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Entre Parêntesis

Tudo o que não digo em voz alta e mais umas tantas coisas.

18
Abr17

O fim da paz nas estradas portuguesas

Eu sei que esta época de férias é diabólica para os pais, que por sua vez acaba por ser diabólica para os avós (que eventualmente têm que ficar com os netos) ou até para os tios (que, quando é preciso, tomam o lugar dos avós). Eu agora não me posso queixar, porque este ano houve uma série de fatores que fizeram com que os meus sobrinhos não fossem lá parar a casa on a daily basis - e, de qualquer das formas, eu agora trabalho, portanto já não passaria o dia com as crianças de um lado para o outro.

Mas como trabalhadora que sou, sofro o drama diário de quem vai e vem para o trabalho todos os dias, inevitavelmente naquela hora terrível chamada "hora de ponta" - que é incrivelmente adensada por todas as crianças que vão para a escola com os pais. E nisto, desculpem-me os progenitores desesperados por não saberem onde deixar as crianças, mães que meteram férias e já estão por esta hora a arrancar cabelos, avós que já perderam a paciência há vinte anos atrás ou tias que simplesmente não nasceram para isso (sim, estou aqui a rever-me...) mas, para quem trabalha, estas duas semaninhas (e todas as outras que ainda hão de vir no verão) são assim o paraíso na terra. Não há filas, não há confusão, é sempre abrir até estacionar. Uma pequena maravilha.

Mas pronto, acho que hoje é oficialmente o fim da paz. Adeus estradas desimpedidas, adeus ruas de escolas sem trinta carros estacionados em segunda e terceira fila, adeus aos cinco minutinhos extra na cama! You will be missed! 

07
Abr17

Eu, fazedora de coisas terríveis de última hora, me confesso

Sempre fui uma miúda certinha mas nunca gostei de fazer os trabalhos de casa. É verdade e está na altura de confessar aqui os meus pecados. Às vezes, ainda na primária, dizia que me tinha esquecido do caderno nos TPC's quando, na verdade, tinha-me esquecido era da vontade de os fazer. Já mais tarde, adiavaaaaa a todo o custo faze-los até que dava por mim, arrependidíssima a altas horas da noite, a fazer os trabalhos de casa na cama. Chegou até a uma fase em que, consciente do mal que não fazer os trabalhos de casa me fazia, fiz um pacto com a minha colega de carteira: se eu não fizesse os trabalhos de casa de Português (na altura, uma das minhas piores disciplina - e sim, a vida dá muitas voltas) tinha de lhe comprar e dar um chocolate. Ora isto era mau porque 1) sempre fui forreta e não queria comprar chocolates para os outros e 2) porque eu queria mesmo muito comer os chocolates que comprava (achavam que isto da #lontra era de agora? Nã!). E admito: mesmo assim, cheguei a comprar chocolates para lhe dar em forma de consequência.

Isto para dizer que eu tenho a tendência terrível de deixar as coisas que mais me custam fazer para o fim. Como eu detestatava os TPS's adiava-os ad eternum, até não os fazer ou faze-los em cima do joelho. Hoje em dia, ao contrário do que acontecia por vezes nesses tempos, faço sempre as coisas - às vezes tenho crises terríveis antes de as fazer, choro e berro e arrependo-me de me ter comprometido - mas faço sempre. Faltar com a minha palavra é algo que não tolero. Mas lembro-me vivamente do meu irmão e da minha cunhada me tentarem evangelizar para o lado do bem ("faz primeiro os trabalhos de casa e depois vai brincar") e de eu, embora soubesse que era o correto, nunca levar esse lema de vida avante. 

Hoje percebo que faz parte do meu ADN - e não gosto, este stress ainda me mata um dia destes. Já na faculdade era a mesma coisa (embora o problema fosse ainda pior, porque era generalizado: eu não gostava de nada!). Tudo para o fim, um sufuco, privação de sono, ai-meu-deus que isto não vai dar, que vou fazer da minha vida, lá vou eu reprovar, faltam três minutos para o prazo de entrega e uff... entreguei. E depois tenho boa nota, porque trabalhar sobre pressão é claramente a minha cena. 

E agora no trabalho o filme repete-se. Todos os meses lançamos um jornal em papel, a cada mês eu tenho mais coisas para tratar, mais entrevistas para fazer, mais pessoas para ligar e... o caldo está entornado. Trato de tudo o que posso por email, tento sempre fazer a primeira abordagem por escrito... mas as pessoas não respondem e eu aí tenho mesmo de passar para essa arte antiga e terrível que é falar com os outros. Escrevo o que posso, mas fazer contactos é coisa para me custar tanto como ir à depilação - então se for com gente conhecida, que eu estou sempre à espera que me peça um chachet (que eu não tenho) em troca de umas meras palavras ou meia-dúzia de linhas, aí é que eu fico desesperada. E, claro está, deixo sempre para a última. 

A maioria das mulheres têm, durante o mês, aquela semana do demónio que é quando lhes vem o período (eu, por acaso, não sou exemplo); já eu também tenho uma semana de demónio que é quando estamos a fechar o jornal. Por outras palavras, é aquela semana em que eu me apercebo que quer queira, quer não, vou ter mesmooo de ligar a dezenas de pessoas para conseguir entregar o meu trabalho. Enfim. Agora percebo que devia ter dado ouvidos ao meu irmão e à minha cunhada. 

04
Fev17

Eu e as bolas, uma relação pouco feliz

Há uns dias fui buscar os meus sobrinhos ao colégio. A Clara estava no ginásio, onde tinha tido uma aula, e eu fui busca-la à ponta oposta do salão - tive por isso que passar, ainda que bem rente à parede, por todas aquelas bolas em pleno vôo na eminência de embaterem contra mim. Sim, porque é isso que as bolas fazem e sempre fizeram durante toda a minha vida - porque se acham que a gravidade puxa tudo e todos na direção do chão, estão enganados. Tal como todas as regras, esta também têm uma excepção: quando eu estou por perto, a força gravitacional das bolas não é em direção à terra mas sim à minha pessoa o que, como devem imaginar, é um bocadinho chato.

Desde que me lembro de existir que sofro com este drama. Aliás, educação física sempre foi O real drama da minha vida - aqueles 45 minutos ou hora e meia, duas vezes por semana, assemelhavam-se ao inferno na terra. Não sei contar a quantidade de vezes que caí, que falhei, que escorreguei, que apanhei com uma bola nas trombas: mas acreditem quando vos digo que foram mesmo muitas. Lembro-me de, no primeiro dia de aulas do sétimo ano - com professores novos, turma nova, numa escola nova - me esforcei tanto para me sair bem na corrida de estafetas que comecei a avançar com o corpo gradualmente para a frente, na esperança vã de correr mais rápido, até que me espetei contra o chão. Fui literalmente de cabeça, ao ponto de ficar com um olho negro. E isto foi só no primeiro dia do sétimo ano, por isso imaginem os anos mágicos que se seguiram.

Mas enfim, já passou. Lembro-me que mal saí daquela escola pela última vez, apesar de estar triste e das saudades durarem até hoje, o meu primeiro pensamento positivo foi "nunca mais na vida vou ter educação física!". E a verdade é que saí há quatro anos do secundário e sinto que no último ano a minha vida mudou totalmente - e eu obrigatoriamente com ela. Às vezes a vida dá tantas voltas que, de tão "ourados" que ficamos, nos esquecemos dos pequenos detalhes em que tudo está igual.

Naquele dia em que fui buscar a minha sobrinha ao ginásio da escola, entrei e cheirou-me logo a borracha; ouvi aquele som familiar das sapatilhas a escorregarem pelo chão e as quedas dos saltos mais aparatosos. E, claro, ouvi e vi as bolas a embaterem contra o chão, as paredes e as tabelas. E, caraças, naqueles segundos em que todo aquele ambiente me refrescou a memória e me lembrou dos velhos tempos, percebi que por muito que cresça... vou continuar sempre a ter medo de bolas.

15
Dez16

Sobre deixar de estar encalhada numa fase da vida

Nos tempos da faculdade a minha segunda casa passou a ser a baixa do Porto e eu, apesar de adorar a minha cidade, tinha muitas saudades do sítio da minha antiga escola e onde sempre fiz a minha vidinha. Na altura sentia que tudo estava perto - o supermercado, o restaurante, os correios, a papelaria, a escola de condução, o metro... enfim, mesmo que não tivesse tudo isto, aquele foi o sítio que me viu crescer e a minha segunda casa durante anos a fio, que já são razões suficientes para ter um lugar de estimação no meu coração. 

Nos meus três anos de faculdade o ginásio que frequentava era por ali e eu, apesar de não fazer ali a minha vida, ainda por lá ia andando - e de cada vez que passava em frente da minha escola suspirava, com saudades daqueles tempos. Dos recreios, dos meus colegas, dos meus professores. Tive fases muito más naquele espaço, sofri e chorei muito em algumas daquelas salas, mas a nossa memória encarrega-se de desvanecer as coisas menos positivas. Ainda para mais todos esses dramas foram vividos nos primeiros tempos naquele liceu e as coisas foram ficando melhores com o passar dos anos, culminando num 12º espetacular - e por isso, sempre que lá passava, reinavam as saudades e a nostalgia dos tempos que considerava terem sido os melhores da minha vida.

Agora já saí do ginásio onde estava mas, de vez em quando, vou passando por lá para fazer uns recados. E há dias, enquanto via aquele edifício azul e os grupinhos de mochilas às costas, chiclete na boca e uns risinhos aparvalhados, apercebi-me que sim, que ainda tenho saudades, mas não tantas como tinha antes. Já não olho para ali da mesma forma que olhava nos tempos da faculdade - que toda a gente sabe que foi, para mim, tudo menos um mar de rosas.

Não é que tenha deixado de gostar daquele espaço, dos meus professores ou dos meus colegas, mas aconteceu-me algo que nunca me tinha acontecido na vida: a fase (drástica) para a qual mudei é melhor do que a que conhecia anteriormente. Hoje em dia, pura e simplesmente, conheço uma realidade melhor, porque sou ainda mais feliz do que era naquele último ano de secundário. E no momento em que me apercebi disto, em que andava nas correrias habituais do meu dia-a-dia, só pude sorrir. É tão bom quando não ficamos encalhados em certos momentos da nossa vida e nos permitimos andar para a frente. Às vezes custa mais do que aqueles típicos vinte segundos de coragem... mas vale a pena. 

 

 

27
Mai16

Sobre a passagem do tempo

Hoje - o meu primeiro dia de férias daquelas que serão, provavelmente, as minhas últimas férias grandes - fui fazer uns recados, incluindo uma ida ao correio, que fica mesmo ao lado da minha escola secundária. Como de costume estava meio mundo dentro dos CCT - uma pessoa perde uma vida de cada vez que lá vai. Tinha vinte pessoas à minha frente e o que me sobrou foi tempo para ver o que me rodeava.

Pouco depois de eu ter entrado, entrou também um grupo de amigas que tinham claramente aproveitado o intervalo da escola para enviar qualquer coisa. Ficaram ali perto de mim e eu estive a reparar nelas, de calções curtinhos ou super skinny jeans, mochila pousada só num ombro mas, ainda assim, com o caderno de fora para mandar alguma pinta e uma maquilhagem mais perfeita do que eu alguma vez consegui fazer a mim mesma. Nos aspetos físicos eram diferentes de mim, mas as conversas delas fizeram-me retroceder no tempo. Falaram dos professores, das aulas, dos testes, dos dramas do tão afamado concurso de dança que sempre houve lá na escola - e, por fim, inventaram uma desculpa conjunta por chegarem atrasadas às aulas seguintes por estarem nos correios com meio mundo à frente delas (tal como eu estava). E nisso eram iguaizinhas a mim. No fundo, iguais a todos os estudantes do secundário.

E eu sinto que aquela realidade me é super próxima. Sempre que passo em frente à escola sinto que continua a ser a minha escola; espreito sempre para ver se estão professores à porta e sinto que aquele ainda não deixou de ser um mundo meu. Não sei porquê, mas a minha cabeça dá o salto automático desde o secundário para a fase em que estou agora, pré-mercado de trabalho, sem dar grande conta dos três anos da faculdade. De tal forma que, quando me perguntam que idade tenho, disparo automaticamente "18". E isto não aconteceu uma ou duas vezes: acontece sempre. O meu cérebro parou ali e acho que também por isso continuo a achar que só saí da escola o ano passado e que tudo continua igual a sempre.

É difícil acreditar como as coisas passam tão rápido. Como há decisões que custam tanto a tomar, como nos dói e como sofremos e, depois de tomadas, a vida avança como se nada fosse até à próxima etapa, cheia de novas e difíceis decisões pelo caminho. Sinto que foi há um par de dias que saí de lá com a mala no ombro, sem carta de condução e à espera da boleia do meu pai para me levar a casa; e agora estou a uma cadeira de terminar a faculdade e com um posto de trabalho à minha espera em Setembro. É assustador.

 

 

19
Abr16

Uma decisão pouco estratégica de que não me arrependo

Se há pessoa que ouve os pais sou eu. Tenho mesmo muito em conta as opiniões deles - embora possa argumentar e refilar, tudo o que eles me dizem fica em "fermentação" cá dentro e muitas vezes acaba por evoluir para uma opinião que coincide com a deles ou, pelo menos, se aproxima àquilo que eles acham.

Que eu me lembre, de todas as grandes decisões que tive de fazer na vida, só fui contra as indicações deles uma vez: no 11º ano, quando abandonei as ciências e tecnologias e passei para línguas e humanidades. Nesse caso, tomei a decisão contra a vontade deles e de 90% das pessoas que me rodeavam - foi provavelmente a maior luta que tive até hoje, também por levar as suas opiniões tão a sério. Ao contrário do que sempre tentei fazer, mudar de curso não foi uma decisão estratégica, não foi uma decisão a médio/longo prazo, com olhos postos no futuro; foi um dos raros momentos em que disse "logo se vê", "seja o que deus quiser", "é aquilo que sinto que devo fazer". 

E fiz. E ainda hoje não me arrependo - mas sinto que é uma decisão que, ainda assim, me persegue. E isso é das coisas que, de certa forma, me magoa. Porque passo os dias a ouvir pessoas a dizerem-me para aproveitar a vida, para viver o dia porque não se sabe o que vem amanhã, para levar a vida com descontração sem pensar demasiado no futuro. Tudo coisas que eu, pela minha personalidade, sou praticamente incapaz de fazer - mas nos poucos momentos em que sinto que o fiz, quando fiz aquilo que o meu coração dizia e deixei um bocadinho a racionalidade de lado, sou criticada.

Apesar de sempre ter crescido com a ideia de querer continuar os negócios da família, na altura em que mudei de curso, a situação era bem diferente da de agora - e não me apetecia ter quatro anos de sofrimento pela frente só para jogar pelo seguro. E isso fez com que o 12º ano fosse um dos melhores anos da minha vida - e sem dúvida o melhor que passei na escola - e que escolhesse um curso multidisciplinar, que apesar de não aprofundar muita coisa e de não ser a área de especialidade que devo exercer pela minha vida fora, me deu ferramentas essenciais e momentos que não esquecerei. 

E por isso, independentemente de todos os olhares e perguntas julgatórias como "se sabias que tinhas de gerir uma empresa porquê que seguiste jornalismo!?", eu vou levar a minha avante. Tomei a decisão certa, na altura em que precisava de a tomar; foi tomada mais com coração do que com a cabeça, num desespero latente, mas correu-me bem - independentemente do que venha a seguir na minha vida para emendar esse "erro". E sim, erro entre aspas, porque para mim não se trata disso: foi apenas uma fase da minha vida que precisei de viver, de experimentar, de tentar e de conhecer. E de que, repito, não me arrependo nem um segundo.

20
Fev16

Miúda de 95 44#

"Hoje é dia de tomar flúor!"

 

Estou, neste preciso momento, a comer um rebuçado. Talvez este "pequeno" pormenor ajude a perceber a razão pela qual me lembrei de uma recordação de infância, guardada bem nos recônditos da minha memória. Então e qual é essa memória? Os gloriosos dias em que, no primeiro ciclo e em filinha indiana, íamos todos em direção ao lavatório da nossa sala de aula e bochechávamos flúor.

É engraçado como, com o passar dos anos, olhamos para estas recordações com carinho - porque eu lembro-me muito bem de detestar o dia em que a professora se lembrava de nos dar aquele líquido cor-de-rosa e com mau sabor para nós bochecharmos. Sabia mal, cheirava a produto de dentista e era um martírio saber que tinha mesmo de fazer aquilo. Se bem me recordo, tomávamos o flúor uma vez por mês e todos fazíamos figas para que a professora se esquecesse e deixasse passar uma sessão. (In)Felizmente para nós, acho que era coisa que não acontecia muito.

Não sei se, de facto, essa técnica funcionava ou se tais práticas ainda se mantém, mas gosto de acreditar que pelo menos parte da minha (boa) saúde dentária se deve à minha professora. Avé ao flúor!

27
Set15

De volta à primária (ou quase)

Este fim-de-semana os meus colegas da primária decidiram juntar-se para tomar um café e estarmos juntos, depois de tantos anos sem nos vermos. Fomos poucos (acho que não chegamos a dez, quando na nossa turma éramos cerca de vinte e cinco), mas mesmo assim não perdeu a piada.

A verdade é que já mal me recordo de quem era da minha turma - lembro-me de praticamente de todos mas já está tudo confuso na minha cabeça: não sei quem foi da primária, do básico e quem continuou comigo no secundário - porque foram sempre ficando alguns, outros desapareceram de vez e outros ainda os reencontrei nos últimos anos de escola depois de vários anos de ausência. Dei por mim a ir ver fotos antigas para verificar se estávamos todos no evento do facebook, de tão perdida que estava.

É engraçado pensar que passamos quatro anos com aquelas pessoas (aliás, no meu caso foi mais, porque ficamos quase todos juntos até ao sexto ano) - que até considerávamos amigos na altura e com quem tínhamos alguma intimidade - e depois o corte foi tão grande que, agora, até parece estranho estarmos todos à conversa. Dei por mim a não saber bem o que perguntar para além daquela conversa de treta que temos sempre com quem não sabemos do que falar: "então e a faculdade?", "então e ainda andas com a outra?", "como vai a tua irmã?". E depois de tudo respondido, restam-nos as coisas que ainda temos em comum: o passado.

A certa altura parecíamos um bando de velhos a rirmo-nos de peripécias que aconteceram há dez anos atrás (e eu acabei de fazer uma pausa para fazer esta conta dolorosa - estou velha!): dos casamentos, em que um colega era o padre, onde havia alianças de papel de prata, véus feitos com pano que eu trazia da fábrica e onde o copo de água tinha iguarias e bebidas tão boas como terra misturada com água; de quando nos vestimos de legumes para o carnaval; de quando fomos fazer húngaros e pão a uma pastelaria ali próxima. Enfim! Tanta coisa! E é incrível como eu me lembro de muitos pormenores - talvez até mais do que no básico.

Resumo da história: foi giro, estranho (o mais estranho de tudo foi mesmo ouvir as vozes dos rapazes - completa e totalmente diferentes, parecia que estava a ouvir uma voz do além - estranhamento grossa - num corpo que me era conhecido) e onde houve promessas de um jantar no futuro, com a nossa professora incluída. A ver vamos.

03
Set15

Regresso às aulas

Há um par de dias fui ao Staples comprar uns tinteiros com o meu pai e, mal entrei, fui envolvida por aquele cheirinho de papel e material escolar que sempre me acompanhou nos dias antes de ir para a escola.

Lembro-me bem da ansiedade de ir comprar as coisas - não a mochila, que não mudei assim tantas vezes como isso, mas dos cadernos pretos - que decorava em casa, todos os anos, com pinturas e colagens-, dos lápis, das canetas e das borrachas. Era um ritual que adorava. E sempre, sempre acompanhado por aquele cheiro característico do papel, misturado com o das mochilas e estojos a estrear.

Há um par de dias fui ao Staples e cheirou-me a regresso às aulas. E, para além do cheiro, inundaram-me as saudades.

14
Mai15

O bullying não é algo que se esqueça

Não sou uma "maria-vai-com-as-outras" e, por isso, tento evitar ao máximo comentar assuntos que explodem por aí nas redes sociais, durante um par de dias, e depois se esquecem. Mas, neste caso, e porque não quero que se esqueça - porque eu nunca esqueço - escrevo aqui.

Se me perguntarem qual o acontecimento mais negativo que mais me aconteceu na vida, na minha cabeça surge um episódio de bullying que tive há uns anos. Imediatamente. Foi um acontecimento - senão O acontecimento - muito marcante na minha vida. Lembro-me do dia, lembro-me do sítio, lembro-me do medo, lembro-me de quase tudo. E lembro-me dos meses a seguir, em que continuava a sentir tudo isso, sempre com o coração nas mãos e as lágrimas à porta dos olhos, sempre a sentir aquela pressão psicológica em cima mal ele punha os olhos em mim, como quem sabe bem o que fez (e o que destruiu). Acho que me lembro até demais - de tanto ter pensado nisso, acho que já acredito em alguns pormenores que nem existiram. 

Foi algo que me moldou como ninguém sabe. Sinto que toda a gente à minha volta desvalorizou o sucedido - e ainda o faz. Mas eu sofria. Sofria todos os dias, a partir do momento em que acordava e sabia que tinha de ir para a escola. E não era medo: era terror. Tudo aquilo me parecia de um filme de terror - daqueles que, precisamente, nunca gostei de ver -, ao ponto de me beliscar para acordar de uma realidade que não queria que fosse a minha. Tinha 13 anos - e apesar de crescida para a idade que tinha, estava longe de ter maturidade para lidar com as ameaças e pressões psicológicas de que fui alvo. Fiz sempre frente, fiz sempre queixa, mas isso não ajudou a que o medo passasse. Pelo contrário, temia a reação - e o posterior cumprimento da ameaça que tinha sido feita. 

Quando vi parte daquele vídeo, todas estas imagens, guardadas numa gaveta que fecho bem dentro de mim, refrescaram-se na minha memória. Vi-o por apenas uns segundos, para perceber do que se tratava - nem por sombras o consegui ver até ao fim. Tenho pena do rapaz - hoje completamente exposto, quando se calhar as feridas (as da alma) já começavam a sarar. Apetece-me dizer-lhe que as cicatrizes ficam, mas que tudo passa. Que vai ficar bem. Que, pelo menos, e graças a alguém parvo que filmou esta cena triste, esta realidade possa ter inundado o espaço público por uns dias - uns míseros dias, tendo em conta a atenção que deveria ser dada a este tipo de tema e que só vê a luz do dia quando coisas destas (e piores) acontecem (porque, aliás, já escrevi dois textos sobre esta temática - que podem ler aqui e aqui).

Por tudo o que passei, o bullying não me passa ao lado. Não é uma questão que digira, que perdoe ou que só me lembre quando toda a gente fala dela. Não é algo que esqueça. Nunca. Sempre que ouço histórias como a deste rapaz, a servir de saco de boxe a um bando de miúdas fracas e frustradas, o meu estômago encolhe-se, o meu coração acelera e tenho uma súbita vontade de vomitar. Quase como no dia em que ouvi as palavras "vais ser esfaqueada" atrás de mim e soube que podia ser verdade.

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