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Entre Parêntesis

Tudo o que não digo em voz alta e mais umas tantas coisas.

22
Mar20

Uma viagem virtual à exposição do Harry Potter

Numa altura em que a maioria das pessoas estão em casa - eu excluo-me deste grupo, não sei se feliz ou infelizmente - apercebi-me que muitos museus estão a fazer visitas guiadas, virtuais, aos seus espaços. E eu pensei em oferecer-me para fazer o mesmo relativamente a uma exposição que quase toda a gente ouviu falar mas que, de certo, nem todos puderam visitar. Eu fi-lo no último fim-de-semana possível, antes de tudo ser encerrado, e já o fiz com muitas restrições. Do que falo? Da "Harry Potter - The Exhibition", que teve até há bem pouco tempo no Pavilhão de Portugal, em Lisboa. Não sei até que ponto irá reabrir, por isso, se tiverem com esperanças e não quiserem spoilers, fiquem-se por aqui na leitura deste texto.

Os bilhetes para a exposição foram-me oferecidos em forma de presente de convalescença, mal cheguei a casa depois de ter sido operada, em Dezembro. Foi uma forma bonita que o meu namorado encontrou para me animar numa fase em que eu estava logicamente mais fragilizada. Tive de me pôr boa entretanto e, assim num piscar de olhos, passaram-se três meses e o prazo para visitar a exposição estava perto do fim. Entretanto o Covid-19 piorou a olhos vistos, tanto na Europa como também em Portugal, e tivemos consciência que ou era naquele sábado ou, provavelmente, perderíamos não só o dinheiro como a oportunidade de estarmos mais próximos daquele universo que nos diz tanto a ambos.

Foi a visita mais rápida que fiz a Lisboa, desde sempre. Foi ir, visitar a exposição, e voltar para a segurança de casa - num ato que, só por si, já foi de maluquice e de paixão por aquela saga. As coisas já estavam muito controladas - fomos logo pela fresca, nos primeiros slots da manhã, e só entravam grupos de 10 pessoas de cada vez (sendo que só nós éramos 4, portanto 40% do grupo já estava preenchido). Todas as atividades interativas, excluído a de apanhar mandráguas na "aula de herbologia", estavam fechadas; tudo aquilo que foi publicitado, como poder jogar um mini-jogo de quidditch, interagir na cabana do Hagrid e até as fotos em fundo verde estavam vedadas. Tudo isto condicionou, claro, a minha opinião sobre a exposição. Mas vamos por partes.

A viagem começa como nos filmes: o comboio de Hogwarts. Com direito a neve e tudo! A caracterização é ótima, mas a passagem nesta secção é tão rápida que nem dá direito a uma foto. Quase como a professora McGonagall, dizem-nos rapidamente para nos dirigirmos para a sala seguinte, todos atrás do responsável. E lá fomos... ter com o chapéu selecionador. Só uma sortuda teve a oportunidade de saber qual era o seu destino e que casa a esperava - e não é que foi mesmo para a casa que queria, Slytherin? Que todos os nossos desejos se realizassem assim tão rápido!

 

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A visita guiada termina aí (não seria assim se continuassem com a possibilidade de termos um audio-guia, algo que graças ao Covid-19 também deixou de ser possível). Cada um é livre de seguir o seu ritmo e demorar o tempo que quiser a apreciar as coisas. A partir daí o mote é, como se diz às criancinhas, "ver com os olhos e não com as mãos". É uma exposição com muitos artigos, mas que pode saber a pouco aos fãs mais exigentes. Há contextualizações junto aos objetos, para quem não tiver a memória tão fresca ou simplesmente seja acompanhante de um potterhead desesperado por companhia. 

O início da exposição é dedicado ao trio maravilha, claro. Podemos ver partes do dormitório de Gryffindor, como a cama do Ron e do Harry, as suas fardas (utilizadas mesmo pelos atores) e alguns outros detalhes dos seus aposentos. Esta dinâmica é replicada ao longo de todo o espaço - há "quadrantes" dedicados a várias personagens, disciplinas ou temas, como poderão ir vendo nas fotos a seguir:

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A cama, a farda e as roupas informais de Ron, assim como alguns dos seus objetos pessoais.

 

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Objetos da Hermione, como o livro "A History of Magic", a lista do Exército de Dumbledore, o time-turner e a mala mais invejada de todas as mulheres - aquela onde tudo cabia lá dentro. Como se percebe, tudo isto roda à volta da personagem, independentemente do filme em que o objeto tenha sido utilizado (à semelhança do que acontecia em toda a exposição).

 

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Roupas formais e informais de vários alunos de Hogwarts. É possível ver quais são réplicas e quais as vestes que foram mesmo utilizadas pelos atores.

 

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A carta que todos nós queríamos receber. Quem não perceber isto é, sem dúvida, um muggle.

 

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Existem vários cantinhos dedicados às aulas - neste caso, a adivinhação, com as roupas tresloucadas da professora Sibila Trelawney, a sua bola de cristal e a chávena que previu a maldição de Harry Potter, entre outros objetos.

 

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Poções também tinha o seu espaço dedicado - obviamente com as roupas do professor Snape, utilizadas de facto por Alan Rickman. Faz um bocadinho de impressão pensar que quem deu vida àquela personagem já não está cá para contar a história - e é, acima de tudo, triste. Não faltam tubos de ensaio e outros objetos utilizados nestas aulas.

 

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Herbologia não ficou esquecida - e muito menos as mandrágoas. Pudemos puxa-las e ouvi-las aos berros, tal e qual como nos filmes. Chaaaatas!

 

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Dentro do armário dos medos saíram várias coisas que também se podiam ver: entre elas este palhaço gigante, extremamente fotogénico. Para quem tem medo de aranhas, nada temam: mais à frente a Aragog aparece para vos fazer uma visitinha.

 

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Mas não só de rosas de faz esta exposição. Quer dizer - tem muito rosa. Principalmente no que diz respeito ao escritório de Dolores Umbridge. Isso e gatinhos. Mas todos sabemos que de cor-de-rosa a senhora não tinha nada. A caneta maléfica e as palavras "I must not tell lies", que não ficariam escritas apenas no papel, também estão lá para nos reavivar a memória. Para além dela, estava também lá o fato do Cornelius Fudge, o Ministro da Magia (que era feito da mesma massa que aquela bruxinha cor-de-rosa).

 

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A dita.

 

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Quidditch tem um espaço especialmente grande na exposição e uma das atividades que seria mais gira de praticar mas que, infelizmente e como já disse, estava vedada ao público. As vestes, bandeiras, bolas, vassouras voadoras (a Nimbus 2000, obviamente), taças e outros objetos estavam também em exposição.

 

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Não podia faltar a famosa snitch!

 

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Cedriiiiiiic! <3

 

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A cabana do Hagrid é, para mim, dos sítios mais bem caracterizados. Mas também foi aquele onde senti que poderia haver mais interação, mais movimento, mais uau! Ainda assim, é muito giro. E ter a noção do tamanho do gigante? Caraaamba!

 

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Como esquecer este guarda-chuva, que se encontrava entre alguns dos objetos do guarda de Hogwarts?

 

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Se é giro apreciar o tamanho de Hagrid, também é engraçado perceber o quanto cresceu o trio ao longo de toda a saga. Começam pequeninos, pequeninos... e, claro, no fim já são homens e mulheres bem formados. Diria que o Neville é a grande surpresa, quando se vê ao vivo o tamanho das suas roupas no filme final. Este recanto, logo a seguir à cabana de Hagrid, retratava a cena em que Hermione, Ron e Harry salvam Buckbeak de um fim trágico. Se repararem bem, do lado esquerdo da foto, conseguem ver as roupas do carrasco.

 

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A parte negra entra em ação. Alguns dos cartazes em busca dos feiticeiros mais malvados do mundo estavam lá em exposição. A Bellatrix não podia deixar de estar na lista.

 

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As várias caras de Voldemort. Também aqui achei que poderia haver mais movimento e interação.

 

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As horcruxes (excluindo a Nagini), todas em exposição. Assim até parece que foi fácil apanha-las a todas.

 

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Um dos locais mais instagramáveis de toda a exposição: a parede dos decretos. Muito gira!

 

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Rita Skeeter, a jornalista, tinha também o seu próprio espaço. Acho que para a maioria não é uma personagem nada de especial mas, para mim, sempre teve algo que invejei: aquela caneta que escrevia diretamente o que ela pensava ou dizia, sem ela ter o trabalho de redigir. Já aqui falei sobre o meu desejo de ter uma coisa parecida - principalmente quando me dá a inspiração quando já estou a adormecer e a vontade de pegar no telemóvel é pouca ou quando as ideias fluem quando estou ao volante. A magia dava mesmo muito jeito em certas situações...

 

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O baile do filme do Cálice de Fogo tem, praticamente, uma sala que lhe é inteiramente dedicada. Não faltam os fatos de Hermione, de Victor Krum, de Harry Potter, de Ron, da Cho e do Cedric Diggory (mesmo usado pelo Robert!!!). Mais detalhes como a louça, a decoração, a mesa e até os bancos também estavam presentes.

 

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Como não adorar a (pobre) roupa do Ron? Merece fotografia exclusiva, claro!

 

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Os objetos vendidos nas lojas de doces e de travessuras também tinham uma vitrine, mas quase tudo isto era comprável na loja que antecipava o final da exposição e que tinha as "montras" das próprias lojas.

 

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A parte mais nostálgica coincidia, claro, com o final da exposição. Primeiro, com a fénix de Dumbledore.

 

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Depois com o próprio Dumbledore, tendo como pano de fundo as conhecidas janelas do grande salão, onde eram servidos os banquetes para as quatro equipas de Hogwarts e seus professores.

 

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E, ao lado dele... Dobby, o elfo. Deu quase vontade de verter uma lágrima ao relembrar, sem dúvida, uma das cenas mais tristes de todos os filmes.

 

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A exposição em si (antes da parte de compras) termina com o trio maravilha e o Neville, depois da batalha final - e é impossível não lembrar aquela imagem antes do flash-forward, em que Harry, Hermione e Ron olham o horizonte de mãos dadas, com o castelo de Hogwarts todo destruído à volta. E que arrepios, hã?

 

Fotografei tudo aquilo que achei essencial e que, para mim, era (e é) marcante. Este meu resumo está longe de mostrar tudo aquilo que a exposição tinha - mas cada um dá importância a diferentes coisas, e foi isto que me captou o olhar e me fez disparar o obturador. O sumo, penso, está todo aqui. 

Se acho que é uma exposição gira para quem gosta dos filmes e quer fazer prolongar um bocadinho esta paixão? Sim. Se penso que podia ser melhor, maior, mais interativa e dinâmica? Sem dúvida.

Mas eu, para além de ser exigente por natureza, estive há meio ano no Castelo de Hogwarts, em Osaka (ver aqui, no final do post). Não havia nada na loja que não pudesse ter comprado no Japão; já para não falar dos espaços em si, não só Hogwarts mas também Hogsmeade ou Diagon Alley, e nada bate aquilo que lá vi - a não ser, talvez, em Londres. As minhas expectativas eram demasiado altas e não é justo compara-las com uma exposição que não tem o objetivo de recriar o ambiente mas sim de trazer cá objetos que foram mesmo utilizados nas filmagens e que ficarão para sempre no nosso imaginário. Se 20€ são o suficiente para voltarmos a sermos crianças e a acreditar na magia, no poder do amor e da força conjunta... nem que seja por uma hora... oupa! Se há altura em que precisamos de tudo isso é agora e nos próximos meses que se avizinham. Esperança. Magia. E muito amor. 

26
Jun17

Harry Potter: 20 anos a espalhar magia

Mentia se dissesse que foi o Harry Potter que me iniciou na leitura - esse galardão vai para o Triângulo Jota, que me ensinou a gostar de ler. Também não estaria a ser correta se afirmasse que essa série foi o maior amor literário da minha vida: nunca, nada nem ninguém, vai alguma vez destronar aquilo que o Twilight representou para mim. Mas a verdade é que essa saga teve muito que ver com a fase da vida em que eu estava, porque a apanhei no início e vivi quase de uma ponta à outra com os sentimentos à flor da pele.

Mas quando, algures em 2010 - já os livros estavam cá fora, assim como metade dos filmes -, li o Harry Potter, soube que era para a vida, um amor diferente. Não é uma história de amor para corações eternamente românticos, não é um policial que se devore e se esqueça no dia seguinte. É uma lição de vida sobre a diferença, sobre a coragem, sobre a amizade, sobre a força, sobre a união mas também sobre a solidão. E, acima de tudo, sobre a magia - e o poder da imaginação. O Harry Potter mora em nós a partir do momento em que o conhecemos, os corredores de Hogwarts passam a ser os nossos corredores, a Hermione e o Ron os nossos confidentes. 

Para mim, todos os livros que tenham a capacidade de tele-transportar os seus leitores para outros mundos merecem ser lidos - sejam maus ou bons aos olhos da crítica. Já o escrevi aqui e repito quantas vezes forem necessárias: qualquer obra que inicie alguém na literatura já fez o seu papel; aquele livro passou a valer a pena, mesmo que seja uma desgraça. E, mesmo que o Harry Potter não tivesse tantas - tantas! - outras qualidades, teve a capacidade de mostrar a milhões de crianças, jovens e adultos que temos todos a possibilidade de viver num mundo paralelo, com ou sem magia, durante muito ou pouco tempo: basta abrir um livro. 

Acho que não há maior prova disso do que aquilo que se viu hoje nas redes sociais. Ao invés de uma desgraça, de um vídeo parvo e viral ou de discussões políticas, o meu feed encheu-se de magia, de saudade, de agradecimentos profundos; de óculos arredondados, de raios na testa e de trechos inesquecíveis. A minha geração - a "inculta", a "geração à rasca", "aqueles que estão a deixar o papel morrer" - parou, pensou, partilhou e escreveu massivamente sobre uma saga que toldou os seus tempos, que lançou um dos seus maiores ídolos e inspirações. Sei que a maioria das pessoas que leu estes livros se sente agradecido à J. K. Rowling por aquelas horas passadas a ler, num mundo tão mágico e tão especial como é Hogwarts, como é a Londres dos Muggles ou Privet Drive. 

Faz hoje 20 anos que foi publicado o Harry Potter e a Pedra Filosofal. Só há uns sete é que eu entrei, tal e qual na plataforma 9 3/4, neste mundo - mas a entrada foi tão rápida e tão drástica que sei que, por muito que faça, nunca mais vou de lá sair. Harry Potter, para mim, são momentos muito especiais (como o da foto em baixo, o ano passado, na livraria Lello); é Natal, é conforto, é um porto seguro. É o sinónimo de que a magia acontece, dentro e fora de páginas. E representou um dos grandes alentos que me fez ler mais e, acima de tudo, tentar escrever ainda melhor. Saber que alguém que aqui viveu teve a capacidade e a inspiração para construiu todo este mundo, torna tudo muito mais real, quase como se a possibilidade de isto acontecer a algum de nós - ou a mim - possa estar ao virar da esquina. E por isso, para além de tudo o resto, a J. K. deu-me - e dá-me - também esperança. Porque a magia acontece. E tal como nos provou o Harry Potter... ela sozinha não basta, mas com força de vontade... até o impossível se consegue.

 

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15
Nov16

Nós, os fãs insaciáveis

Eu acho que nós, fãs acérrimos de alguma coisa, somos quase como uns viciados em droga - chegamos a um ponto em que, se nos derem mais um bocadinho só para matar as saudades, e mesmo que saibamos que não nos vai fazer bem, consumimos porque é mais forte que nós. 

É isso que sinto em relação ao Twilight e ao Harry Potter. É claro que eu sei que nada vai ser como dantes, que nada vai ter o mesmo sabor, que nada bate aqueles anos completamente aéreos que vivi. Também sei que a idade é diferente, assim como a minha maturidade e forma de olhar as coisas - opá, cresci, essa coisa inevitável da vida. Mas mesmo sabendo de tudo isto, não consigo deixar de voltar a estes dois mundos que, numa altura em que sentia que o mundo real não me percebia - ou, aliás, me rejeitava - me receberam de braços abertos, sem "porquês" ou contestações. 

Abro os livros para lhes sentir o cheiro e ver as suas páginas tocadas e amareladas. Revejo os filmes, penso coisas como "esta cena é mesmo muito parva" e páro tudo nos segundos precisamente antes das minhas cenas favoritas. Digo em voz baixinha as falas todas que sei de cor, canto as músicas e elogio pela milionésima vez as bandas sonoras. E depois, no fim, ignoro o nó na garganta que teima em ficar, não importa os anos que passem. 

E depois, de vez em quando e no meio desta nostalgia, tanto a Stephenie como a J.K. Rowling lembram-se de lançar mais uma coisas para o mercado e fazer dourar a pílula para todos aqueles que, como eu, têm esta doença incurável de se apaixonarem por livros e filmes. E eu sei, racionalmente, que isto são truques de marketing para rechear aquelas contas que já estão a rebentar pelas costuras; sei que cresci e que por ter crescido as coisas já não soam tão bem, tão mágicas, tão especiais; sei que vou chegar ao fim dos filmes, dos livros ou o que quer que seja e que aquele bichinho que achávamos que íamos amainar por termos "alimentado" continua ali, voraz como sempre, e a gritar aos teus ouvidos que "não é a mesma coisa, não é isto que eu quero, não era assim que isto devia saber!". Lá está, quase como uma droga que nunca nos sacia, que nunca sabe bem o suficiente - e da qual queremos sempre, sempre mais e de que saímos sempre, sempre insatisfeitos.

É por isto que li aquela reedição do Twilight com as personagens trocadas, que comprei os outros livros da J.K., que tenho todos os DVD's e outras 21 mil tralhas. E mesmo sabendo que nunca é suficiente, também é por isso que em breve vou ter o novo livro da Stephanie na estante e que estarei sentada num cinema a ver o "Fantastic Beasts And Where to Find Them" - que, até aqui, tinha dito veemente que não ia ver porque, na realidade, ainda não me tinha despertado interesse. Mas hoje dei por mim a ver a premiere do filme, em direto e em livestream, tal como nos bons velhos tempos - e veio tudo de volta a mim, incluindo aquela vontade incrível de desfrutar, nem que seja por um pequeno segundo, destes mundos.

É simplesmente mais forte que eu. No fundo, acho que não passa de uma simples utopia humana: queremos voltar sempre aos sítios onde fomos felizes - mesmo que esses sítios sejam meros cenários imaginados por alguém, com personagens tão ricas e tão boas que, na verdade, nunca poderiam ser reais.

09
Ago16

Chávena de letras - "Harry Potter and the Cursed Child"

Harry_Potter_and_the_Cursed_Child_Special_Rehearsa

 É difícil escrever uma review a um livro de Harry Potter passado tantos anos; depois de tantas saudades, dos filmes, do fim. 

Penso que a maior crítica que posso fazer - que, no fundo, não é crítica, é uma característica do livro que temos simplesmente de aceitar - é o facto de ser escrito em forma de teatro. Esta não é a forma a que estamos habituados a ler Harry Potter e muita da magia perde-se pelo caminho. Faltam descrições, falta desenvolvimento, faltam os detalhes de toda a história. No fundo, falta a escrita de J. K. Rowling.
A história original podia perfeitamente ser um livro como os outros, mas o facto de ser uma peça retira-lhe muitos dos elementos que eu adorava ler na saga do HP. Acredito que, vendo ao vivo, muitas destas falhas sejam colmatadas, mas o livro fica a saber a pouco.
É um sentimento agridoce: por um lado dá para matar saudades, mas por outro fica a evidência de que nada poderá ser como dantes, por muito que todos nós queiramos reviver a magia de outrora.

31
Jul16

Uma noite mágica na livraria Lello (e a aposta em todo um verão épico)

Acho que este verão bateu em mim o facto de este ser o meu último período de férias grandes. Em Setembro começo a trabalhar e inicio oficialmente o meu período de vida adulta, com dias de férias contados e todo o drama que é trabalhar. Ao meu lado só vejo pessoas ainda a acabar a licenciatura, a seguir para mestrado, a tirar um gap year ou a ir fazer voluntariado no estrangeiro e eu aqui, prestes a perder a liberdade que tive até agora mas que até aqui não tinha dado grande importância.

Por isso fiz um compromisso comigo própria em aproveitar este verão da melhor forma que conseguir, apostando todas as fichas nestes meses de calor e respondendo "sim" a coisas a que normalmente diria não ou arranjaria uma desculpa para me esquivar. É para ir a um concerto antes de seguir para Estocolmo e dormir só uma hora? Bora. É para entrar num castelo com encenações assustadoras a meio da noite mesmo sendo medricas para xuxu? Bora. É para ir para a Régua? Bora.

E foi neste espírito de "bora, não há nada a perder e este é o teu último verão a sério" que também enviei email para a Lello, candidatando-me para ser voluntária no evento do lançamento do novo livro do Harry Potter. Estava na Rússia, a pagar net a preço de ouro, e passei por um post no facebook que dizia que eles estavam a aceitar candidaturas para voluntários nesse dia. Escrevi uma coisa muito rápida e simples e, para minha surpresa, poucos dias depois recebi um email a dizer que fui selecionada.

Não me vou debruçar aqui sobre o trabalho de "voluntariado" que fizemos nem discutir essa questão tão sensível (fica para breve). Eu estou numa de me meter em coisas que me ocupem tempo, que me tirem de casa e me façam conhecer pessoas novas - e foi isso que fiz, independentemente do que ia (ou não) receber, do trabalho que ia ter e ia fazer. O que me importava era ir, fazer parte. E assim foi.

Durante dois dias esfalfei-me. Carimbei, ensaquei e alarmei centenas de livros (sim, aquela preciosidade passou-me pelas mãos dois dias antes do lançamento oficial - e confesso, dei uma olhadela antes do tempo). Carreguei com eles escadas a cima, uma vez e outra. Levei com centenas deles em cima, que caíram em cima de mim estilo dominó quando retiramos uma caixa que não devia ter saído do sítio. Fiz de porteira durante horas a fio, andei pelas filas a dizer a mesma coisa cerca de quarenta e duas mil vezes e dei por mim a ter uma fila de pessoas só para falar comigo para me fazerem perguntas a que já tinha respondido cerca de cinquenta e oito mil vezes essa noite. Nunca falei com tanta gente na vida. Sei que para a grande maioria das pessoas o evento foi um flop (basta ver as publicações e comentários na página do evento no facebook) e isso também foi perceptível para nós, que tentamos proporcionar a melhor experiência possível mas não conseguimos fazer milagres. Ainda assim, penso que enquanto voluntários foi uma experiência brutal.

Já depois da meia noite, enquanto carimbava talões e entregava o tão esperado livro, via na cara das pessoas a emoção total. As músicas da banda sonora do Harry Potter estavam a passar na loja e, honestamente, houve um momento em que me arrepiei - quando entregávamos o livro, parecia que estávamos a passar a tocha olímpica ou algo de uma importância incrível, tal a comoção das pessoas que estavam à nossa frente. Foi incrível e valeu todas as horas de trabalho duro que todos nós, voluntários, passamos ali. Penso que é algo que nunca esquecerei.

Outra coisa incrível foi a interação com as pessoas - não só as centenas com quem falei na porta ou nas filas, enquanto distribuía comida, inquéritos ou simplesmente respondendo a questões - mas também com os outros voluntários. Senti a mesma coisa no barco: estamos num sítio onde ninguém nos conhece e podemos fazer reset em nós próprios, sem ter de gerir as expectativas dos outros ou de quem já espera e pensa certas coisas de nós. No fundo, perante pessoas e todo um mundo novo, podemos ser quem quisermos, reinventarmo-nos e "escolhermos" que pessoa somos e quem queremos ser, sem nada que nos prenda a tudo o resto. E essa sensação é espetacular. Posso ser a Carolina incrivelmente simpática que acho que normalmente não sou; posso ser a Carolina que está sempre a sorrir que não sou de certeza no dia-a-dia; posso ser uma versão light de mim, porque sei que aqueles tempos vão ser ligeiros e felizes e que os problemas só vêm depois, e aí já posso ser quem sou habitualmente. 

Apesar da confusão e dos milhares de pessoas, do trabalho quase abusivo e de alguma ingratidão que possamos ter sentido, acho que é uma noite que nunca esquecerei e que sei que não poderia ter vivido de outra forma (porque não iria lá apenas como "espectadora" normal). Foi mágico, tal e qual como o (nosso) Harry Potter.

 

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