Não pode haver verão sem pão com chouriço - !ajuda é necessária!
Num ano normal eu já estaria a fazer contas à vida, por entre calendários, planos de fim-de-semana e fins de tarde (que passariam dissimulados por "jantares ligeiros"). Já estaria a fazer reconhecimento no terreno, a programar onde estacionar nos dias de mais confusão. Já teria marcado na agenda os dias de começo e fins de festa - e agilizado até as minhas férias, qual gincana, de forma a poder ir passear e simultaneamente parar nas romarias e feiras medieval que existissem pelo caminho. Já estaria a salivar com antecedência.
A primeira semana de Julho marca o início dos meses-do-pão-com-chouriço do meu ano, que só terminam em meados de Setembro, com a última feira medieval que acontece nas redondezas. Durante dois meses o objetivo é trincar o maior número de pães com chouriço possível, e quiçá mistura-los com umas boas papinhas de sarrabulho e uns crepes recheados com doce de frutos vermelhos ou maçã com canela, feitos sob caldeirões de fogo.
Mas este ano não.
Este não não há papinhas de sarrabulho em bancos corridos. Não há crepes gigantes embrulhados em guardanapos de papel. E, mais do que tudo, não há pães com chouriço.
Eu não quero saber das tatuagens de hena, das barracas de gomas ou sequer dos doces conventuais. Não quero saber das banquinhas onde os árabes vendem perfumes e roupas inspiradas no deserto, dos brinquedos de madeira, das velas, dos incensos ou dos cheirinhos. Não quero saber da ginginha e nem sequer do copo de chocolate. Não quero saber da bijutaria arcaica nem dos nomes escritos em árabe. Não quero saber de farturas ou churros. Só para verem: já nem quero saber dos burrinhos, das cabras ou dos porquinhos! Na loucura, até dispenso as papas e os crepes.
Mas e os pães com chouriço? Como é que eu vou sobreviver sem trincar aquele pãozinho acabado de sair do forno, a fumegar como quem implora por ser comido? Como é que vou conseguir passar um verão sem sentir aquele calor a invadir a minha boca - e a minha alma! -, à medida que vou trincando aquela massa mal cozida? Como é que se faz um verão sem pão com chouriço? Mais: como é que se consegue ser feliz sem ter pão com chouriço à mistura?
Soluções como "há pão com chouriço à venda no Continente" não são aceites. Mais: são consideradas uma heresia! Quem compara uma coisa com outra não sabe distinguir o bom do mau; a realidade e a imitação. Não sabe o que é sentir a fuligem do forno de lenha na crosta do pão nem o cheirinho da gordura do chouriço deixada na sua massa. Diria que, quem diz ou acha tal coisa, não devia ter direito a papilas gustativas, pois não lhes sabe dar o devido valor.
Por isso, almas-caridosas-com-gostos-gastronómicos-decentes-que-não-se-contentam-com-coisas-de-supermercado, digam-me: onde é que, neste país, eu consigo encontrar aqueles pães com chouriço que se vendem nas romarias, principalmente o pão com chouriço do Marco de Canaveses? Na terra que lhe dá nome há alguma padaria que seja famosa por ter destas delícias à venda, sempre quentinhas e fresquinhas? Ou é tudo marketing para enganar esta velha alma gulosa? 2020 já está a ser mau o suficiente - e não poder comer nem um pãozinho com chouriço faria dele, sem dúvida, um ano para enterrar até à eternidade.
Ajudem!