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Entre Parêntesis

Tudo o que não digo em voz alta e mais umas tantas coisas.

20
Set22

O enraizar de um hábito

A primeira foto que tenho de um pós-treino no meu telefone foi tirada no dia 20 de Setembro de 2021 - faz por isso hoje, precisamente, um ano. Aqui há dias, enquanto suava a minha alma em cima da bicicleta, pensei que estaria a fazer um ano da primeira vez que tinha subido para cima daquele selim - e, quando fui vasculhar os arquivos, percebi que era hoje.

Foi o Miguel, claro está, que me instou a experimentar. Era Setembro, época de recomeços - e particularmente especial para nós, com o papo cheio das férias e de ressaca após meio ano de uma preparação de casamento particularmente stressante - e estávamos ambos algo desagradados com a nossa forma física. Ele já tinha arrancado no seu processo e eu morria um bocadinho de cada vez que o via em cima da bicicleta, a pingar como uma torneira, deixando ali todas as quilocalorias que queria matar. Eu sentia-me muito frustrada e triste porque não tinha força de vontade para aquilo, porque não queria voltar para o inferno de um ginásio mas não sabia o que havia de fazer; no passado tínhamos feito treinos estilo cardio em casa, mas passado uns meses os joelhos queixavam-se e os resultados não eram tão visíveis como o desejado, pelo que também não tinha o ímpeto necessário para começar. Continuávamos a jogar padel, já de forma mais consistente, mas muito longe de alcançar qualquer meta visível.

Ele ia insistindo comigo para subir para a bicicleta. Um dia, dois, três. Um sábado lá me deu a volta - emprestou-me uns calções de ciclismo velhinhos e cronometrou quinze minutos. Eu pedalei, sem peso e sem rumo e, com os bofes de fora, fiz o esforço de chegar até ao fim do tempo acordado. No fim, festejou comigo por eu ter pedalado durante aquele quarto de hora como se tivesse acabado de fazer um Iron Man (eu sei, tenho sorte no marido que escolhi). 

Apesar das dores no rabo, não achei que aquilo fosse assim tão mau. E segunda-feira - porque nós temos a mania que os inícios devem ser sempre às segundas - comecei a minha mudança. Nos primeiros dias fiz 20 minutos, depois 25 e fixei-me na meia hora dali em diante. Inicialmente ia mexendo no peso da bicicleta de forma mais ao menor arbitrária, gerindo as dores nas pernas e a respiração. Em Dezembro o Miguel - outra vez ele, claro - ofereceu-me um smartwatch que, honestamente, fez toda a diferença nesta fase da minha vida. Criou-me metas, deu-me métricas para me guiar. Ainda hoje saio derrotada de uma semana em que não faça cinco vezes algum tipo de exercício (nem que seja uma caminhada de quinze minutos); já sei que estive demasiado parada e sentada se não cumprir com a meta dos 10 mil passos diários e que um treino teve um rendimento mais baixinho se não atingir a média das 200 calorias. Foi, mesmo, o melhor investimento que ele podia ter feito por mim, pela minha saúde e pela minha motivação. Tenho lá a minha vida ativa registada e adoro a política do envio de notificações motivacionais ("só faltam mais dois dias de treino para atingir o seu objetivo!", "mais dois mil passos e chega à sua meta diária!", "ganhou o badge não-sei-quantos por ter subido mil degraus num só dia - as suas pernas são melhores que um elevador topo de gama!") que, por muito  parvo que pareça, funciona na perfeição.

No início do ano, creio eu, comecei a fazer treinos do Youtube (do canal do GCN) - assim não pedalo em vão, tenho uma sequência e um objetivo. Descobri que aquilo que melhor funciona comigo são treinos de intervalos e intensidade - e agora que já os sei quase de cor, alterno simplesmente o peso que ponho na bicicleta e aumento e diminuo a velocidade consoante aquilo que me sentir capaz naquele dia. Se no início utilizava só metade da roda do peso (180º), algures a meio deste ano passei a utilizar 270º - sempre sentada. Apesar de haver segmentos que se faziam em pé, não tinha pernas para aquilo. Até que há uns dois meses consegui - e agora já ultrapasso os 360º quando estou de pé e me obrigo a dar à perna. Estas evoluções foram vividas com muita alegria, ânimo e festejo - porque são realmente vitórias impressionantes para alguém que nunca gostou de fazer exercício e que tanto sofreu com isso ao longo dos anos. Na verdade, cada treino é tido como uma vitória - e em todos tiro uma foto para registo e mando para o Miguel, a pessoa que mais me motivou a conseguir e chegar até aqui.

Foi uma evolução feita com calma e passo a passo - não sou (nem nunca fui) de testar os limites do corpo. Se calhar até teria evoluído mais rápido se tivesse puxado a corda e provado a mim mesma que era capaz - mas também é provável que tivesse desistido rapidamente com as dores do dia seguinte e com o esforço mental que era necessário para me arrastar para a bicicleta todas as manhãs. Porque a verdade é que, nos primeiros tempos, não havia hormonas que me safassem - era penoso ir para a bicicleta, sair da bicicleta e, de uma forma geral, sobreviver ao resto do dia (e subir as escadas para o meu escritório? Parecia uma velhinha!). Continuei por pura teimosia e por querer consolidar um hábito e não por me sentir bem antes, durante ou depois do treino - acho que ainda hoje, um ano depois, as endorfinas não funcionam comigo. Agora, com o hábito enraizado, subo para a bicicleta por medo: por medo de engordar e por medo de perder um hábito que, de facto, só me trouxe saúde.

Os primeiros a notar as diferenças foram os outros - para mim, eu estava igual. Mas a minha capacidade de fazer arranques enquanto jogava padel e de conseguir chegar, finalmente!, às bolas mais perto da rede começaram a tornar mais óbvio que a minha forma física estava a melhorar - isso e umas pernas mais delgadinhas, como nunca antes tive. O emagrecimento só veio depois. Atingi o meu pico de peso em Novembro, quando já treinava - na altura estava a tentar emagrecer só com exercício e não sei até que ponto é que não fiquei mais pesada, precisamente, por estar a ganhar massa muscular. Como disse no último post, foi em pouco mais de três meses que perdi quase dez quilos - mas a verdade é que já andava a preparar o corpo e a mudar os meus hábitos nos seis meses anteriores, o que foi indispensável para aquele processo. 

Não sei muito sobre a criação de hábitos mas creio que um ano já é o suficiente para dizermos que um hábito está enraizado. Mas isto é como a confiança: demora-se anos a ganhar mas segundos a perder. Passei as minhas férias aterrorizada, com medo de não conseguir voltar à cadência de treinos que tinha conquistado. A rigidez com que vivi o segundo trimestre deste ano, com uma dieta muito restritiva e a treinar seis vezes por semana, era demasiada para uma vida social minimamente ativa e para um dia-a-dia relaxado, mas a verdade é que depois do impacto inicial (que foi duríssimo) o nosso corpo se habitua; difícil é depois encontrar um meio termo. A manutenção é o segredo de qualquer dieta bem sucedida, mas é também a parte mais difícil - porque mal começamos a dar ao corpo aquilo que ele gosta (nomeadamente calorias a mais e o rabo alapado no sofá), ele não quer outra coisa. Quanto mais comemos, mais queremos comer; quanto mais dormimos, mais queremos dormir. Às vezes temos a tendência de nos "fazermos as vontades", de ouvirmos o nosso corpo - aquilo que é tantas vezes necessário em inúmeros casos - mas caímos em erro, continuando determinados ciclos que deviam ser quebrados.

Mas apesar dos meus medos, consegui voltar ao meu regime de exercício com bastante facilidade. Já voltei a planear os meus treinos no início da semana (faço sempre um plano mental, à segunda-feira, para saber os dias em que faço bicicleta tendo em conta a minha disponibilidade matinal e os dias em que vamos jogar padel) e o resto dos hábitos continuam: ponho o treino do GCN no tablet, uma série no telemóvel, ativo o treino no relógio e pedalo - tudo de manhã, se possível ainda antes das 8h. Já cheguei a treinar ao final da tarde, mas só mesmo se for estritamente necessário - a minha força anímica esvai-se durante o dia com todo o stress e problemas do trabalho, pelo que dificilmente conseguiria enraizar um hábito destes ao final da tarde, entre a obrigação de fazer tarefas domésticas e as oscilações de humor e energia que dependem do decorrer do dia. Para além disso, desde há uns meses para cá que tento fazer um ou dois treinos de braços (musculação) por semana, para complementar o cycling (e o padel), uma vez que estou a dar muito mais atenção aos braços do que às pernas.

Duzentos e tal treinos depois, cá estamos - mais magra e mais saudável (noto menos cansaço no final de tarefas que puxam pelo corpo, por exemplo) mas, acima de tudo, muito orgulhosa de mim. Eu não sou só alguém que nunca gostou de fazer desporto - sou, ainda hoje, alguém com marcas profundas ganhas na escola e ginásios alheios, que me magoaram profundamente. São cicatrizes que, levianamente, tentamos pôr para trás das costas e deixar de dar importância, mas que não deixam de ser um peso só porque as escondemos e menosprezamos. Conseguir manter um hábito destes durante um ano é uma superação muito mais mental do que física. Ter encontrado um desporto que não me mata por dentro, sem ter olhos alheios postos em mim que sirvam de ponto de referência ou comparação foi uma lufada de ar fresco que nunca antes tinha sentido e a solução para um problema que achei que não era solúvel. Que dure muitos mais anos e que eu saiba equilibrá-lo com estilo de vida saudável - e que nunca, nunca mais tenha de pôr os pés num ginásio.

 

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26
Abr22

Algumas considerações sobre estes dois meses em que não escrevi

1. Na verdade, escrevi, mas ainda não publiquei: tenho o post sobre as Maldivas a marinar há semanas, mas há uma inércia qualquer que me impede de o terminar. Vou tentar dar a volta à questão o mais rápido que conseguir.

2. Apanhei Covid, na altura em que já não está na moda ter Covid - foi o meu marido que trouxe o bicho para casa (por isso, apesar de ter apanhado, sinto que estou isenta de culpas) mas passamos os dois muito bem. Na verdade, sinto que estava a precisar daquela pausa para parar com uma rotina que me estava a desgastar há uns longos meses. Foi bom para pôr a casa em ordem, fazer arrumações a fundo que iam sendo adiadas ad eternum e descansar. 

3. Foi também óptimo para cumprir escrupulosamente com a dieta, que comecei seriamente no início de Março. O Miguel alinhou comigo neste regime e tem sido muito mais fácil fazer isto com um parceiro do que a solo: primeiro porque as refeições estão sempre alinhadas e eu não tenho de resistir ao vê-lo comer batatas fritas ou coisas do género; segundo porque temos sempre uma vozinha que nos ajuda a não desistir, mesmo nos dias em que a tentação de pecar é muita; e terceiro porque quase entramos em espírito de competição, ao estilo "quem consegue chegar aos 60kg em primeiro". Do meu lado, tendo em conta o peso que atingi no final do ano passado, já consegui dizer adeus a cinco quilos. Para além da dieta, tenho feito exercício cinco vezes por semana, em média (o que, tendo em conta que estamos a falar de mim, é uma completa LOUCURA!). E não parei durante o Covid! Foi sempre a pedalar - o que resultou, provavelmente, na melhor semana de sempre na nossa dieta, apesar de estarmos fechados em casa.

4. Fiz 27 anos, o que me faz estar tão perto dos 30 como dos 25. Estou um bocadinho assustada.

5. Voltei a ler. Estou tão, tão, tão contente com isto! Li três livros nos últimos dois meses - um mais técnico, um romance e um de banda desenhada (o primeiro de toda a minha vida) - e agora só quero que isto pegue para conseguir voltar a agarrar este hábito. Mais tarde coloco aqui as minhas reviews e falarei de uma das táticas que me fez voltar a ler. Oxalá conseguisse alguma para voltar a escrever com regularidade...

6. Apareci na televisão, numa reportagem sobre a minha fábrica, cujo resultado final gostei mesmo muito! Se tiverem curiosidade em conhecer um pouco do processo de tecelagem e do local onde trabalho, podem ver o programa aqui. A reportagem começa no minuto 1 e tem uma segunda parte, que surge por volta dos 11:45min. 

7. Dois anos depois, voltei a tocar piano num recital. Foi tudo muito bonito até ao momento em que me sentei no piano de cauda do estúdio, para tocar o Canon in D do Pachabel; mas quando me deparo com o teclado, os meus dedos fizeram um bailado nunca antes visto. Tendo em conta tudo isto, e sabendo que o difícil naquela situação era acertar nas teclas, a coisa até nem correu muito mal - mas, na verdade, podia ter saído muito melhor. Toco muito menos do que tocava antes e perdi o hábito de atuar em público. Mais uma coisa a trabalhar nos tempos vindouros... Ate lá, vou ver se gravo uma versão decente e sem nervos para partilhar.

8. Já tenho férias marcadas - whowooooo! Foi uma decisão que demorou a ser tomada, mas já está - agora não dá para "des-decidir". Por muito que goste do nosso país, sinto uma "fome" enorme de mundo e quero muito colmatar estes dois anos de privação e aproveitar estes tempos com o Miguel. Mais uma vez a escolha recaiu sobre um cruzeiro que passará por Itália, Grécia e Malta. Nunca fui à Grécia, por isso será o "check" deste ano.

9. E custe o que custar, venha o que vier, eu sei que terei de voltar a escrever. Há dias, aquando da marcação do cruzeiro, tive uma dúvida sobre um dos sítios onde parámos numa das viagens anteriores e voltei atrás nos meus posts. E estava tudo lá, com detalhe e precisão, de tal forma que quase me permite viajar de novo, ainda que sentada no meu lugar. E nesse momento pensei, e soube, que tenho mesmo de continuar a fazer isto: não só roteiros e crónicas de viagem, mas escrever de uma forma geral. Tenho saudades - mas elas não compram horas extra no meu dia, não arrumam a casa nem fazem a sopa. Passaram-se três anos de namoro e ainda não consegui reorganizar a minha vida com todas as "novas" rotinas e hábitos - mas ainda não perdi a esperança. Tenho saudades - e, no fundo, espero que também tenham saudades minhas.

 

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31
Jan22

A vida é uma estranha bola de neve

Um update sobre a minha vida: dieta, trabalho, desporto e um super-relógio

Há cerca de um ano e meio fui à nutricionista porque achei que estava a ficar com peso a mais e eu não estava a conseguir emagrecer sozinha. Na altura resultou, passei dos quase 67 quilos para uns felizes 61 e segui contente da vida, com o objetivo de manter. Entretanto fiquei noiva, 2021 não chegou para brincar e eu voltei a sair dos eixos. Ainda fui a consultas aí pelo meio, para ver se a pressão de uma balança que não a de casa e o compromisso com outra pessoa funcionaria, mas nem isso fez com que eu conseguisse privar-me de certas coisas e obrigar-me a outras. Valores mais altos se levantavam.

Em Outubro, quando a vida acalmou, voltei à carga. Entre o tempo da marcação da consulta e a própria ida ao médico, vi a minha vida profissional ser abalada por um tremor de terra que mexeu muito com os alicerces da fábrica. A calmia durou dias. De qualquer das formas fui à consulta - já andava a fazer um esforço para emagrecer, a treinar pelo menos três vezes por semana e com um olho forte sob a minha alimentação (fiz um diário alimentar e tudo) mas, mais uma vez, nada resultava. Perante tudo aquilo que tinha apontado e tendo em conta tudo o que andava a fazer, a solução era só uma: cortar com todos os pequenos erros, com os deslizes e os pecadinhos que se iam cometendo para consolar a alma. 

Ainda tentei, mas não consegui durante muito tempo - entretanto, com o Natal à mistura, mais difícil tudo isto se tornou. Sei que é na privação que está a capacidade de atingir o meu objetivo - em muitas dietas não é nem deve ser, mas no meu caso e com o meu metabolismo, não há grande volta a dar - mas eu não estou em época de me privar de algo que me dê alento. Comer emocionalmente é mau, mas há alturas em que é a das poucas coisas que restam para nos aquecer o coração e a alma. Estou numa fase tão estranha e rara que sou capaz de comer uma tablete de chocolate num só dia (eu, que normalmente como um quadrado de chocolate por mês, se tanto), por isso nem vale a pena tentar fazer grandes negociações, pois sei que serão em vão. 

Este tipo de processos são complicados, pois são autênticas bolas de neve. Já estamos tristes por um acontecimento exterior e pior ficamos por não conseguirmos alcançar um objetivo a que nos auto-propusemos. Depois entra a auto-sabotagem ("perdida por dez, perdida por mil - vou comer a tablete de chocolate inteira!"), que levam a uma tristeza e uma frustração ainda maiores, que não compensam o prazer de termos comido o que quer que seja. E as coisas vão-se arrastando, piorando, dilacerando-nos por dentro. 

O trabalho sempre foi para mim uma força motriz, onde eu alicerçava os meus maiores objetivos e esperanças. Quando era mais nova e achava que ia ficar solteira para sempre, imaginava que a vertente profissional seria o pilar principal e moldador da minha vida, que seria uma trabalhadora nata, que o trabalho seria o alimento da minha alma; hoje, ainda que os meus planos se tenham alterado e a família tenha passado para primeiríssimo lugar na minha lista de prioridades, o trabalho continua a ser preponderante na minha vontade de viver, de sair da cama e fazer mais, de ver um projeto meu crescer. Mas tive azar na altura em que fiquei com a fábrica e o contexto nunca esteve a meu favor. Por muito que se goste e que se queira fazer mais, há alturas em que o desânimo e a desmotivação tomam o controle - e aquilo que aprendi nos últimos tempos é que embora devamos lutar contra isso, também devemos ser tolerantes para connosco. Não estamos sempre bem nem podemos querer estar sempre bem - e isso faz parte, porque não controlamos tudo à nossa volta. E, nessas alturas, não podendo mudar aquilo que nos provoca dor, podemos tentar mudar nós. Somos altamente adaptativos, mesmo quando achamos que não. E a verdade é que não é preciso alterar muito para às vezes acontecerem coisas que antes acharíamos inacreditáveis. 

Como não conseguia emagrecer e como a minha vida profissional também não me está a dar abébias (muito pelo contrário...), surgiu naturalmente um dos objetivos mais estranhos na história da minha vida: fazer desporto cinco vezes por semana. Quando fui à nutricionista já estava a treinar cerca de três a quatro vezes por semana, num duo entre alimentação e desporto que já achava hercúleo da minha parte. Hoje, não estando a apostar em cortes na alimentação, pus as fichas no desporto, e tem sido um desafio semanal com direito a suor e lágrimas mas, acima de tudo, de muita superação. Porque não estou focada nos resultados - e ainda bem, porque emagrecimento nem vê-lo - mas sim no facto de estar a conseguir cumprir algo que para mim seria impossível. Intercalo entre o spinning e o padel (o primeiro faço em casa, normalmente de manhã, e com muito esforço; o segundo já encaro mais como um divertimento e convívio) e controlo tudo no meu super relógio - algo que nunca pensei que ajudasse tanto neste processo.

O smartwatch (Versa 3, para quem quiser saber o modelo) foi uma prenda de Natal do meu marido, e apesar de ser um presente incrível, é daqueles assim meio envenenados. No fundo funciona como aqueles vernizes para deixar de roer as unhas: têm um sabor amargo mas o objetivo é bom. Porque por um lado o relógio é chato e controlador - queixa-se logo quando não me mexo durante uma hora e é pior que uma vizinha cusca, sabendo quantas horas durmo, quantos passos ando, quantos pisos subo, quantas calorias queimo, o oxigénio que tenho no sangue - e, se lhe der trela, até quer saber detalhes sobre o que como, o que bebo, sobre o meu ciclo menstrual e estados de stress. Admira-me, na verdade, não ter interesse sobre xixis, cocós e outras coisas igualmente íntimas - mas acredito que lá chegaremos! Por outro lado regista todos os exercícios e avanços que faço, quantas calorias perco e o meu nível de esforço, fazendo-me querer ir mais além e criando um histórico que não engana. De cada vez que penso que não sou capaz é só ir à aplicação e ver que na segunda-feira fiz isto, na terça fiz aquilo, e que continuo cá para contar a história.

A vida, de facto, dá voltas muito estranhas. Nunca achei que fosse beber inspiração e força no desporto mas, à falta de melhor, aqui estamos nós. A lutar para ficar à superfície - e, para isso, a definir novas metas quando as que tínhamos se vêem impraticáveis. A mostrar que somos capazes, mesmo em áreas que nunca achamos ser possíveis. E a trabalhar em novos hábitos, que podem manter-se em alturas de maior estabilidade. E nessa altura sim, talvez consiga perder o peso, a anca e a barriga que acho que tenho a mais. Uma coisa de cada vez. Até lá, o horizonte é sempre a tona da água.

 

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25
Out20

Eu e o desporto: o que vai para além de uma má relação

É triste andar para trás nos arquivos desde blog - e já são nove anos de memórias -, selecionar as tags "desporto" e "educação física" e perceber que o elo comum em quase todos os posts é a desistência. Não se pode deixar de ver o lado da tentativa, claro - foram muitas as resoluções de ano novo (ou os números deprimentes na balança) que resultaram em inscrições em ginásios e outras experiências; mas saber que tudo isso culminou sempre num fracasso não é uma sensação feliz.

Gostava de estar num lugar de paz em relação a esse assunto, mas não estou. O meu namoro trouxe ao de cima muita coisa que estava escondida em mim, no que diz respeito à atividade física. Tenho a sorte de ter ao meu lado um homem multi-facetado e que, neste caso, é o oposto de mim: é ótimo em tudo o que é desporto e gosta de o praticar. Para meu bem tem-me tentado afastar da nuvem negra que me acompanha neste campo, incentivando-me, ensinando-me com uma paciência e um amor como nunca ninguém tinha feito até aqui; chega ao ponto de entender o meu sofrimento, mesmo não o percebendo.

E se por um lado este esforço tem tido alguns resultados, por outro faz vir ao de cima muita coisa que tinha guardada. Há memórias que surgem do nada, enquanto tento lidar com a frustração de não conseguir fazer um serviço de jeito no padel ou de não conseguir levantar um peso nos workouts que de vez em quando faço em casa.

Lembro-me de quando se sentavam em cima de mim, forçando os meus músculos e articulações a esticarem-se ao máximo de forma a fazer a espargata (devido a uma ideia infeliz da minha irmã - embora bem intencionada - de me inscrever na ginástica acrobática).

Lembro-me de uma professora de educação física me chamar para um teste prático de ginástica (se a memória não me falha) e, como introdução, dizer "lá vem aí o desastre".

Lembro-me de na primeira aula de educação física do sétimo ano, de forma a tentar não prejudicar a minha equipa com as minhas fracas capacidades físicas, me esforçar tanto para correr e dar a estafeta ao colega mais próximo que caí, de cara direta ao chão e de forma tão desamparada que fiquei com um olho negro.

Lembro-me do que senti - a humilhação, a sensação de que o tempo não passava - quando, também no sétimo ano, a minha professora de dança propôs apresentarmos o nosso nome em forma de dança - no centro do pavilhão, com todos os colegas a assistir. Foi talvez a única vez em que amaldiçoei o meu nome. Porque não me chamar "Ana", "Rita" ou "Eva"? Porquê que o meu nome tinha de ter oito letras e eu não saber "escrevê-lo" em modo de dança?

Lembro-me do vaticínio de ficar sempre em último quando os professores davam a liberdade dos colegas escolherem as equipas na aulas de educação física.

Lembro-me de não ter par - porque todos escolhiam outros - e de ter de fazer os exercícios com o professor.

Lembro-me de ser a última a completar o "mega quilómetro" - a prova em que tínhamos de fazer um quilómetro no menor tempo possível - e de ter os meus colegas, com ar de frete de quem já está à espera há muito tempo, a olhar para mim enquanto cruzava a meta. 

Lembro-me de não aguentar um minuto em prancha e, por minha causa (em modo "um por todos e todos por um"), sermos todos obrigados a repetir a sequência de exercícios que já tínhamos terminado até ali.

Lembro-me da minha primeira e última aula de step, num ginásio, em que numa "aula básica" dei um tombo tal no soalho flutuante, depois de tropeçar naquele degrau do demónio, que parecia que tinha acabado de cair um meteoro em plena sala.

Lembro-me do stress e do pânico de ir para as aulas com o PT - algo que ainda hoje não gosto sequer de recordar. Lembro-me de ele me dizer que tinha de aguentar com aquela barra nas costas, que era a mais leve, e que a única alternativa era fazer o exercício sem nada (e da vergonha que isso me fez sentir). Lembro-me de só querer chorar, de ter vontade de vomitar. E de desaparecer, de uma forma geral.

Há uns tempos, a propósito do padel, que de vez em quando "tento jogar" - e a propósito de uma frase em que, obviamente, me auto-criticava -, uma amiga minha perguntou-me, admirada, se eu ainda tinha esta panca em relação ao desporto. Eu disse que sim - e, em modo brincadeira, acrescentei que isto só ia lá com terapia. Não é algo que tenha vontade de fazer (nem ache pertinente nesta altura da minha vida) mas, como diz o ditado, a brincar é que se dizem as verdades. E eu sinto que, mesmo sem ser num especialista, a terapia está a ser feita.

Tem sido este esforço que tenho feito em conjunto com o meu namorado - e a aposta incrível que ele tem feito em mim, um trabalho muito mais psicológico do que físico. E, como tal, tem envolvido uma mistura de sentimentos difícil de gerir - e muito choro, muita frustração, muitas gavetas de memórias que surgem do nada e que eu não queria abrir. É por ele que este ainda não é um post de desistência. E é por ele que, de vez em quando, ainda vou tentando.

Nesta fase, mais do que bater na bola, os desafios são outros. Não consigo tolerar o peso de uma equipa nos meus ombros; jogar a pares, como é o caso do padel, é muito difícil para mim, porque tenho a perfeita noção de que a minha inaptidão prejudica o meu colega de equipa - e mesmo sendo ele família, é algo com que não consigo lidar bem. Não consigo jogar tendo plateia a olhar para mim - e, por plateia, entende-se inclusivamente o par que está do outro lado da rede (que também é família). Não consigo ser competitiva - porque, neste campo, a vida me ensinou a perder - mas também não gosto que me forcem a querer jogar mais, atiçando-me, porque isso não me dá vontade de contra-atacar, mas sim de desistir. Eu não entro em nenhum desporto com a ambição de ganhar. Tentar, só por si, é uma vitória. E dentro da vitória vivem-se dentro de mim batalhas muito duras, difíceis de descrever por palavras, que duvido que algum dia se dissipem na totalidade.

Sinto que na altura em que tentava frequentar ginásios e via as minhas desistências como simples desistências - e as pessoas iam sugerindo outras coisas, e dizendo que não era assim tão mau e mandando alguns bitaites - eu não via a questão com a abrangência e profundidade que ela merecia. Eu estava só no início da escavação do buraco, quando na verdade ali existe uma cratera.

Um dia, ao ler um post no facebook de uma pessoa conhecida que falava também das suas memórias tristes em educação física, da pressão e incompreensão dos professores, da sensação de ser deixada para trás e gozada pelos colegas, eu percebi que não era a única. Não sei se na altura lhe chamou trauma, mas eu subentendi-o. E, olhando para tudo o que escrevi - e para o que tenho meditado sobre o assunto nos últimos meses - acho que o partilho. 

Estou no caminho de aceitar as minhas desistências todas ao longo destes anos - e, lá está, de tentar olhar para elas como tentativas. Estou a tentar perceber que, de facto, aqueles pequenos atos e vergonhas que passei em miúda - que sempre tentei desvalorizar, assim como todos à minha volta - deixaram uma mossa que não achei possível. E estou, aos poucos e com alguém que me compreende, que puxa por mim mas não desmesuradamente, a curar as feridas profundas que hoje percebo que tenho. Quer consiga ou não, sei, por certo, que ficarão cicatrizes. E - longe da vitimização - não me permitirei mais desvalorizá-las.

04
Jun18

Mais um dia na luta

Acho que corria o mês de Janeiro quando voltei ao ginásio. No último post que escrevi sobre o assunto (algures em Outubro do ano passado), terminei com a frase "se isto sobreviver ao Natal, sou uma mulher feliz." Pois que não durou. Lá para o fim de Novembro, quando me meti no meu projeto Natalício, larguei (quase) tudo para me dedicar a isso, e o ginásio foi uma das coisas condenadas. O resultado não foi bom: nesse mês, de tanto estar sentada e parada, engordei perto de quatro quilos. Por azar, tinha uma consulta na nutricionista do ginásio poucos dias antes do Natal, onde constatei esse facto (o peso), que até aí desconhecia. A rapariga não foi branda - muito pelo contrário, achei-a rude e com muito pouco jeito para abordar uma questão que todos os nutricionistas deviam saber ser sensível - e eu fiquei em choque.

Tenho sorte em muitas coisas na vida, mas esta não é uma delas. Não tenho uma boa genética, nem um bom metabolismo; uso a comida como conforto em momentos de maior stress e gosto muito pouco de cenas verdes e hiper saudáveis; as dietas comigo só resultam se forem levadas ao extremo ou com auxílios externos; e o gosto de fazer desporto não está no meu ADN. Isto tudo é um mix perigoso, até porque basta olhar para a minha linha genealógica para ver o possível resultado (que é grande, se é que me entendem). E eu tenho pânico de ficar assim. Sofro com isso constantemente e todos os dias me olho ao espelho e penso que nunca me posso desleixar até aquele ponto. Mas, por outro lado, sei que o desleixo não tem de ser grande - basta "um bocadinho assim" para as coisas saírem dos eixos. Bastou um mês embrenhada num projeto para ganhar quatro quilos no lombo.

Então em Janeiro tentei controlar a boca e atirei-me ao ginásio. Quanto à primeira parte, é um caso difícil: o meu pecado tem um nome e chama-se "pão", que é provavelmente o alimento que eu mais gosto na vida. Para além disso, como doces esporadicamente (ainda que, dentro do conceito do esporádico, talvez mais vezes do que devia). Mas não bebo álcool, não tenho night cravings, não ponho açúcar no chá (e não bebo café, onde aí sim, preciso de açúcar) e portanto fica difícil cortar nessas coisas básicas, uma vez que não existem. Quanto ao ginásio, foi uma vitória: fiz um grupinho com alguns membros da minha família e lá íamos nós, tias e primas da vida airada, suar as estopinhas para uma aula qualquer onde tínhamos de saltar para cima de caixas (eu não salto, subo, porque tenho muito amor aos meus dentes), fazer burpees a toda a hora e coisas que tais. Comecei a fazer calo. Caraças, nunca fiquei tão orgulhosa de um calo! Achei mesmo que isto ia de vento em pôpa, já me sentia bem mais confiante.

Porque a questão aqui está no equilíbrio. Eu não sou obcecada pelo meu peso - mas tenho claramente uma panca com aquilo que vejo ao espelho e nas fotos (que nem sequer sei dizer se é, ou não, uma visão real e fidedigna daquilo que eu sou). Isto quer dizer que se eu estiver mais pesada mas visivelmente mais magra e/ou tonificada, é na boa; não é o peso que me importa. Para além disso, trata-se também de tentar fazer uma boa gestão de expectativas. Há uns anos para cá, sempre que me inscrevia no ginásio sonhava com o corpo perfeito: (acrescentar aqui tuuuudooo o que detesto no meu corpo e que gostava de mudar, mas que não vou escrever porque isso ocuparia uma folha A4 inteira). Depois, quando eventualmente desistia e me via praticamente igual, era uma desilusão. E quando comecei esta empreitada, fi-lo consciente de que não ia nunca ter o corpo que sempre quis. Só queria melhorar um bocadinho, naquilo que fosse possível - embora isto já seja admitir quase uma derrota à partida. Mas a verdade é que à medida que vamos fazendo e nos vamos entusiasmando, até pensamos "se calhar até consigo aniquilar aquele músculo do adeus". E as expectativas vão aumentando. Lembro-me bem de sentir a minha auto-motivação durante as aulas, de estar a sofrer horrores, de chegar ao ponto de querer chorar, e de pensar que ia conseguir olhar para uma foto na praia e não ter vergonha de mim mesma. E por isso continuava, até ficar mais vermelha que nem um tomate, a deitar os bofes de fora e de em alguns casos até me sentir a cair para o lado. A levantar pesos, mesmo sabendo que os meus trapézios estavam a gritar por socorro; a ter dores horríveis nos dias seguintes, a lidar com as contraturas nas costas diariamente, ao ponto ir fazer uma massagem para me aliviar a pressão (e quem me conhece sabe que, para eu ir fazer uma massagem, é preciso muito). Caraças, houve uma aula em que saí feliz, contente e satisfeita! Foram uns três meses nisto. Até ao dia.

Começou com uma amigdalite chata, meia gripe, que me deitou abaixo e me deixou sem forças. Depois meteram-se umas complicações no trabalho, que resultaram em horários mais alargados. E, nisto, foi-se o hábito, foi-se o grupo, foi-se tudo. Voltaram os medos. A vergonha. O pânico de ficar disforme, de não caber na roupa. A auto-depreciação. E, pá, eu sou muito boa nisso. Chateio a única pessoa que me ouve (a minha pobre mãe, cansadinha das minhas pancadas), choro as pedras da calçada. Não sei se somos donos do nosso próprio destino, mas sei que temos algo a dizer sobre ele - e eu estou sempre num limbo, entre aceitar que sou assim e de querer mudar a toda a força. Até porque há coisas que eu sei que não mudam (pelo menos sem bisturis pelo meio), porque fazem parte de nós: não há como deixar de ter uma anca larga, uma perna grossa. Mas ter de aceitar essas e querer mudar as outras é um meio termo difícil de alcançar. E mais difícil ainda é o caminho que é preciso percorrer para chegar a qualquer uma delas.

Na altura daquela polémica da Carolina Patrocínio, que andava a subir escadas no ginásio dois dias antes da filha nascer e que depois apareceu linda na sala de partos, eu tinha um post escrito mentalmente para aqui colocar. A primeira coisa que eu lá tinha era uma palavra de apoio à minha homónima, porque também eu gostava de me sentir bonita naquele que dizem ser um dos dias mais felizes na vida de qualquer pessoa; e a segunda é que tenho uma inveja horrível da força da vontade e motivação daquela mulher. E quem diz Carolina Patrocínio diz, por exemplo, Isabel Silva. Lá terão os seus defeitos, mas caraças, acordam com as galinhas para ir treinar, fazem instastories pelo meio e ainda saem de lá felizes. Quem me dera a mim ter metade dessa força.

Ainda assim, continuo a tentar. Um mês e meio de sedentarismo depois, hoje voltei ao ginásio. Este post era só mesmo para assinalar isso.

12
Out17

Ir ao ginásio é uma autêntica montanha-russa

Eu admiro profundamente quem vai ao ginásio e gosta. Porque ter a força de vontade de ir ao ginásio de forma regular já é algo louvável, mas gostar de lá ir é todo um outro nível. E sim, fala-vos a voz da inveja. Porque embora eu não tenha grande vontade de ir ao ginásio, lá vou aparecendo... mas gostar de lá ir é algo que eu queria mesmo ser capaz. Queria tanto, tanto, tanto sair de lá e dizer "uf, mal posso esperar por cá vir amanhã!". Mas não é isso que acontece.

Não é possível explicar os meus sentimentos em relação a este espaço de uma forma sucinta. Numa só hora eu passo por uma série de estados emocionais, que não fazem de mim uma bipolar mas sim algo parecido com uma tripolar, quadripolar ou, até talvez, pentapolar. Quando entro, apesar de ter pouca vontade, vou esperançosa; quando começa a aula e eu percebo que até consigo fazer os exercícios e estou cheia de energia, sobe em mim todo um entusiasmo exagerado e durante vinte e dois segundos passam pela minha cabeça coisas utópicas como "é este ano que eu vou ficar em forma!" ou "isto está a correr mesmo muito bem"; depois as minhas pernas começam a tremer como varas verdes e eu começo a vacilar, a sentir que não sou capaz, e na escala emocional eu já estou num seis em dez, algo pouco positivo; entretanto chega aquele exercício que já repetimos quatro vezes, que tem vindo a aumentar de dificuldade, e eu já não consigo mesmo mais e sou obrigada a parar - e eu detesto parar, mostrar parte fraca - e a escala emocional começa a subir por ali acima e eu só quero chorar por não conseguir; a cinco minutos do fim, quando o professor diz "só faltam mais duas séries!", todo entusiasmado enquanto eu já escorro suor pelas orelhas e estou mais vermelha que um tomate maduro, só quero atirar-me para o chão como uma criança birrenta e perguntar "porquê que o tempo não passa? como é que eu me meti nisto? porquê que eu voltei a fazer esta aula?!"; só quando saio do ginásio, ainda com as hormonas e as emoções aos saltos, é que penso "ao menos já posso comer mais um bocadinho" e a coisa ameniza. 

Sei que o que me dá força para continuar é, de facto, a ideia de poder comer e não me sentir balofa - e ter um gym buddy, a minha tia, que me dá força para ir a estas aulas do demónio, que eu só faria uma vez na vida se alguém não me convencesse a voltar. Para além de que eu tenho uma característica que detesto - e que até me assusta - bastante: se me olhar ao espelho depois de ir ao ginásio, acho que a imagem que vejo é muito mais simpática do que num dia que não vá ou, pior, em que tenha feito não sei quantas asneiras alimentares ao longo do dia. E eu sei que isto é psicológico, porque as diferenças não são imediatas, e porque eu sou relativamente estável a todos os níveis: peso (mais do que queria), flacidez (claramente demasiada) e forma física (de uma fora geral: lontra).

Mas enfim, fico sinceramente orgulhosa de mim por, apesar desta autêntica montanha russa de sentimentos, continuar a ir. Acho que ainda não tinha dado a boa nova sobre o meu retorno (ou, pelo menos, tentativa) à vida saudável - que, para além do ginásio, inclui até marmitas ao lanche, a minha maçã cozida, proteínas sem hidratos ao jantar e essas coisas todas -, e estou a empenhar-me seriamente para fazer disto a rotina e não a excepção. Lembro-me perfeitamente de que o ano em que me senti melhor, a todos os níveis (tanto físico como psicológico), foi quando fazia exercício e tinha mão na minha alimentação, por isso estou a fazer um esforço para voltar - tendo em conta que a minha tentativa o ano passado, no ginásio perto do trabalho, foi um flop mais do que gigante (ao ponto de eu até ter vergonha de o mencionar ou sequer de o lembrar...).

Entretanto, ter o bullet journal também tem sido um incentivo: uma das minhas métricas é a contabilidade das idas ao ginásio, por isso é giro (e bom) monitorizar quando lá vou. É fácil perceber quando me baldei (e recriminar-me por isso) ou então ver semanas onde me empenhei (e ficar feliz). Acho que para quem é como eu, é uma boa dica para não faltarem. E pronto, vamos ver até quando dura a boa vontade e a vida de lontra não vem ao de cima. Se isto sobreviver ao Natal, sou uma mulher feliz.

23
Abr17

O problema de sempre

Chateia-me escrever este post, porque sinto que me estou a repetir. Ainda que por outras palavras, já o escrevi: e de cada vez que o escrevo, é quase o admitir de mais uma derrota. Mas há coisas na vida que são tão constantes como a nossa sombra - nunca desaparecem e nunca saem da nossa beira e esta é uma delas: a péssima relação que tenho com o meu corpo.

No que a isto diz respeito, vivo constantemente numa relação precária e instável: e tem pouco que ver com os números da balança ou até daquilo que se reflete no espelho. O problema é mesmo aquilo que o meu cérebro processa quando vê a imagem do meu corpo refletida, que depende não do meu peso, mas do meu estado de humor, da quantidade de exercício que fiz nos últimos tempos e daquilo que eu comi. Consigo perceber, racionalmente, que não tenho o corpo que queria; mas também sei que há muitos momentos em que me acho gorda e sei que não o estou. Simplesmente não estou como quero ou como me desejo.

Outra coisa que aprendi nos últimos anos é que não vou chegar, nunca, a ter esse corpo: mesmo que me apaixonasse subitamente pelo exercício físico, por saladas, super alimentos e coisas que tais. Porque o corpo que desejamos nunca é o corpo que temos. De qualquer das formas, a questão nem se põem: eu não consigo gostar de ir ao ginásio, de fazer exercício. E eu juro que já tentei! Passei uma fase mais estável aqui há uns anos, mas desde que o meu ginásio fechou, nunca mais consegui estabilizar; o outro onde andei era longe de casa, em dias de trânsito demorava meia hora a lá chegar e a situação tornou-se incomportável. Com este, fiz uma escolha errada: preferi escolher um mais perto do trabalho, com um horário de aulas que inicialmente me parecia apetecível, mas que acaba por não funcionar com o tipo de trabalho que tenho e a pouca força de vontade que me move. Para além de que comecei com o pé esquerdo, com umas aulas de PT que continuo a preferir nem sequer me lembrar. Infelizmente trata-se de um ginásio com fidelização e o meu dinheiro continua a voar sem eu lá pôr os pés há meses e sem encontrar grande solução à vista ou vontade de voltar.

O que é estúpido, porque quando estamos descontentes com uma coisa o mais lógico é lutarmos para contornar essa situação. O problema - no meio de tantos outros - é eu detestar o ginásio quase tanto como detesto os defeitos do corpo que me carrega a alma. É eu ter vergonha de ser aquela que se atrapalha sempre a fazer tudo, é eu ter vergonha de não conseguir pegar num peso mais alto enquanto toda a turma pega naquilo com o mindinho, é eu ter medo de cair do step (como já caí), é eu não gostar que olhem para mim nem mesmo quando é para me corrigirem posições corporais, é eu ter vergonha de ser a primeira a desistir de um exercício porque já não aguento mais. O problema são muitos pequenos problemas, que são autênticas bolas de neve.

E não adianta dizerem que nos ginásios cada um olha por si, e que não faz mal em ser trapalhona e fraquinha e tudo mais: porque eu posso ser neurótica, mas sinto-me sempre observada. E, enquanto observada, mais fraca. Fragilizada. Sinto-me no meu pior, ali. Mas também não vale a pena afirmarem que eu estou óptima, porque eu sei que não estou - e, acima de tudo, sinto que não estou.

Aos meses que ando nisto, a tentar desfazer os nós deste novelo que me consome a alma e que anda com a minha auto-estima de arrasto pelo chão: ao ponto de querer que chegue o bom tempo, mas não ter a mínima vontade de pôr dentro de um vestido ou de um fato de banho. Sinto que já disse demasiadas vezes "é agora", sem nunca conseguir avançar significativamente: e por isso é que este post é o admitir de mais um falhanço. Tenho vergonha. Mas pior do que ter vergonha, é olhar para o baralho de cartas que disponho à minha frente e não ver grandes jogadas para onde me mover e ganhar o jogo. É pensar: "ou tens uma injeção de força de vontade para saíres daqui ou deixas-te ficar" - e não quereres nem uma, nem outra. É a escolha entre o conforto do comodismo e da infelicidade ou da motivação, das dores, dos possíveis dias maus, dos metros longe da zona de conforto e dos potenciais resultados. É escolher sempre por um caminho que nunca vai saber bem: ou pelo fim ou pelo meio para atingir o fim. 

04
Fev17

Eu e as bolas, uma relação pouco feliz

Há uns dias fui buscar os meus sobrinhos ao colégio. A Clara estava no ginásio, onde tinha tido uma aula, e eu fui busca-la à ponta oposta do salão - tive por isso que passar, ainda que bem rente à parede, por todas aquelas bolas em pleno vôo na eminência de embaterem contra mim. Sim, porque é isso que as bolas fazem e sempre fizeram durante toda a minha vida - porque se acham que a gravidade puxa tudo e todos na direção do chão, estão enganados. Tal como todas as regras, esta também têm uma excepção: quando eu estou por perto, a força gravitacional das bolas não é em direção à terra mas sim à minha pessoa o que, como devem imaginar, é um bocadinho chato.

Desde que me lembro de existir que sofro com este drama. Aliás, educação física sempre foi O real drama da minha vida - aqueles 45 minutos ou hora e meia, duas vezes por semana, assemelhavam-se ao inferno na terra. Não sei contar a quantidade de vezes que caí, que falhei, que escorreguei, que apanhei com uma bola nas trombas: mas acreditem quando vos digo que foram mesmo muitas. Lembro-me de, no primeiro dia de aulas do sétimo ano - com professores novos, turma nova, numa escola nova - me esforcei tanto para me sair bem na corrida de estafetas que comecei a avançar com o corpo gradualmente para a frente, na esperança vã de correr mais rápido, até que me espetei contra o chão. Fui literalmente de cabeça, ao ponto de ficar com um olho negro. E isto foi só no primeiro dia do sétimo ano, por isso imaginem os anos mágicos que se seguiram.

Mas enfim, já passou. Lembro-me que mal saí daquela escola pela última vez, apesar de estar triste e das saudades durarem até hoje, o meu primeiro pensamento positivo foi "nunca mais na vida vou ter educação física!". E a verdade é que saí há quatro anos do secundário e sinto que no último ano a minha vida mudou totalmente - e eu obrigatoriamente com ela. Às vezes a vida dá tantas voltas que, de tão "ourados" que ficamos, nos esquecemos dos pequenos detalhes em que tudo está igual.

Naquele dia em que fui buscar a minha sobrinha ao ginásio da escola, entrei e cheirou-me logo a borracha; ouvi aquele som familiar das sapatilhas a escorregarem pelo chão e as quedas dos saltos mais aparatosos. E, claro, ouvi e vi as bolas a embaterem contra o chão, as paredes e as tabelas. E, caraças, naqueles segundos em que todo aquele ambiente me refrescou a memória e me lembrou dos velhos tempos, percebi que por muito que cresça... vou continuar sempre a ter medo de bolas.

17
Nov16

Adeus PT!

Ahhh, quinta-feira, esse dia maravilhoso em que tenho treino com o PT! Foi hoje. E foi o último, que eu fiz questão de - a meio da aula, esbaforida, frustrada, irritada e tudo mais - lhe dizer que para a semana não podia contar comigo. Andei a semana toda a remoer isto. As minhas olheiras? Foi do que não dormi enquanto andava às voltas na cama, enquanto pensava em como descalçar esta bota. A minha ansiedade? Exatamente pela mesma razão.

Eu não sou uma desistente. Detesto desistir do que quer que seja, custa-me muito dar parte fraca, baixar os braços e dizer "não consigo". E apesar de na semana passada tudo o que eu quis fazer, em todos os minutos daquele treino, foi dizer "chega", obriguei-me a continuar. Esforcei-me muito para, durante estes dias, ter uma atitude positiva em relação ao próximo PT - ou, pelo menos, não pensar no assunto. Mas o nível de desconforto e a frustração que sinto nos treinos supera qualquer tipo de orgulho próprio e eu percebi que toda esta questão estava a mexer comigo mais do que era suposto.

Se por um lado evito desistir, porque se há rótulo que não quero ter em cima de mim é o de desistente, por outro tinha de pôr as coisas na balança e perceber se os níveis de ansiedade que estava a atingir compensavam tudo isto. E a resposta foi fácil: não, não compensa. Estou numa fase maravilhosa da minha vida, em que gosto do que faço, em que supero barreiras todos os dias, em que me orgulho de mim mesma e trabalho para tudo o que conquisto. Este é dos poucos momentos, até hoje, em que acordo feliz por acordar e com vontade de derrubar tudo o que me apareça à frente e conquistar o mundo. Mas tudo isso desapareceu esta semana, porque tinha ali um drama num determinado dia da semana que eu não estava a conseguir saltar e que me arruinava os dias, por eu não ver nenhuma solução que me agradasse: ou parava e era uma desistente, uma #lontra para a eternidade, ou continuava, em prol de um corpo que provavelmente nunca vou ter, prolongando este desconforto e ansiedade por tempo indeterminado.

Custou-me afirmar que não ia mais, mas aproveitei um momento de explosão da minha parte para dizer tudo o que precisava. Sei que tudo isto remonta a muitos problemas que tenho e tive: eu sempre fui um desastre a educação física, sempre fui gozada, sempre fui a última ser a escolhida para as equipas, sempre fui a menina que fica no banco de substituição, sempre fui aquela que fica com o professor porque não tem par ou que fica num trio, a "incomodar" os outros dois. Estas "brincadeiras" deixam marcas - e não são superficiais. E acho que, também por isto, me custa ter alguém a supervisionar-me quando estou a fazer algo em que sempre fui péssima - e que está sempre a apontar-me erros, sempre a esperar mais de mim. Porque a verdade é que eu estou sempre a falhar, sempre a não conseguir, sempre a cair, sempre a não levantar. Numa só hora, dou por mim a bater em murros consecutivos - ultrapasso os primeiros mas chego ao fim exausta, sem conseguir ultrapassar nem mais um. E isto reflete-se tanto física como psicologicamente: as pernas tremem-me tanto que eu não me consigo sequer equilibrar, as posições já são tão "frágeis" que um só toque serve para eu cair; e eu saio perfeitamente derrotada, com a mentalidade de que não consigo fazer nada da minha vida.

Ninguém pode dizer que não tentei - tentei por pouco tempo, mas tentei. Não pus um pé fora da minha zona de conforto: dei um triplo salto. E sim, saí fora da caixa, não aterrei bem. Talvez não fosse o PT certo ou o timing correto. Mas esta vida é feita de escolhas e elas decorrem muitas vezes das prioridades de cada um. Sei que o "sonho" de um corpo (um pouco mais) perfeito e de um postura correta volta a ser adiado, se calhar até para sempre, porque não será de ânimo leve que me meto noutra. Mas não há nenhuma barriga lisa ou glúteo definido que valha tamanha ansiedade e desconforto como o que senti nestes treinos. 

10
Nov16

E então como correu o treino com o PT?

Olhem, foi do demónio e eu só pensava em como preferia ser gorda para o resto da vida. Saí do ginásio arrasada, tanto física (não conseguia descer sequer as escadas) como psicologicamente. É claro que não esperava maravilhas, muito menos no primeiro treino - tentei nem sequer pensar no assunto para não stressar, porque sei que se me pusesse a pensar muito acabaria por recuar - mas foi ainda pior do que esperava.

Foi duro fisicamente porque eu estou em péssima forma física - mesmo quando não estou, nunca faço treino funcional, pelo que é sempre difícil para mim. O problema é que aqui, ao contrário da aulas de grupo em que não temos sempre uma pessoa a olhar para nós, não podemos pôr um joelho à socapa no chão quando já não aguentamos mais estar em prancha; não podemos fazer só uma repetição enquanto os outros fazem duas só por o professor estar a olhar para o outro lado. Por isso, sempre que não aguentamos mais, é como admitir uma derrota. E eu hoje não aguentei muitas vezes. Cheguei ao ponto de estar com vómitos por causa do esforço - e, como é óbvio, estou-me borrifando se esse esforço é muito ou pouco comparado com os outros. Não quero saber se não tenho barra, se tenho 2 quilos ou 5 - se estou aflita e se tenho os meus limites, é aí que uma linha é traçada; detesto que me rebaixem por causa disso. "Mas não aguentas com uma barra de 2 quilos? Isto não pesa nada!". Sim, aguento, principalmente se for para a mandar ao focinho de alguém - caso contrário, quando tenho os músculos todos a tremer, mal consigo andar e não tenho um incentivo suficientemente bom como agredir alguém que me está a irritar... não, não aguento.

Para além do mais há a componente do contacto físico que a mim me transtorna. Eu tenho um problema com o toque - não gosto que me toquem, não gosto sequer que estejam muito perto de mim. E ter alguém sempre a empurrar-me, puxar-me, esticar-me e sei lá mais o quê... mexe-me seriamente com o sistema. É algo que eu sei que a maioria das pessoas (também conhecidas como "normais") não sente, mas que para mim é uma questão do dia-a-dia e que não é fácil de ultrapassar, pelo que é mesmo uma questão essencial para mim.

Acho que nós, humanos, temos a tendência a reagir a tudo o que nos é estranho e eu não sou excepção - se pudesse, tinha saído dali a correr e nunca mais voltava. Para o bem e para o mal tenho um mês de PT pago, que vai servir para eu não decidir com o coração e com as emoções à flor da pele e para perceber se todo este esforço vale de facto a pena. Aqui não se trata só de desgaste físico (que é o suposto, claro), mas também emocional. Dar a um homem totalmente desconhecido permissão para me tocar, estar uma hora seguida a olhar para mim e analisar-me ao milímetro, me mandar fazer exercícios todos XPTO e eu ter, ainda por cima, dificuldade em dizer que "não consigo" é algo que me consome e que eu preciso de perceber se vai passar com o tempo. Porque se não passar, estes treinos têm os dias contados.

Porque uma coisa é certa: no próximo treino irei contrariada e ansiosa por já saber mais ao menos o que vai acontecer e eu não estou para viver a minha vida nisto. Fui para o ginásio pela minha saúde, mas não só física - também mental. E, por isso, não estou disposta a estar sempre a fugir do ginásio com medo do próximo treino e ansiosa com todos aqueles pormenores que a mim me deixam eternamente desconfortável. 

Percebo que seja bom para a minha saúde e não duvidem que, mesmo a nível estético, era algo que gostava de conseguir fazer para melhorar alguns pormenores - aliás, só por isso é que me predispus a estes treinos, sabendo à partida que não ia ser fácil e pondo-me logo à partida à prova, só por saber o que ia fazer. Mas, de facto, não passam de muitos "pormenores" que não compensam o facto de acordar ansiosa no dia do treino ou de viver com medo da quinta-feira de cada semana só porque é dia de PT.

Acho que não é preciso dizer mais nada. Entrei com o pé esquerdo e não gostei. Tenho três aulas para mudar de ideias - e, como é óbvio, não espero ansiosamente por essas horas de sofrimento. As coisas podem mudar muito - e eu juro que espero que sim! -, mas há dias da nossa vida em que nos arrependemos de certas decisões. Hoje foi o dia.

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