistão e aventuras por lá vividas; 3) os 20% posteriores incidem no seu retorno e ao reinicio de uma vida dedicada à realeza, sem guerras à mistura (pelo menos daquelas que envolvem armas, porque na família existem-nas em quantidade mais que suficiente), que o voltaram a deixar num limbo, sem saber onde pertencia e como se posicionar interna e publicamente; 4) o que resta é a história que temos mais viva nas nossas memórias - o início do namoro com Meghan, o casamento, os filhos e todo o drama já conhecido com a imprensa.

Há âncoras que estão presentes em todo o livro (e, suponho, na vida dele): primeiro, a mãe - um trauma claramente mal resolvido, que o acompanhará para a vida, e que eu creio que dita muitos dos comportamentos de proteção que teve em relação à mulher; segundo, África - um elo comum em todas as fases acima mencionadas, sempre como um amuleto de escape e clarividência, fazendo depois também a ponte com ações solidárias e visitas com amigos; e terceiro, não menos importante, a imprensa - os vilões da vida dele, ainda antes da morte de Diana, mas principalmente depois do acidente que a vitimou.

Apesar de gostar muito de família reais, e em particular da britânica, nunca achei que a vida deles fosse de sonho; lá por serem príncipes e princesas não quer dizer que vivam como nos contos da Disney. E este livro torna isso bem claro: eles vivem numa gaiola dourada. E das duas uma: ou se opta por olhar simplesmente para o ouro, ou mantemo-nos concentrados no facto de estarmos dentro de uma gaiola, independentemente do seu material. Escolhendo a primeira, segue-se a linhagem; optando pela segunda, encontra-se a nova ovelha ronhosa - e ao Harry assenta-lhe este papel que nem uma luva.

Creio que este livro pode ser lido de várias perspetivas, dependendo do espectro onde nos posicionamos em relação à história do Harry, do "Megxit" e a tudo o que foi veiculado na imprensa. Eu sempre achei que a saída deles tinha sido feita de forma bruta e injusta, mas que era uma decisão ponderada por parte do casal, que se viu encostado contra a parede e completamente espremido pelos tabloides. E eu interpreto a escrita deste livro como o último reduto: ao sentir que não tinha nada a perder, Harry deitou ao mundo a sua verdade, sabendo que os outros intervenientes (nomeadamente a sua família) nada iriam contrapor, pois é esse o seu mote e forma de estar. Com tanta mentira espalhada e impressa em tanta página, percebo que a vontade maior seja dar um grito de libertação - mesmo que ninguém o ouça. 

Neste caso, ouvem alguns - mas acho que poucos o farão da forma que Harry desejaria. Primeiro porque os consumidores de tabloides - sendo que muitos só passam os olhos pelas letras grandes - não vão perder o seu tempo a ler um livro longo como este; segundo porque quem o lê para difundir notícias escolhe a dedo aquilo que quer apresentar aos leitores - e eu tenho a certeza que o objetivo máximo de Harry não era que só se falasse do facto de ele ter queimado o escroto ou que o irmão o tivesse atirado ao chão; terceiro porque é difícil mudar opiniões moldadas durante anos apenas com um par de intervenções (a série e o livro) estratégicas. Ainda assim, é uma oportunidade única para a "plebe" perceber a dinâmica de uma família real, com tudo aquilo que ela tem de bom e de mau; para se entender como é um negócio, como está moldada para gerar espalhafato e gerir expectativas. Mas é, acima de tudo, uma tentativa, uma redenção - e acho que justa, tendo em conta tudo aquilo por que o príncipe passou. Não sei se, de facto, o Harry não tem nada a perder aqui - creio que as ligações familiares devem ter ficado muito fragilizadas depois disto, não só por ele contar episódios chave que mancham amplamente a imagem do pai e do irmão (principalmente) mas por todo o sentimento de não pertença que ele descreve (e que se sente) ao longo do livro, que acaba por ser ainda mais grave que os acontecimentos algo isolados que foram acontecendo entre os três ao longo das suas vidas.

Sobre o livro em si: não li muitas biografias /memoirs e, como tal, não tenho grande termo de comparação. Adorei o prólogo e a ideia de que o livro foi tudo aquilo que ele não teve oportunidade de contar, explicar e fazer ver ao pai e ao irmão - foi um pontapé de saída ótimo, mas que esmoreceu logo no inicio do relato militar da sua história. A segunda e terceira partes são mais lentas, explicativas e, em alguns casos, algo chatas - salvam-se por terem capítulos curtos, que fazem as páginas virar mais depressa. No início do romance com a Meghan parece que o livro ganha outra vida - e daí até ao fim, ainda que com muitas partes tensas, lê-se tudo rapidamente. Ainda assim... é um livro triste - escrito por alguém perdido, onde se lava demasiada roupa suja (embora eu perceba o porquê de ele se ver nesse direito).

Apesar de todas as asneiras que possa ter feito, de algumas más decisões que tenha tomado, acho que será sempre alguém com a qual eu tenho muita empatia. Desculpem, Charles e William... deste lado escreve-vos alguém Team Harry.

22
Fev23

Chávena de Letras: "I'm Glad My Mom Died"

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Este é um livro necessário. Na verdade, só o prólogo diz tudo aquilo que muitos precisamos de saber - embora o que está para trás seja igualmente valioso.

Aquilo que Jannette McCurdy evidencia é algo que, no fundo, todos sabemos - mas é uma verdade pouco proliferada (e até pensada): o papel de mãe é o mais romantizado da história. As mães são sempre heroínas, são sempre boas, sempre bem-intencionadas, são sempre incríveis... Só que não. Porque há más mães. Há mães que vendem os filhos; há mães que os matam. E há mães que maltratam, mesmo quando parece que não o fazem - que era o caso da mãe de Jannete.

Na narrativa desta história percebemos que tudo aquilo pelo qual a autora passou foi feito sob a ideia de que era para o seu bem: as invasões ao ser corpo eram para garantir que não tinha nódulos, a obrigação de trabalhar era para ter uma boa vida e ser feliz, ter de ser magra e pequenina tinha como propósito garantir papéis por muito mais tempo. Tudo para o seu bem. Mas será mesmo o "seu" bem? Ou o bem da sua mãe - ou, simplesmente, para bel-prazer da sua progenitora?

Este foi o primeiro audiolivro que ouvi e gostei muito da experiência. A linguagem utilizada é acessível para quem estiver familiarizado com o inglês (não é preciso ser especialista) e a forma de falar de McCurdy (sendo que o livro é narrado por ela) ainda nos envolve mais na narrativa, uma vez que ela imita as vozes e os sotaques das personagens de quem fala. Esta é a sua história de vida, desde o momento em que começou a fazer castings (passando pelos anos em que fez um programa de sucesso no Nickelodeon) até à altura em que a mãe morreu, quando já tinha enveredado por caminhos mais tortuosos como o alcoolismo e anorexia (entre outros); é a forma de como lidou com tudo o que vivenciou e da forma que arranjou para, depois, conseguir gerir tudo isso.

Apesar de ter adorado o mote do livro e a conclusão a que chega, há dois apontamentos curiosos que quero fazer: 1) não conhecia o trabalho (nem a imagem) da autora, mas por alguma razão não consegui simpatizar com ela - muito embora tenha uma enorme empatia pelo que passou; isto faz com que o livro tenha ainda mais valor para mim - porque o adorei apesar do que senti em relação a quem o escreveu; 2) não acho que o título do livro faça jus à história. Acho que foi escolhido por ser "chocante" e para atrair leitores, mas em nenhuma parte da história ela se mostra feliz pela morte da mãe - é tudo muito mais profundo que isso, e essa complexidade está bem espelhada em todas as páginas do livro. Tudo é pouco linear, tudo é de difícil leitura e análise, escondido por detrás de dogmas, boas intenções e tantas outras ideias pré-concebidas da maternidade - e por isso seria muito difícil resumir tudo num sentimento tão "simples".

Aconselho muito - e em particular o audiobook.

 

(este livro acabou de ser editado pela Lua de Papel, em português, sob o nome "Ainda Bem Que a Minha Mãe Morreu")

18
Jan23

Chávena de Letras: "Os Sete Maridos de Evelyn Hugo"

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Gostei deste livro, mas não o amei. Faltou "aquele bocadinho assim" - mas confesso que não sei qual é a falha, pois tinha tudo para dar certo.

Esta foi a primeira obra que li da Taylor Jenkins Reid e não será certamente o última: a autora tem uma escrita fácil mas com peso em algumas passagens - uma gestão que a maioria dos autores não consegue fazer -, que nos conseguem marcar e dar um tom mais sério (e realista) ao livro. A personagem principal está lindamente construída: complexa, simultaneamente crua e polida, dura e real. Não sei se é fácil identificarmo-nos com ela (não é sempre uma personagem simpática), mas acredito que muitos gostassemos de ser como ela - quanto mais não seja pelas ganas que tem de viver a vida como sempre a quis.

A forma que a autora arranjou para nos levar até ao final do livro é subtil, muito inteligente e, mais uma vez, gerida na perfeição: no fundo, estamos todos ali a virar páginas porque queremos conhecer a história dos maridos da Evelyn ou porque queremos saber o porquê de ser a Monique a "escolhida"? É uma premissa que vai pairando ao longo de todo o livro mas que não é o alvo direto da história... E isso só torna tudo mais intrigante.
Apesar de se tratar praticamente de uma narrativa de personagem, que são normalmente obras mais lentas, este é um livro que se lê muito bem e rapidamente.

Ponto negativo para a tradução: não tenho a comparação em inglês, mas há falhas notórias - já para não falar de muitas gralhas ao longo do livro. 

P.S.: Foi a minha primeira leitura no Kobo! Whooo!

Por fim, uma análise rápida que resume toda a história (para quem não gostar do mínimo levantar de véu, não leia esta parte): quão irónico é que, no meio de sete maridos, nenhum deles seja o amor da vida dela? E quantas Evelyn's andarão por aí com o mesmo drama? E quantas estrelas de Hollywood, com aquelas vidas e romances recambolescos, não entrarão neste tipo de esquemas para salvaguardar o seu verdadeiro eu? Este livro deixou-me a divagar sobre o assunto.

16
Jan23

E livros para 2023?

Espero que este ano seja recheado de livros. Depois de em 2022 ter conseguido reavivar este hábito, tenho esperança que estes próximos meses sejam de consolidação. Uma coisa é certa: não me faltam livros nem ferramentas. Haja vontade!

O Miguel ofereceu-me um Kobo no Natal (para quem não é destas novas tecnologias, trata-se de um leitor de livros digital), por isso todas as desculpas que existiam para não ler à noite (a altura do dia em que de facto tenho tempo para o fazer) e não o incomodar tornaram-se inexistentes. E a verdade é que tem resultado: tenho lido antes de dormir e, quando acordo à noite com insónias, tenho-me deixado ficar na cama a ler... e não é que o sono tem voltado? Escuso de ir para o frio da sala e ligar a televisão para me embalar... é um mimo! O facto do Kobo ser leve e de ter opções de luminosidade muito baixas permitem ler em várias posições e sem nos ofuscar ou acordar demasiado. Tem sido muito bom. 

O desafio agora é a gestão de leituras entre o Kobo e os livros físicos - o que se torna ainda mais difícil porque a minha adaptação ao leitor digital foi incrível, estou totalmente apaixonada. Se isto me faz sentir uma traidora do papel? Definitivamente. Mas que hei-de fazer? A verdade é que o Kobo resolve vários problemas: 1) as posições de leitura (um problema real para mim nos últimos tempos) são muito mais versáteis, porque o aparelho é muito mais leve que um livro e muito mais prático, sem folhas dobradas, badanas pesadas e etc.; 2) permite-nos ler nos tempos mortos, porque sendo leve como uma pena ando sempre com ele na mochila. Estou à espera de uma consulta? Leio. Estou a fazer tempo para ir buscar o meu irmão? Leio. Para além disso tem outras coisas boas, que para quem gosta de livros são difíceis de engolir, mas que são verdade: é muito mais amigo do ambiente (adeus, papel!) e também mais simpático para com a carteira, pois os preços são consideravelmente mais baratos (principalmente se lermos em inglês).

É lógico que também tem desvantagens - a maior parte delas de origem emocional. Não tem o toque do papel, o cheirinho do papel, o peso do papel. Não é um livro - e isso não se troca. Perde-se a magia de uma livraria física, do vaguear pela loja ao encontro da nossa próxima leitura; de apreciar as capas, de folhear. Também não existe a variedade em ebooks que há nas versões físicas. Mas, para mim o pior de tudo, é que não se podem emprestar os livros. 

No entanto acho que há lugar para tudo e não temos necessariamente de ser exclusivos de um único método de leitura. Tenho muitos livros físicos para ler (recebi muitos e bons no Natal!) e por isso é imperativo que consiga um equilíbrio entre o papel e o digital. Depois de meditar sobre o assunto cheguei a uma conclusão: no Kobo planeio ler livros grandes, em inglês, promoções imperdíveis e obras cujo interesse não deva ser generalizado (porque não os posso emprestar); em versão física comprarei tudo o resto - livros que não estejam disponíveis em versão digital, obras emprestadas ou que ache que vá querer emprestar ou aqueles que acho digno de serem guardados na estante. A minha intenção é ter o Kobo na mesinha de cabeceira e um livro no sofá; isto faz com que, eventualmente, vá ter de ler dois livros em simultâneo. Nunca o fiz e sempre achei que a minha cabeça ia dar um nó - mas estou neste momento a implementar este meu plano e, até agora, fiz zero confusão com as histórias que estou a ler, por isso creio que não vá haver problemas no futuro.

 

Posto isto, acho que estão definidas as condições para um ano de boas (e versáteis) leituras. Sobre isto, acrescentar ainda quatro objetivos que tenho neste âmbito:

- Como já disse no post anterior, quero ler 18 livros este ano. Estiquei a corda só para não me satisfazer com um livro por mês (que já é bom, mas pode sempre ser melhor);

- Para isso, nada como voltar aos hábitos de criança - a meta é ler todas as noites, nem que seja uma única e singela página;

- Quero experimentar "ler" um audio-livro e um livro de não-ficção - até podem ser a mesma obra, mas quero diversificar estilos (tanto na forma de ler como no conteúdo);

- Por fim, três livros de leitura obrigatória para este ano - já ouvi falar maravilhas de todos e já os tenho na minha estante, pelo que se não os ler não terei nenhuma desculpa: "A Breve Vida das Flores", "Uma Educação" e "A Lista de Leitura".

 

Vou reativar, na barra lateral do blog, os widgets que permitem que acompanhem as minhas leituras atuais e o meu desafio de leitura. E, claro, vou partilhando por aqui as opiniões do que for lendo. Por aí, o que têm para ler este ano?

04
Jan23

Chávena de Letras: "Sete dias em Junho"

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Gostei muito, muito deste livro! É incrível como pode ser refrescante na literatura atual a ideia de que podemos ser nós próprios os inimigos da nossa felicidade. Que não é preciso entrarem outros na equação - amantes, vilões ou uma sociedade opressora - pois somos nós próprios que nos impedimos de avançar. E quão real é isso? Quantas vezes não somos nós - nós e os nossos demónios, os nossos medos, as nossas expectativas, o nosso contexto - a pôr um travão em algo que, provavelmente, nos faria feliz?

Esta é a história de Eva e de Shane, o caminho que tiveram de percorrer para derrubar os seus obstáculos e - talvez mais desafiante e um passo muito desprezado no processo - perceber depois onde os arrumar de forma a que, mesmo derrotados, estes não os impeçam de continuar o seu caminho.

Que bonita, esta obra de Tia Williams (e, já agora, que boa a capa da Topseller)!

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