Por falar em concertos
Estamos em crise, certo? A sério, preciso que me relembrem, porque depois do que vi ontem, não me acredito muito.
Enquanto via os bilhetes que havia de comprar para ambos os concertos - e talvez seja bom lembrar que o dos Deolinda tinha bilhetes dos 23 aos 30 euros e o Jamie Cullum dos 30 aos 60 euros -, apercebi-me que estavam quase esgotados. Mas a parte mais interessante está para vir: os mais caros eram os mais vendidos!
O acesso à cultura é tudo menos barato, e embora saiba que há muitas pessoas que pensam o contrário, na minha lista de prioridades, é das primeiras coisas a cortar quando o dinheiro começa a faltar. Não faz sentido eu querer comer algo melhor e abdicar disso para ir ver um concerto ou ir ao cinema (algo que eu fazia com muita frequência e que, infelizmente, cortei quase radicalmente) - embora tenha a plena noção de que é essencial e que nos enriquece, é a menor das minhas preocupações e são os primeiros cortes que farei se um dia precisar.
E, como tal, não acho que faça sentido nenhum os telejornais não falarem de outra coisa para além da "crise" e depois nós, portugueses pobres e sem dinheiro, o gastarmos em momentos efémeros como ir a um concerto. Assim como não percebo o facto de termos imensos (IMENSOS) carros topo de gama, enquanto que em países mais ricos não se vê nem metade. Lamento, mas não me cabe na cabeça. Porque embora sinta a crise mesmo ao meu lado - na família, nos amigos e mesmo cá em casa, felizmente não de forma tão "feroz" - acabo por perceber que esta não pode ser tão severa assim. Os portugueses têm as prioridades demasiado trocadas mas, quando começar a apertar a sério, suponho que estas irão ao sítio - e como ainda não foram, é porque a coisa não está assim tão má. Ou então está mesmo e nós continuamos a ser os mesmos casmurros, orgulhosos e a viver acima das nossas capacidades como o costume, à semelhança do que temos vindo a fazer ao longo dos anos.