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Entre Parêntesis

Tudo o que não digo em voz alta e mais umas tantas coisas.

29
Set22

Uma lua-de-mel nas Maldivas

Estou a preparar-me para fazer os diários de bordo do meu último cruzeiro e vinha lançada para escrever o primeiro texto quando me cai tudo: "eu ainda não publiquei o texto sobre as Maldivas". Eu sei, não sou digna de aqui estar: devia ser despedida dos blogs com efeito imediato, tal é o ultraje: como é que se passa mais de um ano depois de uma das viagens da minha vida e eu ainda não dediquei tempo para escrever sobre ela? Na verdade, metade do texto está nos rascunhos desde Março, mas os dias foram passando e ele foi ganhando pó. Mas hoje foi o dia. Quase um ano e meio depois - quando até já o hotel mudou de nome!!! - cá estou eu, a redimir-me, e a fazer o que tem de ser feito. Gosto sempre de escrever estes textos pouco tempo depois de viajar, para garantir que deposito todas as memórias o mais frescas e verdadeiras possível, mas mais vale tarde que nunca.

 

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Quem me conhece saberá que as Maldivas não eram o meu destino de sonho para ir de lua-de-mel. Ou, pelo menos, não é o primeiro sítio que me surgiria, até por ser meio clichê. Ter duas semanas inteiras de férias, numa altura escolhida por nós (e fora de épocas de pico), é um luxo que se tem de aproveitar bem e a minha primeira opção teria sido a Austrália, uma viagem que já está na minha lista há muito tempo. Eventualmente faria um mix entre cidade e praia, mas iria certamente conhecer o outro lado do mundo.

Mas... Covid. Perante a instabilidade que se vivia (fecha-abre-confina-desconfina) o plano inicial até era ficar por cá e ir para Porto Santo. Mas decidimos arriscar - e ainda bem! Não houve muito destinos em cima da mesa mas, à partida, tudo o que era visita cultural ficou de fora: os países fechavam e abriam as fronteiras constantemente, havia regras muito restritivas em muitos deles e muitos dos locais de interesse (museus, igrejas, parques e monumentos de uma forma geral) estavam fechados, por isso não valia a pena arriscar. Mas praia... praia há sempre. Há-de haver sempre mar e conchas e mergulhos, por isso decidimos que íamos ficar de papo para o ar quinze dias no destino-rei das luas-de-mel. As Maldivas.

Até decidir o hotel foi um ano de juízo. O Miguel pesquisa as coisas até à exaustão, com uma profundidade que eu jamais teria paciência, e por isso, a certa altura, eu já estava pronta para fazer o "um-dó-li-tá" e escolher um hotel qualquer que estivesse na nossa short list. Todos eram nas Maldivas, todos tinham mar, e praia, e peixes, e raias, e cabanas e tudo e tudo e tudo. Mas ele pesquisava, ele via vídeos, ele lia reviews. Quando finalmente me disse "acho que vai ser este", eu só lhe respondi: "M-A-R-C-A, por amor de todos os santinhos"! 

Não consigo precisar quais foram os hóteis entre os quais estávamos indecisos (devia ter tomado nota para posterior consulta, mas falhei), mas acho que nunca mais me vou esquecer do nome do sítio onde ficamos: Lti Maafushivaru (agora chama-se Outrigger Maafushivaru). Não sei se foi pela perseverança e paciência do Miguel, a quem tenho de tirar o chapéu, mas o hotel era de facto espetacular. Os outros provavelmente também seriam, mas aquele foi o ideal para nós naquele momento e hoje percebemos que fizemos um bom negócio, com uma relação-preço qualidade incrível, tendo em conta o hotel e as condições oferecidas. O hotel não era novo mas tinha sido todo renovado - apanhamo-lo aquando da reabertura, ainda fresquinho, com umas condições incríveis - e percebemos meses mais tarde que os preços estavam a disparar dada a qualidade do mesmo. Ficamos lá hospedados na altura certa e fomos muito felizes lá.  

Com hotel decidido, faltava a outra parte da odisseia: a viagem. O homem via vídeos dos aviões por dentro, comparava todas as escalas e companhias... enfim! Mas, mais uma vez, acertou em cheio. Era a nossa lua-de-mel e decidimos ir em bom, nem que fosse uma vez na vida - e por isso fomos pela Qatar, aquela que dizem ser a melhor companhia do mundo. Em classe executiva. Num Boieng 777-300, que faz uma classe executiva melhor do que muitas primeiras classes. E, meus amigos, fica um conselho de amiga: não façam isto. Porque depois não vão querer outra coisa e ora desgraçam as vossas carteiras ou ficam para sempre deprimidos por cada voo "normal" que decidam fazer. Optamos por fazer Porto-Madrid pela Transavia e depois Madrid-Qatar-Malé pela Qatar Airlines. E que maravilha que foi! Não há palavras para o serviço, para o avião, para a comida, para o carinho das pessoas. É, de facto, outro nível, outro conceito diferente de viajar; aqui, a própria viagem já integra a parte boa da experiência, não é somente um meio para atingir um fim. Só tenho elogios a tecer à Qatar e sonho um dia poder repetir esta experiência.

 

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A viver o sonho a bordo da classe executiva da Qatar

 

Chegados a Malé, tudo pareceu um pouco caótico. E é aqui que percebemos uma realidade que quase todos parecemos esquecer sobre as Maldivas: apesar das ilhas paradisíacas, aquilo é um país de terceiro mundo - e as estruturas e as pessoas não deixam que isso passe despercebido. Começamos logo mal: perderam-nos a mala. Prevenidos e com medo que isto acontecesse, já levávamos uma mala de mão com uma muda de roupa e tudo o resto essencial, por isso não foi o fim do mundo. Mas a experiência deu-nos logo a conhecer uma faceta do país que, até aí, também desconhecíamos: nas Maldivas mais de 90% da população é muçulmana e estão longe de serem brandos na implantação dos seus costumes. Há muita burka, muitas regras e restrições em relação às mulheres - que se fazem sentir na capital, Malé, o que só não acontece nas ilhas porque são privadas e os turistas podem andar como querem e bem lhes apetece. Enquanto esperávamos pela mala que não chegou, o Miguel foi chamado ao guichê para o notificarem do sucedido; eu fiquei junto ao tapete, caso a mala aparecesse, mas sempre de olho nele. Depois de perceber o que é que se passava, ele chama-me e eu vou ao seu encontro - mas sou rapidamente parada por uma mulher polícia, que me questiona de forma áspera de onde sou, quando cheguei e o que vou fazer às Maldivas... sozinha. Explico que não estou sozinha, que vou ter com o meu marido que está no balcão de informações, e só ouvir a palavra "husband" foi o suficiente para a sossegar. Afinal eu tinha dono, não estava lá sozinha - por isso pude seguir. Achava que a forma como eu tinha sido tratada (vulgo: ignorada) no aeroporto do Qatar era passado, mas na verdade era só uma amostra daquilo que seriam as nossas férias. Felizmente este foi o único episódio em que fui eu a visada, mas assistimos a vários - e foi, sem dúvida, a parte que menos gostei neste país.

Mas voltemos à nossa chegada: supostamente teríamos alguém à nossa espera quando saíssemos do avião, mas o vôo chegou atrasado e tivemos de nos desenrascar. Em vez de lojas (que há muito poucas), o aeroporto está repleto de pequenos "stands" que correspondem às ilhas/resorts, onde vos dão toda a informação e vos acompanham até ao sítio onde devem levar as malas, apanhar os transfers, etc. E a ajuda é de facto preciosa, pois a confusão está (aparentemente) sempre instalada. Do aeroporto seguimos para um lounge do nosso hotel, onde esperamos (umas duas horas?) para depois apanhar, finalmente, o hidroavião. Achei que esta viagem ia ser pior que todas as outras juntas - em termos de torbulência, arranque, aterragem... mas na verdade foi tranquila. Barulhenta e apertada (o avião é minusculo e muito baixo, com cerca de 15 lugares, mas vários são ocupados pelas bagagens que não cabem no mini-porão), mas segura e sem sobressaltos. E a vista? Tudo aquilo que vemos nos filmes, nos vídeos e nas fotos é verdade: aquelas águas azuis turquesa, as areias brancas e os atóis das mais diversas formas e feitios são das coisas mais bonitas do mundo.

 

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Prestes a subir para o hidroavião

 

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Tudo muito orgânico no hidroavião - com direito a pés descalços e papel higiénico, just in case

 

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Quando finalmente aterramos (foram só três solavancos na água e já passou!), fomos deixados numa pequena plataforma em pleno mar-alto (quando digo pequena, era pe-que-na: com uns seis metros quadrados, de madeira, que abanava de forma impressionante) e seguimos depois numa pequena viagem de barco até ao resort, pois o cais da nossa ilha estava inoperacional devido a uma tempestade que tinha acontecido uns dias antes. Não fizemos grande tempo entre escalas e, ao todo, demoramos cerca de 24 horas a chegar ao destino. E, meus amigos, vale cada minuto.

Quando chegamos, a primeira coisa que nos disseram foi "welcome home!". E não é que é mesmo? Sentimo-nos em casa ali. A segunda foi "you can take your masks off, everyone is tested" (podem tirar a máscara, toda a gente está testada). Se isto já era bom de ouvir em qualquer contexto, escutar estas palavras depois de termos passado um dia inteiro com o nariz e a boca cobertos (mesmo a dormir)... soou a qualquer coisa de mágico! A questão das máscaras e da segurança foi, na verdade, mais uma das razões pelas quais escolhemos as Maldivas e este hotel em particular - porque a praia ninguém nos tira, porque o controlo para a entrada no país era apertado (o que nos dava uma boa sensação de segurança) e porque, sendo a ilha pequena (dava-se a volta a pé, sem problemas, em cerca de quinze minutos), sabíamos que iríamos estar num ambiente muito limitado e controlado, para poder desfrutar das nossas férias sem grandes stresses. Só utilizávamos máscara para ir ao buffet - de resto, estávamos sempre a respirar ar puro. Era, an verdade, muito raro cruzarmo-nos com outros hóspedes no hotel, tirando a altura das refeições.

 

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Fomos nós que marcamos tudo: viagens e hotel. E ainda bem, porque para além de (à partida) termos poupado uns trocos, isto obrigou-nos a informarmo-nos ao detalhe sobre todas as burocracias que eram necessárias para seguir viagem. Tal como nós, muitos casais seguiam em lua-de-mel no primeiro vôo que fizemos, e vários foram os que tiveram problemas com papeladas, testes covid, e etc. Em relação ao hotel, optamos por fazer uma reserva com tudo incluído. E quando é tudo, é literalmente tudo: podíamos frequentar os quatro restaurantes do hotel, usufruir de todos os bares, consumir as bebidas que quiséssemos (nisso demos zero despesas, só a beber coca-cola e água...) e utilizar o vasto mini-bar que o nosso quarto dispunha. Havia apenas duas exceções: os vinhos que havia no quarto (nem sequer era no mini-bar, era um frigorífico só com vinhos) e alguns pratos nos restaurantes, devidamente assinalados, que por serem confecionados com produtos premium (lagosta, caviar, etc.) eram cobrados a um terço do preço de tabela. Se vale a pena ir com tudo incluído? CLARO! Por cada refeição, gastávamos o equivalente a 150 a 200 dólares. Nas Maldivas tudo é importado e tudo é caro, pelo que se não tivéssemos escolhido este plano, e mesmo não bebendo álcool, pagaríamos tanto ou mais que a própria estadia. Diria que mesmo indo em regime de meia-pensão pode ser arriscado - primeiro porque não há alternativas fora do hotel (só se formos a nado para outra ilha...) e segundo porque uma semana de snacks ao almoço, no final, revelar-se-ia provavelmente uma pequena fortuna. Por isso, se é para ir, ponham as fichas todas em cima da mesa e vão com tudo. 

O hotel dispõe de vários tipos de casinhas: umas em cima do mar, com e sem piscina; e outras à face da praia, também com e sem piscina. Nós escolhemos as primeiras - lá está, fizemos all in! E a partir do momento em que uma pessoa abre a porta... fica deslumbrada. Com a dimensão do quarto, com a decoração, com a piscina, com a vista... enfim, com tudo. Estávamos todos rotos, mas atiramo-nos logo à água (o hotel providencia colete, óculos, tubo e barbatanas para fazer snorkeling) e ainda bem que fomos, pois foi o dia em que esta estava mais clarinha. A época alta das Maldivas não corresponde à nossa, pelo que há grande possibilidade de apanhar tempestades e mau tempo; mas, para além disso, as águas ficam mais turvas e não têm aquela claridade que tanto idealizamos e que vemos nos screensavers - o que, devo dizer, não a faz menos incrível. ;)

 

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Sobre a água: não é quentíssima mas também não é fria. Diria que tem uma temperatura aproximada à do nosso corpo, o que faz com que seja fácil entrar e sair. Uma coisa que não esperava eram as correntes: pelo menos naquela zona e naquela altura, eram muito fortes. A primeira vez que fomos ao mar usamos colete, mas o Miguel deixou de o usar pouco depois... já eu só passado uns dias é que me atrevi (principalmente porque sentia que aquele equipamento me magoava e desajudava mais do que propriamente o contrário). No entanto, diria que é essencial termos noção das nossas capacidades: eu nado bastante bem, o Miguel melhor ainda. Ainda assim é preciso saber para o que se vai, marcar um objetivo e não ir simplesmente ao calhas; é necessário ter em atenção as marcações de perigo colocadas à volta do atol e nadar de forma estratégica - ou seja, numa primeira fase optar por nadar contra a corrente para depois, quando estivermos mais cansados, ter a "ajuda" para voltar à costa ou a casa. Ao contrário do que também pensava, o mar não é estilo lago: há ondas, acima de tudo provocadas pelo vento -  e uma coisa é certa, há SEMPRE vento. Não são ondas como as nossas, que movimentam quantidades grandes de água, mas combinadas com a corrente e tendo em conta que queremos estar à superfície com o tubinho para ver os peixes, a vida às vezes fica dificultada. Na verdade o vento era de tal forma que embora houvesse caiaques grátis à disposição (e eu adoro andar de caiaque!), nunca lhes pegamos, com receio de não termos força para regressar.

Ainda sobre o mar, não posso dizer que tenhamos ficado dececionados com a fauna que lá encontramos, mas diria que tivemos de restabelecer expectativas. Acho que todos idealizamos um fundo do mar colorido nestas zonas do mundo, mas os corais das Maldivas são cinzentos (não estão mortos, atenção) e o que dá colorido são os muitos peixinhos (e peixões) que lá habitam. Vimos muitos, de todas as cores e feitios, para além de raias, mantas e, claro, tubarões - a maioria pequeninos e totalmente inofensivos, os maiores com cerca de dois metros, o que já impõe um certo respeito embora nos digam que não constituem uma ameaça para os humanos. Curiosamente, diria que o mais perigoso naquelas águas são os corais - o nível médio das águas na zona do atol é muito baixa (pouco mais de 2,5 metros, provavelmente) e consoante as marés e as correntes por vezes torna-se difícil contornar aqueles "rochedos" gigantes que chegam quase à superfície. Os arranhões e rasgões são sérios, quando batemos com um pé num coral ou quando a barriga dá uma "varridela" num deles. Se não se acreditam, o meu pé pode servir de testemunha!

 

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Ora bem: e o que é que ao certo se faz nas Maldivas? Dorme-se muito, namora-se, conversa-se, nada-se e vê-se os peixinhos, lê-se, joga-se, tomam-se banhos de imersão, apanham-se banhos de sol, dão-se mergulhos e alguns passeios na praia, apanham-se conchas (embora seja proibido), vai-se ao spa e come-se. Come-se muito. E bem, pelo menos naquele hotel em particular. 

O meu primeiro destaque tem de ser, obrigatoriamente, para a oitava maravilha do mundo, que era o gelado de côco deles. A sério, não há palavras. Se compararmos, a Olá nem entra na escala, a Carte-D'or está com pontos negativos e até a Haggen-Dazns fica como um burro a olhar para um palácio. Aquilo era absolutamente divino e eu sei que não vou comer um igual em mais nenhuma parte do mundo. As Maldivas têm, para mim, sabor a côco - e eu fiquei eternamente agradecida ao empregado que me sugeriu este gelado, em conjunto com um outro maravilhoso, de chocolate com canela (acho eu), chamado Jafa. Foi esse mesmo funcionário que nos serviu os cocktails de boas-vindas quando chegamos (isso e aquelas toalhas fresquinhas e húmidas, para limpar as muitas horas de ar de avião de tínhamos na cara - ai que maravilha!) e eu, que nunca gostei de batidos de fruta, fiquei pasmada com o sabor daquilo. Passei a vida a pedir o "cocktail de boas-vindas", de tão bom que era.

 

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Um mix das comidas "maldivianas" - e, claro, o famoso gelado à direita

 

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A comida é na generalidade muito boa e há para todos os gostos: ao jantar há um buffet com pratos do mediterrânico ao indiano, passando também pelo italiano e japonês, assim como simples grelhados. Há um restaurante exclusivamente japonês (que achei fraco e com pouca oferta, porque apesar de ser só mar, o peixe nas Maldivas não é bom), outro de grelhados com uma inspiração meia indiana (que também não adoramos porque era tudo picante e muito rebuscado), um de tapas e ainda outro mais mediterrânico, com massas, bifes, pizzas e etc., que era onde normalmente almoçávamos. Isto para além do bar, onde há sempre gelados, doces e tostas ao dispor, em conjunto com um staff sempre atencioso, simpático, prestável e com um sorriso para dar.

Sobre o pequeno-almoço... queremos mesmo falar? Tínhamos uns dez tipos de pão, alguma pastelaria, panquecas e waffles feitos na hora, assim como uma estação de omeletes, fruta variada, uma secção de comida indiana (que parecia quase feijoada) e outra de sushi, bacon de vários tipos assim como outras carnes quentes, queijos e carnes frias, saladas, cereais, iogurtes e leites de todas as variedades. Basicamente... tudo. Era o paraíso na terra, não só tendo em conta a comida, mas também o sítio onde depois comíamos, em frente àquele mar maravilhoso e os mini-tubarões a passarem à nossa frente. Não sei quantos quilos engordamos, mas também não quero saber - valeu cada caloria! (Até fizemos um vídeo do pequeno-almoço, para ver abaixo:)

 

O hotel oferecia uma tour pelos corais nos atóis mais próximos, que fomos fazer em conjunto com mais uma meia dúzia de casais. Não tivemos muita sorte em nenhum aspeto: primeiro porque não vimos nada de extraordinário (é normal ver mantas e tartarugas nestes passeios, por exemplo) mas, acima de tudo, porque fomos apanhados por uma tempestade a meio da viagem que só me fez querer nadar para terra firme. Nunca tive problemas em andar de barco, mas desde o episódio infeliz que tive nos Açores quando fui ver os golfinhos - para quem ainda não me lia nessa altura, pode encontrar esse post aqui - que fiquei com medo de me voltar a sentir daquela forma. Tinha pedido, antes da viagem, comprimidos para o enjoo; tomei um antes de embarcar e, naqueles momentos em que o barco quase ficava a 90º, tomei outro - mas tive a plena noção de que foi por um triz que não vomitei tudo o que tinha no estômago. Ao nosso lado uma senhora já tinha dado de comer aos peixes e outra estava estatelada no chão tais os solavancos que o barco dava; nessa altura ainda só tínhamos mergulhado num só local e dirigíamo-nos a outro, mas foi por mútuo acordo que decidimos todos voltar a terra firme o mais rapidamente possível, pois cada vez mais gente se estava a sentir mal - eu incluída! O skipper disse que aquilo era uma pequena tempestade, que dentro de cinco minutos passaria, mas a verdade é que entretanto já tinham voado não sei quantos coletes para o mar, o topo do barco já tinha quase tocado na água e o ambiente que se vivia era de consternação. Não foi uma boa experiência - e eu, mais uma vez, só agradeço por o meu marido intervir por mim e ter proposto que aquele suplício acabasse o mais rapidamente possível. Quando pus os pés em terra firme nem queria acreditar. Fiquei tão cansada daquela adrenalina e sentimento geral de mal-estar que dormi a tarde inteira. Recomendo que façam estes passeios, até porque podem ver coisas muito diferentes daquelas que aparecem nas imediações do hotel - mas é preciso ter em conta que aventuras como a nossa não são raras e podem acontecer.

E o que fazer para ultrapassar situações de stress como esta? Uma massagem, pois claro. Não sou utilizadora de spa's e, até à época, só havia feito uma massagem na vida - sempre dispensei ter pessoas estranhas a tocarem-me no corpo - mas, mais uma vez, era uma experiência que eu achei pertinente ter naquele local. E que boa que foi! O hotel tem, de facto, uma infraestrutura incrível - a zona do spa tinha, para além das habituais saunas e banhos turcos, uma piscina infinita lindíssima. A parte boa é que combinam isto com um staff impecável - tanto ao nível da simpatia como de profissionalismo - e uma ótima capacidade de "pintalgar" estes momentos com coisas muito boas, como um chá mega aromatizado e espetadas de fruta divinais. A combinação dos sabores que consigo recordar, em simultâneo com aquela sensação ótima de relaxamento, são uma daquelas memórias que encapsulei para sempre e que eternizei no coração. Parece que ainda hoje consigo sentir o cheiro e a humidade tão típica daquele espaço. Ai, as saudades...

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Passamos lá nove noites incríveis, que não trocaríamos por nada. Foi inesquecível. Apesar de irmos em época baixa apanhámos muito bom tempo - só com uma ou outra chuvada, que ia embora tão depressa como vinha - por isso talvez valha a pena arriscar ir nesta altura do ano, uma vez que os preços são muito mais apetecíveis (foi também por isto que conseguimos ir em classe executiva e para este hotel, aliado ao facto de ainda termos marcado em época de grandes incertezas devido ao Covid, em que os preços estavam mais baixos de forma a atrair clientes). Houve coisas que não gostamos - mas, postas na balança, não são suficientes para deixarmos de ponderar irmos lá no futuro.

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Acima de tudo, aquilo que para mim é mais negativo nas Maldivas é mesmo a religião. Não é fácil "dizer" isto sem que soe mal, mas a verdade é que tenho sempre dificuldade em gerir os meus sentimentos quando estou em países muçulmanos, e é-me difícil não condenar determinados comportamentos. Como expliquei acima, nas ilhas não nos são impostas regras de conduta diferentes das do ocidente - mas a verdade é que há muitos casais e famílias muçulmanas a passar lá férias, e não podemos impedir-nos de olhar (ou ser olhados). Faz-me impressão que, com aquela humidade e calor, muitas mulheres andem totalmente cobertas - é que nem a cor dos olhos lhes vislumbramos. E embora tenham (obviamente!) todo o direito de ali estar, eu não consigo parar de me questionar: porquê vir para um destino destes se têm de andar sempre cobertas? Em toda uma ilha, o único sítio onde podem estar à vontade é provavelmente no quarto delas - e isso não será muito diferente de estar em casa. Não vão à água, não apanham sol, só caminham na praia - e calçadas. Dóia-me ver isto, mesmo sabendo que a realidade é assim em muitos países e que em muitos casos é escolha das próprias mulheres. Mas não consigo que me passe ao lado.

Também vimos várias famílias poligamicas - um homem com várias mulheres, todas elas tratadas abaixo de cão, mas havendo claramente uma hierarquia entre elas. A objetificação da mulher, o desrespeito e o desdém com que eram tratadas deram-me várias vezes cabo das refeições - e eu cheguei até a mudar de sítio enquanto tomava o pequeno-almoço, de tal forma me senti incomodada com os olhares que um deles me lançava ali de perto. Sempre ouvi dizer que "em Roma sê romano" e respeito profundamente este ditado - mas, naquele caso, estávamos em território "neutro", o que ainda trazia mais à superfície as disparidades entre as duas culturas: elas de burka e eu (e outras) com uma túnica de praia, pouco abaixo do rabo e com um decote generoso. Não há ninguém errado aqui - mas diria que há desconforto de ambas as partes e isso não é bom quando estamos de férias e queremos estar 100% descontraídos. 

Outro pontinho negativo vai para o rato (ou ratos?) que vi a cirandar o buffet num dos últimos jantares. Íamos a sentar-nos e, do nada, vejo uma movimentação rasteira ali ao nosso lado - era um rato, que teimava em não ir embora e de quem andei a fugir (e, inconscientemente, a procurar) o resto das férias. Não gostei da forma como os empregados encararam a situação: apesar de terem ficado alerta, acharam aquilo normal, o que a meu ver é problemático. Se ratos já é mau, ratos E comida é péssimo. Mas é uma ilha, quase todos os edifícios são abertos, e dá-se o desconto. E não era um ratito que me ia estragar as férias nas Maldivas, não é verdade?

A vinda foi triste - não é fácil deixar um paraíso. De qualquer das formas, dez dias é o ideal para um sítio destes, até porque chega-se a uma altura em que é só mais do mesmo: comida, mar, repouso, namoro... e repete. É bom, mas até a vida boa cansa, e era hora de voltar a casa. Dentro da chatice que é estar um dia inteiro entre aeroportos e aviões, voltamos a desfrutar da experiência de voar em classe executiva - mas no fim ficamos novamente sem mala. Quando a fui buscar, dois dias depois, ainda ma revistaram e confiscaram provisoriamente todas as conchas que trouxe - fui buscá-las passado um mês, por não constituírem um perigo nem uma violação das regras (uma vez que, por um lado, podiam trazer bichos que "contaminassem" o nosso ecossistema e, por outro, por ser proibido trazer corais e outras espécies marinhas que podiam estar ali em causa). Confesso que foi um alívio - perdemos uma boa porção de tempo a apanhar as conchas e os búzios que mais gostamos, tendo sempre o cuidado de nos certificarmos que não tinham habitantes - porque eu queria muito que as conchas fossem o nosso souvenir principal. E a verdade é que, depois de as ir buscar, fiz três molduras com elas: uma para nós e duas para oferecer, com tudo o que trouxemos da viagem. Assim, fica uma lembraça única, muito nossa e irreprodutível.

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Viemos embora com a certeza de que queremos voltar um dia. A paz que sentimos naquele lugar - ainda para mais depois de uma fase atarefada e louca como é a de organização de um casamento - ficará para sempre nos nossos imaginários. Quando vejo fotos de alguém naquele hotel dá-me um aperto no coração de tantas saudades que tenho dos dias que passámos lá - longe dos problemas e longe do resto do mundo. Só nós, com água à nossa volta, peixinhos e muita vegetação. As muitas fotos que tirámos - e o álbum que fiz e as molduras que espalhei pela casa -, o vídeo, as conchas, os souvenirs e até este texto não colmatam a nostalgia - às vezes, parece que só aumentam. Mas já diz o ditado: recordar é viver. E, enquanto não voltamos, vamos vivendo.

 

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27
Jun22

Uma história com princípio, meio e sim: um ano depois

Hoje é dia de bodas de papel!

Um ano. 365 dias. Casei há um ano e tudo parece ainda tão fresco... Sinto que foi ontem, mas que se passaram um trilião de coisas pelo meio - coisas que, claro, nunca caberiam num espaço de vinte e quatro horas. Mas lá que parece, parece!

Este foi um tema muito batido no blog até ao final do ano passado - e penso que bastante maçador para alguns (desculpem!) -, ultrapassando qualquer recorde no que diz respeito às séries de textos já existentes aqui no blog (mesmo os das viagens). A rubrica "Uma história com princípio, meio e sim!" tem o equivalente a um pequeno livro de 45 páginas A4 - é muita letra sobre um só casamento, eu sei...

Tudo isto seria relativizado se os textos se tivessem diluído ao longo do tempo, mas a verdade é que eu agora pouco tenho escrito, pelo que basta recuar meia-dúzia de posts para se ter rápido acesso a tudo escrevi sobre este tema. Sei que este é mais um para o monte - mas sinto que é importante para mim fazê-lo. Passou um ano, caramba! Como é que estou, em comparação com há um ano? Quero refletir sobre esse contraste, do sítio onde me encontro agora versus o de onde estava (e não me refiro fisicamente); quero perceber a evolução da minha visão de um acontecimento que foi tão colossal e avassalador na minha vida; quero comparar o tamanho das feridas; quero olhar para trás e ver as diferenças - e, se calhar, o que tinha mudado no caminho para aquele dia.

Neste momento consigo comparar aquilo que sinto em relação ao bolo total do casamento (o dia e os seis meses de preparação) com a leitura de um livro já longínqua: fica a ideia geral - se gostei ou não da obra, dos sentimentos com que fiquei e as emoções por que passei enquanto folheava o livro, assim como uma visão muito genérica da história; mas os detalhes desvaneceram-se. Tenho um grande suporte com tudo o que escrevi aqui - coisas mais práticas sobre a organização de um casamento, que quis eternizar porque sei que a memória não dá para tudo -, mas os detalhes e meandros da história, tudo aquilo que foi central neste iceberg em que bati mas que só revelei a pontinha, foi desaparecendo - e ficam "apenas" os sentimentos de seis meses muito difíceis de gerir internamente, para além de uma série de temas-chave que ainda hoje me moem.

Tenho muito a tendência de rever mentalmente acontecimentos - não fosse eu uma overthinker clássica! -, de perceber o que podia ter feito diferente, de re-encenar discussões e chegar à conclusão de que devia ter dito isto e não aquilo. O casamento não é exceção - mas sei, neste caso em específico, que fiz o melhor que sabia e podia, tendo em conta as circunstâncias.

Ainda assim, por vezes, deixo-me cair nesta tentação de pensamentos com possibilidades infinítas e dou por mim a pensar: "fogo, se era para sofrer assim, mais valia ter partido a loiça toda e ter feito as coisas exatamente como queria! Que se lixassem os tradicionalistas - levava o Miguel comigo para decidir o vestido de noiva e ponto final. Se não queria a pessoa Y no casamento, não era convidado e ponto final. Se não queria fazer a primeira dança, não tinha sequer de dar explicações - e ponto final!". Mas no fundo sei que o "ponto final" é sempre mais um ponto na história - ou, se o quisermos ver de forma mais dramática, mais um prego num caixão que estava a ganhar forma caso eu não tivesse posto pés ao caminho. O sofrimento não tem uma escala: mas acho que podemos concordar que ele funciona como a Lei de Murphy - pode sempre piorar. E pioraria. Porque eu estava no limite do meu esforço: lutei as batalhas que consegui, venci algumas, mas sinto que perdi outras tantas. E essa mágoa, por se tratar do meu casamento (com aquilo que deviam ser as minhas decisões, as minhas vontades e as minhas expectativas), está ainda longe de ser ultrapassada. Tenho ainda um longo caminho pela frente, onde o principal fator é o tempo. Porque na verdade, ainda que hoje o meu pensamento predominante seja "já passou um ano", a minha cabeça sabe que na verdade deveria dizer: "calma, ainda só passou um ano...".

E enquanto o tempo passa - e, lentamente, cura... -, a vida acontece. E entre dias bons e maus, vem ao de cima a certeza daquilo que realmente importa: a de que tomei a decisão certa, independentemente de quaisquer pedras ou pedregulhos que me tenham atravessado o caminho. Que o Miguel foi a melhor prenda que a vida me deu, o acaso mais feliz que me aconteceu e a melhor escolha que eu podia ter feito. E que o correto era dar aquele passo, supostamente tão normal e inocente, mas que na verdade encapsula todo um conjunto de memórias, mágoas e dores que, hoje percebo, são normais em muitos casos - só não são é conhecidas nem expectáveis, uma vez que o mau tem sempre tendência para ser escondido e atirado para debaixo do tapete, ficando só as fotos com os sorrisos por cima da prateleira para toda a gente ver.

Eu optei por não esconder nada - até porque tornar-me visível foi uma parte muito importante para apaziguar a minha alma. E hoje, um ano depois, sinto muita coisa: mas, acima de tudo, muita felicidade por ter casado com o homem da minha vida. Sei, todos os dias, que fiz a escolha certa - e casar-me-ia de novo com ele, mesmo sabendo tudo o que sei hoje.

Há uns dias, ao passar numa montra de vestidos de noiva, demos por nós a comentar e a partilhar precisamente o mesmo pensamento, que a olho nu pode parecer um tanto ao quanto paradoxal mas que para nós faz todo o sentido: que o casamento é um dia bonito de viver e que voltaríamos a fazê-lo, um pelo outro; mas não o quereríamos reviver. A parte boa é agora, que já passou e virou memória. Porque o dia é uma experiência gira, mas o que vem a seguir é muito melhor. E nós ainda só vamos no início. 

 

11
Jan22

Os escolhidos do ano de 2021

A escrita é assim: tem vida própria, leva-nos para onde quer. Esta lista que hoje aqui trago nasceu para um post que ganhou outra vida, aquele que acabou por ser o resumo do meu ano. Aquilo que escrevi era para ser só uma breve introdução e, quando dei conta, já era todo um texto com princípio, meio e fim, já demasiado profundo, não abrindo espaço para listas ou coisas um bocadinho mais supérfluas. Deixei que seguisse o seu caminho independente e fiquei com esta lista das minhas escolhas do ano para outra altura. E aqui está ele!

Não vou matar dois coelhos de uma só cajadada: vão ser muitos! A maioria dos temas ou nomes que aqui trago estavam à espera de um texto (mais propriamente uma "review da semana") há demasiado tempo, por isso vou fazer uma pequenina descrição de tudo aquilo que gostei no ano que findou, fazendo ao mesmo tempo uma "mixórdia de temáticas" de coisas muito boas.

 

Produto do ano

- Pão da Granélia -

Estive muito, muito, muito indecisa entre dois produtos - vou prometer a mim mesma que escrevo sobre o outro - mas tenho de escolher aquele que mais chama o meu coração: o pão da Granélia.

A Granélia é uma mercearia que abriu no centro do Maia há relativamente pouco tempo, que tem a sua ideia base na venda a granel (podem comprar hidratos e leguminosas como arroz e feijão ou especiarias como caril ou matcha, levando apenas um frasquinho) mas que está recheada de outras coisas boas: produtos biológicos, locais e de boa qualidade assim como outras soluções ecológicas para produtos de limpeza, higiene corporal entre outras coisas. Mas a melhor de todas é mesmo o pão de fermentação natural. Não é produzido lá - é comprado no Pão da Terra (que fica em Matosinhos mas é fora de mão para mim) - mas revendido nesta mercearia, e é só a melhor coisa do mundo. Eu adoro pão - e já tinha escrito aqui (texto sobre um pão igualmente bom, mas não TÃO bom) que o melhor pão do mundo era o sourdough que o meu irmão me trazia de Inglaterra quando vinha cá passar férias. Pois que este é o sourdough. O tal! O maravilhoso! Mas em Portugal, e aqui tão pertinho, ao virar da esquina. Como resistir?!

Os pães estão disponíveis à quarta e à sexta-feira em várias modalidades, mas têm de ser encomendados com antecedência. Eu vou lá de duas em duas semanas buscar o meu - tenho de me conter para não comer meio quilo de pão logo no primeiro dia, por isso congelo-o para não me tentar e vou descongelando ao longo dos dias quando tomo o pequeno almoço. Foi a descoberta do ano!

 

Podcast do ano

- Conta-me Tudo -

2021 foi o ano dos podcasts. De manhã, antes de sair de casa, faço sempre uma arrumação geral para que ao fim da tarde o peso das tarefas domésticas não seja tão grande e tenhamos, eu e o Miguel, algum tempo de qualidade juntos. Mas arrumar ou limpar em silêncio é um tédio. E eu já ouço muita música enquanto trabalho... por isso virei-me para os podcasts, que cumprem uma função mais extensiva que a música: dá para rir, chorar e informar, mas tem sempre como base o entretenimento.

Este hábito começou com o conselho do meu ex-chefe para ouvir o Extremamente Desagradável, da Joana Marques. Na "review de 2021" o Spotify diz que este é o meu podcast favorito (porque ouvi não sei quantos episódios de rajada até ficar em dia), mas não é verdade. Não que não goste (senão não ouvia), mas porque acho que os humoristas têm uma tarefa inglória ao tentarem ter piada todos os dias. É verdade que é um estilo de humor diferente, mas não deixa de ser um bocadinho desgastante - para ela e para nós.

Aquele que eu mais gostei foi o Conta-me Tudo, do David Cristina. Não só pela diversidade de histórias, de temas mas, acima de tudo, pelo leque de emoções que nos faz sentir; para além disso é curto e ideal para ouvir enquanto me arranjo ou faço as lides domésticas - entre fazer a cama, esticar o cabelo e pôr a comida a descongelar, um episódio fica ouvido.

Ouvi também alguns episódios do Reset, da Bumba na Fofinha, vários d'O Avesso da Canção, da Luísa Sobral (aconselho muito o episódio do Miguel Araújo e o do Pedro Abrunhosa) e também do E Projetos Para o Futuro, do Nuno Markl em parceria com a Delta (curtinhos e perfeitos para quando o tempo e a paciência não abundam). Quando não havia mais para ouvir, entretinha-me com A Noite da Má Língua - e enquanto me ria com as opiniões parvas de uns e uns tiros certeiros de outros, ficava a par das notícias do dia-a-dia, em vez de pensar só em fait divers.

Neste momento estou à procura de novos podcasts para me entreter, por isso se tiverem sugestões, chutem!

 

Série do Ano

- Sex Education -

Sei que não é a escolha mais óbvia, por isso carece de contexto. Sempre gostei muito da ideia original do Sex Education mas fiquei muitíssimo desiludida com a segunda temporada - de tal maneira que não a vi até ao fim. Achei que desvirtuaram a linha de ação (e personalidade) de algumas personagens e até o enredo me estava a irritar. Dei uma segunda oportunidade e vi a terceira temporada, lançada em 2021, e voltei a ficar agarrada e fã. 

É claro que o fim da Casa de Papel é digno de menção, mas ao contrário da Sex Education não acho que as últimas temporadas tenham dado a volta ao texto e melhorado - como já tinha escrito aqui, a série devia ter parado no primeiro assalto e fechado com chave de ouro. Squid Game leva o prémio de série mais viciante, mas é demasiado dark para o meu gosto pessoal. Por fim, mencionar as Doce - a série em português que mais gostei no ano passado. Espero que existam mais, com a mesma qualidade, neste 2022.

 

Documentário do ano

- Three Identical Strangers -

Three Identical Strangers é um documentário sobre o (re)encontro de irmãos trigémeos, separados à nascença, que aconteceu por mero acaso. É sobre a forma caricata como se encontraram uns aos outros, mas vai muito mais a fundo: porque é que eles foram separados? Será que tinham semelhanças apesar de terem vivido mais de duas décadas sem se conhecerem? E como é que o reencontro os afetou? As respostas são pouco óbvias e muito mais obscuras do que aquilo que se pensaria.

Não sei porque é que me marcou tanto - se pela história engraçada, se pelo twist que acabou por ter -, mas a verdade é que falo dele com regularidade e por isso penso ser justo dar-lhe este "prémio". O documentário estava na Netflix mas penso que entretanto saiu. 

 

Música do ano

- You Get What You Give, dos New Radicals - 

O Spotify dita que a música do meu ano é a Spring 1, uma revitalização do clássico de Vivaldi pelo Max Richter - mais uma vez porque a ouvi vezes sem fim, principalmente enquanto escrevia ou precisava de me sentir inspirada. Mas vou de novo desdizer a plataforma de streaming: apesar de adorar a Spring 1, não considero que tenha sido a música do meu ano.

Por alguma razão que desconheço, a You Get What You Give, dos New Radicals, é a música que eu associo ao meu casamento - e o facto de eu ter contraído matrimónio foi, sem dúvida, o evento central do meu ano (ou pelo menos da primeira metade). Por isso, e embora seja um bocadinho estranho escolher uma música de 1998 como a minha música de 2021, é o que vai acontecer.

Podendo dividir a coisa em dois semestres, a Adele marca sem dúvida a segunda parte do ano, com o seu novo álbum. A minha música preferida é a "I Drink Wine", mas aquela que descreve melhor 2021 é a "Hold On". Destaque extra para a lusofonia, com a minha música preferida do ano em português: Onde Vais, da Bárbara Bandeira e Carminho.

 

 

Livro do ano

- Almoço de Domingo, de José Luís Peixoto - 

Não é difícil escolher o livro do ano porque só li... dois. Eu sei, é vergonhoso. Ao menos um deles foi óptimo!

Gostei mesmo de ler este "Almoço de Domingo" - desde a estória até à construção peculiar da narrativa (algo a que os leitores de José Luís Peixoto já devem estar habituados, mas eu não). Há livros deste autor que, devido à estrutura e estilo de escrita peculiares, não me convencem. Abri uma exceção para este e ainda bem. Fiquei inspirada pela história de vida e pela força de Rui Nabeiro, de quem não sabia muito, mas de quem me senti muito mais próxima quando acabei de ler a última página.

 

"Quando acumulamos suficiente tempo, os domingos transformam-se num período de vida. Recordamos os domingos como uma unidade, anos inteiros só de domingos, estações inteiras compostas apenas por domingos: os domingos de verão, os domingos de outono, todos os domingo de inverno e, de novo, as promessas feitas pelos domingos de primavera. Foram dias separados por semanas, antecedidos por sábados com ilusões próprias, sucedidos por segundas-feiras com agendas precisas, tarefas fatais que exigiam ser feitas, mas tudo se dissipa até ficar apenas uma amálgama de domingos. Ao serem vividos, transformaram-se nessa amálgama, como um almoço de domingo infinito, a crescer permanentemente a partir do seu interior."

 

 

Programa de TV do ano

- Trafficked by Mariana van Zeller -

Sou completamente viciada nesta série que estreou o ano passado no National Geographic. A campanha promocional foi grande mas eu só me interessei mesmo pelo programa quando percebi que a jornalista era portuguesa, quando ouvi parte da entrevista que a Mariana deu ao Era O Que Faltava, da Rádio Comercial. E que jornalista! Que "tomates"!

A Mariana van Zeller mete-se no meio de gangs, de bunkers cheios de armas, de florestas recheadas de narcotraficantes e em mundos que só ouvimos falar nos filmes ou nas otícias, naquele que parece ser um mundo e uma realidade muito distantes. São normalmente 45 minutos de programa que devem exigir horas e horas e horas de pesquisa e de tentativas falhadas para ter alguém que dê a cara (ou pelo menos a voz) por todas as coisas ilegais de que já ouvimos falar mas com as quais nunca tivemos proximidade. 

A segunda temporada está agora a passar no National Geographic aos sábados, às 22h30. A primeira, para mim, ainda é melhor. Vale muito, muito, muito a pena!

 

O (meu) post do ano

- Uma História com Princípio, Meio e Sim! -

Toda a rubrica "Uma História com Príncipio, Meio e Sim!" foi um exercício muito bom, bonito e "depurador" para mim - e marcou claramente o meu ano a nível de escrita, pois foi aí que me foquei acima de tudo, defraudando todos os outros temas sobre os quais costumo dissertar. Esta série de textos foi dolorosa em alguns momentos e curativa noutros. Fi-la muito mais para mim do que para os outros, mas eu queria muito deixar registos desta fase tão conturbada da minha vida - um evento tão bom misturado com sentimentos tão difíceis... foi uma gestão complicada que quis documentar. Dentro deles, o post do vestido de noiva foi o mais lido e também o mais sentido - hoje choro quando o leio. Mas o mais importante de todos, o post do meu ano, foi o último, em que falo do casamento e da terapia.

 

A viagem do ano

- Maldivas -

Só fiz duas, Maldivas e Açores, e ainda quero escrever sobre ambas (ainda que já leve meio ano de atraso). Mas é claro que as Maldivas - perdoa-me Açores!!! - arrecadam este meu galardão, pois roubaram o meu coração. Quero tanto voltar!

 

A palavra do ano

- Resiliência

 

A foto do ano

Não há "a" foto. Há muitas, felizmente! E tendo em conta que este ano tive um fotógrafo por minha (nossa) conta num dia tão especial, a foto do ano tinha de ser uma das muitas que ele nos tirou. Mas de tão boas é difícil escolher... por isso, em vez de uma, vão duas:

 

C&M_TheStorytellers-1977.jpg

C&M_TheStorytellers-2035.jpg

 

O vídeo do ano

Não há grandes dúvidas: o casamento foi o evento do meu ano e tudo roda à volta dele. Ainda não tinha mostrado nenhum vídeo daquele dia, por isso fica aqui em modo best of (este é o teaser, mais curtinho, bom para terem um glimpse daquilo que foi este dia tão bonito). 

 

01
Nov21

Uma história com princípio, meio e sim! #20

O casamento não foi o dia mais feliz da minha vida (e falemos de saúde mental)

Este vai ser o último texto que escrevo sobre o casamento (ou puramente sobre o casamento), mas é porventura o mais importante de todos. É sobre aquilo que está por detrás de todos os silêncios - Junho foi o único mês na vida deste blog em que não escrevi um só post - e das palavras um bocadinho mais amargas que foram apontando timidamente os meus textos sobre este tema (e que os mais atentos se podem ter apercebido). É sobre a pergunta que faltou no post anterior. Porque, na verdade, nunca perguntam - assumem simplesmente que foi verdade.

"O casamento foi o dia mais feliz da tua vida?"

A resposta é muito fácil. 

Não, não foi.

O meu casamento não podia ser, nunca, o dia mais feliz da minha vida porque foi o culminar de uma série de meses muito infelizes. Não foram felizes, acima de tudo, por questões familiares, mas também por uma gestão de expectativas dificílima. Nunca quis casar, mas sem saber tinha todo um plano construído para esse dia - e que, claro, não se refletiu na realidade.

E se as minhas expectativas iam esmorecendo à medida que as coisas iam avançando - o vestido de noiva sendo o momento mais marcante, um dos maiores baldes de água fria de toda a minha vida - a expectativa maior, a do "dia mais feliz da minha vida", era o epíteto da minha infelicidade. Até que percebi que não era a única. Aqui e ali, quando me ia abrindo sobre o assunto, algumas pessoas iam partilhando comigo as suas histórias de casamentos não-assim-tão-felizes. A manicure falou-me do trauma com que ficou do seu primeiro casamento; a minha mãe contou-me sobre uma rapariga que chorava a cântaros na cabeleireiro, aquando da sua prova de cabelo, por se achar horrível a cada mecha de cabelo que lhe prendiam. E eu, que até aqui me perguntava muitas vezes porque é que as pessoas não tinham fotos do seu casamento expostas pela casa inteira (porquê, se era sempre um dia tão feliz?!), cheguei a uma conclusão: se calhar não é o dia mais feliz da vida de muitas pessoas. Ingenuamente ou não, eu não tinha essa noção. Acima de tudo porque as pessoas não falam do assunto. E é aqui que eu entro.

A pessoa que mais chocada e magoada poderia ficar com esta informação seria o Miguel, o homem que me pediu em casamento - mas ele sabe, melhor que ninguém, tudo o que se passou. Como tal, e apesar de não ser a verdade mais bonita do mundo, eu não tenho pudores em partilhar a minha experiência e poder ajudar a acabar com este mito, de forma a normalizar sentimentos mais negativos que se possam sentir durante toda a odisseia que é organizar (e a viver) um casamento. No fundo, à luz do que aconteceu nos últimos anos em relação à maternidade: se antes só se diziam coisas boas, agora pinta-se esta questão de outras cores, muito mais parecidas à realidade. A verdade é que isto é universal: nada é um mar de rosas. Mas este tipo de questões que prestam um papel central na nossa vida, que são vistas como pilares e conquistas, faladas desde crianças, têm uma identidade muito profunda e muito própria dentro de nós.  

Desde muito cedo que vemos desenhos animados de princesas, que casam com vestidos de noiva cintilantes, lindos e grandiosos. São sempre bonitos, elas sempre magras e com o cabelo impecavelmente arranjado. Crescemos e passamos a ver comédias românticas em que o final é sempre o mesmo: tudo acaba bem, os protagonistas apaixonam-se e casam-se; elas já não são em duas dimensões como víamos em crianças, mas continuam lindas e esbeltas, e tudo corre bem, finitto, felizes para sempre. 

Quer queiramos, quer não, isto fica no nosso subconsciente. E quando um dia somos nós naquele papel que tanto sonhamos (ou não, como era o meu caso), é aquilo que projetamos para nós e para o nosso dia - mesmo sendo uma ideia totalmente irrealista.

A parte prática do casamento deu-me um gosto tremendo, apesar de ser muito trabalho para o número de horas em que se desfruta de tudo aquilo que se planeou. Mas a parte emocional deu cabo de mim. Dei por mim no fundo do poço. Eu e a minha dor, aparentemente invisíveis. Vivi dias negros, ao ponto de não querer casar - e é algo que ainda hoje me dói a pensar, pois ponho-me no papel do Miguel e imagino o quão duro é ouvires a tua noiva dizer que já não se sente com forças para ir para a frente com aquele plano conjunto, que oficialmente vos tornará família. Foi a maior provação que vivemos enquanto casal, e sei que se as nossas bases não fossem bem fundas e as estruturas bem trabalhadas, provavelmente não estaríamos aqui hoje. Foi doloroso para mim, que estava a sentir tudo - mas para o Miguel não terá sido melhor.

Cheguei a um ponto em que me faltavam as forças para ir trabalhar, em que ficava a dormir de manhã para conseguir fazer algo durante a tarde. E foi aí que decidi que isto tinha de parar e recorri à ajuda de uma terapeuta para conseguir gerir tudo aquilo que me estava a deixar arrasada. 

Foi um ato de desespero profundo, em que usei a minha máxima de que só são precisos 20 segundos de coragem para se ir em frente nos casos em que temos muito medo do que nos vai aparecer pela frente. A partir do momento em que liguei, sabia que não seria capaz de desmarcar - e, daí para a frente, era só enfrentar a agenda, o dia a dia, e tudo iria correr pelo melhor. E a verdade é que correu. Exigiu coragem - enfrentar os nossos demónios é duro, doloroso, quase penoso às vezes - mas compensou pela qualidade de vida que me deu quase de forma imediata. 

Sei que estas duas dezenas de textos que escrevi sobre o casamento foram demasiado extensas para o interesse público, mas constituíram mais uma forma de fazer as pazes com aquele processo que tanto me custou a percorrer. Este blog sempre foi o espaço que utilizei para desanuviar, organizar ideias e racionalizar emoções que não tinha capacidade de processar de outra maneira - e de, ao mesmo tempo, ajudar os outros.

Sempre vi esta plataforma como uma oportunidade e um meio de contribuir com algo de positivo para a comunidade e, mais uma vez, chegou a hora de fazer mais do que mostrar coisas giras, viagens ou compras. Não tenho vergonha nenhuma em dizer que faço terapia - e, como isso ainda é raro, quero "dizê-lo" aqui, a alto e bom som, para que alguém, algures, numa má fase da vida, possa ler e achar que também é pertinente e faz sentido para si. A saúde mental é um tema tabú para a maioria - eu diria que até que por muitas pessoas que frequentam psicólogos - e eu sinto que, por estar tão à vontade com isto, tenho a responsabilidade de partilhar a minha experiência. O desconhecimento causa medo - e o medo afasta-nos de coisas tão simples como falarmos da nossa vida e desanuviarmos! 

Se é fácil? Não, não é. Se os resultados são imediatos? Não, não são - e não são poucas as vezes em que, no próprio dia, parece que nos passou um camião em cima. Se é estranho falarmos com alguém que não conhecemos? É - mas é tão libertador podermos falar de tudo sem amarras, sem medo de fofocas ou de julgamentos! É necessária uma mente aberta, capacidade de foco e, acima de tudo, muita vontade em recuperar e cooperar. Ali não é sítio para fugir dos problemas - é o local onde os reencontramos. Mas também é o mesmo onde finalmente os resolvemos. Percebemos que é essencial ouvirmo-nos, em voz é alta. E que é igualmente importante  sentirmo-nos ouvidos.

Acho que apesar de existir um apelo grande para uma maior consideração das doenças e problemas do foro mental, há ainda muito pouca partilha de experiências. Apela-se muito ao "despreconceito", à difusão de informação, mas na hora H é difícil encontrar alguém que assuma já ter ido, que explique o porquê e que normalize esse comportamento. Mais raro ainda é ter alguém que nos dê uma referência, um nome, algo para nos agarrarmos. As pessoas dizem-se despuduradas em relação à terapia ou aos anti-depressivos, mas quando chega o momento de marcar a consulta ou de levantar a receita, não o fazem. "Não estou maluco", é o diálogo interno mais comum.

Pois bem: eu também não sou. Para quem não me conhece, eu apresento-me: chamo-me Carolina, tenho 26 anos e sou feliz - apenas tenho muitos momentos de infelicidade. Fui uma filha muito desejada, tive muito amor numa família enorme e uma infância óptima. Olhando para trás, diria que tive um único episódio traumático a destacar. Não tenho nem nunca tive dificuldades financeiras, nem problemas de saúde graves. Estou há três anos à frente de uma fábrica têxtil, o que sempre foi o meu sonho. Saí de casa com 24 anos, fui pedida em casamento aos 25 e casei-me aos 26. Tenho um marido maravilhoso. E sim, ando na terapia - não por capricho, não por moda, mas porque precisei. Não por traumas, mas por processos que nunca consegui desenvencilhar. Muito prazer em conhecer-vos. 

Este texto devia ter saído no dia 10 de Outubro, dia Internacional da Saúde Mental - mas não consegui ter prontos  todos os posts do casamento antes desta data e acabou por me agradar fazê-lo fora de horas. Primeiro porque assim não seria só mais um no meio de tantos outros que se lêem nesse dia; segundo para passar para a prática aquele mote de "todos os dias devem ser dias em prol da saúde mental". Hoje é, por isso, um dia tão pertinente como qualquer outro - pois todos são importantes. Foi num dia igual a este que eu pedi ajuda; foi graças a alguém que me deu uma referência, mas acima de tudo foi graças a mim. E esse foi o dia do ano em que eu mais me ajudei a mim própria. 

No meu caso o casamento e a terapia andam juntos por uma simples relação de causalidade. E se por um lado é triste que uma festa destas, que devia ser só pautada por momentos felizes, de partilha e muito amor, acabe na poltrona de um psicólogo (lá está, expectativas: não era isto que eu esperava quando o Miguel me pôs o anel no dedo), por outro foi uma decisão que me ajudou de forma transversal, não só para resolver o problema que eu estava a viver naquele momento. Por isso este acaba por ser, sem querer, um bom exemplo do que é a psicoterapia: não muda o passado - altera simplesmente a nossa relação com ele, ajudando-nos numa primeira fase a sobreviver no presente - e depois a vive-lo com plenitude. Aprendi a lidar com as coisas, a estar atenta a gatilhos, a tornar-me visível sem que isso implique conflito; enfraqueci as dores associadas a algumas memórias, que passaram a deixar-me respirar com muito mais facilidade. E, assim, sobrevivi aos últimos meses de organização do casamento, conseguindo até desfrutar do próprio dia, algo que em muitos momentos duvidei que seria capaz.

Um par de meses depois do casamento, enroscada no Miguel à noite, perguntei-lhe se aquele tinha sido o dia mais feliz da vida dele. Depois de responder, não me lançou a réplica: "e para ti, foi?", que normalmente faz com que uma conversa role durante uns minutos. Depois da pausa, fiz eu a questão de lhe dizer: "não perguntaste se tinha sido o meu..." Ao que ele diz: "já sei a resposta". 

A resposta é que eu adoro estar casada - adoro andar de aliança, adoro dizer que ele é meu marido (e não namorado) - e que não me arrependo um segundo de tudo aquilo que percorremos e fizemos. Mas a verdade é que de facto aquele não foi o dia mais feliz da minha vida - embora também não consiga dizer qual foi. O meu casamento foi um dos dias mais completos e cheios desde a minha existência, mas esse caos de pessoas e emoções não é sinónimo de felicidade para mim. Houve momentos muito felizes no casamento - e é a coletânea de vários momentos que perfaz, no final do dia, "um dia feliz". O casamento foi só mais um. Um no meio dos tantos que já vivemos - e viveremos - juntos. 

26
Out21

Uma história com princípio, meio e sim! #19

As perguntas e as respostas que faltavam

Agora que já esmiucei tudo o que sei (e que me lembrei) sobre o casamento, já não resta muita coisa sobre que falar no que a este tópico diz respeito. No entanto há sempre alguma coisa que escapa.

Há uns tempos abri uma caixa de perguntas no meu instagram para responder às dúvidas que tivessem, pois já tinha em mente fazer um post mais rápido e prático para falar sobre um ou outro tema que não tivesse mencionado nos meus textos anteriores. Mas vou ser sincera: só fizeram duas perguntas (não dava claramente para influencer...). No entanto, como uma mulher prevenida vale por duas, já tinha uma série delas apontadas para fazer a mim própria. Aha! ;)  

 

Achas exequível preparar um casamento "apenas" com seis meses de antecedência, sem grandes stresses?

Não só acho exequível como saudável - acho que se tivesse preparado o casamento com dois anos de antecedência estaria hoje a dar com a cabeça na parede. Um casamento acarreta muitas emoções (não só no grande dia) e expectativas - e quanto mais tempo passa, mais vamos juntando e carregando às costas. Em seis meses conseguimos manter os pés assentes na terra e focarmo-nos no essencial, sem tempo para grandes divagações. Agradeço todos os dias não ter estendido o prazo de preparação!

É lógico que temos de ter a noção de que não estamos a respeitar os timings normais do processo e, por isso, teremos de lidar bem com a pressão e com os "não"'s que aparecerão pelo caminho. Vão sempre dizer-vos que é muito em cima da hora, que têm de encomendar o vestido naquele dia senão pode não chegar a tempo do casamento e é provável que não consigam o fotógrafo que sonhavam. A vantagem é que não faltam alternativas para todos os gostos e preços - e, às vezes, até há males que vêm por bem ;) 

 

Fizeste despedida de solteira?

Não, não fiz. Mas fizeram-me! Nem eu nem o Miguel queríamos organizar algo o género; primeiro porque não adoramos o conceito e segundo porque estávamos mais do que contentes por deixar a condição de solteiros, não fazendo grande sentido fazer uma festa para nos despedirmos. 

Mas a minha irmã e cunhadas decidiram fazer uma celebração, prometendo que não havia véus ou bolos em forma de pila, por isso alinhei. Assim, as raparigas foram fazer uma visita ao Chá Camélia, com direito a degustação e lanchinho; os rapazes, organizados pelo meu irmão, foram para os karts. Depois juntamo-nos todos em casa dos meus pais e fizemos uma churrascada.  Para nós só assim fazia sentido festejar: juntos, só com a presença dos que nos são mais próximos.

Acabou por ser um dia muito feliz e muito especial, porque senti que houve um cuidado extra connosco e para com os nossos limites (porque não queríamos rambóia, grandes festas, ajuntamentos ou porcalhices). Foi uma festa como as que gosto: com família, conversa, comida e, acima de tudo, muita partilha. 

 

Fizeram lista de casamento?

Não, não fizemos. Já vivemos juntos há dois anos, temos a casa completamente mobilada, por isso não fazia grande sentido estar a pedir coisas que já temos ou que não precisamos. A ideia inicial era abrir uma "conta" numa agência de viagens, de forma a que as pessoas pudessem dar dinheiro de uma forma discreta e para um objetivo concreto; acabamos por não o fazer porque, tendo em conta a época que vivíamos (covid), sabíamos que, se algo não corresse bem, o dinheiro numa agência ficaria provavelmente a arder. 

Assim, quem quis, deu dinheiro - alguns em envelopes no casamento, outros fizeram transferência. Confesso que para mim não foi um processo agradável - não gosto de pedir dinheiro a ninguém, e estar a dar o NIB foi um bocadinho estranho (e quase presunçoso); pensamos em várias soluções para que isto não acontecesse, mas não conseguimos nenhuma que funcionasse bem, daí termos optado pelos métodos clássicos. 

Há muita gente que não gosta de dar dinheiro e, à falta de sugestões nossas, várias pessoas arriscaram: recebemos vários quadros (muitos deles pintados pelas pessoas em causa, todos eles incríveis), algumas loiças e coisas para a casa, assim como joias. 

 

Em quê que o Covid afetou o casamento?

O nosso casamento foi no primeiro fim-de-semana após sair a portaria que indicava que grandes eventos exigiam testes covid à entrada. Podia ver isto como uma grande chatice, mas devo admitir que para mim foi um descanso! Já era algo que eu queria que acontecesse, mas a única coisa que podia fazer era pedir e sensibilizar os convidados para se testarem antes do casamento. Porque a verdade é uma: eu não confio no bom-senso das pessoas e desconfio muito quando se queixam imenso de fazer um teste que dura dez segundos. Por isso ter alguém acima de nós que obrigasse a este procedimento foi ouro sobre azul.

Podia ter corrido mal, pois foi muito em cima da hora - mas nisso a quinta fez um trabalho irrepreensível e rapidamente recrutou duas enfermeiras, que estiveram à entrada do recinto a fazer os testes, enquanto as pessoas ainda estavam no carro. Por razões óbvias não testemunhei este processo mas soube depois que correu tudo bem, de forma rápida, prática e ágil. Toda a gente deu negativo - o que foi um descanso! - mas também aqui há o revés da moeda: as pessoas relaxaram e depois da cerimónia já não havia máscaras para ninguém. O risco éramos nós. A quinta era grande, estávamos ao ar livre e as pessoas distantes, mas o elo comum eram os noivos... a quem toda a gente se agarrou. Bastou um beijo e um abraço para que todos se esquecessem dos meses de confinamento, dos infetados e dos esforços até ali; e eu e o Miguel estávamos no olho do furacão, não havia nada que pudéssemos fazer para travar aquilo. Tivemos essa noção clara: se alguém estivesse infetado (e por alguma razão tivesse dado negativo, o que é mais do que possível), eu e ele estávamos feitos ao bife e teríamos sido de certeza um elo de transmissão. Felizmente tudo correu bem e foi uma festa covid-free.

Fora isso, foi-nos imposta uma limitação no número de convidados. O salão principal da quinta tem capacidade para 300 pessoas, pelo que o nosso limite eram 150. Tivemos 133. Na verdade até foi bom, porque nunca quisemos uma festa muito grande e assim tínhamos a desculpa perfeita para não convidar tios-avós ou família afastada, obrigando-nos a cortar na lista de convidados logo à partida.

Por isso, sim, houve restrições. Mas nenhuma piorou a festa - pelo contrário.

 

Convidaste todas as pessoas que querias?

Sim e não. Convidei todas as pessoas essenciais, mas há outras que gostava de ter convidado e não convidei. Não o fiz, em primeiro lugar, por causa do Covid - a lista estava apertada, não sabíamos se iria haver desistências e preferimos jogar pelo seguro; segundo porque são, na sua maioria, pessoas desenquadradas. Todas elas são pessoas amigas, mas vindas daqui e dali, sem qualquer elo em comum com os restantes. E se por um lado o gesto de convidar alguém é bonito e generoso, por outro acho muito chato estar num evento onde não se conhece ninguém. Nessas situações eu sou a primeira pessoa a pôr-me de parte e dizer que não vou, e não queria pôr os outros nessa situação (mesmo que não se sintam tão desconfortáveis quanto eu). Foi uma decisão feita em consciência.

 

Foi difícil fazer a distribuição por mesas?

Dizem que é das partes mais chatas e difíceis na preparação de um casamento, mas confesso que no nosso caso não foi nenhum bicho de sete cabeças. Eu e o Miguel tivemos formas diferentes de dividir as pessoas das nossas respetivas famílias: eu juntei as pessoas por geração (tios com tios, primos com primos, amigos com amigos - e juntava pessoas da mesma idade mesmo que não fossem família direta); o Miguel optou por juntar agregados familiares (pais, filhos e netos na mesma mesa).

As duas formas funcionaram muito bem, mas de um ponto de vista prático diria que minha tática é melhor e mais flexível, pois trabalha normalmente com casais (duas pessoas), enquanto que o Miguel tinha de ter em conta quatro, cinco ou seis pessoas de cada vez. Enquanto se está a testar soluções, a encaixar este aqui e aquele ali, é muito mais fácil movimentar "duas peças" e encaixá-la numa mesa do que movimentar números maiores. 

 

É verdade que o dia passa num ápice e os noivos não comem nada?

O tempo é um conceito relativo. Enquanto estava presa no camarim ou na viagem para a quinta os minutos não queriam passar; já durante a festa, o tempo foi-se num fósforo. A verdade é que, pela hora do almoço, perdemos completamente a noção das horas - e quando demos por isso já tínhamos derrapado no nosso horário e não sabíamos como.

Em relação à comida: a parte dos buffets é complicada e, de facto, come-se pouco ou nada. Há sempre pessoas a falar connosco, alguém a querer tirar uma fotografia ou a dar mais um abraço. No entanto comi todos os pratos do almoço e fiquei bem servida para o resto do dia, por isso não me posso queixar de ter tido fome. Mas contra factos não há argumentos: dos buffets que foram servidos - um logo depois da cerimónia e outro depois do concerto, à tarde - só comi umas perninhas de caranguejo, um croquete e um pouquinho de ananás. À noite não vi sequer o buffet de sobremesas e só consegui apanhar o resto do rodízio à brasileira, já muito mal servido (porque já tinham comido t-u-d-o!). 

A verdade é uma: uma pessoa paga e não come nem experimenta metade das coisas que escolheu. Mas faz parte. Comer um bom pequeno-almoço é um truque essencial, assim como aproveitar a hora da refeição sentada para conseguir abastecer e ganhar forças para o resto do dia.

 

Qual foi o momento mais difícil de gerir?

Emocionalmente, foi o momento do discurso para os nossos pais - curiosamente foi mais pesado do que a cerimónia em si, apesar do meu coração ter ficado muito apertado quando viu o Miguel a chorar baba e ranho no altar.

A nível logístico foi, sem dúvida, o momento após a cerimónia, em que toda a gente vem falar connosco, abraçar-nos, beijar-nos e parabenizar-nos. A certa altura eu e o Miguel já estávamos a uns valentes metros um do outro, separados pela multidão que nos arrastava para um lado e para o outro. É um momento caótico. 

 

Os vossos convidados fizeram alguma tropelia ao vosso carro ou casa?

Toda a gente sabe que eu detesto surpresas e sou muito careta em relação a alguns assuntos. No que diz respeito à casa, o Miguel ainda é mais rígido que eu e era uma linha que não queríamos que ninguém ultrapassasse: na casa, não se podia mexer. E foi respeitado.

Já o carro, eu própria dei luz verde e pus o meu à disposição - gosto muito dele, mas não deixar de ser um objeto para me fazer deslocar de um lado para o outro, por isso não me importava que o sujassem ou pusessem coisas lá dentro. Acho que há limites - mas, mais uma vez, estiveram muito longe de ser ultrapassados. Foram só dezenas de balões, muitas pétalas e uma quantidade significativa de preservativos (ainda vou descobrindo alguns de vez em quando, enfiados nos buracos mais recônditos do automóvel)- e uns laçarotes fora do carro, assim como uns desenhos amorosos a dizer "viva os noivos". Tive muita sorte.

 

Como é possível o teu irmão ter-te casado? É padre? 

O meu irmão não nos casou - simplesmente realizou a cerimónia no dia do nosso casamento. Normalmente o que se faz nestes casos é casar pelo civil na própria quinta; marca-se com o conservador e ele dirige-se ao espaço que escolhemos e faz lá todo o protocolo de um ato de matrimónio. A questão é que este é um processo chato, em que lêem o nosso nome 5 vezes, a nossa morada, contribuinte e por aí em diante... não seria uma cerimónia bonita e pessoal conforme tínhamos sonhado. Para além de que ainda teríamos de pagar um extra pela deslocação do conservador e pelo facto de trabalhar ao fim-de-semana.

Por isso optamos por casar na sexta-feira anterior pelo civil - fomos só nós os dois, na conservatória, num momento rápido e muito simples, mas muito feliz - e fizemos uma cerimónia à nossa medida no dia da festa do casamento. O meu irmão não é padre, nem conservador, nem cerimoniante - é simplesmente alguém com à vontade para falar em público, com capacidades para aquele papel e com um sentido de humor e sensibilidade que fez com que achássemos que fosse o ideal - isto para além de ser meu irmão, o que tornou tudo ainda mais especial.

 

Conta um pormenor emocional do teu casamento.

Uma das mesas do nosso casamento era composta por pessoas que já faleceram - nomeadamente os nossos avós, um familiar do Miguel e a D. Joaquina. A mesa estava mesmo lá, com velas. Foi um pormenor que passou ao lado da maioria, mas que para nós era importante. Enquanto fazíamos as listas de convidados foram todos nomes que nos passaram na mente, que sabíamos que ficariam felizes por estar ali, mas que já não podíamos convidar. Iam estar presentes de qualquer das formas - na nossa memória, nos nossos corações e nos de muita gente que lá estava - mas assim ficou visível a nossa vontade (e tristeza) por não terem durado o suficiente para partilharem aquele momento connosco. 

 

Conta uma coisa que te surpreendeu pela negativa.

Nunca achei que isto fosse sequer uma coisa em que eu fosse reparar, mas reparei - e o mais engraçado é que não fui a única. Depois do casamento há uma expectativa um bocadinho parva de vermos os nossos fornecedores a partilharem pormenores do nosso casamento - da mesma forma que vemos a partilha de imensas fotos e vídeos de outras celebrações nas suas redes sociais. No meu caso, não aconteceu: nem a quinta, nem o vestido de noiva, nem os músicos...

Inicialmente o que me passou pela cabeça foi "será que o meu casamento foi assim tão mau que ninguém quer partilhar?", mas pouco depois assentei os pés na terra e a ideia passou-me. Nos contratos que assinei e nas compras que fiz não havia nenhuma cláusula que dissesse que eles tinham de partilhar conteúdos relacionados comigo ou com o meu casamento; se ficamos satisfeitos com o serviço, se correu tudo bem e houve respeito de parte a parte, não há nada mais a acrescentar. Qualquer partilha seria um bónus e um afago ao meu ego. A verdade é que ninguém, para além de mim ou do Miguel, tem de adorar o nosso casamento. O que importa é nós adorarmos. O resto é paisagem - mesmo que o ego se queixe.

 

E outra pela positiva.

Primeiro, a qualidade do bolo. Tendo em conta as massas de bolo que experimentamos antes do casamento eu antevia um desastre (neste caso dou o braço a torcer e sei que sou muito esquisita, mas aquelas massas não agouravam nada de bom). Escolhemos o bolo mais simples - pão de ló com doces de ovos - e foi um absoluto sucesso, imensa gente adorou. E eu própria confirmo: quando no momento do corte do bolo pus um pouco da fatia à boca, as minhas papilas gustativas até ficaram de queixo caído. Estava fofo, fresco e óptimo! (Ah, e não era de esferovite - as três camadas eram mesmo todas de bolo).

Segundo, a qualidade da comida. Esperava uma coisa mediana - é o que espero sempre (senão pior), quando há mais de uma centena de refeições quentes para servir ao mesmo tempo - mas fiquei muito surpreendida com a qualidade da comida e a sua apresentação. Estava tudo saboroso e bonito. A prova foi a (pouca) comida que sobrou nos pratos e a quantidade de pessoas que quis repetir. 

 

Quanto é que custa, afinal, casar?

O custo de um casamento é muito, muito variável. Tudo é opcional e mutável, e cada escolha tem um custo associado. Caso quiséssemos, havia quintas e fotógrafos cujos orçamentos eram metade daquilo que pagamos, por exemplo. Depende muito do budget e prioridades de cada um. Para dar uma ideia, e porque sei que é difícil encontrar respostas concretas neste sentido (o pessoal foge dos números como quem foge da cruz), no nosso caso, o valor por cabeça (da quinta) acabou por rondar os 130 euros. O custo total, já com todos os serviços mas excluindo a lua-de-mel, rondou os 30 mil euros. Parece-me muito difícil gastar menos de 15 mil euros (isto tendo em conta o meu número de convidados e alugando uma quinta) num casamento.

 

Dá um conselho prático a alguém que se vá casar em breve.

Podem ser dois? Um para o planeamento e um para o dia:

1. Fazer uma folha de excel com todos os custos associados ao casamento - é muito fácil perder a noção das coisas quando estamos a fazer negócios em catadupa e quando desejamos que tudo seja perfeito. Acrescentem também quem pagou o quê (por vezes os padrinhos ou os pais gostam de pagar algum item em particular, por exemplo). Quando chegar o dia do casamento, e no caso de receberem dinheiro, apontem também quanto receberam e tentem perceber se o que vos deram cobre os custos do casamento.

2. No grande dia distribuam tarefas por pessoas da vossa confiança - não se vão lembrar de tudo. Querem uma foto de família com todos os primos? Querem fotos do momento da troca das alianças? Querem vídeos dos vossos votos? Distribuam as tarefas com antecedência e responsabilizem as pessoas para agilizar este tipo de tarefas, para que no grande dia apareçam feitas sem se dar por isso. 

 

Mudarias alguma coisa naquele dia?

Tudo o que mudava foram as coisas que desejava à partida que fossem diferentes, e não foram. Antes do grande dia, mudava toda a saga do vestido de noiva e faria com que o Miguel fizesse parte do processo. Arranjar-me-ia com ele e eventualmente entrava com ele no casamento, poupando aquela entrada do demónio até ao altar. Não sei se mandava fazer o vestido onde fiz, nem se levava o cabelo apanhado.

 

Tiveram a ajuda de algum wedding planner?

Não. A única pessoa que nos deu alguma ajuda prática foi a senhora da quinta, que nos acompanhou durante todo o processo do casamento, mas nada digno de menção. Deu-nos apenas algumas sugestões e inputs segundo a experiência dela.

 

Qual foi o dinheiro mais bem investido e o mais mal investido no vosso casamento?

Diria que a quinta foi o dinheiro mais bem investido, tendo em conta que é o serviço mais importante e completo, assim como o investimento mais avultado. Isto a par do fotógrafo/videografo, serviço a que eu dou particular importância. O pior terá sido o DJ - não porque era mau (pelo contrário), mas porque pouco usufruímos do seu trabalho. 

 

Qual foi a decisão mais difícil? E a mais fácil?

Por mais ridículo que pareça, uma das coisas que mais tempo nos roubou foi a decisão das músicas para os momentos chave. Foi difícil decidir e chegar a um consenso - ao contrário do que aconteceu em relação à escolha de todos os fornecedores principais, em que fomos rápidos a escolher e tivemos sempre de acordo.

Uma das decisões mais rápidas foi a do fornecedor dos convites, pois foi amor à primeira vista - mas na verdade foram quase todas fáceis, embora algumas tenham envolvido mais pesquisa e, por isso, mais tempo até chegarmos a uma decisão.

 

O quê que não funcionou como desejarias?

As histórias por detrás das ementas. Tenho pena que não lhes tenha sido dado o devido valor e atenção.

13
Out21

Uma história com princípio, meio e sim! #18

Os momentos de um casamento diferente

A entrada dos noivos (errrr, perdão - do noivo)

Basta recordar um dos momentos mais marcantes do meu casamento para se perceber que se tratou de uma cerimónia diferente do habitual. Ao contrário de todos os outros, é da entrada do noivo que todos se lembram. A minha entrada foi "normal"; a do Miguel foi "A" entrada. 

Começou por ser uma ideia "parva" e um tanto ao quanto descabida... até ao momento em que se tornou realidade. Os meus sobrinhos, ao saberem que as irmãs/primas iam ser as minhas meninas das alianças, indignaram-se por os rapazes não terem nenhum papel de destaque no casamento. Aí o Miguel lembrou-se de os incluir na sua entrada... mas com um twist inesquecível: os rapazes escoltariam o Miguel até ao altar ao som da Marcha Imperial do Star Wars, todos vestidos a rigor: Stormtroopers, Boba Fett e Darth Vader. Correu tudo lindamente: os miúdos guardaram segredo (até dos pais!) durante uns cinco meses, os fatos eram super giros (mandamos vir da Amazon) e toda a gente ficou a perceber que não estavamos ali para brincar - pelo menos na parte em que dissemos que aquele ia ser um casamento para mais tarde recordar, recheado de trunfos na manga, que guardamos em copas durante todo aquele tempo.

Eu e o meu pai, presos no camarim, fomos os únicos que não testemunhamos este momento - mas soube, mal entrei, que tinha sido épico. 

A minha entrada é dos momentos que não gosto particularmente de recordar: primeiro porque estava chateada por ter estado tanto tempo presa no camarim, segundo porque fiquei ainda pior quando percebi que a música que estava a tocar não era a correta e terceiro porque contempla um momento de sufoco para mim, em que já consigo olhar para o altar e vejo o Miguel a chorar como uma perdido à minha espera. Para muitos é fofinhó-coiso, para mim é só sinónimo de sofrimento, ver alguém a chorar assim, mesmo que seja de emoção ou felicidade.

Por isso a entrada resume-se a isto: ao Miguel, ao seu Star Wars e eu, finalmente, a chegar até aos braços dele. 

 

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Os votos e a cerimónia

A cerimónia foi feita pelo meu irmão mais novo - algo que, mais uma vez, partiu de uma ideia à partida parva e descabida, mas que acabou por se tornar realidade. Os meus irmãos são das pessoas mais importantes da minha vida e eu queria muito que tivessem um papel preponderante neste momento. Assim, a minha irmã e o meu irmão mais velho foram os padrinhos - uma escolha particularmente difícil no campo masculino, tendo em conta que tenho dois irmãos e não queria deixar um de fora. A solução? Incluir o não-pradrinho na cerimónia e, assim, cada um teria o seu papel.

No início ainda estivemos na dúvida sobre o que fazer: levar o conservador à quinta, contratar um cerimoniante ou arriscar de facto no meu irmão para esse papel. Fomos pela última hipótese; costumo dizer que é o meu irmão palhaço, por isso aquilo tinha tudo para correr bem. Queríamos muito que a cerimónia fosse intimista, muito nossa; que o cerimoniante nos conhecesse, que conseguisse falar com conhecimento de causa. A vantagem aqui era poder juntar uma pontinha de humor e que, embora emocional, a cerimónia fosse também divertida para quem estivesse a assistir.

Mais uma vez foi uma "idiotice" que nos saiu melhor que a encomenda. O meu irmão, nervosíssimo, foi muito mais sério no discurso do que aquilo que eu imaginava - mas saiu-se lindamente, com palavras lindas e muito emotivas também.

As madrinhas leram um texto cada uma (com muitas lágrimas à mistura) e depois chegou a nossa vez. O dele lido com a voz embargada e carregado de emoção; o meu, já quase decorado de tantas vezes o ter rescrito e relido, declamado ao mesmo tempo em que olhava de soslaio para o meu marido, com direitoa algumas piadas pelo meio, para que tudo aquilo não fosse só choro. Foram momentos muito bonitos e muito especiais, em que o poder das palavras tomou uma dimensão enorme e nos encheu o coração de amor. 

 

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A entrada na sala

Confesso que sempre achei este momento-cliché um bocadinho parvo, mas acabou por ser provavelmente o meu preferido de toda a festa. Primeiro porque foi precedido pelos únicos cinco minutos que tive sozinha com o Miguel, no camarim, enquanto toda a gente entrava na sala e se sentava - e como é bom saborear o silêncio num dia como este, ao lado da pessoa que está no olho do furacão connosco! Segundo porque foi genuinamente feliz e improvisado, desprovido de stress, tensões ou emoção em demasia e em que a música (Crazy Little Thing, dos Queen) estava em harmonia perfeita com o nosso estado de espírito. Diverti-me imenso a rodear as mesas, a dançar (sob o olhar de espanto dos meus convidados) e a poder olhar para as pessoas que partilhavam este dia connosco. Com o bónus de, no final, termos dado abraços bem apertados às duas mesas mais especiais do nosso casamento: a nossa (com os nossos pais) e a dos padrinhos. Recordo-o com saudade.

 

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O vídeo e o discurso aos pais

O almoço ia a meio mas as surpresas ainda estavam só no início. Primeiro foi para nós, depois foi para os outros.

A irmã do Miguel, numa homenagem à vida de ambos, fez um vídeo cheio de fotos nossas, recordando todo o percurso que havia de nos levar até ali. Um gesto que eu, confesso!, já esperava - mas que independentemente da expectativa, de se saber ou não, nos comove sempre. Não só por olharmos para o passado mas por percebermos que houve quem dedicasse o seu tempo para nos proporcionar aquele momento. 

Depois chegou a nossa vez. Se os irmãos são das pessoas mais importantes das nossas vidas e os queríamos incluir neste dia, os nossos pais deram-nos vida e, como tal, não podiam ficar de fora. No bolso do Miguel escondia-se um pequeno discurso, escrito um par de dias antes do casamento, que lemos para os nossos pais, como forma de expressarmos por eles o nosso amor e um agradecimento público por tudo aquilo que nos proporcionaram até ali - incluindo aquele momento. Algures na minha parte, agradeço-lhes por aturarem e acederem às nossas maluqueiras e manias, ao que o meu pai diz, a alto e bom som: "que remédio!". Ouviu-se um riso generalizado - pois sabiam que, no fundo, é verdade ;)

Depois do riso veio a descompressão, naquele que para mim foi o momento mais emotivo de toda a festa. "Casamento" e "pais" não são, para mim, palavras fáceis de conjugar - e acho que, de uma forma geral, este é visto como um momento de rompimento na relação entre os filhos e os pais. Nunca concordei com essa forma de pensar, fiz tudo para que não acontecesse, mas não quer dizer que não me afete. E ali, num dia tão recheado de emoções, não tive como fugir àquele momento.

 

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A música ao vivo (e o jogo de Portugal)

Já contei aqui que a música ao vivo foi uma decisão de última hora - mas foi a melhor decisão do mundo! O S. Pedro colaborou e os nossos planos puderam ir avante, por isso o concerto foi no exterior e pudemos todos estar sem máscara, distanciados e a desfrutar do dia e da música incrível que os Simple Sound nos proporcionaram.

Percebi que, sim, é possível fazer um baile à tarde. Que sim, é possível ser ao livre. Que vale a pena não ter medo de arriscar em coisas fora do comum, porque compensa em dobro! Pude confirmar a minha teoria, de que não é preciso escuro, luzes loucas e bolas de disco para se fazer a festa. Foi um momento incrível, com a melhor vibe de todo o casamento. Se me dissessem que todas as festas eram assim, eu passaria a ser uma party person.

Se toda a gente aproveitou? Não. Ficaram na sala os mais velhos, os mais friorentos (se dançassem, o frio passava logo) e os mais chatos. Ah, e os futeboleiros. Tivemos o azar do casamento calhar em dia de jogo decisivo para Portugal, em pleno europeu. Fomos obrigados a tomar uma decisão: ou fingir que o jogo não existia ou aceitar e embarcar na viagem de ver um jogo em conjunto. Não havia opção ideal - isso seria não haver futebol. Mas havia e, com as novas tecnologias, metade dos homens ia estar agarrado ao telemóvel a ver o resultado em tempo real. Por isso aproveitamos o projetor que já tínhamos alugado para o vídeo e projetou-se o jogo. Muita gente não foi à partida para o exterior por causa disso; outros ouviram parte da música e, à hora marcada, subiram para ver o futebol. 

Preferimos assim. Como diz o ditado: só faz falta quem cá está, e na plateia dos Simple Sound foi isso que senti. Nós, os noivos, não vimos nem uma coisa nem outra por completo: do concerto tivemos de sair a meio para ir tirar as fotos ao pôr-do-sol (com muita pena minha, pois estava gostar MUITO); do jogo só vimos o fim, com Portugal já a perder. É a vida. Foi da maneira que não "estragou" mais casamentos.

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O corte do bolo

O corte do bolo tem todo um protocolo (que só nos dizem três minutos antes de acontecer) e por isso - mais uma vez! -  é um momento pouco natural. Se por um lado dá fotos espetaculares - nisto tenho de dar o braço a torcer - por outro é só mais uma coisa feita de propósito para o livro de recordações. Aqui não mudei de ideias: se de facto desfrutei da entrada na sala (quando achava que não ia acontecer), aqui foi só o cumprir do momento. Se foi bonito? Foi. Se foi giro? Também. Se acrescenta valor? Nem por isso.

Mas a verdade é que as pessoas adoraram, elogiaram imenso o momento e creio que o retiveram na memória. Nesse aspeto fico feliz em ter cedido na questão do fogo de artifício em cascata (não queria porque, lá está... #clichê) porque dá um efeito diferente, algo mágico. Sem isso o corte do bolo seria só mais um momento do protoloco ainda mais sensaborão.

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A primeira dança (aliás, canção), a valsa e o baile

Já se tinha passado todo um dia de festa mas nós ainda tínhamos uma surpresa na manga. Provavelmente a maior de todas.

Nunca gostei de dançar - e desde o ciclo que tenho muita vergonha em fazê-lo em público, por causa de umas aulas horríveis que tive na altura. O Miguel não tem traumas do género, mas não é atividade que lhe dê grande gozo. No fundo é como eu, que danço quando o rei faz anos... ou quando alguém se casa ou há uma passagem de ano animada ao ponto de me fazer mexer as ancas. Por isso só a ideia da "primeira dança" me (nos?) dava arrepios. Decidimos logo que essa seria uma das tradições que passaríamos à frente. Mas queríamos algo que servisse para abrir a pista, altura em que toda a gente se juntaria e não seríamos só nós o centro da atenção. E o que fizemos? Cantamos.

Algures em Março estava muito em voga a música "Maldita a Hora", do João Só; o Miguel passava a vida a cantarolá-la quando chegava a casa e, quando ouvimos com atenção a letra, percebemos que fazia todo o sentido na nossa história. Passamos por várias fases: ser outra pessoa a cantá-la para nós, ser o Miguel a cantar esta música e eu cantar outra, mas acabamos por fazer um dueto no casamento. Acho que foi o dueto mais improvável da história, tendo em conta a cara das pessoas que nos rodeavam. Eu prefiro cantar a dançar, mas o Miguel prefere não fazer qualquer das duas coisas. Foi, mais uma vez, uma prova de amor. E, dadas as reações, a garantia de que vale a pena fazer diferente, se assim desejarmos. 

A dança veio depois. O mote foi dado por uma valsa que a família da minha mãe ensaiou e que trouxe muita gente para a pista. Foi um momento clássico mas muito giro, e que agora já não é assim tão comum - se antes de começava sempre com valsas, agora são as músicas contemporâneas que chamam as pessoas à pista. Mais uma coisa que combina connosco, velhinhos de alma, que demos de frosques mal a coisa começou a virar mais arockalhada.

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28
Set21

Uma história com princípio, meio e sim! #17

Estacionário, DIY e compras do AliExpress

Os convites foram a única coisa, ao nível de estacionário, que mandamos fazer fora. Mais uma vez, foi através do site casamentos.pt que descobrimos a Diferente e, em pleno confinamento, não tivemos grande solução senão tratar de tudo por email. A verdade é que foi tudo tão ou mais simples do que se tivessemos ido lá, muito graças ao site bem trabalhado que eles têm e às respostas rápidas, práticas e esclarecedoras do Pedro. O processo foi muito simples: depois de darmos uma vista de olhos no vasto catálogo online que têm disponível, escolhemos o estilo de convite que queríamos, propusemos algumas alterações e escrevemos o texto à nossa medida. Uns dias depois tínhamos um protótipo em casa. Depois de dado o ok, foi esperar cerca de duas semanas e chegou-nos uma caixa cheia de convites, prontos a distribuir pela família e amigos.

Foi através dos convites que demos o pontapé de saída para a temática do nosso casamento: campestre, verde e com traços entre o clássico e o moderno. O design original do convite já tinha folhas de oliveira, que quisemos manter, pois para além do lado estético, têm um simbolismo bonito (glória, abundância, paz); mandamos fazer um sinete com as nossas iniciais, para fechar o convite - era algo que queria muito, pois lembra-me o meu pai, de ser pequena e de ele derreter cera para que eu pudesse "pisar" uma carta com um sinete que tínhamos lá em casa. Para além do texto habitual do convite (mais visual e moderno que os tradicionais), acrescentamos um poema na parte de trás, que a minha mãe me ajudou a escolher. Fernando Pessoa, claro está. Foi um detalhe que poucos repararam - a tal história dos pormenores de que falei - mas que, para mim, foi importante.

Gostei muito do resultado final dos convites e ainda hoje adoro olhar para eles. Há muita gente que agora dispensa os convites em formato físico, pois são um gasto extra, não acrescentam nada (para além de espaço na gaveta) e é uma opção mais ecológica. Mas, no nosso caso, não era muito exequível; a idade média dos convidados era acima dos 50 anos, não temos o email da maioria (e muitos deles não terão sequer email), e por isso teríamos de pedir contactos, pré-anunciar o casamento e em alguns casos não passaria disso, porque há muita gente ainda distante de tecnologias. Se é algo que as pessoas guardam e só vêem uma vez por década? É. Mas é uma memória, e não há coisa que eu preze mais na vida.

Não foram baratos (50 convites custaram cerca de 300 euros, incluindo o sinete personalizado que mandamos fazer) - mas compensamos o investimento em tudo aquilo que depois fizemos dentro de portas. Foi importante para termos uma inspiração, algo em que nos pudéssemos basear e seguir. 

 

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Em relação ao table sitting, aproveitámos uma ideia da própria quinta para apresentar a distribuição dos convidados pelas mesas. Correu bem porque que, na verdade, não podia ser mais de acordo com o nosso tema: trata-se de uma oliveira em que são presos cordéis, onde depois são colocados os cartões das diferentes mesas. Não tenho nenhuma foto global do aspeto da oliveira no meu dia de casamento, mas mostro abaixo o efeito, num outro casamento.

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(foto: casamentos.pt)

 

 

Como de costume, não quis ser simples e dar números às mesas. Foram meses a pensar nisto e, pelo menos, outro mês a executar. Queríamos que até as coisas mais básicas tivessem significado e a nossa ideia foi utilizar as mesas e os menus para nos dar a conhecer, assim como a nossa história de amor (afinal de contas não era por isso que estávamos todos lá?); tanto eu como o Miguel somos pessoas reservadas, que não partilham muito sobre a sua vida íntima/amorosa, e por isso a maioria dos convidados não fazia ideia de como nos tínhamos conhecido ou apaixonado. Eram 14 mesas - cada uma com o nome de um capítulo da nossa vida a dois. Mas fomos além do nome: cada convidado encontrou, por detrás da sua ementa, uma das 14 histórias que escrevemos sobre a nossa história de amor. No fundo, 14 capítulos da narrativa que culminava naquele dia tão especial.

 

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Tentamos que as pessoas reparassem e percebessem esta ideia através de uma plaquinha de madeira que colocamos no fundo da tal oliveira. Porque para além de nos darmos a conhecer, tínhamos também a intenção de quebrar o gelo que eventualmente pudesse existir em mesas com pessoas que não se conhecessem tão bem, levando-as a trocar e comentar as histórias que iam lendo. Escusado será dizer que não resultou muito bem; na placa ninguém reparou e as histórias, modéstia aparte, também não tiveram o devido destaque. Tivemos o cuidado de as distribuir de forma a que não se repetissem em nenhuma mesa; no entanto, para ler toda a narrativa, era necessário falar com outras mesas e fazer trocas.

Apesar de achar que a adesão não foi a melhor, foi muito bom ver que, enquanto se esperava pela comida, havia pessoas a ler aquilo que, com tanto carinho, escrevemos e preparamos - e houve quem de facto se esforçasse para ler todas! Foi dos detalhes mais morosos de todo o casamento, mas dos que nos deu mais gozo. Primeiro porque fez com que revivessemos todos os momentos mais importantes da nossa jornada juntos e segundo porque, claro, é a minha praia! Adoro escrever! Foi um dos segredos do casamento que guardamos até ao último minuto - ninguém sabia, à excepção do meu pai - e é das coisas que mais me orgulho no meio de toda a organização e sei que é um pormenor que gritava "Carolina!" e que foi pensado com muito amor.

 

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A distribuição da comida na ementa foi uma private joke que poucos entenderam, pois estava distribuída com "princípio", "meio" e "sim!" - uma alusão a esta rúbrica aqui no blog. 

 

(podem clicar nas fotos de forma a ler as histórias - duas das catorze que escrevemos)

 

E porque aqui os louros são merecidos, reforçar que foi tudo feito por nós: desde o design e a conceção dos menus (parece fácil, mas só descobrir aqueles clips do topo foi o cabo dos trabalhos!), até ao corte e "clipagem". Fizemos vários protótipos, tentamos várias modalidades, imagens, papéis... e acabou por ser este o resultado final. Comprei o papel kraft (o mais escuro) e outra cartolina mais clara na Craftelier, assim como um furador-mini e os brads (os clips). Imprimimos em casa dos meus pais e cortamos tudo com uma espécie de guilhotina da Tiger que tinha parada há anos. Os tronquinhos que seguravam o nome das mesas foram comprados no AliExpress (uma das várias compras que lá fiz, algo que falarei mais abaixo).

 

Acima já vos mostrei uma das plaquinhas de madeira que distribuímos pela quinta: apesar de todas terem um vertente decorativa, algumas tinham um objetivo ou mensagem concreta que queríamos passar. Ainda procurei fornecedores para fazer isto, mas uma placa simples a dizer "bem-vindo", com os nossos nomes, custa facilmente mais de 60 euros. Por isso, mais uma vez, foi um trabalho de DIY que fizemos em conjunto e que nos deu demasiado trabalho para o feedback que teve - mas que compensou por ter ficado exatamente como sonhámos. Comprei uma placa de dois metros por 50cm no Leroy Merlin (por 16 euros!) que mandei cortar com as medidas que queria. Em casa, depois de uma breve lixadela, demos-lhe com uma espécie de tinta que as escureceu e lhes deu um ar mais rústico. Depois veio a parte pior: escrever os dizeres das placas (que queríamos que fossem giros e não meramente indicativos), fazer o seu design, cortar o vinil (o Miguel trabalha na área e por isso temos essa facilidade) e colá-lo na madeira (que foi um inferno, porque não nos lembramos que cola e madeira com verniz não combinam muito bem). 

Acabamos por fazer seis placas: uma de boas-vindas, outra com a cronologia do dia, uma para colocar junto ao livro de assinaturas, outra na árvore do table sitting, uma com a hashtag do casamento e ainda outra junto aos leques que colocamos à disposição dos convidados, também para servir como souvenir. Se eram todas necessárias? Não. Mas tínhamos madeira de sobra e, mal por mal, decidimos aproveitar. A placa de boas-vindas e a cronologia foram as que tiveram mais impacto (também eram as maiores), mas eu gosto muito da estrofe que fizemos para colocar na oliveira. 

 

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Sobre os cavaletes: a quinta tinha um, nós levamos outro, que a minha mãe utiliza para fazer as suas pinturas

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O livro de assinaturas também mandamos vir do AliExpress. Ficou muito giro mas teve pouquíssima adesão, por isso ainda bem que não foi algo em que gastámos demasiado dinheiro.

O AliExpress, para além de ser a fonte de inúmeras ideias e inspirações, foi na verdade um dos nossos maiores parceiros. Foi lá que comprei a primeira coisa para o casamento - o tal leque para oferecer aos convidados. A ideia era boa, mas para além de não ter estado muito calor, a data que mandei gravar estava errada (culpa minha, porque me precipitei e comprei os ditos antes de ter marcado o casamento, ficando assim marcada a data que inicialmente queríamos e não aquela que efetivamente acabou por ser). Mas não foi por isso que deixamos de os dar, explicando depois aos mais atentos aquilo que se tinha passado.

 

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Também foi do AliExpress que mandei fazer a caixinha de transporte das alianças, assim como os cones para as pétalas - tudo personalizado com o nosso nome e data de casamento. As opções são infinitas e muito baratas comparadas com as opções que aqui existem, por isso acho que compensa muito pensar nestas coisas pequeninas com tempo e mandar vir de lá. Se não correr bem, o investimento também não é grande.

 

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As caixas que usamos para colocar os cones de pétalas foram as mesmas que, mais tarde, serviram para colocar as suculentas para oferecer. Algumas das pétalas foram fornecidas pela Verónica; outras foram aproveitadas dos ramos que a minha mãe havia recebido no seu aniversário, duas semanas antes do meu casamento. Viva a reciclagem e reutilização!

Com este post termino a parte chata (mas eventualmente útil) que diz respeito às compras, aos fornecedores e a tudo o que se tem de pensar/aquirir/fazer para um casamento "normal" tomar forma. A organização em si está toda aqui. Alguma dúvida, já sabem que a caixa dos comentários é a serventia da casa ;) 

15
Set21

Uma história com princípio, meio e sim! #16

Decoração da sala, flores, bouquet e souvenirs

Agora que já atravessamos os tópicos mais "macro" do casamento - aquelas coisas que têm mesmo de se tratar, que se são exaustivas e por vezes chatas - passemos à parte facultativa e, para mim, mais divertida. Falemos do que é mutável, personalizável e eventualmente memorável. Já disse aqui - muitas vezes? - que tinha um medo atroz que o meu casamento fosse igual a todos os outros e queria muito fazer (e ser) diferente naquilo que conseguisse, de forma a deixar o meu (nosso, meu e do Miguel) cunho. O meu desejo era que um convidado olhasse para trás e tivesse meia-dúzia de memórias daquele dia, que retivesse algo porque notou a diferença.

E se por um lado fizemos coisas à grande (ainda não contei, mas contarei em breve), por outro tivemos muito cuidado com todos os pormenores. Também já o referi aqui, mas repito - acredito profundamente que são os pormenores que fazem a diferença. São eles que tornam o todo melhor, mesmo que não sejam notados na sua individualidade; as coisas pequenas têm essa dinâmica infeliz, de serem notadas apenas quando falham e não quando estão presentes, mas faz parte. E embora muitas pessoas não tenham reparado em metade, nós reparamos e fizemo-lo com gosto e com propósito.

 

A decoração da sala é das primeiras coisas que se decide, assim como a disposição primária das mesas e do local do DJ. Passa-se depois para a decoração das mesas. As quintas funcionam, na sua generalidade, por packs; normalmente existem três: um mais básico, outro de gama média e outro de gama alta. Aquilo que difere entre eles é normalmente a quantidade (e qualidade) do álcool envolvido, o número de buffets e sua diversidade, e alguns extras como fogo de artifício, champanhe à entrada, etc. A decoração, à semelhança de muitos outros serviços que as quintas oferecem, funciona por acrescento; independentemente do pack que se escolha, trabalha-se sempre com base no serviço de loiças/talheres mais básico que existe (que é branco, branco e... branco). Querem diferente? Pagam. Querem um copito com cor? Pagam. Um talher dourado? Pagam. Uma toalha azul em vez de branca? Pagam. São as regras do jogo.

A primeira coisa que fizemos - e que para nós era imperativa - foi mudar as cadeiras. Nos últimos meses vi muitas, muitas, muitas fotos de casamentos - e segundo um estudo feito por mim (cujo rigor não consigo garantir, mas não têm outra hipótese senão confiar), 80% das quintas de todo o mundo têm exatamente as mesmas cadeiras (podem ver aqui). Como é que isto é possível? Não sei. Mas aquele fornecedor deve ter feito bom dinheiro. Azar dos azares, nós detestamo-las - e por isso o nosso maior investimento ao nível da decoração foi noutro tipo de cadeiras (as desta foto), mais amadeiradas e rústicas, tal como o tema do casamento. Acrescentamos também um marcador de palhota, um guardanapo e um copo verde, para não ter tudo um tom deslavado. As mesas dos convidados eram redondas, com atoalhados cor de linho (pack básico); a mesa dos noivos, onde nos sentamos nós e os nossos pais, era de madeira, com um arranjo floral suspenso, muito bonito, que acho honestamente que foi dinheiro bem gasto. O centro floral das mesas era adornado por um cubo, pelo qual também tivemos de pagar (e, bem... era dispensável, admito).

As flores foram providenciadas pela quinta, sendo que só vi os arranjos no próprio dia. Disse apenas aquilo que queria - eucaliptos, gipsofilas, astromélias e tudo o que fosse na mesma onda - e, no dia, era esperar que gostasse. A ideia era que predominassem os verdes, com os pequenos apontamentos de branco, o que foi cumprido. Não queria rosas e algumas apareceram lá pelo meio - mas, confesso, foi para o lado que dormi melhor. Na verdade só vi os arranjos com "olhos de ver" no dia seguinte ao casamento, quando fui deixar uma série de coisas que  tínhamos deixado na quinta.

 

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Cubos no centro de mesa, com arranjos florais

 

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Suspenso da mesa dos noivos (infelizmente não tenho uma foto do conjunto mesa-suspenso)

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Disposição da mesa e decoração

 

Havia apontamentos florais também nas cadeiras a caminho do altar e optamos por ter um semi-arco de folhas antes das cadeiras (algo parecido com isto), que serviu à posteriori para tirar as típicas fotos de pose. Não tenho nenhuma foto onde ele se veja claramente e, honestamente, acho que não fez muita diferença (espero estar enganada, uma vez que custou um dinheiro razoável). 

Mas não podia falar em flores sem falar das mais importates de todas: as do bouquet! Os ramos das noivas fazem parte daquela lista absurda de coisas comuns que normalmente são baratas mas que, como é para casamento, passam a custar os olhos da cara. Nunca esteve no meu plano ir a uma florista e dizer que ia casar; ia pedir um ramo normal, com as características que queria, e depois estilizava-o da forma que desejasse, caso fosse necessário. Na altura até andei a ver ramos na internet, para não ter de enganar ninguém (nem me roubarem a mim), mas entretanto falou-se da florista da minha sogra, que se disponibilizou a fazer o trabalho. Trabalho esse que eu não podia recomendar mais - por ser criativo, dedicado e feito à minha medida; por ser um negócio local, que todos devemos ajudar. 

Dei à Verónica, da BelaDona, a ideia daquilo que queria e uma série de fotos para servirem de inspiração. Tendo em conta que o casamento seria todo em tons de castanho e verde, queria dar no bouquet um apontamento de cor. Mas, mais importante, queria muito que fosse feito com flores secas, de forma a que o ramo aguentasse uma vida sem se estragar. Passado uns tempos passei na sua loja, no Castêlo da Maia, onde tinha um monte de flores diferentes para escolher. Depois foi só deixá-la fazer a sua arte. 

Mandei fazer o meu bouquet, um outro muito semelhante para atirar (que acabou por não acontecer), dois pequenos raminhos para colocar nas campas dos meus avós e um apontamento para o fato do Miguel. O que restou das flores foi para o bolo, que ficou com uma decoração única e que "casava" com o meu ramo. Daí ainda sobraram alguns raminhos de cada espécie, com os quais fiz - já depois do casamento - pequenos ramos para oferecer às mulheres que me acompanharam nesta jornada: mãe, irmã, cunhada, sogra e meninas das alianças. O principal, o meu bouquet, mora hoje no nosso quarto - comprei uma jarra de propósito para ele e é a peça que me lembra diariamente que aquele dia aconteceu.

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O bouquet, ainda na florista, sem a parte do "punho", que esteve em hipótese ser em ráfia ou corda, mas que acabou por ser um fio estilo papel kraft

 

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No dia, já com o bouquet pronto

 

A Verónica ficou ainda responsável por fazer os nossos souvenirs. Não queríamos dar nada que fosse para uma gaveta e nunca mais ser visto, que é o que acontece com a maioria das lembranças de casamento. Vimos várias alternativas, pensamos num íman para o frigorífico, máscaras... mas a ideia que ganhou foi mesmo a primeira: suculentas. É algo que (à partida) não vai para o lixo nem se guarda numa gaveta e que, não tendo utilidade prática, será sempre algo decorativo e que serve a maioria dos gostos (até porque havia variedade para escolha). Para além disso, no universo das plantas, faz parte daquela lista que não exige grandes cuidados ou atenção, tendo uma maior hipótese de sobrevivência mesmo em casas que não tenham este hábito. Ainda por cima seguia o nosso tema: rústico, verde e floral. Melhor era impossível! :)

Não consigo dar valores de referência do serviço de florista, pois todas estas peças não foram pagas por nós. No entanto, sei seguramente que não foi nenhum balúrdio - e que o meu bouquet terá custado muito menos do que os absurdos 150, 200 ou 250 euros que muitas vezes pedem para este tipo de arranjos. Por isso o conselho é o mesmo que o dos cabeleireiros: procurem, perguntem, arranjem referências e conselhos de pessoas amigas, não menosprezando pequenos negócios como este que, no meu caso, fizeram tod a diferença.

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Ainda na florista, o primeiro exemplar das nossas suculentas, envolvidas em ráfia e com um pequeno laço verde à frente. Havia ainda um detalhe em papel kraft com os nossos nomes - o design foi feito por mim e mandei imprimir as rodelas na 360 imprimir.

 

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O setting do bolo (decorado com as flores do bouquet), onde estava também o nosso livro de assinaturas e as suculentas. As caixas de madeira onde elas estavam e onde as distribuímos já eram minhas - umas utilizadas na arrumação de fotos, outras em produtos de beleza - e utilizei-as no dia para não ter de comprar outras para o efeito. O rústico, mais uma vez, presente.

 

No post seguinte falo de tudo o que é estacionário e outros detalhes - a maioria deles feitos por nós.

08
Set21

Uma história com princípio, meio e sim! #15

A música, o DJ e uma série de decisões complicadas

O entretenimento foi a parte do casamento que nos trouxe mais dúvidas desde o início. Não somos pessoas de festas, pelo que não conhecemos DJ's ou músicos nem sabemos aquilo que resulta num ambiente festivo (a questão de fazer o baile durante a tarde, por exemplo, assombrou-nos durante imenso tempo e fez com que adiássemos a programação do dia até à última da hora). O facto de termos ido a poucos casamentos também não abonou a nosso favor, pelo que tivemos de seguir o nosso instinto.

Uma das coisas más em organizar um casamento em seis meses é a urgência que se tem em arranjar fornecedores. A minha prioridade após ter a quinta, como já disse aqui, foi o fotógrafo. O vestido de noiva e o entretenimento vinham a seguir. Mas, na música, estávamos a navegar na maionese - sendo que, ainda por cima, não é algo que consigamos avaliar num vídeo ou muito menos em fotografias; é o tipo de coisa que se experencia e se aprecia (ou não) e que nem os comentários de outras pessoas ajudam muito, pois depende do estilo e gostos de cada um. Tínhamos poucas referências de nomes e zero referências de preços, pelo que optamos por um pack oferecido pela equipa de fotógrafos, que está neste momento a lançar esse serviço. 

Olhando para trás penso que foi o maior erro que cometemos, ao nível do casamento. Não que o serviço do DJ tenha sido mau: mas porque pagamos mais do que tinha sido necessário (à posteriori soubemos de outros preços e conseguimos comparar) e porque, na verdade, usufruímos muito pouco, tendo em conta que o nosso casamento acabou cedo e teve muito pouco baile. E a verdade é que a própria vibe do DJ também não coincidia com a nossa, o que acabou por fazer com que, ao final da noite, a música resvalasse para onda muito mais rock/house que não era, de todo!, do nosso agrado. No entanto, no meio de tanta coisa a decidir, acho que "errar" num só ponto do casamento não é tão grave assim.

Em relação à música a nossa abordagem foi simples: fizemos uma playlist de canções que gostávamos para o DJ ter uma ideia dos nossos gostos, assim como uma lista das músicas dos momentos-chave. Também dissemos aquilo que não queríamos: era proibída Beyoncé, Jerusalema, tudo o que é pimba, kuduro e outros estilos parecidos (a dança do quadrado também estava nas exclusões).

Tirando a parte inicial - em que o DJ não pôs a versão da música que eu queria para caminhar até ao altar, e eu fiquei POSSESSA - e a parte final, mais arockalhada, a perceção que eu tenho (porque, confesso, a minha atenção raramente se dirigia para a música de fundo) é que o DJ fez um bom trabalho quando estava em livre demanda. A verdade é que não havia muito por onde errar, uma vez que era só passar música; prescindimos de toda a parte de entretenimento que normalmente está a cargo dos DJ's: não houve jogos, desafios, cantorias nem sequer lançamento de bouquet.

A escolha das músicas dos momentos-chave (que deixo abaixo) foi dos processos mais chatos e demorados, até porque eu e o Miguel não temos gostos iguais. Passei semanas a pensar na forma como ia entrar no altar. Acabei por fazer uma short-list e escolhemos os dois em conjunto, e o critério foi simples - a emoção. Na música escolhida, e a imaginar o momento, começamos logo os dois a chorar como madalenas, por isso a decisão ficou tomada mesmo antes de a termos racionalizado. O mesmo não aconteceu com as outras, e acabou por ser tudo escolhido à última da hora - ou era, ou era! - mas no final acho que resultou tudo muito bem e fiquei feliz com a escolha de todas elas. Gostava de ter utilizado uma música do Jamie Cullum e outra do Twilight neste mix de músicas importantes, mas acabou por não acontecer e está tudo bem ;)

Mas a música não ficou por aí - e estamos apaziguados com esta questão porque, apesar de acharmos que não fizemos grande negócio com o DJ, temos a certeza que acertamos em cheio quando decidimos ter música ao vivo. Esta hipótese esteve muito tempo em cima da mesa (o meu irmão era o maior entusiasta desta ideia) mas, com o DJ contratado,  não sabíamos onde encaixar mais um momento musical. Mas encontramos "O" grupo e mexemos várias vezes no programa até encontrar aquela que foi a fórmula ideal para o nosso casamento e proporcionar aquele que, para mim, foi o seu momento mais alto.

Tivemos uma sorte descomunal por o Trio Simple Sound ter a data disponível - porque se não fossem eles, provavelmente a música ao vivo ficava descartada. Eles refletiam tudo aquilo que queríamos para o nosso dia: uma vibe muito chill, descontraída, divertida mas sem ser excessiva. Gostamos logo imenso do Ricardo na primeira reunião, numa identificação perfeita de valores e de ideais, e soubemos que no dia tudo ia correr bem. E correu. O trio interpretou perfeitamente o público que tinha à frente, e ia-os "alimentando" sempre com mais música (e até discos pedidos!), fazendo com que o pessoal dançasse coisas que, à partida, não são assim tão dançáveis. E desconstruiu uma ideia de que tinha muito medo: "será que resulta o baile à tarde?". Resulta! Mais do que isso: à tarde e ao ar livre, que foi só ouro sobre azul. Acho que é só querer, escolher bem os músicos e, acima de tudo, fazer parte do movimento. Tenho uma pena enorme de só ter assistido a metade do concerto (na outra parte estávamos a aproveitar o pôr-do-sol para tirar as típicas fotografias), porque sei que foi a parte do casamento com a qual mais me identifiquei. Foi aquele o casamento com que sonhei. Quando voltei já tinham acabado - mas toda a gente queria mais. Contratava-os de novo, num piscar de olhos, para um casamento ou qualquer outra festa. Gostei mesmo muito. 

De fora ficou a ideia de fazer um quizz depois do almoço. Na altura  fiquei triste por não conseguir avançar com algo que achava ser original, mas no dia fiquei aliviada, pois os tempos descambaram e teria sido (ainda mais) difícil de gerir tudo o que ainda havia para acontecer. Por outro lado, acho que as pessoas não vão para um casamento para fazer um trivia; a maioria das pessoas gosta de comer, beber e conversar - e a atividade de pensar muito, num dia que supostamente deve ser descontraído, não está nos seus planos. Eu sempre vi um casamento como uma festa - e festa, para mim, inclui jogos de tabuleiro e boas conversas - mas, na verdade, um casório é visto como uma coisa diferente, com tradições distintas, que não se coadunam com muitas das ideias que tinha para mim e para esse dia. Podia fazê-las - mas sei que a adesão não seria a ideal, e que o meu entusiasmo não seria refletido nos outros. E, mais uma vez, entra aqui um mantra típico, verdadeiro mas doloroso, que é: o casamento é nosso, mas a festa é dos outros. 

Ainda assim, diria que o balanço a nível de entretenimento foi positivo.

 

Para memória futura, a lista das músicas que acompanharam os momentos-chave do casamento:

Entrada do Noivo: Marcha Imperial, do Star Wars

Entrada da Noiva: Never Enough, The Greatest Showman (devia ter sido a versão original mas a que se ouviu foi outra, infelizmente)

Saída do Altar: I Want to Hold Your Hand, Beatles

Brinde: Give a Little Bit, Supertramp

Entrada na sala: Crazy Little Thing Called Love, Queen

Corte do Bolo: Ain't No Mountain High Enough, Marvin Gaye e Tammi Terrell

12
Ago21

Uma história com princípio, meio e sim! #14

Cabelos e maquilhagem - ou como tentar não ser roubada para ser uma noiva bonita

Num mundo idílico, o tema "cabelos e maquilhagem da noiva" não seria um dos que abordaria isoladamente aqui no blog. Mas, na verdade, é o exemplo perfeito de um flagelo que afeta a organização de um casório chamado «inflação completamente desproporcionada de tudo o que tenha "noiva/casamento/noivo" no nome».

Casei num domingo e a cerimónia estava marcada para as 11h30. Ou seja, tinha duas questões difíceis de resolver: primeiro a maioria dos cabeleireiros estão fechados ao domingo; segundo, dada a hora do casamento, teria de começar a arranjar-me por volta das 8h (o mais tardar!) - hora a que os cabeleireiros, normalmente, ainda não estão a trabalhar.

Por isso decidi começar a procurar serviços/profissionais que fossem a minha casa, para me arranjar não só a mim como à minha família mais próxima. E fiquei EM CHOQUE com os preços que me deram e que, aparentemente, são aceites pelo mercado em geral. Profissionais deste gênero têm normalmente packs de noivas que, desculpem-me a sinceridade, são de bradar aos céus; pedi orçamentos a quatro empresas diferentes e o mínimo que pediam para arranjar a noiva era 250€. Isto incluía maquilhagem e cabelos, assim como a prova. Sim, são dois momentos distintos e dois serviços diferentes... Mas 250 euros? 300? 350? Mas está tudo maluco?! Isto era o pacote mais pequeno, sendo que havia outros que chegavam aos 900 euros, incluindo retoques de maquilhagem ao longo do dia, pedicure e manicure.

A questão que me assola é: uma maquilhagem de noiva não é uma maquilhagem igual às outras (aliás, a minha era bem mais simples do que muitas das convidadas)? Um penteado de noiva não é igual a qualquer penteado que vamos fazer ao cabeleireiro num outro dia de festa, tirando o facto de pendurarmos lá o véu? I

E isto, na verdade, pode ser extrapolado para muita coisa no que diz respeito ao casamento. O bouquet não é um ramo normal? A lingerie não é igual aquela mais sexy da secção noite? A resposta é não. Porquê? Porque é para o casamento, o dia mais mágico das nossas vidas, e tudo o que implique dias mágicos pede preços mais elevados.

Nestes casos em que se pedem preços astronómicos por coisas aparentemente normais (só por serem para o casamento, esse dia mágicooooo!), o meu conselho é procurar e não aceitar, simplesmente, que os preços são aqueles que nos dão. Não digo que regateiem - mas procurem! Falo sempre no site dos casamentos.pt, que é normalmente uma ajuda preciosa, mas aconselho-a principalmente para fotógrafos, espaços e outros serviços especializados nesta indústria; no caso de coisas "mundanas" procurem na vossa cidade, perguntem a pessoas conhecidas, peçam referências. Há sempre alguém que conhece uma pessoa com jeito de mãos, uma lojinha ou quem tenha um cabeleireiro de confiança, por exemplo.

A mim foi o que me safou. Neste momento não tenho um cabeleireiro que frequente sempre ou onde faça serviços completos; tive uma fase onde fazia tudo o que era estética num só local mas neste momento arranjo as mãos num sítio, os pés noutro, a depilação noutro e o cabelo no sítio para onde estiver virada naquele dia. A minha mãe, neste momento, é fiel à Inês Pereira, na Maia, falou com eles e, felizmente, estavam disponíveis nesse dia!

As guidelines eram claras: estar simples e natural! A ideia inicial era ir com o cabelo semi-apanhado, só com um "nó" para encaixar o véu e o toucado, mas mudei de ideias no dia da prova, quando fizemos vários testes e toda a gente pendeu para um penteado um bocadinho mais elaborado. Na altura concordei; hoje, levaria o cabelo mais solto, a minha ideia original. O penteado foi feito de forma a que, se quisesse, o pudesse soltar parcialmente - até levei o alisador para fazer umas ondas e etc. - mas acabei por não mexer mais. O tempo no dia do casamento é tão escasso e precioso que temos de fazer algumas escolhas - e eu preferi estar com as pessoas ou com o meu marido do que ir (re)arranjar o cabelo.

O mesmo se aplicou à maquilhagem: uma linha super simples e clean, com cores suaves e leves; sem pestanas postiças nem grandes contornos, o essencial era mesmo parecer natural. Na semana anterior ainda tinha ido comprar um batom para poder retocar ao longo do dia... que ficou no mesmo saco que o alisador, em que não toquei. Mesmo com algumas lágrimas e depois de comer, não retoquei absolutamente nada - por isso acho que contratar um serviço de estética que acompanhe a noiva ao longo do dia é dinheiro deitado ao lixo (a menos que sejam celebridades ou vloggers e tenham de estar sempre no ponto..!).

A equipa da Inês Pereira foi sempre impecável e tudo correu lindamente, tanto na prova (onde fiz três penteados diferentes) como no dia do casamento. Eram 6h30 da manhã e estavam quatro profissionais a chegar e a montar todo um estaminé no jardim interior lá de casa, com luz natural de fazer inveja à maioria dos cabeleireiros, para tratar de mim, da minha mãe, irmã, cunhada e sobrinhas - sempre com boa energia e com um sorriso na cara. Demorou tudo mais tempo do que estava a contar - nunca achei que demorassem uma hora e meia só a maquilhar-me - mas quem sabe, sabe, por isso deixei que fizessemo seu trabalho e meti-me na minha vida. Pelo meio ainda tomei o pequeno-almoço e orquestrei a organização dos cones das pétalas - e acho que é seguro dizer que era a pessoa mais calma cá de casa. E a verdade é que não tinha razões para tal: correu tudo lindamente e acho que ainda ganharam clientes pelo caminho. 

 

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Para referência: para todos estes serviços e arranjar três mulheres e duas meninas (com penteados e maquilhagens várias, de complexidades diferentes), o valor rondou os 400 euros. Valeu ou não a pena, procurar? ;)

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