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Entre Parêntesis

Tudo o que não digo em voz alta e mais umas tantas coisas.

08
Jul20

O dia da perda de um amigo de quatro patas

O adeus ao Tomé

Há dias que não nascem para sermos felizes. Às vezes sabemo-lo como dado adquirido, outros sentimo-lo, noutros estamos simplesmente às escuras e, durante o decorrer daquelas 24 horas, damos de caras com qualquer coisa que nos faz querer não nos termos levantado na cama nessa manhã. Mas os dias são para se viver - mesmo os tristes.

E hoje é um deles.

Hoje disse adeus ao guardião mais antigo de minha casa. O Tomé faria 11 anos em Novembro, estando connosco há mais de uma década. Nasceu com um problema na anca e os quase 70kg que carregava todos os dias (não por ser gordo, mas por ser enorme) não ajudaram a que tivesse uma vivência fácil nos últimos tempos. Chega uma fase em que é difícil balançar o nosso sofrimento, por o vermos assim, com o sofrimento deles; eles não falam, não conseguem exteriorizar de forma precisa a dor que sentem, e nós deixamo-nos levar por uma pontinha de egoísmo que nos diz que "amanhã ele estará melhor", tentando adiar o inadiável mais um só dia - e fazendo o melhor possível, puxando por ele, cuidando dele e festejando as suas vitórias como se fossem as nossas. Até ao dia.

O dia foi ontem - o da decisão. O dia foi hoje - o da perda. Decidir a morte de um cão é mau; mas pior é vê-lo a perder a vida em frente aos nossos olhos. É uma dor que temos por garantida no dia em que um cachorro vem para nossa casa, mas para o qual nunca estamos preparados - muito menos se temos de decidir por eles a hora de partir.

Guardo do Tomé o seu instinto de proteção - tão grande como a sua teimosia. Não me esqueço das primeiras vezes que fui tomar café à noite e ele me esperava religiosamente no portão, só indo dormir para o seu posto quando eu chegava a casa. E acho que recordarei sempre, pelo menos enquanto todos à volta da mesa nos rirmos, das vezes em que ele foi confundido com um animal selvagem - quando uns estafetas vieram fazer uma entrega mas não passaram do portão, alegando que "não era legal ter leões em casa"; das vezes em que fugiu, assustando as pessoas de cada vez que irrompia pelas suas casas adentro, deixando-as - e muito confusas - perante o enorme intruso que tinham à sua frente. Já para não falar da altura em que o tosquiamos e enganamos toda a gente, dizendo que tínhamos adotado um cão que estava perdido na rua - e os outros, para além de acreditarem, ainda acrescentavam: "coitadinho, é tão feiinho, mas tem um ar tão feliz!". 

O Tomé não era o rei da selva, mas era o rei lá de casa. Amuava quando íamos de férias, não nos dirigindo sequer o olhar, e era subtilmente comprado pelo meu pai depois deste lhe oferecer uma bandeja de costelinhas, prontas para ele destroçar com os seus caninos de quase-leão. Se isso não é de rei, o que será?

É muito fácil que, nestes momentos de dor imensa, tenhamos a tendência de só olhar para o presente (e até perspectivar o futuro). Muita gente diz não querer passar por isto outra vez, recusando-se a voltar a ter um animal de estimação - mas olhando para a balança, o que valeu mais? Os dez anos de alegrias, de peripécias e mimos ou este momento? Para mim compensa sempre a vida e os momentos que partilhamos com cada um deles, mesmo que a dor da despedida seja imensa.

O Tomé partiu hoje mas fará sempre parte da nossa história e da nossa casa. O seu rugido e andar característicos de leão, as suas patas gigantes, o seu carinho e lealdade, os seus olhos doces e focinho gigante deixarão saudades por entre aqueles muros e as paredes do nosso coração. Que agora viva sem dor e corra livremente pelos jardins fora, como fazia dantes.

 


Tomé
24 de Novembro de 2009 - 8 de Julho de 2020 

 

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15
Jan19

Panzer (ou como o meu colo nunca chegou a ficar frio)

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"Desde que tirei o curso de fotografia que estou sempre à procura da foto "mais perfeita". Alinho os horizontes, balanço os brancos e trabalho as sombras, ponho as fotos mais amareladas como gosto, tento sempre que não haja ruído a distrair do foco principal. E, claro, tento pôr-me bonita. 
Mas também gosto de fotos verdadeiras. Esta é uma delas. Tirada na véspera de Natal, nos 20 minutos de pausa que tive depois de fritar os doces natalícios e onde aproveitei para estar com os meus pequenos. Pijama, pantufas, avental, olheiras, cabelo horrível. E ainda bem que nas fotografias não se sente o cheiro a fritos! E, no entanto, uma foto tão bonita como todas as outras. 
Quando adormeceram todos no meu colo, gritei pela minha irmã para ir buscar a máquina e captar o momento. "De avental?", Perguntou. Disse que sim, era como estava, era assim que ia ficar. O Amor é isso tudo.
Desde que eles nasceram - em que os vi sair, bolinhas em sacos, e a respirar pela primeira vez - que conto incessantemente de um a sete, para me certificar que estão todos. Acordei muitas vezes a meio da noite para ter a certeza de que respiravam, punha-os a mamar se via que estavam mais magros e trazia-os à vez ao colo, para os ensinar o significado de mimo.
Agora conto de sete a zero, em contagem decrescente até o colo ficar a vazio. Até ficar frio. E dói. Mas dizem os sábios que amar também é deixar ir, e eu acredito. Que a minha Dora, o Lilo, o Pantufas, a Cuca, a Mel, o Rufus e a Mimosa sejam felizes nas suas novas casas é um dos meus desejos de 2019. Que aqueçam muitos colos como aqueceram o meu."

 

Texto publicado no meu instagram a 30 de Dezembro

 

Escrevi este texto poucos dias antes do fim do ano, quando os meus pequenos texugos estavam a abandonar o meu colo a uma velocidade estonteante. Não é difícil perceber que não estava feliz. Mas mal eles nasceram eu sabia que era assim que ia ser: era lógico que não íamos ficar com os sete, mas cedo combinámos que não íamos ficar com nenhum. Porque já tínhamos muitos, porque seria mais uma despesa, mais trabalho e mais preocupações. Porque aquilo que a minha mãe queria mesmo era uma cria da Molly e do Calvin - e não do vizinho.

Foram indo, um a um. Saí sempre de casa quando sabia que os iam buscar. O colo ia ficando mais frio, mas ao menos não era eu que os tirava de cá. Até que ficaram dois. Rodava-os entre o quentinho do meu abraço, dormia com eles ao peito, via-os a brincar como se não houvesse amanhã ou a dormir em conchinha como se nunca tivessem conhecido outra forma de encaixe. Até que chegou a hora.

Eram os meus dois últimos meninos e, esses, não os queria deixar ir sem lhes apertar aquelas barrigas gordas. Quando deixo ir um, descaradamente em lágrimas em frente aos seus novos donos, aperto o outro no colo. E, quando largo esse, escondo a cara por detrás do casaco de penas para não verem a minha cara. Não fiz por mal, por arrependimento, nem para terem pena de mim - foi somente a dor e a infelicidade de os ver partir a vir ao de cima. O sentimento de que já não sobraria nenhum.

E nesse momento, num vai-não-vai, entregam-me o cão para o colo. Que era meu, que não tinha mal. E eu entreguei-o de volta, em pânico por não honrar um compromisso. Mas, insistindo ainda assim, lá veio ele de volta para as minhas mãos. 

Hoje, o Lilo de que falo no meu post do instagram chama-se Panzer. Todos os dias me rói as pantufas e me ataca com aqueles dentes em forma de agulha. Todos os dias, quando me vê, corre na minha direção com aquelas orelhinhas de abano e com todas as suas regueifas a oscilar para cima e para baixo. E todos os dias - até ao dia em que conseguir - o agarro no meu colo, tal e qual como fiz naquela noite, quando o trouxe para o quente da casa que agora era mesmo a sua.

Muita gente me disse, depois de ficarem a conhecer que ele tinha ficado cá, que "sabia que eu não ia aguentar ficar sem um cão". Pois eu não fazia ideia. A partir do momento em que decidimos dar todos os cães, e acima de tudo quando soube que havia quem quisesse cada um deles, eu nunca ponderei ficar com um (ainda que secretamente desejasse que me tivessem oferecido um no Natal). Só que aconteceu. A minha dor e a sensibilidade de quem estava do outro lado falou mais alto (e ainda hoje, só de me lembrar desse momento, escorrem-me as lágrimas pela cara abaixo).

Foi há precisamente dois meses que nasceram. Tenho tido a sorte de ter notícias de muitos deles e o meu coração está sossegado por saber que estão bem, que são amados e bem cuidados. E a forma como o cachorro da minha vizinha - que acolheu um dos filhos da Molly - corre na minha direção quando me vê, diz-me que eu fiz tudo certo. Não vive comigo, mas pelos vistos ainda lhe cheiro a casa. Talvez o meu colo seja sempre a casa de cada um deles. Do Panzer, será de certeza.

 

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03
Fev18

Fui traída pela minha cadela

(depois de escrever este título senti-me um daqueles youtubers parvos da moda, atrás de um clickbait – mas o pior é que ele tem um fundo de verdade)

 

A Molly é uma cabra. Não, isto não é um insulto para a minha cadela. Ela, embora seja um canídeo, tem de ter algures no seu ADN qualquer coisa que a faz agir tal e qual as cabras e os bodes, principalmente no seu chato hábito de trepar e saltar para cima das coisas. Desde pequena que a vi em cima de arbustos e pequenas árvores, mas no último ano a situação agravou-se, pois ela aprendeu a subir aos muros. Tem os seus sítios estratégicos, sabe onde apoiar as patinhas e anda ali qual trapezista. Demorou a aprender – vi-a muitas vezes a dar saltos astronómicos em direção à parede – mas agora faz o que quer da vida.

A minha preocupação inicial era que ela fugisse de casa, uma vez que chegou a ir para a rua. Acabei por perceber que ela só vai lá para fora quando sente que há algo de excecional a passar-se (se eu for passear outro cão, se sentir que algo não está bem em casa, se formos de férias...), pelo que relaxei nesse sentido. Sempre que a via em cima do muro fazia com que descesse e mandava-lhe um berro, com esperança de a assustar, mas tudo foi em vão.

Porque agora ela arranjou algo muito melhor do que fugir de casa (e que subir o galinheiro, saltar para o quintal e mergulhar no meio do estrume): vai para a minha vizinha. Só me apercebi deste fenómeno quando ela ficou com o cio e a vizinha nos veio dizer que o cão dela estava a modos que entusiasmado. Fiquei confusa. “Mas como é que a Molly e o cão da vizinha interagem?”. Pois. Os muros não são um problema para aquela cadela.

Os meses foram passando e agora posso dizer-vos com segurança que a Molly leva uma vida dupla e interesseira. Quando lhe interessa, fica deste lado; quando está entediada, vai para o outro (onde lhe dão mimos e biscoitos). Fina como ela é, pelos vistos, até já bate à porta do sítio onde estão as guloseimas, como que a pedir mais docinhos.

Mas eu só percebi a gravidade da questão quando comecei a ver fotos dela nas redes sociais dos membros da família do vizinho. Nada contra: eu sei que ela é a cadela mais fofa e querida, não acho que isto seja um caso estilo super nanny, em que se põe em risco a privacidade da “criança”... mas caraças! Sinto-me traída! Anda lá ela, toda feliz da vida, enquanto o outro cão lhe dá mordidelas nas orelhas ou dorme no colo da vizinha... E eu aqui... durante quase quatro anos com mimos diários, a dar-lhe sempre um beijo de boa noite, a tirar-lhe as remelas todas as manhãs, a ensinar-lhe os truques todos durante horas... e ela troca-me. Anda uma pessoa a educar uma cadela para isto!

(Vendida!)

(Sim, tenho ciúmes!)

 

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 P.S.: Se os meus vizinhos estiverem a ler isto, quero só dizer que estou a brincar e que agradeço o facto de a tratarem tão bem. Agora que penso... talvez demasiado bem. ;) 

25
Set17

Sim, os meus cães são mais famosos que eu nas redes sociais

Eu tenho mais fotos dos meus cães do que aquilo que seria considerado "normal". Passo muito tempo com eles e acaba por ser uma boa desculpa para treinar a fotografia, dar uso às objetivas e dar uns disparos. Mas acabo por ter centenas e centenas de fotos deles que depois não sei muito bem que fim dar ou como organizar. Não as vou imprimir - embora os adore, acho que não faz sentido ter o quarto cheio de molduras com fotografias deles -, não as vou mandar para ninguém e também não tenho grandes descrições para os arquivos como "Molly no cruzeiro ao Adriático", "Calvin no Natal de 2016" ou "Cães nas férias de verão". No fundo, não tenho grande hipótese senão dividir isto por meses e enfiar para lá as fotos que tenho (mais as milhares que tenho desorganizadas no telemóvel...).

E há uns meses, enquanto divagava pelo instagram, encontrei uma página que era uma espécie de best of de fotografias que outros utilizadores postavam dos seus bracos (raça da Molly e do Calvin). Comecei a embrenhar-me nesse mundo, a pôr likes em tudo quanto era cão fofo e, a certa altura, o meu feed tinha mais cães que pessoas. Confesso que não me importo muito, mas achei aquilo um bocado confuso e dada a quantidade absurda de fotos que tenho dos meus cães, perguntei-me: "porque não?". E assim nasceu o instagram da Molly e do Calvin.

É lógico que não coloco lá todaaas as fotos que tenho deles, mas sempre ajuda a dar alguma utilidade às fotos, em vez de ficarem somente guardadas no meu computador, a apanhar pó e sem ver a luz do dia. Na verdade – e sei que estou a puxar a brasa à minha sardinha em todos os sentidos – há fotos bem giras, fofas e de-vez-em-quando-meio-artísticas que acho que vale a pena partilhar.

Por isso, se gostarem de cães, já sabem – sigam-nos em @mollyandcalvin. Se não gostam e acham ridículo o facto dos meus cães terem um instagram em nome próprio (onde inclusivamente falam na primeira pessoa), os meus parabéns: são pessoas realmente sãs e com juízo. Felizmente que não é o meu caso :p

 

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14
Mai17

Calvin

Chegou há três semanas e já triplicou de peso - se as coisas continuarem neste ritmo... estamos mal. É um bocadinho rebelde, gosta de roer coisas (ai vida...) e de dormir em cima da minha roupa, que arranca com vontade do estendal. Adora adormecer no colo - embora já esteja no limite do tamanho para caber nos meus braços.

Não estou a perceber como é que ele está a crescer tão rápido e tão depressa (se parar de lhe dar ração ele ficará assim pequenino para sempre? Sim? Por favor?!). Ando a aproveitar estes tempos de "pequenino" ao máximo porque sei que não vão durar muito tempo - ele, ao contrário do tamanho do meu colo, cresce de dia para dia. Adormeço-o nos meus braços, deixo-o deitar-se nas minhas pernas enquanto me sento à chinês e, acima de tudo, observo-o muito - assim como a sua relação maravilhosa com a Molly.

Estes dois são a alegria dos meus dias - e o meu instagram anda spammado com tanto cão... mas olhem, é a vida! Deixo em baixo mais algumas fotos dos meus dois meninos - se quiserem a ver as fotos do primeiro dia e comparar o tamanho do monstrinho, estão à vontade.

 

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22
Abr17

Hoje a família cresceu

Este acrescento à família já estava a ser pensado há muito e planeado em concreto há cerca de um mês - mas preferi não falar até o ter em casa, porque havia muitos "mas" e "se's" que precisavam de ser ultrapassados. E, acima de tudo, haviam medos que se relacionavam maioritariamente com a reação do outros cães aos mais recente membro (em particular a Molly, que conviverá mais com ele, e o Tomé, que não gosta de invasões no seu território).

Hoje, depois de quase três horas de carro, já o tínhamos nos braços e ficamos, como sempre, enamorados. Ainda é muito pequenino, dorme muito, mas já se nota o espírito brincalhão e reguila que lhe corre nas veias. A Molly já o acolheu e está sempre preocupada com o estado daquele que deve pensar que é o seu novo rebento - mas está estranha e eu estou preocupada com o facto de ela sentir que a atenção que eu lhe dava passou para ele (que não é verdade, hoje tentei sempre estar ao lado dela, mas nesta fase inicial é praticamente inevitável ter os dois olhos e pelo menos uma mão em cima do outro). A minha relação com esta cadela é qualquer coisa de especial e um dos meus medos era precisamente que a minha relação com ela mudasse pela introdução de um novo elemento: mas enfim, vamos indo e vamos vendo. Acho que, neste momento, ela está numa relação de amor-ódio com o cão (sim, é menino): por um lado, trata dele como se fosse sua mãe e já o protege dos outros cães; por outro, nota-se o ciúme e tem medo que ele ocupe o seu lugar (por exemplo com a comida, que hoje ia valendo uma mordidela ao pequenote).

O bebé ainda não tem um nome 100% definido (deve ser Charlie) e neste momento é o alvo de todos os olhares e preocupações aqui em casa. A introdução com os outros cães está a ser feita aos pouquinhos e assim terá de ser no futuro próximo, acima de tudo com muita paciência. Todas as outras "lutas territoriais" vão sendo ajustadas ao longo do tempo, esperemos que sem danos para nenhuma das partes. Nesta fase uma pessoa fica sempre com o coração nas mãos e todos os cuidados são poucos.

Nestes momentos o coração cresce e parece ter sempre espaço para mais um, não diminuindo o amor que se tem pelos outros - e essa capacidade que nós temos é mesmo incrível. Deixo as fotos do primeiro dia de "casa" do caçula da família.

 

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17
Abr17

Dog Lady

Ando outra vez em fase de limpezas no computador e no telemóvel. Já há meses que andava a receber notificações, tanto no telemóvel como no computador, de que tinha a iCloud a arrebentar pelas costuras e decidi começar a gravar tudo, a selecionar, a apagar e a arquivar. Ainda não acabei, mas isso não interessa para o caso. Mas sabem o quê que me ocupa o espaço todo que tenho no telemóvel e que revela bem aquilo que sou? Fotos dos meus cães.

Comigo, sozinhos, em passeio, em casa, deitados, sentados, a fazer palhaçadas ou truques, a dormir ou a correr. Cães, cães everywhere. Principalmente a Molly, que eu apelido (justamente) de minha sombra. Ela de cadela de caça passou para cadela de casa e já não sabe viver sem calor humano - e, desculpem, acho que gosta do meu em particular. <3 

Acho que já aqui disse que as análises às nossas redes sociais (e galerias de imagens) dizem muito sobre nós e as minhas são um raio-x perfeito da minha vida, porque não têm pessoas - a não ser, em casos raros, os meus pais. Tenho fotos minhas, dos meus livros, de paisagens, dos já falados canídeos e até de outros animais que vejo na rua: mas fotografias com outras pessoas não chegam a representar 5% da minha galeria.

Isto não é uma coisa nova para mim - não sou pessoa de pessoas, apesar de sentir que isto se tem agravado nos últimos meses. Depois de sair do trabalho prefiro fechar-me na minha bolha - também apelidada de casa - e só há dias é que percebi que há meses não punha (por exemplo) os pés num shopping, quando olhei à minha volta e já havia imensas lojas novas, diferentes e renovadas. E aí fiquei preocupada, porque apesar de nunca ter companhia para quase nada, nunca me privei de fazer o que quer que fosse: e agora prefiro ficar em casa. E eu sei que isto é mau, sei que isto faz parte de um buraco que estou a cavar e que depois vou ter dificuldade em sair... mas a questão da solidão continua a ser uma coisa central na minha vida e por muito que eu escreva, pense e repense, não consigo modificar. 

Mas enfim, no meio disto tudo, ainda há os cães, que têm vindo a colmatar a falta de pessoas na minha vida. E isto, lido por alguém hiper social, deve soar ridículo (e a mim, que sempre tive cães, também me é estranho porque só agora está a acontecer): mas eles têm sido uma companhia constante e essencial nos últimos meses. Nos dias maus, antes de qualquer outra coisa, são eles quem me arrancam o meu primeiro sorriso. Aquele amor incondicional e aquela presença constante têm-me enchido o coração de amor nesta fase que, sinceramente, tem doído a passar. É o facto da Molly vir dormir para o chão, ao meu lado, enquanto eu estou deitada no sofá; é pôr a pata por cima da minha mão quando me deito ao seu lado; é colocar o focinho no meio das minhas pernas enquanto tomo o pequeno almoço; é dar-me uma (e só uma) lambidela quando a vou cobrir antes de me ir deitar. É reconfortante e tão importante nos últimos tempos...

Não sei explicar, mas estou em crer que isto só consolida a minha posição enquanto anti-social em crescimento. Há pessoas que, olhando para mim, já me dizem "não me digas que vais ser uma cat lady!". Não, acho que não vou. De qualquer das formas, também já não preciso: ser, com 22 anos, uma dog lady, já me parece mau o suficiente.

 

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27
Jun16

Em dia de São João nem tudo é festa

O meu São João não foi feliz nem triste; foi simplesmente normal (e este "normal" inclui sempre o stress e o trabalho de quem organiza este tipo de festas todos os anos). Já lá vai o tempo da festança até altas horas da manhã, das guitarradas, dos saltos para a piscina à meia noite - e sim, estou velha e saudosista.
Mas, honestamente, o meu São João foi marcado por um "evento" ainda antes da festa começar. Tinha ido ao supermercado para fazer umas compras de ultima hora com a minha irmã e a minha sobrinha e, à vinda para casa, a minha irmã grita que estava um cão a ser atropelado no meio da rua. Eu não vi, estava fora do meu ângulo de visão, mas os gritos da dona faziam-se ouvir para todos aqueles que não fossem surdos.
Para que conste, a culpa não foi do condutor do carro, que pelos vistos nem se apercebeu do que tinha feito (só com o estado de choque da dona é que caiu em si): o cão estava sem trela num passeio pequeno e, provavelmente assustado com algo que veio do lado das casas, saltou para o meio da rua e foi atropelado. Independentemente das culpas, estas situações mexem comigo; pedi à minha irmã para parar o carro para ver no que podia ajudar. Fui ter com a dona, uma rapariga mais nova que eu que estava em estado de choque, num pranto sem fim. Tentei acalma-la e percebi que o cão, aterrorizado, fugiu dali (mesmo com a para da frente praticamente ao dependuro). Não me perguntem como nem porquê, mas larguei a dona e fui numa correria desenfreada atrás do cão - a minha irmã ia no carro, num pára arranca e dentro e fora, tentando acompanhar-me e ajudando-me a apanhar o bicho. Corri umas centenas de metros até conseguir apanha-lo, no meio da rua, mas felizmente numa zona menos movimentada. O cão, que não me conhecia e estava cheio de medo, quando viu que o prendi acabou por me morder - mas as forças que lhe restavam não eram muitas, pelo que cedeu, vendo que não o largava.
Entretanto a minha irmã voltou para trás, foi buscar a dona e esperamos pela mãe dela, que espero que tenha levado o bichinho ao veterinário. A pata da frente estava em mau estado, com osso de fora e carne demasiado exposta, mas estou em crer que mesmo amputado o cão vai conseguir ter uma vida feliz (porque, apesar de não estar eximiamente tratado e da falta de sangue frio da dona, via-se que ela gostava dele).
Cheguei a casa com as pernas a tremer como varas verdes (tanto da adrenalina como do sprint que fiz é que não consta das minhas abolisses normais) e os braços ensanguentados, mas com a sensação de dever cumprido e consciência tranquila. Pode não ter sido o melhor São João de todos os tempos, mas não há nada que pague a sensação de dormirmos de consciência limpa.

(E, por favor, não andem com cães na rua sem trela!)

01
Mai15

Um ano de Molly

Parece que foi ontem que vi aqueles ratinhos em forma de cães em volta da Luna, a mãe. Eram tão pequeninos que até metia impressão pegar-lhes. Eram todos demasiado fofos - tão fofos que só apetecia comer e estrafegar com beijos e mimos bons. Mal eu sabia, nessa altura, que um daqueles cãezinhos iria ser meu.

Parece até que foi hoje que vi a Molly entrar aqui em casa, dentro de um saco de papel e um lacinho vermelho ao pescoço, em forma de prenda de anos da minha mãe. Mal toda a gente sabia que aquela tinha sido a melhor prenda do mundo, não para a aniversariante, mas sim para mim.

Ainda me lembro da primeira noite que passei com ela, quase metida na minha cama; do drama que foi introduzi-la na matilha, uma vez que o Tomé tinha uma vontade louca de a comer de um só trago; da diferença de tamanho grotesca entre ela, com dois meses, e os outros cães; da primeira noite em que dormiu aqui dentro de casa, completamente enroscada em duas mantas onde a embrulhei para parar de tremer de frio. Foi o primeiro cão que conquistou lugar aqui dentro de casa, mas desde o início que conquistou os nossos corações. Tenho uma relação com ela que não tenho, nem nunca tive, com mais nenhum cão - talvez porque ache que tudo aquilo que sinto por ela é recíproco. Ela mima-me quando eu preciso, eu faço-lhe o mesmo; ela é chata quando quer alguma coisa, mas eu também sou chata quando quero que ele faça o que quer que seja; ela tem a mania que manda, e eu mostro-lhe que quem manda sou eu. Mas, dentro das nossas grandes diferenças, completamo-nos. Acho que somos quase feitas uma para a outra. 

Como prenda de anos antecipada, a semana passada esqueci os trabalhos, o programa, os computadores, as internets e os telemóveis e levei-a à praia pela primeira vez. Todos aqueles passeios e treinos tinham esse grande objetivo: começar a leva-la de carro a alguns sítios para nos passearmos uma à outra. Para primeira experiência correu bem. Fomos para uma praia com pouca gente e ficamos lá meia hora. Não estranhou a areia nem tentou meter-se na água; no passeio portou-se lindamente, com excepção dos momentos em que via outros cães ou mirava os pássaros para caçar (o que é um problema porque eu não reparo neles e não estou à espera do puxão que ela me dá). Nunca a soltei da trela, com medo que ela fugisse ou se metesse com outros cães, mas estamos num bom caminho. Acho que foi a melhor prenda de aniversário que ela podia ter tido.

Em suma, há um ano tinha acabado de nascer uma das minhas melhores amigas. Parabéns Guacamolly*!

 

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*um nome fofinho que eu lhe chamo, num trocadilho entre o prato "guacamole" e o seu nome, Molly

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