Há um ano tive medo. Há um ano comecei a ser mais feliz.
Faz hoje um ano que me iniciei no maravilhoso mundo do trabalho (na altura ainda em regime de estágio) - e digo "maravilhoso" num misto de ironia com realidade. Cresci (e acho que crescemos todos) a ouvir cobras e lagartos sobre o mundo do trabalho; todos nos dizem para aproveitarmos os tempos de escola e de faculdade, que o que vem a seguir é muito pior, e acho que temos tendência a acreditar. Depois de vários anos de escola dolorosos e uma licenciatura também não muito prazerosa, vi a minha vida a andar para trás: se o que vinha a seguir era pior, eu estava tramada literalmente para o resto da vida. No entanto, e apesar dos "saberes das gentes", sempre acreditei que era a trabalhar que sou o melhor de mim. E acho que não me enganei.
Acho que o melhor elogio que posso fazer a este ano de trabalho (quer dizer, 9 meses de trabalho, porque ainda tive direito a férias de verão) é que foram poucos - mesmo muito poucos, provavelmente menos que os dedos de uma mão - os dias em que saí triste de qualquer um dos escritórios onde estive. Tive dias difíceis - os primeiros, por exemplo, doem sempre - mas os seguintes eram sempre melhores. Foram igualmente raros os dias em que acordei e não quis trabalhar, os dias em que fiz o caminho contrariada, os dias em que achei que não tinha nada para dar às entidades com quem trabalho. Errei algumas vezes - chorei quando cheguei a casa após o primeiro raspanete, com razão, que levei - mas acho que nós nos definimos pela forma como lhes damos a volta e pela honestidade e humildade com que os admitimos.
Sinto-me uma privilegiada - por tudo, tudo, tudo o que me rodeia. Logo à partida por ter trabalho e logo a seguir por gostar do trabalho que faço; por trabalhar com pessoas de quem gosto, por gostar do projeto em que estou inserida, por acreditar nele; por conseguir escrever, viajar, falar de moda e têxtil todos os dias, por poder vir almoçar a casa sempre que quero, por poder trabalhar na minha secretária ou na secretária dos outros, por não ter nada "meu" e ser tudo "nosso"; por, em apenas um ano, ter feito amigos (por esta não esperavam, hã?) e, mais do que isso, não ter feito inimigos (é isso que é difícil no mercado de trabalho, não é o que dizem?); por estar rodeada de muito mais pessoas de que gosto do que de pessoas de quem não gosto; por ter liberdade para fazer diferente e por ter dias diferentes todos os dias.
Sou uma sortuda. Nasci com sorte, mas tenho vindo a aprender que isso não é só genético: a sorte cria-se, luta-se, conquista-se; como tudo na vida, é também fruto do trabalho que fazemos ao longo do passar dos dias. E eu tenho feito muito por ela. Na última feira em que estive, já depois de Munique, várias pessoas passaram por mim e cumprimentaram-me pelo nome. A situação era tão embaraçosa quanto gratificante: porque a verdade é que eu não sabia a maioria dos nomes de quem me cumprimentava, mas eles (já) sabiam o meu. E, só isso, já é a vitória que procurava: é precisamente aquilo que vim para aqui fazer, o início do plano de vida que tracei para mim.
Sei que nem todos os anos vão ser assim, que nós andamos constantemente numa montanha russa puxada por alguém com um humor instável e, por vezes, dotado de um sadismo cruel. Ainda assim, é impossível não querer acordar todos os dias para saber o que o futuro me reserva. Se isto é o início de uma vida, então eu quero mais. Muito mais. Que ela venha.