O conceito de "essencial"
Há dias estava numa fila e, atrás de mim, duas raparigas discutiam a sua ida para o Optimus Alive. Via-se que estavam entusiasmadas e, lá pelo meio, começaram falar daquilo que iam levar para o festival. Falaram das calças e dos calções - iam levar calças na viagem, para não ocupar espaço, e depois lá é que punham as pernas à mostra; falaram de como iam levar os cabelos, se presos, esticados ou ao natural - decidiram ir a combinar, esticando o cabelo que "lá ia ficar meio ondulado, mas continuava a valer a pena" e, por fim, dos objetos essenciais à viagem. O que era, meus amigos, o que era? "A comida?", respondem vocês. Não. A maquilhagem!
O corretor de olheiras ficou com grande destaque naquela conversa, sendo que era ele o salvador da pátria: porque elas, no dia seguinte a uma noitada, estariam horríveis e não podiam sair da tenda sem aquele elemento essencial. Também não podia faltar a base, o rímel e o lápis, esses objetos deveras importantes com que nenhum ser humano do sexo feminino consegue sobreviver - e que elas, naquele ambiente inóspito, iriam partilhar.
Entendam que a espera na fila foi longa e o ridículo da conversa foi crescendo à medida que o tempo passava - o remate de que "o corretor de olheiras é mesmo importante, não te podes esquecer", não falhou. A mim apetecia-me virar para trás e perguntar: "Oi? O essencial é um anti-olheiras? Essencial deviam ser umas sapatilhas para não ficares com terra até à hipoderme, devia ser uma pasta dos dentes para os lavares quando acordasses depois de uma noite de álcool, o essencial vai ser a comida que vais levar às costas. Agora o anti-olheiras? Vais para um festival, não para um desfile de moda".
Fiquei calada - senão quem ia precisar do anti-olheiras (para cobrir um olho negro) era eu. Mas não consegui deixar de pensar que há gente muito fútil neste mundo e que, de facto - em, literalmente, todos os campos - nos descentralizamos daquilo que é mais importante.