O jantar de gala
Eu tinha tudo pensado. Sabia o que tinha de fazer e o tempo que precisava para completar tudo o que queria.
Quando me vi no hotel, com uma hora e meia para me arranjar, depois de ter andado quilómetros durante o dia, só me apetecia era deitar-me e dormir até ao dia seguinte. Pelo contrário, tomei um duche e avaliei o meu pé, que me doía bastante.
Quando saí do banho dei por mim super ruborizada, cheia de calor e aos tremeliques. Não me perguntem o que se passou, mas sei que assim fiquei até ao jantar em si - o que me levou a uma tremenda irritação. As unhas ficaram terríveis, a maquilhagem num dos olhos tremida... e eu continuava similar a um tomate, com as bochechas vermelhíssimas. Quando acabei de me arranjar nem sequer tirei uma foto - estava atrasada, irritada e... vermelha. Tirar uma foto naquelas condições? Nem pensar.
Desci para a sala onde se realizaria o jantar, com o meu pai - estava bem mais gente do que eu calculava, sendo que mais de 90% eram homens. Eu era, indubitavelmente, a mais nova. Os senhores todos vestidos de fato e gravata e as mulheres com fatos formais ou uns vestidos simples (e feios, em alguns casos).
O jantar em si foi agradável e eu achei piada ao a ver a pompa e circunstância com que algumas pessoas se tratavam, assim como os interesses e os negócios subjacentes. Fiquei na mesa dos meus pais, mas no meio de dois senhores - um belga e um turco, ambos muito simpáticos que meteram conversa comigo, prontamente, fazendo que fossem poucos os minutos mortos para mim durante o jantar. Espalhei o bom nome da minha cidade e procurei saber também um pouco mais da vida dos dois senhores que me faziam companhia. E foi bastante agradável.
A comida era aceitável (acreditem, a do almoço desse dia foi bem pior), ainda que aqueles espargos crus me tenham custado a engolir. Para minha alegria a sobremesa era deliciosa e não demasiado doce, como os típicos doces turcos.
Quando cheguei ao fim, já morta e derreada por estar no cimo dos meus sapatos altos (verdade seja dita que, mal me pus fora da sala de jantar, saquei dos sapatos e levei-os na mão até chegar ao átrio do hotel, que ainda era um longo caminho), é que decidi tirar uma foto. Estava cansada e a maquilhagem já não tão perfeita, mas foi o que se arranjou, para mais tarde recordar.