Assim nasce uma estrela e se consagra outra
Só os mais antigos aqui no blog (ou se calhar ninguém... é o mais provável) se lembrarão que em tempos eu fui uma grande fã da Lady Gaga - de tal forma que fará em Dezembro oito anos que a fui ver ao antigo Pavilhão Atlântico (ah, belos tempos em que este tipo de espaços não tinham nomes de marcas!). Hoje em dia continuo a gostar dela mas estou longe de seguir o seu trabalho como fazia na altura, em que ouvia todas as músicas e via todos os seus outfits estrambólicos. Acho-a uma artista completa, com "A" grande, e por isso não podia perder este momento que, acho eu, será um marco importante na sua carreira: o "A Star is Born".
Confesso que não foi só por ela que fui ao cinema (coisa que não fazia há tantos meses)! O facto do Bradley Cooper ser o responsável pela direção do filme só fez com que tivesse ainda mais vontade de ir, e não me arrependi. Nem sequer sei o que me prendeu mais ao ecrã: se a prestação dela se a arte dele. Ia escrever esta frase dizendo que não sabia o que me surpreendeu mais - mas a verdade é que não saí surpreendida; fui com as expectativas altas, esperava muito de ambos, e nenhum me desiludiu. Mas, a ter que escolher, realçava-o a ele: que não só desempenhou brilhantemente o seu papel - e o que ele canta! -, como tem claramente um olho espetacular para estar por detrás da câmara.
Nos últimos anos - na verdade, desde que fui realizadora num programa de televisão da minha faculdade - comecei a prestar muita atenção aos ângulos, àquilo que se via e não se via quando a câmara apontava para um determinado sítio, à beleza não só da cena em si mas também da forma como ela nos é apresentada. De tal maneira que nos últimos tempos tenho filmado e editado vários vídeos, porque é uma arte que cada vez mais me apaixona, principalmente pela forma natural como tudo se forma na minha cabeça: quando vou no carro a ouvir rádio e me apercebo que é aquela música que vai ter de servir de pano de fundo, quando olho para o perfil de alguém e sei que vou ter de o apanhar naquela perspetiva, quando se forma uma sequência de imagens na minha cabeça que eu sei que tenho de respeitar.
Por isso, ver todos os pontos de vista que o Bradley Cooper "desenhou" para nos contar esta história soube-me a um rebuçado bem doce. Não é uma realização linear: os planos são muito pensado e bem criados. Ora temos grandes close-ups da cara, ora temos uma visão completa de uma divisão; ora vemos a Gaga de perfil, ora vemos ambos de costas. Mas nada disto é gratuito: tudo tem uma intenção, onde moram pequenos pormenores que fazem por ser vistos, mas que para quem estiver absorvido pela história do filme podem passar despercebidos. Destaco, por exemplo, todas as cenas em cima do palco, que têm algo de mágico - no movimento, na cor, na intensidade do som. Agora é esperar para ver o que o Bradley faz a seguir.
A história retrata um bocadinho daquilo que está por detrás do estrelato: o sucesso repentino de alguém (que acontece, ainda para mais hoje, com todos estes fenómenos virais) em contraste com a queda de uma estrela, aliada ao álcool e às drogas (que, infelizmente, também é o pão nosso de cada dia). Fala ainda da perda da identidade própria de um artista para poder agradar às massas, dos estragos que o mais pequeno detalhe pode fazer na carreira de alguém e, claro, de uma história de amor entre duas pessoas que estão em fases totalmente opostas das suas vidas. Acho que a Lady Gaga, provavelmente por já ter passado (e testemunhado) muitos destes processos, encaixa no papel de Ally que nem uma luva. Sobre os dotes musicais dela ninguém tinha dúvidas (e que belo soundtrack resultou deste filme!), e agora resta só saber o que virá a seguir: será que noutro filme que não retrate uma vida similar à dela (no sentido de uma carreira musical) ela se sairá tão bem? Eu acho que sim. Talvez tenha mesmo nascido uma estrela. A outra já existia, só passou a brilhar ainda mais.