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Entre Parêntesis

Tudo o que não digo em voz alta e mais umas tantas coisas.

19
Abr18

Desconcerto... desconcertante

Na terça-feira fui ver o Desconcerto, com a Luísa Sobral, o Miguel Araújo, o António Zambujo e o César Mourão. Não sabia ao que ia - acho que ninguém sabia. Na verdade, com estes quatros nomes em palco, uma pessoa nem precisa de saber para o que vai - sabe simplesmente que vai ser bom. E foi.

O espetáculo consistia num conjunto de momentos, pré-pensados, que davam origem a músicas, compostas e feitas completamente de improviso (ou com apenas pouquíssimos minutos para pensar no assunto). O primeiro "número" consistiu, por exemplo, em fazer uma canção sobre a mala de uma das senhoras da plateia - o César Mourão (que era, no fundo, o cicerone de todo o espetáculo) vasculhou a mala em causa e foi sacando algumas informações acerca da vida pessoa, enquanto a Luísa e o Miguel iam compondo uma música com aquilo que iam ouvindo e o Zambujo pensava na melodia. 

Esta ideia é espetacular se não houver erros de casting na escolha das pessoas da plateia; o espetáculo passa a viver muito daquilo que elas dizem, do à vontade que têm, do seu sentido de humor e disponibilidade. E, infelizmente, houve alguns... chegou a apetecer-me gritar coisas como “inventa qualquer coisa, mulher” ou “sorri, estás no palco com a nata da música portuguesa neste preciso momento!”. Mas contive-me (com esforço...).

Acima de tudo, aquilo que senti - e que me fez adorar aquelas duas horinhas - foi que a grande diferença deste para um concerto normal era a proximidade artista-publico. Nós estávamos lá dentro, era como se fôssemos da família. Já tinha ido a espetáculos de todos eles (exceto do Mourão, porque comédia não é propriamente a minha praia, embora lhe ache graça) e sempre senti a inevitável distância do artista para com a sua plateia, ainda que que eles sejam calorosos, queridos e interativos com quem está à frente deles. Mas aqui era diferente - também pode ter ajudado o facto de eu estar na primeira fila e sentir tudo ali a acontecer - porque eles agiam de uma forma natural e pouco programada... levantavam-se para ir ao computador escrever a letra, iam buscar a folha à impressora enquanto os outros tocavam, paravam as musicas para rir um bocadinho e trocar uma piada e acho que o Zambujo até foi à casa de banho enquanto se esperava por uma letra. Pareciam mesmo simples pessoas, sabem? Nós tendemos a esquecermo-nos disto quando os artistas estão em palco.

Mas depois percebemos que eles não são simples pessoas (e refiro-me maioritariamente à Luísa e ao Miguel). Podem ser pessoas como nós (que o são, obviamente, mas percebem a ideia) mas têm um dom que as pessoas simples não têm. Improvisar musicas e letras é uma coisa - o Mourão é mestre nisso, como todos sabem. Mas compor coisas incríveis em cinco minutos é outra. Não se trata de escrever - isso até eu faço com uma perna às costas - mas sim de criar um poema, bonito, musical e às vezes até com simbolismo por detrás, com coisas corriqueiras ou até parvas ouvidas há um par de minutos. É incrível.

Eu sempre achei estranho o processo de construção de uma música e, por ser uma realidade que me é alheia, pensei que era algo difícil. Mas depois disto, ao ouvir músicas feitas em dez minutos e que eu compraria e consumiria, sem problemas, no caminho para casa em plena rádio, percebi que quem é bom nisto o faz com uma perna às costas. É um dom, ponto final. E apesar dos outros dois serem muito bons, caraças!, a Luísa e o Miguel são do melhor! Já era fã deles, mas saí de lá completa e totalmente rendida - só tenho pena de não ter podido repetir a dose, porque este é o género de espetáculo que se pode ir quatro vezes seguidas e ser sempre diferente.

Não sei de onde é que, de um momento para o outro, apareceram tantos músicos portugueses tão bons. Há dez anos "música portuguesa" era sinónimo de pimba, fado ou algo com um toque meio revolucionário. E depois veio isto. Um misto perfeito: pessoas simples (mas com dons), simpáticas e com reis fora da barriga, que constroem cenas lindas, tão profundas como leves, bonitas e incríveis. E o melhor é que a tendência se está a reproduzir e nascem em Portugal cada vez mais artistas incríveis. E toda a gente que gosta de música sabe que há poucas sensações tão boas como a inspiração profunda que se sente durante e depois de um bom concerto, não é verdade?

 

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06
Jul17

Salvador Sobral: quando a música não vem só da alma, mas do corpo todo

Passei aí uma fase em que estava maluquinha com o Salvador Sobral. Para dizer a verdade, essa fase ainda não passou - e não sei se passará tão cedo. Tenho para mim que ele é o meu Jamie Cullum português - aliás, há uns tempos comprei o Expresso só para ler uma entrevista que ele deu e ele lá dizia que também passou uma fase em que adorava o Jamie. E eu pensei "ah, eu sabia, somos almas gémeas!". Só que não. Acho que não conseguia aturar o Salvador durante muito tempo - eu, uma control freak assumida, dava em louca com tanta coisa aleatória que vai naquela cabeça. Mas isso não faz com que goste menos dele, que não adore a sua música ou que não me desse uma alegria enorme conhecê-lo.

Ontem fui ao primeiro concerto dele na Casa da Música e saí de lá rendida, de coração muito cheio, super inspirada - a sentir que podia conquistar o mundo, escrever livros e aquilo que mais sonho - e feliz por ter testemunhado este momento. Passei aquelas duas horas de música acompanhada por uma dor de cabeça sem fim, que se ia expandindo à medida que os minutos passavam, graças a um dia demasiado longo e cansativo - mas era impossível aquilo não compensar. Aguentei estoicamente - e aguentaria mais duas horas iguais, se ele assim as cantasse. 

Não é um concerto para todos. E o tempo, quase como a teoria da evolução das espécies, vai-se encarregar de deixar aqueles que gostam mesmo do estilo do Salvador - incluindo as caralhadas que ele vai dizendo - nos seus concertos e os outros vão acabar por ir à vida deles. E porquê que não é para todos? Porque é um concerto de jazz, com a liberdade que lhe é característica. Diria mesmo que essa é a grande diferença entre ele e o (meu) Jamie: há uma grande componente criativa em todos os concertos, as músicas nunca saem iguais, a comunicação entre público e artista é incrível, nunca se sabe o que vem a seguir... mas o Jamie tem uma componente muito mais pop nas suas músicas, enquanto que o Salvador gosta mesmo daquela onda jazz - de ouvir os seus músicos, de lhes dar a luz da ribalta, de lhes proporcionar momentos a solo que eles tão bem merecem, de ele próprio gritar quando quer ou sussurrar longe do microfone quando assim acha apropriado. Aquilo vem-lhe das estranhas, da alma. Na verdade, vem do corpo todo - e é por isso que ele parece um boneco estranho a cantar. E a verdade é que muitas vezes corre bem; outras, nem tanto - ontem, numa das músicas em que ele decidiu improvisar, passou o tempo da entrada e ele disse, ainda que rapidinho: "ups, já fiz merda". E isso, meus amigos, tem o seu encanto - como tudo o que é puro e verdadeiro.

No meio das músicas mais conhecidas dele, cantou outras que eu nunca tinha ouvido: uma a que ele chama "Loucura" e outra intitulada "Benjamim", composta por ele e por André Rosinha (que toca contrabaixo). Para além disso tocou pela primeira vez uma música dos Alexander Search, que ele deu a entender que não estava no alinhamento e que surgiu de forma espontânea que se chama "Justice" - e da qual gostei mesmo muito. Antes do encore houve um momento um tanto ao quanto tétrico, com um poema que ele próprio escreveu (talvez com o título "180 dias"), que retratava um homem que estava em coma, entre o limbo e a dúvida entre acordar ou morrer - aqui, houve uma pequena participação de Júlio Machado Vaz, que entrou em palco para ler um poema de Sophia de Mello Breyner, que também estava na onda da letra do Salvador. Por fim, ele sentou-se ao piano e fez o meu coração derreter. Eu sou, provavelmente, a pessoa mais difícil de se apaixonar na história da humanidade: mas acreditem que um homem ao piano é meio caminho andado para me deixar rendida. Tocou uma cover da música "Ninguém escreve Alice", escrita por Rui Veloso e Carlos Tê, e também uma música do segundo álbum da irmã. Terminou com a "Case of You", de Joni Mitchell - talvez, para mim, a melhor interpretação dele (ainda estou a decidir se gosto mais desta ou do "Presságio", que ele tocou no início do concerto) e que, claro, me levou às lágrimas - e, mesmo para acabar, uns pequenos acordes da "Amar pelos Dois", que já havíamos todos cantado em conjunto e que foi quase um agradecimento mais silencioso e profundo daquilo que ele está a viver.

Acima de tudo, no que diz respeito ao Salvador, acho que podem acontecer três coisas distintas: não gostar nem dele nem do seu estilo de música e portanto risca-lo por completo; gostar da música mas não da pessoa; ou então, diria que a mais improvável, gostar dele e dispensar a música que ele faz e canta. Em qualquer uma delas, penso que é essencial admitir uma coisa: ele é um grande músico, com um poder vocal incrível. É quase como o Ronaldo: eu não gosto dele, não gosto da equipa que ele representa - mas não tenho outra hipótese senão admitir que ele é um jogador do caraças. Como em tudo na vida temos de olhar para as coisas e desfocar aquelas que gostamos menos; eu também não gostei daquilo que aconteceu no concerto solidário, mas optei por não escrever sobre isso. E, honestamente, nem foi para não ofuscar a causa: foi para não ofuscar o talento dele com uma saída despropositada e desmedida, de alguém que claramente quer muito fazer música mas não está a saber lidar com tudo o que ter sucesso implica. Eu, como muitos, não achei piada: mas em todo o panorama que é, para mim, o Salvador... optei por desfocar esse momento, em detrimento de tantos outros incríveis que ele já nos proporcionou (e que, no meu caso, sei que continuará a proporcionar - porque não me ficarei por este concerto).

A "Amar pelos Dois" não é a minha música preferida dele - mas será sempre especial, por aquilo que representa para todos nós. E ontem, enquanto o via e ouvia ali à minha frente a cantar essa música - um rapaz magrinho, com uma camisa super larga que engana os menos observadores, com umas perninhas super fininhas, quase que representando a sua fragilidade - apercebi-me do privilégio que estava a viver. Arrepiei-me e lacrimejei porque, de facto, os dias da Eurovisão foram mesmo felizes e nem ele próprio se apercebeu de tudo o que deu a Portugal. Está, neste momento, a recolher os louros e as consequências disso - até porque, como ele disse ontem, ele não consegue arcar com a felicidade toda de um país. Mas eu estou em crer que o tempo, os meses e os anos lhe vão dar a clarividência do que ele fez em Kiev, das asneiras que fez a seguir, e perceber um pouco da nuvem em que está neste momento a viver. E de, eventualmente, ter orgulho naquilo que conquistou.

A minha sorte é que tenho paciência - e (espero eu) tempo. Tempo para ver o Salvador crescer, tempo para ouvir mais concertos, tempo para esperar por mais álbuns e tempo para viver a minha vida ao som da música dele. Ah, e memória: porque por mais anos que viva, penso que nunca mais me vou esquecer do momento em que ele nos ganhou a Eurovisão. Ainda ontem ele prometeu dar uns segundos onde toda a gente podia tirar fotos, "o momento em que somos todos do nosso século"; é claro que muita gente sacou dos telemóveis momentos antes, para filmar algumas músicas e captar fotografias, como se fosse aquilo que ficasse marcado no cérebro... Naqueles 20 segundos toda a gente sacou dos smartphones e os virou para os músicos. E eu fiquei ali, a olhar para o palco, com as mãos no bolso e um olhar embevecido. Não quero uma foto deles para nada, não preciso de mais entulho nos meus arquivos. Quero, sim, que aquela imagem fique guardada na melhor memória RAM de todas, um "disco D" sem igual: mais do que no meu cérebro, quero estes momentos no meu coração.

23
Mai16

Adele [ou o concerto de uma vida]

É difícil descrever o concerto da Adele ontem no MEO Arena. Eu chorei como uma madalena perdida, porque a música é algo que mexe realmente comigo. Ouço música todos os dias, principalmente enquanto trabalho e escrevo - aliás, os primeiros dias de trabalho custaram-me bastante por passar tantas horas sem música como barulho de fundo (depois percebi que não havia problemas em usar auriculares e tudo melhorou). A Adele tem músicas particularmente deprimentes, o que, como sabem, coincide muitas vezes (e infelizmente) com o meu estado de espírito - por isso eu já perdi a conta às vezes que já chorei, deprimi e escrevi ao som de todas as músicas dela. Tenho fases em que ponho o spotify em repeat mode nos álbuns dela e posso passar dias a ouvir aquela voz incrível .
Ao todo foram mais de 150€ gastos só para a ouvir - e, meus amigos, valeu cada cêntimo! Não sei quando é que ela volta a fazer uma tour e não podia mesmo perder esta oportunidade - acho que ela própria não sabe se repete a aventura e tratou de não fazer a coisa menos que perfeita. Porque foi, de facto, perfeito.
Na minha cabeça, Adele fez um concerto à semelhança de um concerto que gostaria ela própria de ver - e semelhante aos que antes fazia, em espaços pequenos e intimistas. Porque nós éramos milhares ali dentro, mas ela parecia olhar e interagir com cada um de nós, como pessoas individuais. E eu adoro artistas que se esforçam por isso, que interagem com o público, que não os deixam sentir que são só mais uns - e ela faz essa gestão na perfeição. Falou imenso, chamou pessoas ao palco, tirou selfies, assinou cd's; reparou que os fãs que estavam na primeira fila eram os mesmos do dia anterior e, a meio de uma música, avisou os seguranças de que uma pessoa estava a desmaiar (e não, a pessoa não estava à frente dela - estava longe, numa lateral e no meio da multidão). Mostrou-se a artista mais humana que vi até hoje. Mais sincera.
Falou sobre a criação das suas músicas, do namorado que originou isto tudo, da comida portuguesa, do filho, de ter ido ao oceanário e à praia . Disse que estes tinham sido as maiores e melhores plateias para quem já tinha cantado - e embora eu já tenha ouvido tanto elogio à plateia portuguesa que já acho que é tudo planeado, perante toda aquela sinceridade, acreditei.
O espetáculo é aparentemente simples, sem grandes produções, mas o estilo minimalista torna-o gigante. A voz dela é simplesmente mágica (e a clareza com que se ouvia tornou-a ainda melhor). As imagens que passaram em plano de fundo eram incríveis e não pude deixar de me arrepiar quando vi Lisboa em "Hometown Glory" e de chorar perdidamente quando passaram fotos dela em pequena e adolescente em "When We Were Young" - principalmente depois da explicação que ela deu antes de a cantar.
Adele é uma artista completa e, para mim, uma das melhores de sempre. As músicas podem ser deprimentes mas ela tem um sentido de humor genial, acompanhado de uma humildade e respeito pelo público como poucos artistas têm (basta começar pelo "pormenor" de ter começado o concerto a horas). Ouvia tudo aquilo vezes sem conta - e juro que acho que não me cansava. Saí do MEO Arena tão emocionada e inspirada por ter podido testemunhar aquele momento épico que me apetecia chorar de felicidade e descarregar todas as emoções que acumulei naquelas duas horas.
O ano ainda não vai a meio, mas eu desconfio que este concerto já ganhou o troféu do melhor de 2016. E entra certamente para a lista dos mais marcantes da minha vida.

 

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 (fotos Getty Images&DN, respetivamente - eu não saquei do telemóvel durante o concerto inteiro)

11
Fev16

Invejas, o destino e uma pitada de rebeldia

Ainda há dias pensei no quão invejosa estava por os Kodaline irem ao Coliseu de Lisboa e nem sequer darem um pézinho aqui ao Porto. É a velha história de Lisboa ter muito mais eventos deste género, quando o resto do país fica a penar e toda a aquela lenga-lenga que toda a gente sabe e que ninguém pode mudar.

A verdade é que, nos últimos meses, tenho vindo a gostar cada vez mais desta banda e - antes dos bilhetes esgotarem - até me tinha passado pela cabeça ir vê-los à capital. Supostamente já os "vi" no Alive, mas cheguei precisamente após o termino do concerto, uma vez que foi no dia em que vim ao Porto para fazer um exame e voltei logo de seguida para Lisboa. Mas ontem, enquanto passeava pelo facebook, percebi que anunciaram há três dias que eles vêm ao Marés Vivas dia 15 de Julho! Acho que é o destino a juntar-nos, ainda por cima é só passar ali a ponte!

A única coisa menos perfeita é que o concerto é precisamente no dia anterior a eu ir de férias, com um avião para apanhar pelas 8 horas da manhã. Ainda assim, e como a vida são dois dias e eu ainda tenho muitos galões de "rebeldia"* para gastar, acho que vou comprar bilhete, até para completar o ciclo. Faltei ao primeiro concerto pela "rebeldia" de ter desistido de um exame e de o ter ido a fazer em recurso, o que implicou sair de Lisboa de manhãzinha e voltar do Porto ao fim da tarde, direta para o festival; agora vou ao concerto por "rebeldia", mesmo sabendo que tenho um voo para apanhar poucas horas depois. Rebeldia paga com rebeldia. Mal posso esperar!

 

*sim, eu sei que tenho um conceito de rebeldia um pouco diferente e mais "soft" que o geral: daí as aspas, não querendo eu ofender os "verdadeiros rebeldes"!  de qualquer das formas, este é o único tipo de rebeldia que consigo ter.

11
Nov15

A moda dos encores

Eu já era para ter escrito este texto no verão - aliás, tenho o tópico "a moda dos encores" escrito num post-it colado na secretária há, seguramente mais de três meses - altura dos festivais e em que fui a mais concertos; mas na altura, apesar de ter temas, não estava a conseguir escrever, por isso o tópico foi-se arrastando até eu achar que já não fazia sentido escrever sobre ele. Mas depois do concerto da "Cinematic Orchestra" acho que torna a ser pertinente.

Então é isto: eu acho uma verdadeira palhaçada que agora todas as bandas, em todos os concertos, tenham encores. Mas pior palhaçada que essa é deixarem as músicas conhecidas para esse mesmo encore. Porque a realidade é esta: 90% das pessoas que vão aos concertos só conhecem meia-dúzia de músicas - as mais conhecidas - e estão lá para as ouvir; todas as outras, as "novas", as "interpretações de uma música de que a banda gosta muito", são "apenas" um caminho que as pessoas têm de percorrer (ou, neste caso, ouvir) para atingir um fim: saborearem as músicas que gostam. Logo, se as bandas deixam o palco "para se irem embora" sem tocar estas músicas, é óbvio que as pessoas não vão arredar pé da plateia. E, meus amigos, não é por estarem a adorar o concerto: é porque ainda não ouviram o que querem!!!

A essência do encore perdeu-se pelo caminho com esta tática parva e, ultimamente, apetece-me ficar sentada e sem aplaudir enquanto eles fingem que acabam o concerto. O encore seria para ocasiões especiais, em que o público está a delirar e quer ouvir mais - nem que seja mais do mesmo, canções já tocadas! Mas suponho que agora as bandas medem a sua qualidade pela quantidade de encores que fazem por isso, um dia destes, tocam um par de músicas e vão-se embora, para ver quantas vezes é que o público tem paciência para os chamar ao palco para tocar "só mais uma". 

Não há pachorra para esta fantochada. Já nem nestes pequenos pormenores há autenticidade.

10
Nov15

O concerto dos "The Cinematic Orchestra"

Ontem foi dia de concerto e, também por isso, de um grande balde de água fria. Não me descarto das culpas, mas o concerto não foi nada daquilo que eu estava à espera - se calhar porque só conheço poucas músicas deles ou porque eles mudaram o estilo nos últimos anos e as músicas que eu conheço são antigas. Enfim, não sei; sei, sim, que não devo ter sido a única com esta sensação, pois este foi o concerto (deste género, sentado, mais "clássico") em que vi várias pessoas a sair a meio e, mais para o fim, mesmo muita gente a ir embora antes de acabar - eu incluída.

O concerto começou com um conjunto de cordas (dois violinos e um violoncelo), um guitarrista que também fazia de voz e outro violinista principal. Eu não reconhecia nada daquilo: era um "clássico" muito estranho e alternativo, com umas letras para lá de estranhas e que nunca mais acabavam. Olhava para a minha mãe, ria-me, e cheguei mesmo a perguntar-me se tinha comprado bilhetes para o concerto errado - mas não, afinal aquilo era apenas uma introdução. Mas, para mal dos meus pecados, previa um pouco aquilo que estava para vir.

Pelo que percebo, a Cinematic Orchestra tem duas facetas: uma mais movimentada e outra mais calma. Eu sou muito mais fã da calma do que da mais energética - e ontem, esta última esteve muito mais presente e, "pior" que isso, houve muita música nova que ninguém conhecia. A certa altura comecei a ver desânimo na plateia: pela forma como aplaudiam no fim de cada música, ao ver cada vez mais telemóveis a aparecer por entre mãos alheias para combater o tédio. Sinceramente, com exclusão de umas quatro músicas (as mais cantadas - havia duas senhoras e um senhor com vozes mesmo espetaculares), aquilo soava-me a música de restaurante ou a uma música de fundo que uso para estudo; daquelas que uma pessoa não "ouve" na realidade, que apenas estão ali para dar presença. Acabei por me abstrair em grande parte do concerto; pensar na vida, tratar da minha agenda mental, "escrever" posts, pensar em inícios possíveis de livros... enfim, de tudo um pouco, mas raramente a prestar total atenção aquilo que se estava a passar no palco que, para todos os efeitos, era pouco.

Fizeram um encore, onde - no "vai-não-vai" - várias pessoas se foram embora; eu só não fui porque já tinha consultados as setlists e tinha visto que eles costumavam faze-lo, pelo que esperei - até porque, até ali, não tinham tocado nem uma das músicas que eu gosto! A minha mãe estava mortinha por sair dali mas eu fiz questão de esperar e, por sorte, a primeira música depois de eles voltarem foi a "To Build a Home"; no entanto, foi uma versão tão diferente da gravada que, se não soubesse a letra de cor, mal a reconhecia. Fiquei ainda mais desanimada. Depois disso continuaram a tocar uma música que parecia uma trama, algo sem fim, e eu resignei-me e perguntei à minha mãe se ela queria ir embora, também incentivada por ver tanta gente a sair. E assim foi, saímos e aproveitamos o facto de ainda não estar uma torrente enorme de gente a sair para conseguirmos escapar do parque o mais rapidamente possível. Não sei o que tocaram depois, mas percebi pelo contexto do concerto que a que mais ouço - a "Arrival of the birds" - não devia fazer parte da lista de músicas a tocar, por isso decidi arriscar e sair. Espero, pelo menos, que a minha previsão tenha sido a correta. 

Não foi algo que desgostasse por completo, mas admito que foi uma desilusão muito grande. Ia com altas expectativas e levei com um senhor balde de água fria - e, pelo que observei da sala (e, acreditem, tive muito tempo para observar), não fui a única. No fim - já com o rabo quadrado, uma vez que estava sentada praticamente desde as 14h da tarde, pois fui direta das aulas - não senti que fosse algo que tivesse compensado, principalmente pelo dinheiro que paguei. Mas pronto, nem tudo pode ser como esperado nem absolutamente espetacular. Vou continuar a ouvi-los, porque isto não estragou a minha paixão por aquelas músicas que tanto gosto, mas o ânimo de os ouvir ao vivo esmoreceu-se por completo. Como diz o outro: "é a vida".

08
Nov15

A música que me inspira a escrever (e que vou ouvir, ao vivo, amanhã!)

O editor de posts do sapo tem um espaço para dizermos que música estamos a ouvir, embora eu só tenha usado esta funcionalidade muito no início desta minha jornada aqui pelos blogs (para os mais distraídos, está na parte que diz "outras opções", logo abaixo da data de publicação). Hoje em dia escolho não preencher isso, porque - no caso deste blog - não me parece ter grande relevância; ainda assim, acho que faz todo o sentido a opção estar lá - porque são raríssimos os posts que eu escrevo sem música de fundo.

Os meus gostos musicais não são nada de especial - sou muito comercial, gosto de quase todas as músicas que passam na rádio e, basicamente, limito-me a ligar o spotify nos "top tracks" para ter música de fundo - embora hoje em dia, admito, as músicas que estão no top soam-me muito a discoteca, têm batidas demasiado fortes e eu não gosto assim tanto, por isso às vezes mudo para playlists mais calmas que eu própria criei ou para álbuns que sei que gosto, como do Sam Smith, Banda do Mar, Os Azeitonas, Jamie Cullum, Jack Johnson, etc...

Mas, para escrever, dou-me melhor com música calma e com poucas palavras - principalmente se for música em português, como sei as letras de cor, tendo a confundir-me; canto as músicas interiormente, mas também tenho o texto a construir-se na minha cabeça, por isso fica tudo uma salgalhada. Posso ouvir músicas comerciais e escrever, mas como são mais mexidas e têm muita letra, também me desconcentram ligeiramente. Por isso, nos momentos que tiro para mim e para o teclado, vou para uma faceta mais calma da música e que também adoro; a música mais clássica faz parte de mim desde muito nova (uma vez que tocava piano) e todas essas sonoridades mais tradicionais acalmam-me e ajudam-me enquanto escrevo.

Costumo ouvir bandas sonoras de filmes - dos "Twilight's" todos, do "Inception", da "Amélie", do "Intouchables" e tantos outros. Mas uma das bandas que mais adoro - e que está também presente em filmes - é a The Cinematic Orchestra. A "Arrival of the Birds", que apareceu no filme sobre o Stephen Hawking, "The Theory of Everything" é, sem dúvida, uma das minhas favoritas - e, atrevo-me a dizer, dezenas de posts já foram aqui escritos enquanto ouvia essa música. Essa e a "To Build a Home" e a "That Home", que já conhecia antes da que apareceu o filme, que também já tinham um lugar muito especial no meu coração - e eu derreto-me sempre que as ouço.

Por tudo isto, amanhã, estarei na Casa da Música a ouvir a The Cinematic Orchestra a tocar. Quando descobri que eles vinham apressei-me a comprar bilhetes (que entretanto esgotaram) e tenho a certeza que vai valer a pena - tanto por eles como por aquela sala magnífica. Não sei se vou conseguir conter as lágrimas quando (e se) eles tocarem as "minhas" músicas - por isso, se virem uma chorona por aquelas bandas, digam olá! (E lembrem-se de que muitos posts que leram aqui foram altamente inspirados por eles).

 

15
Out15

Já vos disse como adoro a tecnologia (ou como acabei de assistir a um concerto épico)?

Sou - e somos, de uma forma geral - uma sortuda por ter nascido nesta época em que tudo parece possível, em que os livros de ficção científica de há quarenta anos se tornam realidade, em que ultrapassamos e voltarmos a ultrapassar aquilo que era o último berro da actualidade e nos tornamos sucessivamente melhores. Não sejamos parvinhos porque tudo nesta vida tem consequências - e estas estão esparramadas por essas redes sociais fora em notícias que vêm de todas as direções ("dormir com o telemóvel ao lado provoca cancro", "há cada vez mais pessoas viciadas nos jogos online", "as redes sociais e a internet fazem com que as pessoas saiam cada vez menos e já não falem entre elas" e mais triliões de histórias). Mas o reverso da moeda é, de facto, espetacular.

Acabei há pouco tempo de assistir a um mini-concerto, em direto, a partir da casa de Nuno Markl, com o António Zambujo e o Miguel Araújo. Quer dizer... isto parece corriqueiro, mas eu vou voltar a repetir para que todos possamos pensar nisto bem e comparar, por exemplo, com o estado da tecnologia há uns.... oito anos atrás (acho que nem é preciso recuar tanto). Repetindo: eu acabei de assistir a um direto, que receio ter sido filmado com um telemóvel (antes, os diretos com imagem eram só para as televisões e envolviam câmaras grandes e pesadas - e era preciso dinheiro!!!). Esse direto foi transmitido a partir da casa de alguém (já não há estúdios para ninguém!). Por fim, vi um concerto verdadeiramente épico, com duas das melhores vozes portuguesas que para aí andam e que esgotam concertos como nunca antes visto - tudo isto grátis, sem pagar um único cêntimo para além da internet mensal que cai invariavelmente na conta, com ou sem concertos absolutamente espetaculares.

A sério. Hoje em dia recebemos estas coisas de mão-beijada, sem pensar muito, e nem raciocinamos o quão fixe isto é e na sorte que temos. Eu não me importava de pagar para ver aquilo outra vez, ao vivo (como aliás paguei, porque vou vê-los ao Coliseu - comprei quando ainda só se tinha anunciado um só concerto) -  porque foi tão ao improviso, tão diferente, com direito até a músicas a pedido que resultaram melhor que nunca e que provocaram uma reação comummente chamada de "pele de galinha". Enfim, não há palavras. Foi um aquecimento para os coliseus para mais tarde recordar e eu já só anseio por Fevereiro!

 

(agradeçam também - e mais uma vez - às tecnologias: podem ver, ou rever, o concerto na página do Nuno Markl - a quem devemos também agradecer, porque sem ele este momento não tinha existido. sou uma fã assumidíssima dele, enquanto humorista, mas acima de tudo enquanto pessoa.) 

30
Nov14

Miguel Araújo & companhia

Ontem fui ver o Miguel Araújo ao coliseu, com muita falta de vontade mas a saber, no fundo, que ia valer a pena. E valeu, porque me conseguiu pôr mais bem-disposta. Mas, devo admitir, esperava um bocadinho mais.

Acho mesmo que o último concerto que fui ver foi d'Os Azeitonas, onde ele se insere, e o público vibrou muito mais. É verdade que as músicas do Miguel são mais calmas, mais nostálgicas e tristes, ao contrário das dos AZ, onde reina a boa disposição e divertimento. Ainda assim, não sei se foi feita uma boa gestão da set-list, para os picos de emoção irem variando, e intercalar músicas conhecidas com as menos conhecidas, assim como mais mexidas com mais calmas.

Por outro lado notava-se algum desconforto e nervosismo da parte dele - e não é para menos. Foi a primeira vez que cantou a solo no coliseu e... encheu! Isso refletiu-se em (relativamente) pouca interação com o público - pelo menos comparado com outros concertos de artistas portugueses a que fui, onde dividiam a plateia e nos punham a cantar, e nos obrigavam a saltar e pediam mais, e mais, e mais. Ou isso ou o público estava murcho e ficou também um bocadinho à quem das minhas expectativas.

Mas fora isso adorei a espontaneidade, o leve sotaque e de se notar que o Miguel é um portuense de gema. Cantou tudo o que queria ouvir - e o que me apeteceu chorar na "Recantiga"? - e os convidados foram excelentes. De salientar o António Zambujo, de quem gosto mais a cada dia que passa, e a quem já tinha ouvido como convidado no concerto dos Deolinda. Também adorei a Inês Viterbo e a Ana Moura, claro - como não gostar?

O momento alto da noite foi quando ele convidou uns tios para tocarem com ele - para além de ser a música mais mexida, que pôs o pessoal todo a abanar o capacete, foi um gesto lindíssimo. Os tios têm uma banda de rock amador há mais de trinta anos - sendo que continuam a ensaiar todas as semanas - e ele deu-lhes a oportunidade de tocar num palco daqueles, algo que nunca aconteceria se ele não os tivesse convidado. Foi um momento giro, mas acima de tudo um gesto fabuloso e que acho que tocou a todos.

Resta-me dizer que adorei o facto de estar lá uma "mini orquestra", que tornou tudo muito mais genuíno e bonito. O senhor do violoncelo, então, deu cabo de mim. Eram mesmo, mesmo espetaculares e deram um toque muito especial ao concerto.

Sobre o Miguel não há muito a dizer, para além de que tem uma voz que adoro, um sotaque delicioso e umas letras divinais. Talvez lhe falte algum amadurecimento (musical), mas para isso é que estamos cá para o ver crescer. Eu, pelo menos, estou lá batida.

 

Like a Rolling Stone, Miguel com os tios (pena não se perceber o delírio do público):

Pica do 7 com António Zambujo:

 (nenhum dos vídeos me pertence)

22
Nov14

Daqui a uma semana

Vou ao meu primeiro (e último) concerto deste ano, ver o meu portuense Miguel Araújo, de quem tanto gosto. 2014 foi um ano mau - aliás, está a ser. Mau, triste, decadente. Tudo. Até no que diz respeito a concertos.

Ainda assim, vou acabar este ano com chave de ouro, neste concerto que, de certeza, será muito bonito. E estou tão, tão, tão apaixonada por esta música. Hoje adormecia com ele a cantar-ma ao meu ouvido. Tão bonita.

 

 

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