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Entre Parêntesis

Tudo o que não digo em voz alta e mais umas tantas coisas.

23
Out23

Porque é que as bolas vêm sempre aos pares?

Calma, suas mentes depravadas. Estou a falar das bolas de berlim.

O verão acabou há um mês, mas eu já estava em modo-luto de bolas de berlim há muito tempo. Isto porque podem fazer o que quiserem, mas não há nada que saiba igual a uma bola de berlim na praia. Podem inventar todo o tipo de marmitas (são, no entanto, automaticamente elegíveis para uma picada de peixe-aranha se levarem coisas saudáveis para a praia - sabiam disso, certo?) ou até comprarem a bolinha na pastelaria mais próxima e levá-la na mochila térmica - está cientificamente comprovado pelas minhas papilas gustativas que não é igual. A bola de berlim a sério compra-se (e come-se!) na praia, aos vendedores que gritam "bolinhaaaaa" e que, preferencialmente, fazem rimas e trocadilhos como ladainha para a sua venda; tem de sair de uma arca em forma de mala de picnic e ter como vizinhas muitas outras bolas, ainda que de sabores e recheios diferentes. Só o preenchimento de todos estes requisitos é que determina a compra da verdadeira bolinha de berlim. Isto faz com que só no verão é que tenhamos hipótese de degustar esta iguaria que, apesar de nome de capital alemã, é bem portuguesa.

Dados os meros três a quatros meses de vida, por ano, da real bola de berlim, somos muitas vezes obrigados a recorrer à contrafação. É mais ao menos como as Louis Vuitton - quando não há dinheiro para uma verdadeira, compram-se na feira, parecidas, mas com um preço mais simpático. Aqui é semelhante: à falta de berlineiros de serviço, pode-se sempre ir a uma pastelaria ou supermercado. Ainda há dias vi um vídeo da La Dolce Rita (pasteleira cujas receitas eu adoro) a comparar as bolas de berlim de supermercado. Como boa pasteleira que é, não conseguiu eleger nenhuma como a melhor (pois essa, a real, e se leram bem os parágrafos acima, só pode ser encontrada num certo e determinado local, com areia e água à volta) - mas provou-as e apontou os pontos fortes e fracos de cada uma delas. 

E eu não consegui ficar como mera espectadora - a saliva crescia-me na boca à medida que os minutos do seu vídeo iam passando. E eu, que não punha o dente em nenhuma bola desde Julho, fraquejei e tive de recorrer à contrafação de supermercado. Vi as várias opções disponíveis nos estabelecimentos mais próximos e foi no Lidl que descobri a que mais me agradou (e que, por acaso, a Rita não provou): a bola de berlim de alfarroba, com creme. Não me posso queixar - era boa, tendo em conta que é uma bola pré-congelada e que eu não estava de férias a apanhar sol na praia.

Há, no entanto, um problema generalizado: em todos os supermercados as bolas são sempre vendidas aos pares. E eu, que tenho um marido pouco dado a doces, deparo-me com uma constatação difícil: se quiser uma bola, terei de comer duas. É um verdadeiro problema de primeiro mundo - principalmente para as minhas ancas, que gritam de horror só com a perspetiva. Mas agora a sério: depreende-se que as bolas de berlim são para ser partilhadas? Ou que são tão boas que nunca se consegue comer só uma? Ou que as bolas... vêm sempre aos pares? São muitas dúvidas. Preciso de esclarecimentos. 

 

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(esta é das reais, com certificado de qualidade)

16
Mai23

Viver em dieta é duro

No início do ano passado eu e o Miguel começamos, juntos, uma jornada para emagrecer - ambos perdemos quase uma dezena de quilos cada (ele um bocadinho mais, eu um bocadinho menos). Na altura eu já estava a tentar perder peso recorrendo à prática regular de exercício físico (falei disso aqui) mas os resultados só vieram depois um corte drástico na alimentação. E foi duríssimo. Eu chorava a pensar em croissaints, pastéis de nata e pizzas. O pior não é o não comer - é saber que não podemos comer; é mais a proibição do que a privação. As primeiras duas semanas foram um autêntico pesadelo, mas o corpo acabou por se habituar à ausência de açúcares e a um corte muito substancial nos hidratos. Quando cheguei aos 60kg senti que conseguiria conquistar o mundo; foi das sensações mais poderosas que tive, uma das maiores vitórias que já havia sentido. Perder quase dez quilos foi sinónimo de remar contra a maré, de superar vontades, desejos e compensações; foi trabalho de muita cabeça e determinação, muito suor e muitas lágrimas - tudo trabalho meu, orgulho meu, louros meus.

Mas eu sabia que a manutenção ia ser o problema. Após a dieta a nossa alimentação do dia-a-dia nunca voltou para trás; nunca regressamos ao Uber Eats e raramente cheirava a pizza lá em casa, nunca mais voltei a pôr batatas nos assados ou a fazer arroz de acompanhamento. Mas, para bem de um cardápio mais diversificado, voltei a introduzir pratos que, por si só, não são assim tão light: a lasanha, a massada de peixe, o arroz de pato e as almôndegas com massa (ainda que sempre pesada na balança, para não ultrapassar a quantidade de hidratos desejada). Pelo meio, uma metade de pão ao almoço e ocasionalmente um pedaço de sobremesa. E é lógico que, entrando o verão, houve gelados à mistura e muito mais saídas fora, onde todos os fatores pró-calóricos são mais difíceis de controlar. E, num ápice, chega o Natal. Quando vou à balança depois das festas, tinham-se passado praticamente nove meses do meu pico de forma, o meu peso tinha praticamente voltado ao anterior à dieta. Durante esse período de tempo mantive sempre o exercício físico, com uma média de quatro a cinco treinos por semana, mas mesmo assim aquilo voltava a acontecer-me.

Dei com a cabeça nas paredes. Tentei, durante os primeiros meses do ano, fazer um meio termo - reforçar o exercício e controlar a comida, mas sem cortes drásticos. Não funcionou. Tive de tomar uma decisão: ou continuava naquele caminho, que provavelmente continuaria numa linha ascendente independentemente dos meus esforços, ou punha outra vez um ponto final nesta história - e desta vez sozinha, pois o meu marido só precisa de uma dieta se o seu objetivo for desaparecer.

Foi uma decisão complicada que tive de ponderar com cuidado; tive de escolher entre encarar um corpo que não estava conforme o que eu queria e uma gestão emocional ainda mais precária do que a que já tinha. Este ano tem sido difícil e duro desde o seu início, sem dar folgas. Quando olho para trás não consigo ter capacidade de recordar muitos momentos bons. A maioria dos que tive foram construídos com cuidado e de propósito, não foram simples ocasiões da vida. Aquilo que me lembro é de ir a Viana do Castelo de manhã e de comer uma bolinha de berlim no Natário, quentinha, acabada de sair do forno; aquilo que me ficou foi o ritual que eu e o Miguel construímos para nos obrigarmos a sair de casa, da nossa bolha, e ir dar um passeio ao Porto, comer um cachorrinho no Gazela e depois uma natinha quente em Santa Catarina. No fundo, o pouco conforto que senti neste ano ríspido foi proporcionado por momentos que envolveram comida - e era disso que eu me ia privar, daquele que às vezes era o único aconchego do meu dia.

Eu não diria que tenho uma relação complicada com a comida. Há, sequer, relações boas? Normais? Eu acho que cometo os mesmos erros dos outros - se estou triste como para compensar o facto de estar assim, se há algo para festejar como porque o evento tem de ser comemorado com algo bom. A diferença é que não tenho a capacidade para abater aquilo que como, mesmo fazendo exercício diariamente. Mesmo não bebendo refrigerantes, mesmo não bebendo álcool, mesmo não comendo nada após o jantar. O meu organismo é o meu principal inimigo e é algo com que vou ter de lidar a vida inteira.

O problema aqui é que a comida é mais do que isso; não serve só para nos alimentar o corpo e, quiçá, a alma. A comida faz parte de diversos ecossistemas, nomeadamente o social. Ir a uma festa de anos e não comer uma fatia de bolo de aniversário é quase rude. Ir a um restaurante de francesinhas e pedir um bife de peru é quase ridículo - já para não falar de doloroso. Ir à praia e não comer um gelado quase faz parecer que não estamos a usufruir do pacote completo. Muitos dos nossos planos sociais, quer envolvam muitos amigos ou só o nosso marido, envolvem comida de alguma forma - e desconstruir isso é, por si só, difícil e doloroso. É mais fácil construir planos novos, limpos de açúcar e tentações, do que tentar alterar coisas que já estão enraizadas em nós como sendo dados adquiridos. 

Numa fase em que os problemas de trabalho tomaram conta da minha vida quase por inteiro e com a tendência que tenho de me fechar na minha própria bolha, isto é um problema. Eu sei que preciso de sair e espairecer, mas só em casa é que eu tenho o controlo do conteúdo das prateleiras e do frigorífico, onde sei que nenhuma tentação me poderá fazer sair fora do caminho. Eu não quero ir ao Porto porque sei que não posso comer natas ou cachorrinhos. Eu não quero ir dar um passeio à praia porque sei que não tenho direito a gelado. Eu nem sequer quero ir ao restaurante, onde já antecipo a ideia de ter pessoas à minha volta a comerem sobremesas que eu não posso comer. 

Estar em dieta é mais do que a simples privação de comida. É, inevitavelmente, a escassez do conforto interior que a comida nos traz - mas também o corte de muitos planos de fuga que utilizávamos para nos fazer sentir melhor, que por uma razão ou outra incluíam algum tipo de comida. É um estreitar de opções. É a necessidade de usar umas palas, como as dos cavalos, para não podermos olhar para o lado e evitar morrermos um bocadinho por dentro. Fazer dieta é saber que a relação com o espelho melhora mas que o preço a pagar é alto, porque a alma dói.

Há pouco mais de um mês decidi voltar a enveredar por este caminho porque achei que, mesmo estando mentalmente debilitada, seria o melhor para mim. É curioso ver as diferenças entre este ano e o anterior; a relação com a privação está a ser muito mais pacífica e a determinação e a capacidade de dizer que não também; o que me tem custado mais é mesmo a erradicação de determinados planos e passeios que me nutriam a alma e me faziam esparecer a cabeça. Na maioria dos fins-de-semana dou por mim a não sair para não comer - mas já dias houve em que, em prol da minha saúde mental, dei um aval para uma asneira ou outra.

O esforço tem sido recompensado e tenho vindo a emagrecer progressivamente. O plano é ter, pelo menos, mais um mês de restrições pela frente - que não vai ser fácil, tendo em conta que o Sr. de Matosinhos está aí ao virar da esquina. Sendo esta a minha romaria preferida do ano, não é algo fácil de prescindir - nem eu tenho grandes intenções disso; terá de ser troca por troca - um churro por mais 15 minutos de bicicleta. 

Com calma sei que isto vai lá - mas "calma" não pode ser sinal nem de lentidão nem de facilitismos, porque já sei que ao mínimo deslize o plano pode ir por água abaixo. Sei que chegarei ao meu objetivo, mas o meu medo é sempre o mesmo: o futuro. Eu ainda não sei qual é o meu ponto médio, o equilíbrio que me permite comer algumas das coisas de que gosto, compensando com exercício, e culminar sem aumentar de peso - e, até aprender, temo muito por este yo-yo em que vivo nos últimos anos. 

Quem me rodeia diz-me sempre que estou bem, que o peso não se nota, que nunca diriam que tenho o s quilos que a balança indica. Mas a verdade é uma: eu, sem me aperceber, vou aumentando. É aquilo que me é natural - e eu conheci alguém exatamente assim, com o mesmo estilo de corpo que eu, com um metabolismo que a levava a engordar com facilidade. Era a minha avó, que sempre foi gordinha desde que tenho memória, e cuja mobilidade foi sempre muito reduzida devido ao peso que tinha de carregar nas pernas. Esse não é o futuro que eu quero para mim - e sei que se chega a este estado de uma maneira mais rápida do que parece. No que toca ao peso, andar para a frente é sempre fácil; mas quando queremos engrenar a marcha-atrás... só aí é que se vê de quantos cavalos é que somos feitos. Por isso o plano é continuar a andar para a retaguarda, mas tendo sempre em vista o futuro; é saber que o sacrifício de hoje é a vitória de amanhã. Mas a verdade é uma: os minutos de sacrifício são intermináveis e o amanhã parece a anos de distância. A privação é dura. Mas eu também.

 

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(imagem daqui)

08
Fev22

Uma arca congeladora, o luxo de uma dona de casa prevenida

Cresci numa casa enorme, com quintal e animais, e nunca pensei que de lá ia sair. O que veio a seguir toda a gente sabe, é a lenga-lenga mais falada neste blog: a vida trocou-me as voltas e o avesso da vida acabou por se revelar o certo, mas a verdade é que a adaptação nem sempre foi fácil. Mas uma coisa correu muito melhor do que eu esperava: a mudança de uma moradia para um apartamento. Achei que me ia sentir claustrofóbica num espaço tão pequeno comparado ao meu habitual, mas a verdade é que a minha casa, mesmo antes de ser minha, revelou-se sempre um lugar de enorme conforto. 

A arrumação e organização foi o meu maior desafio - mas a otimização de espaços é algo que até me dá algum gozo (tanto que já estive várias vezes tentada a escrever sobre isso aqui, partilhando alguns hacks e tralhas que compro e que vão ajudando no processo), pelo que sempre consegui agilizar as coisas de alguma forma. No limite, ponho numa caixa e levo para casa dos meus pais, onde o que não falta é espaço.

Mas a verdade é que por muito que agilizemos, por muito que queiramos, por muito que sejamos a Marie Kondo portuguesa... não há como alargar espaços pequenos. Há limites para o que cabe dentro das coisas. E sabem o que é seriamente pequeno em minha casa? A arca congeladora. 

Vinda de uma casa como a dos meus pais, quase uma pequena quinta que "produz" muita da comida que consome, nunca antes isto havia sido um problema. Com umas cinco arcas congeladoras, há espaço suficiente para os coelhos e para os frangos, para os tomates e as courgetes, para as ervilhas e para os pimentos. Nada comparado com as minhas duas singelas gavetas, que dão para pouco mais de meia dúzia de refeições.

Ora, eu sou toda virada para a otimização, não só de espaço mas também de viagens, idas ao supermercados e mercearias. Sei que, na verdade, não sou assim tão bem sucedida, porque passo a vida a saltar de supermercado em supermercado em busca dos meus produtos favoritos; ainda assim, tento ao máximo ampliar o espaçamento das minhas visitas à mesma loja. E, para isso, é essencial planear e armazenar. Sempre gostei de planear as refeições semanalmente e de ter tudo pensado com antecedência, mas a pandemia veio agravar este meu traço, tendo em conta que hoje em dia todos estamos em risco eminente de um isolamento (o que, até agora, ainda não aconteceu connosco, whowoooo!). A questão é: onde armazenar? 

A minha luta com a arca durante estes dois anos foi estoica e dura. Gosto sempre de ter de tudo um pouco em casa - desde carne a vegetais (corto tudo depois de vir da feira e congelo, para ser mais rápido fazer sopa durante os dias da semana), passando por algum peixe, pão e uns gelados - mas às vezes o tetris era demasiado exigente e alguma coisa acabava mesmo por ficar de fora, ao ponto de ter de levar alguma comida para casa da minha mãe. 

Mas esses tempos acabaram. Finnito!!! Cedemos à pressão da falta de espaço e ao tetris constante e compramos uma pequena arca para pôr na cozinha; são mais três gavetas vindas diretamente do paraíso dos congelados para minha casa, que agora me permitem ceder a pequenos luxos (uns crepezitos, talvez?) e a não ter de proceder a quinze minutos de encaixa-aqui, desencaixa-ali para conseguir chegar a algum tipo de alimento.

Ah... a liberdade! O luxo! O espaço! A capacidade de planeamento durante uma semana, sem precisar de ir ao supermercado pelo meio! Que pequena maravilha. Ser adulta tem destas coisas, não é? Quem diria que um dia havia de ficar tão feliz com uma arca congeladora. 

 

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02
Fev22

Uma carta ao.... #6 Mercadona

Querido Mercadona,

Sou assumidamente tua fã. (Será que já inventaram alguma alcunha para os vossos fãs? Mercadonnas, para agarrar a clientela italiana? Merca-ladies, a piscar o olho aos anglo-saxónicos? Merca-dónas, para atrair as donas de casa portuguesas? Tudo um bocado preconceituoso, mas serviria o propósito. Se calhar vou pesquisar naquele grupo do "Feedback Sincero - Produtos Mercadona" que há no facebook - de certeza que já se auto-apelidaram de alguma coisa.)

Enfim, divaguei, desculpa. Na verdade é mais ao menos como faço contigo: entro na loja e em vez de ir direta ao pão ou ao presunto, vou dando umas voltas para ver o que encontro de novo. E isso tem-me trazido consequências. Graves. Gravíssimas. Não porque o resultado tenha sido mau... é só pessimamente bom.

Porque é assim: já todos sabemos que os produtos do Bosque Verde cheiram muito bem, que as vianinhas estão fresquinhas e no ponto, que a carne sai sempre bem, que a tua peixaria é o mais próximo que um supermercado tem de uma lota, que os mirtilos são dos melhores que se encontra no mercado, que os pãezinhos com alho são um mimo, que os iogurtes de proteína têm uma excelente relação qualidade-preço, que as pizzas são muito boas, assim como os morangos, os gelados, as castanhas congeladas, o pão ralado e, claro, o presunto que é de bradar aos céus de tão delicioso. Mas é assim... há uma linha que separa. Que separa o bom do diabolicamente bom; o desejável do irresistível; a capacidade de escolha e o vício. Que separa aquilo que se quer daquilo que não se consegue evitar. Que distingue o querer comer e não ter escolha. O querer parar e o não conseguir.

E é aqui que entram os teus chocolates, os Fusion Oreo, que eu descobri enquanto passeava e olhava para as prateleiras, numa das minhas últimas visitas. É que uma coisa são os iogurtes, a carne, o peixe e até o presuntinho. Outra coisa são aqueles chocolates, importados diretamente pelo Diabo, para nos infernizar as papilas gustativas para todo o sempre - e que, mal habituadas, não querem saborear mais nada desde então. Sabias que a gula é um dos sete pecados mortais? E que os cúmplices são tão culpados quanto os próprios culpados? 

Como tal, teremos de tomar medidas - até porque nenhum de nós quer ir parar ao inferno, certo? A medida mais sensata da tua parte seria retirar isto do mercado; tal como as drogas são proibidas, chocolates neste calibre de viciação e gostosura não deveriam ser permitidos. A outra alternativa será eu deixar de frequentar os teus supermercados e arrumar o meu crachá de merca-dóna - sei que parece exagerado e será duríssimo viver sem o teu jámon reserva, mas para grandes males, grandes remédios, e já se sabe que a ideia de resistir a comprar aquele pedacinho de céu (perdão - inferno) é perfeitamente utópica. Podemos arranjar também aqui uma solução intermédia, algo que te ficava bem de qualquer das formas, uma vez que o mal já está feito: criar vários clubes de chocolatólicos anónimos distribuídos pelo país, para todas as pessoas que, tal como eu, já só têm oito quadradinhos de chocolate e que não sabem como será a vida depois deles acabarem; serviria também de apoio a todos aqueles que se sentem fortes o suficiente para deixar o Fusion Oreo de vez, partilhando as suas emoções e dores neste processo de doloroso desmame para as papilas gustativas e o corpo de uma forma geral.

Neste momento já fomos obrigados a tomar medidas aqui em casa e a única coisa que me separa do restinho da tablete que jaz na cozinha é a providência cautelar que o meu marido colocou para salvaguardar as minhas ancas, muito queixosas desde o dia em que descobri o maldito chocolate. Ele ameaça-te com processos judiciais, nomeadamente por achar que isto se pode encaixar num quadro de adultério, uma vez que acha que neste momento gosto mais do chocolate do que dele. E o pior é que não sei se ele não terá razão.

Há por isso várias vertentes de peso envolvidas nesta questão: a fé (queremos ir ambos para o inferno?), a moral e a ética (será correto ter um produto destes no mercado?) e até a justiça (por ciúmes do meu marido). Não valerá mais a pena cortar o mal pela raiz e segregar o chocolate de vez das tuas prateleiras? Por favor. Por mim, pelas minhas ancas e glicémias. Por nós, no fundo, e pela relação que temos vindo a construir ao longo do último ano. E, claro, pelo meu marido - pessoa que, não sabendo a chocolate, eu também gosto muito. 

Conto com a tua compreensão.

Obrigada,

A tua merca-dóna favorita,

Carolina

 

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01
Mar21

E hoje, o que jantamos?

Ou um post para troca de ideias alimentares

Cresci com a minha mãe a dizer mal da vida dela todas as manhãs, de cada vez que chegava a altura de decidir o que fazer para o almoço. Não é o ato de cozinhar que lhe faz espécie, mas sim escolher o que fazer todos os dias. Acho que é assim em todas as casas. Para piorar, há que conjugar os gostos de todos os habitantes, o que torna a tarefa quase hercúlea.

Eu ainda não me posso queixar; primeiro porque só trato do jantar (não tenho de pensar no almoço, o que é uma benção) e segundo porque ainda não passou tempo suficiente para estar naquele estado de saturação em que a maioria das nossas mães se encontram. Felizmente gosto de cozinhar, o que também ajuda neste processo. O facto de ter um planeamento semanal de refeições também me facilita a tarefa: domingo ou segunda-feira pego no meu telemóvel e escrevo a ementa da semana. Às vezes não sei o que cozinhar (ora porque não tenho os ingredientes necessários, ora porque não me apetece isto ou aquilo) e entro em parafuso, mas é só naqueles minutos em que estou a decidir o que vou fazer durante a semana inteira. Daí em diante é só confecionar, não há decisões a tomar - e as compras também ficam facilitadas, pois já sei que de tudo o que vou precisar, diminuindo significativamente as minhas idas ao supermercado.

Mas neste momento a minha maior dificuldade é a diversificação de pratos. Sou esquisita quanto-baste e o meu namorado também não é muito melhor que eu - e sinto que passamos a vida a comer as mesmas coisas. Tento restringir certas comidas ao jantar, para não ficarmos enfartados, por isso as comidas mais "light" são curtas e parecem repetir-se todas as semanas: é bifes com ovos mexidos, alheira com ovo, panados no forno, timbale de frango e... e... e...? Lá pelo meio introduzo uns assados, uma lasanha, umas sardinhinhas fritas, uma massa com carne. Mas é só para sair do ram-ram de todos todos os dias...

Por isso esta semana proponho uma troca: todos os dias vou colocar no meu blog de culinária um post novo, com uma receita (que pode ser entrada, prato principal e sobremesa). Em contra-partida, nos comentários, dizem-me que comidas é que costumam fazer/comer aí em casa, para ver se eu tiro ideias e acrescento às minhas ementas semanais. Pode ser?

Para começarmos a semana em modo doce, deixei a receita de um bolinho de chocolate lá no blog. Vão lá ver e, quando voltarem, contem-me tudo: o que vão jantar hoje? E amanhã? E depois? 

 

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01
Nov20

Uns são filhos (os supermercados) e outros são enteados (os feirantes)

Há uns dias vi o vídeo do Gustavo Carona (podem ver aqui) e não podia estar mais de acordo. O Covid é um problema sério, que não podemos ignorar - e não é nos hospitais que ele vai ser resolvido. É nas ruas, é nas nossas casas, é nas empresas. Está literalmente nas nossas mãos - essas, que carregam tanta coisa invisível, e que hoje tomam uma importância extrema no que diz respeito ao transporte do vírus ou à sua eliminação (se as lavarmos e desinfetarmos bem e corretamente).

Concordo também com ele no facto de isto não se poder tornar numa luta política - não interessa quem está no poder. De direita ou esquerda, uma coisa eu sei: não queria estar naqueles calcanhares. Não tendo qualquer empatia com as pessoas em questão (e não comungando com muitas das suas convicções políticas), eu não queria ser primeira-ministra, não queria ser ministra da saúde, não queria ser a diretora geral da Direção Geral de Saúde. E há que respeitar as posições que estão a tomar - porque nenhuma vai ser boa e nenhuma vai ser fácil e todas serão controversas.

Mas há aqui um erro generalizado que está a revoltar a população: chama-se falta de coerência. Não deixam as pessoas ir ver um jogo de futebol, ao ar livre, num estádio com espaço para mais de 50 mil indivíduos; mas deixam que exista público na fórmula 1. É para ricos, não é? Também deixam que se vá às touradas. É para chiques, não é? E o Avante? É para camaradas, pois claro.

A mim não me afetam as restrições - dou-me bem com regras e sou boa a respeitá-las. Não me importo de não sair do concelho, não me importo do dever cívico de um recolher obrigatório (embora não possa exercer o meu trabalho em casa, sendo obrigada a fazer a minha vida normal), não me importo de usar máscara na rua, não me importo de esperar na fila do supermercado para não sermos 5628 pessoas à volta da mesma peça de fruta.

Mas importo-me com os contra-censos que mencionei acima. Revoltam-me mais estas cedências estúpidas - em prol de favores, de dinheiro, de tudo o que não devia contar - do que as próprias pessoas envolvidas nestes atos, que apesar de inconscientes só estão lá porque à partida a cancela não estava fechada. E sei que não me revolta só a mim: revolta-nos a todos, porque não é preciso ser nenhum génio para perceber as incongruências que existem.

Sobre as medidas que saíram ontem para os concelhos com risco elevado (que incluem as cidades onde moro), mais uma vez, acato e respeito o que foi decidido - mas a última medida, que proíbe que se façam feiras e mercados, mexe comigo até aos ossos. O Covid afetou-nos a todos: psicologicamente, pelo medo e pelo tempo de confinamento; fisicamente, principalmente àqueles a quem o bicho já pegou e sofreram consequências físicas; e financeiramente, para quem perdeu o emprego, para quem viu os seus postos de trabalho ou empresas em lay-off, para quem perdeu inúmeras oportunidades de negócio num ano que se queria promissor. Serão muito poucos os que beneficiam disto - eu olho à minha volta e não vejo ninguém. Mas a mim ninguém me obrigou a deixar de trabalhar - mas aos feirantes, que vendem bens de primeira necessidade, acabaram-lhes com o negócio. O Continente pode operar, o Pingo Doce, o Mercadona e o Mini-Preço também; mas uma feira ao ar livre, sem ar-condicionados, sem carrinhos que são manipulados por milhares de pessoas e sem tapetes rolantes podem trabalhar. Aqueles que o estado segura e promove; as Sonae's e Jerónimo's Martins desta vida, que mais do que dinehiro, movem influências. Mas os feirantes - pessoas como nós, sem as contas cheias de zeros e sem amigos na assembleia -, que acordam todos os dias às tantas da madrugada para andarem com as tralhas às costas, de sítio para sítio, para se fazerem à vida e terem o seu ganha-pão, têm de ficar em casa.

Eu, podendo, deixava de ir a super-mercados - ia sempre à feira. Estar antes das oito da manhã a fazer compras ao ar livre é terapêutico para mim - e a qualidade daquilo que compro é infinitamente melhor. A minha sopa não é a mesma se não for feita com as coisas que compro vindas da terra, ainda sujas, ali da Póvoa do Varzim.

Mas a D. Carolina já não me pode vender batatas, alho-francês, courgete ou agrião.

A senhora das flores já não vai estar lá com aqueles raminhos bonitos que dou semanalmente à minha mãe.

Já não posso ir comprar a manga do Algarve à D. Carla, nem a uva sem grainha ou o melão doce que me deixa sempre experimentar antes de comprar.

Não posso ir comprar os fidalgos da minha mãe à senhora que me chama sempre "meu amor".

O senhor das árvores de fruto já não me vai dizer que trouxe, finalmente, os pêssegos-paraguaios carecas para eu plantar no quintal.

Por isso hoje, mais do que pelas multidões na Nazaré, concertos ou filas para o que quer que seja, estou triste - e revoltada! - pelas pessoas que todas as semanas me enchem os armários, o frigorífico e a alma. Pelas pessoas que me tratam com empatia, que me aconselham aquele fruto em vez daquele, que me deixam pagar na semana seguinte se se apercebem que não trouxe trocos suficientes. Tudo o que não acontece num supermercado, onde eu - como todos - sou tratada como um número e constantemente enganada por cupões e cartões e cadernetas autocolantes. 

É incoerente, triste e, acima de tudo, revoltante. 

02
Set20

Uma dona de casa e os supermercados (e, como bónus, a forma como o Pingo Doce me conseguiu fidelizar)

O meu maior sonho enquanto dona de casa moderna é existir um supermercado-em-um. Ou seja: num só sítio ter tudo aquilo que todos os supermercados têm. Porquê? Porque ir buscar todos os produtos que gosto a quatro supermercados diferentes (enquanto faço piscinas de um lado para o outro) é uma gestão díficil - dentro da própria gestão, por vezes problemática, da nossa despensa e da casa de uma forma geral.

Então é assim: gosto dos pães de leite do Continente e do facto de ter uma maior oferta em termos de iogurtes. Gosto do peixe, da carne, do presunto e da massa fresca do Mercadona. Gosto do pão do Lidl e dos iogurtes-falsos da Milbona (já para não mencionar aquele corredor de tralhas, demoníaco para a carteira). E gosto do sistema de águas do Pingo Doce, assim como as maçãs Granny Smith e o chocolate de culinária.

No entanto detesto a fruta do Continente. A massa folhada do Mercadona é terrível e também não adoro o pão - já para não falar de que não tem a maioria das marcas que consumimos no dia-a-dia. Já o Lidl não tem uma série de coisas mais específicas (Água das Pedras, muitos dos iogurtes, etc.). No Pingo Doce dispenso as filas.

Em suma: não se trata só de ir buscar os produtos que gostamos - é ter de fugir e procurar alternativas ao que não gostamos! Ainda para mais dou por mim presa a alguns produtos, que de certa forma me fidelizaram a um sítio. Falo, em particular, das águas ECO, que fazem com que eu seja obrigada a ir ao Pingo Doce com alguma regularidade - logo eu, que nunca gostei deste supermercado por ser o mais sujo e apertado de todos! Apercebi-me  depois que eles me tinham conseguido "agarrar" por umas meras garrafas de água - um golpe de marketing bem pensado da parte deles. E porquê?

Quando vim viver com o meu namorado deparei-me com a triste realidade dos garrafões de água. Em casa dos meus pais bebe-se água da torneira (que não é sequer da companhia), que foi a que sempre me soube melhor. Mas o "meu homem" não gosta de beber água da torneira - e eu tive de passar a fazer algo que nunca havia feito até então (e que, na verdade, continuo a achar um bocadinho parvo): comprar água. 

Nos primeiros tempos fiz o que toda a gente faz: comprar garrafões, usa-los e deitá-los fora. Mas por vezes dava por mim com dois garrafões de água gastos numa só semana - os dois monos parados na lavandaria, à espera para ir para o lixo, ocupando até lá quase metade do espaço útil daquela divisão. Os garrafões são monstros de plástico e nós deitamo-los fora como se fossem o invólucro de uma palhinha - e isso, apesar de eu estar longe de ser uma fanática pelas questões do meio ambiente, fazia-me confusão.

Até que dei de caras com a máquina de águas da ECO, presentes em algumas lojas Pingo Doce. O sistema é simples: da primeira vez que usamos, compramos uma garrafa (de 1,5 ou 3 litros). A partir daí, utilizando uma máquina que nos permite encher as garrafas de forma rápida e prática, pagamos apenas o valor do enchimento. Para além de reutilizarmos quase infinitamente as garrafas (que são mais pequenas e por isso melhores de transportar), a água fica mais barata: seis cêntimos por litro (enquanto que, em garrafões, pagamos dos 10 aos 30 cêntimos por litro). Ah, e um pormenor importante: a água é boa!

Por isso, apesar de agora ser agora refém do Pingo Doce, gosto de pensar que o faço por uma boa causa. Posso andar de um lado para o outro, mas ao menos não deito garrafões fora a torto e a direito.

 

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(mais informações sobre a ECO aqui)

03
Jul20

Não pode haver verão sem pão com chouriço - !ajuda é necessária!

Num ano normal eu já estaria a fazer contas à vida, por entre calendários, planos de fim-de-semana e fins de tarde (que passariam dissimulados por "jantares ligeiros"). Já estaria a fazer reconhecimento no terreno, a programar onde estacionar nos dias de mais confusão. Já teria marcado na agenda os dias de começo e fins de festa - e agilizado até as minhas férias, qual gincana, de forma a poder ir passear e simultaneamente parar nas romarias e feiras medieval que existissem pelo caminho. Já estaria a salivar com antecedência.

A primeira semana de Julho marca o início dos meses-do-pão-com-chouriço do meu ano, que só terminam em meados de Setembro, com a última feira medieval que acontece nas redondezas. Durante dois meses o objetivo é trincar o maior número de pães com chouriço possível, e quiçá mistura-los com umas boas papinhas de sarrabulho e uns crepes recheados com doce de frutos vermelhos ou maçã com canela, feitos sob caldeirões de fogo. 

Mas este ano não. 

Este não não há papinhas de sarrabulho em bancos corridos. Não há crepes gigantes embrulhados em guardanapos de papel. E, mais do que tudo, não há pães com chouriço. 

Eu não quero saber das tatuagens de hena, das barracas de gomas ou sequer dos doces conventuais. Não quero saber das banquinhas onde os árabes vendem perfumes e roupas inspiradas no deserto, dos brinquedos de madeira, das velas, dos incensos ou dos cheirinhos. Não quero saber da ginginha e nem sequer do copo de chocolate. Não quero saber da bijutaria arcaica nem dos nomes escritos em árabe. Não quero saber de farturas ou churros. Só para verem: já nem quero saber dos burrinhos, das cabras ou dos porquinhos! Na loucura, até dispenso as papas e os crepes.

Mas e os pães com chouriço? Como é que eu vou sobreviver sem trincar aquele pãozinho acabado de sair do forno, a fumegar como quem implora por ser comido? Como é que vou conseguir passar um verão sem sentir aquele calor a invadir a minha boca - e a minha alma! -, à medida que vou trincando aquela massa mal cozida? Como é que se faz um verão sem pão com chouriço? Mais: como é que se consegue ser feliz sem ter pão com chouriço à mistura?

Soluções como "há pão com chouriço à venda no Continente" não são aceites. Mais: são consideradas uma heresia! Quem compara uma coisa com outra não sabe distinguir o bom do mau; a realidade e a imitação. Não sabe o que é sentir a fuligem do forno de lenha na crosta do pão nem o cheirinho da gordura do chouriço deixada na sua massa. Diria que, quem diz ou acha tal coisa, não devia ter direito a papilas gustativas, pois não lhes sabe dar o devido valor.

Por isso, almas-caridosas-com-gostos-gastronómicos-decentes-que-não-se-contentam-com-coisas-de-supermercado, digam-me: onde é que, neste país, eu consigo encontrar aqueles pães com chouriço que se vendem nas romarias, principalmente o pão com chouriço do Marco de Canaveses? Na terra que lhe dá nome há alguma padaria que seja famosa por ter destas delícias à venda, sempre quentinhas e fresquinhas? Ou é tudo marketing para enganar esta velha alma gulosa? 2020 já está a ser mau o suficiente - e não poder comer nem um pãozinho com chouriço faria dele, sem dúvida, um ano para enterrar até à eternidade.

Ajudem!

 

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02
Jul20

Uma carta à.... #5 Mimosa

Querida Mimosa,

Sei que não me tens em grande consideração depois de ter dito, há um ano e tal, que as natas da Longa Vida eram incomparavelmente melhores que as tuas (não mencionei nomes, mas é fácil servir-te a carapuça, uma vez que são vizinhas de prateleira).

Gostava que a nossa relação melhorasse a partir daqui e acho que a lição que é importante tirar do nosso pequenininho incidente é que cada um é bom em diferentes coisas - e se as natas da Longa Vida são, sem sombra de dúvida, as melhores do mercado, já os seus iogurtes frutados são tão desenxabidos como o queijo Filadélfia que potencialmente também vende. Estás a ver? Isto é só uma questão de procurar... E eventualmente cai para cima de todos ;)

Dito isto, e agora que já avançamos na nossa relação, gostava de falar sobre os teus iogurtes magros. São óptimos, os meus preferidos. Mas quem te diz que eu gosto simultaneamente de morango-kiwi, banana e pêssego? Ou côco e morango? Ou morango-kiwi e manga? Esta tua mania de tentar prever combinações de sabores que agradam às papilas gustativas dos teus consumidores é um bocado chata. E a verdade é que nem toda a gente tem a mesma sorte que eu. No frigorífico lá de casa as embalagens são divididas irmãmente: o homem come tudo o que meta morango, eu devoro tudo o resto. Mas e quem vive sozinho? E quem não tem uma cara metade que coma, literalmente, metade do pacote?

As questões que se colocam são então estas: porque é que o morango tem de estar sempre metido ao barulho? Porque é que o pêssego, a banana, a manga ou o côco não podem ser livres e independentes, tendo sempre que estar acompanhados com aquele fruto vermelho que mais parece um pau-de-cabeleira? São maiores e vacinados, já correm mundo há muitos anos, e está na altura de lhes dar espaço, quais filhos crescidos. Eu quero iogurtes de banana. E de côco. E de pêssegos. Sozinhos. Aos pacotes e sem packs. Não quero ter de espiar constantemente o frigorífico para ver se o meu namorado já comeu os iogurtes-pau-de-cabeleira, para poder comprar uma embalagem nova. Eu, tua consumidora fiel, exijo a independência dos sabores mais irreverentes. E como sou amiga, para poupares algum dinheiro no processo criativo e continuares na tua linha de combinações, ajudo já com a promoção dos iogurtes de banana (sou suspeita, pois são os meus favoritos!). Ora cá vai:

 

Iogurtes de Banana

Combina bem com tudo

Até com uma bifana!

 

Se isto for muito arrojado, aí vai um comercial mais soft...

 

O bom sabor de Verão

Agora com independência

O clássico sabor a banana

A compensar estes anos de ausência!

 

Posto isto, e tendo em conta toda a ajuda que já disponibilizei, aguardo ansiosamente junto às prateleiras dos lacticínios.

 

Até lá, sempre vossa (menos no que diz respeito às natas, mas isso são mágoas do passado),

Carolina

 

Queremos independência!.png

14
Fev20

Hoje há sopa para jantar

Uma espécie de texto sobre o dia dos namorados - ou como este dia deve ser a rotina

Lembro-me bem de, já a meio da viagem do Japão, dizer ao meu namorado que tinha "saudades de fazer sopa". Repeti a expressão vezes suficientes para ela ser uma espécie de "coisa nossa". 

A sopa foi a refeição que criou rotina em nossa casa. Sendo ambos trabalhadores, o fim do dia é o tempo de excelência (que é como quem diz: o único) para estarmos juntos. Uns meses depois de começarmos a namorar definimos que iríamos jantar sempre juntos - e o meu jantar sempre se baseou na sopa. Era coisa que nunca tinha feito - todos sabemos que a sopa da mãe é a melhor do mundo - mas aprendi a reproduzi-la à minha forma. E hoje digo-o com orgulho: acho que faço boa sopa. Se calhar porque com todo os ingredientes vai uma boa dose de amor.

Mesmo em tempos que não os de dieta, onde a sopa é mesmo uma das minhas maiores aliadas, aquele momento diário de puxar da tábua, cortar o alho e a cebola para fazer o estrugido, de escolher o que tenho no frigorífico para deitar para dentro do tacho e esperar que tudo aquilo coza, enquanto emana o seu cheirinho característico, é mágico para mim. Mesmo nos dias em que não me apetece ter esse trabalho. Mesmo quando a cebola me faz chorar as pedras da calçada. Mesmo quando chego do trabalho derreada, só com vontade de um banho e um sofá para me deitar. Porque fazer sopa passou a significar casa. Passou a ser a minha rotina. A nossa rotina.

A verdade é que a "sopa" não acaba no momento em que a passo com a varinha mágica. Também significa estar a comê-la ao lado de quem amo, enquanto cada um partilha as idiossincrasias do seu dia - mais os problemas, as chatices, os desabafos ou, por contrário, as coisas boas que nas horas antes aconteceram. Não acaba no momento em que lavamos os pratos, já depois da sopa sorvida, em que cada um arruma a cozinha o mais rapidamente possível, por sabermos que a seguir vem a parte que mais desejamos: o descanso. O mimo. O sofá.

A sopa é tudo isso. É a rotina.

Tenho saudades de fazer sopa em semanas muito agitadas, com jantares e eventos e dias demasiado caóticos para caberem na agenda. Tive saudades de fazer sopa quando fui de férias, tanto para o Algarve como para o Japão. Tive saudades - muitas! - de fazer sopa quando fui operada e a minha mobilidade era reduzida. E vou ter sempre saudades quando a rotina me faltar. Quando ele me faltar.

Hoje é só mais um dia como os outros - sempre disse, enquanto solteira, que queria que assim fosse. Mas há sopa para o jantar - com tudo o que isso significa. E que bom que é!

 

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