É oficial: deixei outra vez de ser estudante
(ou um resumo da minha pós-graduação)
Já passaram quase dois meses do fim do meu curso, mas agora que já saíram todas as notas é que posso dizer, a alto e bom som, que ACABEI. E se há um ano estava stressada com o facto de voltar aos estudos e com medo de encontrar fantasmas do passado, hoje sinto-me mais completa e feliz. Por ter concluído o curso com sucesso - com média de 18, yupi! - e ultrapassado algumas barreiras e receios que tinha relativamente às matérias que ia abordar. Por ter conhecido pessoas que acrescentaram à minha vida - nomeadamente o meu colega do lado, que viria a tornar-se meu namorado. Por ter arrecadado ferramentas que sei que virão a ser úteis no meu futuro (e já no presente) enquanto empresária. Por ter aguentado todo o ano, a estudar e a fazer trabalhos consecutivamente, ao mesmo tempo que trabalhei na fábrica e a dei aulas de piano (incluindo sábados). E por, mesmo assim, ter conseguido manter uma vida relativamente normal, com os velhos hábitos que já me faziam feliz.
Não escondo o orgulho que sinto em mim própria por ter conseguido tudo isto.
Começando pelo início: escolhi tirar o Curso Geral de Gestão na Católica Porto Business School porque, de todos os planos que vi deste género - e sendo que procurava uma coisa muito prática e direcionada para aquilo que iria ser o meu futuro, a gestão das fábricas - me pareceu o mais completo. Por outro lado, era aquele que me pareceu mais terra a terra; eu não queria este curso para currículo, não precisava de ter professores XPTO e com nome na praça, nem cadeiras com nomes giros para florear o meu percurso. Eu queria mesmo aprender.
O curso leciona-se na Foz, no Edifício Américo Amorim (com umas condições ótimas) e consiste, normalmente, em duas aulas por semana, das 18:30h às 21:30h. Em determinados períodos somos obrigados a ir lá mais vezes, porque há seminários ou exames para fazer. Não há épocas de exames nem melhorias (recurso só em caso de chumbo ou falta de elementos de avaliação); a avaliação é feita ao longo de todo o ano, cada cadeira à sua maneira, por avaliação contínua (trabalhos) ou por exame, quando logo após o fim da disciplina. Por isso não há um período de estudo intensivo e outro de calmia - é sempre turbulento.
A heterogeneidade do grupo - éramos mais de 40 - era muito grande, o que tornava tudo mais interessante. Pessoas dos 20 aos 60, com formações em engenharia, direito, passando pelas letras, o desporto e até a música; alguns mais calados, outros claramente mais interventivos. E é giro ver que, independentemente do tempo que passou, pouco parece mudar desde os tempos de escola: formam-se sempre grupos, há sempre o palhaço da turma e aquele que passa a vida a reclamar. Isto apesar de todas as relações serem sempre muito cordiais, muito por culpa de todas as atividades que a faculdade organizou para que nos conhecessemos melhor (uma para quebrar o gelo no início e outras duas no fim, que só pecaram por não terem acontecido mais cedo). Até isso foi bom!
Mas vamos ao que interessa. Ao longo deste percurso foram várias as pessoas que me foram perguntando como é que estava a correr, se estava a gostar, como é que é e não é. Quem convive comigo dispensava algumas perguntas - bastava olhar para mim e perceber. O cansaço era evidente. E o muito trabalho consequente das aulas também.
Fazer um curso destes é, sem sombra de dúvida, um sacrifício. De sono, de tempo para a família e amigos, de coisas que gostávamos de fazer e para as quais já não temos espaço na agenda, de alguns fins-de-semana. Tudo. Se para mim foi difícil, imagino para todos aqueles - e eram muitos - que tinham um trabalho full time e filhos para criar. Expliquei muitas vezes que três horas de aulas, duas vezes por semana, se transformavam em muito mais que isso - porque esses dias estavam sempre condicionados por esse compromisso, por termos de sair com muita antecedência de casa para garantir que não chegávamos atrasados (eu saía uma hora antes), e porque todo o trabalho extra-aula se transformava em muito mais do que meia-dúzia de horas. Só conseguir coordenar com os nossos colegas para os trabalhos de grupo era uma complicação! Há que ter consciência disso tudo antes de nos inscrevermos; que, durante um ano, a gestão de tempo vai ser dura e que vamos ter de fazer sacrifícios se queremos ver as coisas feitas.
No que diz respeito ao plano curricular, é como tudo: gostei mais de umas coisas do que de outras. Há cadeiras que acho totalmente dispensáveis, professores com quem não simpatizei, e outros casos em que aconteceu precisamente o oposto; disciplinas de que gostei muito e que acho que deviam ser ainda mais exploradas e de professores que sinto que me ajudaram realmente a aprender. Uma coisa é certa: eu agora sei umas coisas daquilo que estou a fazer. Muito do conhecimento que adquiri é totalmente prático - e eu sinto-o no meu dia-a-dia, ora no entendimento da contabilidade da minha empresa ora quando preciso de fazer um mapa de tesouraria. Mas, acima de tudo, sinto que adquiri espírito crítico. Aprendemos sempre tudo tendo em mente que, provavelmente, não seremos nós a fazer aquelas coisas (pelo menos em empresas grandes não é o gestor que faz planos financeiros ou quem vigia a contabilidade) - mas tendo a plena noção de que temos de as perceber para que as coisas corram bem e não nos passem a perna. Porque, no final, é o gestor que decide - e quem decide é quem depois arca com as responsabilidades.
As matérias iam-se baseando umas nas outras; começávamos com cadeiras mais básicas (tipo cálculos de juro) e acabávamos com outras estilo previsão financeira ou análise de investimento, em que os conhecimentos adquiridos inicialmente eram basilares para a aprendizagem. Isto fez com que o fim do curso de tornasse particularmente pesado, com todos os cadeirões a pesarem-nos nos ombros numa altura em que já não tínhamos a força nem a vontade que havia no início. O final foi particularmente desgastante, com muitos trabalhos e exames, tudo seguido; chegou uma altura em que eu já só queria passar..!
Houve momentos em que senti as consequências de não ter um background de números, embora o curso seja construído para pessoas vindas de qualquer quadrante. Quando chegavam fórmulas e raciocínios lógicos mais difíceis nem sempre consegui apanhar à primeira - e era aí, em grande parte, que o efeito de pós-laboral se fazia sentir. Concentrarmo-nos depois de um dia de trabalho quando nos estão a tentar ensinar coisas que parecem árabe não é tarefa fácil. Houve alturas muito, muito difíceis, em que o sono e a vontade de ir para casa quase levavam a melhor. Acho, por isso, que é um curso mais fácil para quem vem das engenharias, habituado a lidar com excels e tudo o que mete números. Para além disso diria que é essencial ter já alguns conhecimentos sobre o mundo do trabalho - e ainda melhor se trabalharmos próximos dos gestores (ou se já o formos ou possuirmos uma empresa) e tivermos noção das suas tarefas, desafios e necessidades.
No final de contas (e, caramba, foram muitas!), faço um balanço positivo. Sim, é um sacrifício e um investimento (de tempo e de dinheiro), mas que compensa, principalmente se tivermos sempre em mente os nossos objetivos e soubermos ao certo porque é que estamos ali. Penso que não conseguia tirar este curso "na desportiva", como alguns dos meus colegas que lá estavam. Mas eu sabia ao certo porque é que ia. E agora é só fazer-me ao caminho.