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Entre Parêntesis

Tudo o que não digo em voz alta e mais umas tantas coisas.

18
Abr23

Eu não quero ser como a Kodak

Escrevo porque gosto. Também escrevo porque acho que tenho jeito - e fazer coisas que nos saem bem naturalmente é meio caminho andado para gostarmos de algo, não é? Mas a verdade é que nos últimos anos perdi o hábito de me agarrar ao teclado e deixar tudo aqui - as minhas emoções, os meus pensamentos, as minhas opiniões. Nunca escrevi noutro sítio ou noutro formato - simplesmente deixei de escrever. Completamente.

Isso aconteceu por razões várias, que hoje não vale a pena enumerar. A questão é que estou a esforçar-me para retomar. Porquê? Porque acho que a escrita está a tornar-se, lentamente, numa das derrotas da minha vida. Explicando: nunca esteve nas minhas previsões fazer deste o ramo a minha vida, mas também nunca achei que este meu lado fosse (e ficasse) tão desvalorizado. Escrevi neste blog diariamente, durante muitos anos; fazia-o não só porque gostava (e porque, em algumas fases, precisava de deitar cá para fora) mas também porque sempre acreditei que a prática leva à perfeição e que este percurso me ia levar a algum lado. À minha volta, nesta comunidade e noutras, testemunhei caminhos de sucesso a serem traçados: o nascimento de diferentes projetos, a criação de marcas, o avanço para colunas de jornais em vez de simples posts num blog e até a publicação de livros. Eu achei que a minha consistência e o algum talento que os outros pareciam vislumbrar em mim me iriam levar por um trilho semelhante. Que algumas portas se iriam abrir. Mas esse dia nunca chegou - tive um ou outro rebuçado que me foi adoçando este longo caminho de 12 anos, mas nada que seja sequer ligeiramente memorável.

A verdade é esta: eu sempre escrevi porque gostava, mas cheguei a um ponto em que queria algo em troca. E não era dinheiro - era reconhecimento. Aliás, essa é também a razão para não escrever em papel; às vezes, quando digo que há cercas coisas que não posso dizer num blog aberto ao público, sugerem-me que o faça à moda antiga, num caderno. Mas eu habituei-me ao feedback dos outros - e essa é a moeda de troca mais básica que se pode ter, mas também uma das mais recompensadoras. O decaimento dos blogs não ajudou neste processo: se no início se recebiam muitos comentários, a partir do momento em que houve cruzamento de outras plataformas e redes sociais tivemos de aprender a contentarmo-nos com meros likes ou, na loucura, com um "favorito" aqui no Sapo. Hoje até isso está quase extinto.

No meio disto tudo a vida aconteceu. As horas que eu gastava a escrever eram muitas e foram surgindo mais prioridades na minha vida. Para além de ter outras coisas para fazer, saí do jornal onde trabalhava e integrei no meu projeto de vida, na área textil - e, aí sim, as palavras deixaram de ser o centro da minha vida. Eu soube-o no momento em que tomei a decisão de me despedir - de tal forma que fiz uma tatuagem para ter a certeza de que eu podia sair do mundo das letras, mas as letras nunca sairiam de mim. E os dias passaram. Passaram semanas. Meses! Houve meses em que uma palavra não foi publicada neste blog. Quão triste ficaria a Carolina de 2014 - a que lutava por consistência, que fazia por escrever todos os dias - se visse uma coisa destas acontecer. E, também por isso, no início deste ano foquei-me em dar a volta e retomar um daqueles que foi um dos meus primeiros objetivos desde que me considero gente. Escrever todos os dias é impensável, mas fazê-lo todas as semanas é exequível - e, melhor ou pior, tenho-me safado. Mas, hoje, questiono-me.

Os blogs que eu seguia estão mortos - alguns ainda por enterrar, mas claramente com funeral à vista. E eu não sei, honestamente, se esta é uma plataforma que esteja para durar. Os influenciadores - quem faz disto vida - adaptaram-se aos novos mercados e aos "spots" de maior destaque e fugiram daqui para fora, para primeiro aterrarem no Facebook, depois no Instagram e agora no TikTok - e algo estará certamente ao virar da esquina para mais uma mutação qualquer. Nenhuma destas plataformas substitui o que está aqui: todas elas escondem o texto quando os caracteres são muitos, os algoritmos atiram logo os posts para baixo quando detetam muitas letras e esta capacidade de narrar a vida com calma e espaço é impossível em qualquer uma das redes sociais que hoje frequentamos.

Mas será que daqui em diante vai haver, de facto, tempo para ler textos grandes? Ou o nosso cérebro vai começar a ficar formatado para vídeos de 15 segundos e a ver a vida contada em imagens, como quem lê banda desenhada?

Eu sei que se fez o funeral de muitas modas e objetos de forma precoce - os livros não deixaram de existir por terem sido criados os leitores digitais, as molduras não foram extintas por se terem inventado aquelas coisas horríveis que mudavam de imagem a cada segundo e até ainda há quem leia jornais em papel! Na verdade ainda existem pessoas que tiram fotos analógicas e que mandam revelar fotos. Mas também sabemos que a Blockbuster fechou, que já é difícil encontrar um leitor de cassetes funcional e, não precisando de ir tão longe, até um leitor de DVD é uma raridade. Há realidades que conseguiram manter-se "mistas", misturando o tradicional e o contemporâneo, há ideias que nunca pegaram... e há outras que destronaram para sempre objetos que estavam perfeitamente consolidados nas nossas vidas. A pergunta é: e os blogs, em que categoria irão cair?

Tenho medo de estar a investir tempo e dedicação em algo que não tem futuro - não só pela plataforma mas também pelo meu estilo de escrita e de posts: porque são grandes, pormenorizados, detalhados, extensos. São, talvez, demasiado. Eu adoro, por exemplo, escrever relatos de viagens - mas apercebo-me de que são poucos os que os lêem e ainda menos os que os utilizam em futuras ocasiões, que é na verdade o meu maior propósito. Provavelmente o melhor era fazer uma série de instastories, pôr tudo num destaque para a posteridade e a coisa resolvia-se rapidamente, como hoje se quer. 

Acho que espaços como este, em que a escrita é privilegiada e o tempo e os caracteres não são contados, poderão continuar a existir: mas serão um nicho, tal e qual como a fotografia analógica. E, honestamente, isso entristece-me: primeiro porque tenho quase metade da minha vida aqui refletida e, segundo, porque seria o consolidar de uma missão falhada. Gostava de ter ido mais além e penso que, eventualmente, este não será o caminho - mas também não acho que ele passe pelo estilo das novas plataformas que estão a surgir, em que regredimos progressivamente para a capacidade de concentração de um peixe e a inteligência de uma formiga. Eu tenho mais do que fotos para mostrar; tenho opiniões para dar, tenho pensamentos para partilhar, emoções que quero deitar cá para fora.

Talvez, um dia, escreva um livro - e talvez alguém lhe pegue, depois de provavelmente muito esforço da minha parte (pois o mercado editorial não é uma guerra em que se deva entrar de ânimo leve). Hoje... não sei. Não sei se há público para o que escrevo - se as minhas opiniões sobre livros valem de algo, se os meus extensos relatos de viagens são úteis ou prazerosos para alguém ou se as minhas reflexões cada vez mais espaçadas vêm acrescentar algo. Não sei se vale o investimento de tempo. Não sei se sou capaz de escrever sem publico. E acho que não quero ser uma Kodak, tão presa no tempo que não se apercebeu de que estava a ficar obsoleta. 

 

Deixem as vossas opiniões nos comentários. Obrigada. 

22
Jan19

Ainda há blogs com gente dentro

Faz este ano 10 anos que criei o blog que, mais tarde, daria lugar a este Entre Parêntesis. As coisas mudaram muito desde essa altura - só para ser simpática e não dizer que mudou tudo. Mudou a minha forma de escrever, de ver as coisas, de as expor; mudou a fase da minha vida, mudaram os meus objetivos; mudaram as razões pela qual escrevia, as pessoas para quem escrevia. Difícil é encontrar pontos em comum. Acho que só resto eu, enquanto esqueleto, e enquanto personalidade (que, por muito que se tenha alterado, continuará sempre a ser dura de roer).

A própria forma como os blogs são vistos mudou radicalmente. Sempre fui uma velha do Restelo e critiquei um bocadinho toda esta nova forma de ver estes espaços, que passaram a ser vistos como um meio de publicidade e de se fazer dinheiro. É uma posição anti-evolução, eu bem sei, mas só acontece por uma razão: porque eu estava cá antes de tudo isso e sei o quão bom era. Lembro-me da sensação total de partilha que tinha com as pessoas que, sem qualquer objetivo ou segundas intenções, desabafavam nos seus blogs - espaços esses que eram, na sua maioria, simples ou feios, porque as opções de costumização eram baixas ou só acessíveis àqueles que sabiam dar uns toques em HTML ou CSS. Espaços que não eram feitos de boas fotos, de bons designs e às vezes nem sequer de boas escritas - mas que tinham alma e coração lá dentro. Espaços que não eram regidos por agências de comunicação, que não tinham pop-ups, que não tinham como objetivo máximo o número de clicks. Espaços onde não havia parcerias, onde um creme que tirava as espinhas era mesmo um creme que, naquele caso, tirou as espinhas. Espaços cujos bloggers não sentiam a necessidade de ser eleitos para os Blogs do Ano para serem alguém na comunidade. 

Sinto que a única coisa que queria na altura era que alguém me lesse, compreendesse, e dissesse: "eu também sinto isso". Que nos dias maus, deixasse lá um: "deixa lá, amanhã vai ser melhor". E que, nas vitórias, escrevesse: "eu sabia que ias conseguir". A partilha era o essencial. Tão importante que eu ainda hoje, passada quase uma década, ainda me lembro do nome de muitas das pessoas que me acompanharam nessa altura.

Eu própria passei de um registo pessoal - para não dizer íntimo - para algo mais comercial. Passei de escrever porque precisava, para escrever porque gostava - e, às vezes, por saber que os outros gostavam. Mas sempre me orgulhei de nunca ter vendido a alma ao diabo, de nunca ter aceite parcerias duvidosas, de nunca me ter privado de escrever o que quer que fosse porque achava que alguém não ia gostar de ler. Não passei a escrever textos pequenos porque agora o pessoal só quer micro-vídeos e não passei a tirar melhores fotos só porque a qualidade de imagem é essencial para o crescimento de um blog. Preferi manter a minha essência em detrimento de um potencial crescimento, mas só mais tarde vim a perceber que o caminho e a evolução da blogosfera me tirou muita da vontade que tinha de escrever e de partilhar coisas com os outros. Deixei de ler blogs, deixei de responder a comentários - até porque poucos há, neste mundo onde as reações são feitas de likes, smiles e emojis - e, o ano passado, senti que pouco escrevi. E isso entristeceu-me imenso, sentir que estava a deixar morrer algo que outrora foi tão importante para mim.

Hoje - altura em que ando muito empenhada em voltar a escrever diariamente, tanto para bem da minha sanidade mental como, espero, para alegria de quem me lê - acordei com uma notificação, aqui nas minhas reações, que dizia ser um link para o Sapo Blogs. Quando fui ver, era uma menção na entrevista da Jules, que dizia que este era o blog onde passava todos os dias, e que já o fazia há muitos anos. E é difícil descrever esta sensação, quando se escreve para todos e, ao mesmo tempo, não se escreve para ninguém. É difícil, e tão bom, perceber que somos alguma coisa (ainda que pouco) na vida de alguém - e é inacreditável a facilidade com que nos esquecemos disso.

A Joana que me perdoe esta inconfidência, mas recordo-me de um episódio com ela que me marcou, e lembro-me de ter pensado: "ela nunca mais volta a cá pôr os pés". Foi na altura da tragédia do Meco, que serviu de pretexto para dizer aquilo que sempre achei sobre a praxe - e que ainda acho, só não o digo muitas vezes de viva voz. Já não me recordo do conteúdo do comentário (nem quero revisita-lo, não vale a pena chorar sobre leite derramado, e penso que o post fica mais genuíno se não o fizer), mas sei que na sua essência ele me magoou - primeiro pelo seu conteúdo, segundo por vir de alguém com quem eu trocava comentários e sentia que conhecia. Deu para perceber, como ela diz na sua entrevista no Meet the Bloggers, que éramos diferentes - e eu sempre achei que há certas diferenças que são inconciliáveis, modos de vida e de pensar que não se coadunam. Naquele dia, por causa daquele post, recebi muitos insultos, muitas palavras desagradáveis, algumas ameaças; nunca tive vontade de não o ter escrito, mas fiquei de certeza com menos motivação para escrever o que quer que fosse. E tenho a certeza que perdi muitos seguidores após o ponto final daquele texto. Na altura, achei que a Jules era um deles. 

Enganei-me. Já o sabia, porque eu e ela vamos trocando comentários esporádicos aqui e ali, mas achei que hoje era o dia certo para contar esta história. Porque hoje, passados 10 anos de ter entrado nos blogs a pés juntos, ela fez-me sentir algo que eu já não sentia há muito. Relembrou-me o porquê de esta troca ser tão boa. Relembrou-me que não escrevo só por treino, por ter uma meta diária para alcançar, porque gosto ou porque numa altura da minha vida precisava de o fazer para respirar. Relembrou-me que existo para alguém, mesmo que não veja essa pessoa, que não a conheça. E que, por ventura, até posso fazer a diferença. 

Obrigada Jules, por me relembrares que os blogs têm gente dentro (e não só dinheiro e fogo de vista). Um grande beijinho.

01
Mar18

Devemos incluir os blogs no nosso currículo?

Detesto ter de fazer o meu currículo. Detestei da primeira vez que o fiz e detesto de cada vez que tenho de o atualizar (algo que acontece frequentemente, para efeitos formais, mesmo estando a trabalhar). É ingrato termos de resumir todo o nosso percurso num papel, em pequenas frases, que podem estar recheadas de mentiras ou que podem não chegar aos calcanhares daquilo que somos na realidade. Mas enfim, tem de ser, sei que não há muitas formas melhores que sirvam para o efeito.

Mas no meio de todo este processo de escrita e concepção deste documento sou sempre invadida por imensas dúvidas: devo fazer um currículo vitae normal, estilo europass, insosso e desenxabido, ou devo fazer uma coisa mais visual, mais dinâmica e bonita? Devo incluir hobbies e um breve resumo de mim própria ou restrinjo-me ao percurso profissional e académico?

No meio disto tudo, surge-me sempre uma pergunta: incluo ou não incluo os blogs que tenho e tive? É que isto pode ser interpretado de várias formas e tem muitos pontos de vista. Antes de mais, o mais óbvio: só com aquele ponto estamos a dar muitas informações sobre nós próprios, basta alguém aceder ao dito site. Nem todos os blogs são diários abertos, mas todos têm muito de quem os escreve, nem que sejam opiniões - o que, só por si, já revela muito do que cada um é. E essa exposição à partida pode ser tão boa como má.

Depois há o risco da pessoa que lê o currículo não saber o trabalho que dá ter um blog. Ou ser preconceituosa e pensar "olha, esta já teve um blog sobre Twilight, deve mesmo ser uma pessoa hiper adulta, ah ah ah". E, como sempre, há o outro lado da moeda: podemos sempre apanhar alguém que se apercebe e sabe que para se manter um blog durante anos a fio é preciso ter paciência, perseverança e empenho.

Penso muito nisto. Sempre que chego à parte de referir "outras experiências" fico sempre bloqueada. Digo, não digo. Digo, não digo. Sou da opinião de que devemos adequar o nosso currículo perante o objetivo que temos ou diferentes propostas de trabalho - evidenciando umas coisas ou tirando outras que, para aquela situação, não sejam relevantes. Mas, neste caso (e no meu em particular), os blogs são uma parte essencial da minha vida há muito tempo.

Escrevo neste blog há sete anos, tenho blogs há nove. Durante cerca de quatro anos levantei-me todos os dias às sete da manhã, antes de ir para as aulas, para deixar posts programados para o dia inteiro; organizei eventos e falei para vários meios de comunicação social quando a maioridade não estava sequer à vista; fiz parte (e fiz por!) de um blog que estava no top 5 dos mais visitados do país, numa altura em que os blogs eram, por um lado muito mais genuínos e movimentados, mas por outro tinham muito menos "nome"; o primeiro dinheiro que eu ganhei foi um cheque da Google, devido a esse mesmo blog. Já este, ainda que mais pequeno em termos de escala e número de posts, está no ar vai fazer sete anos: viu-me cheia de medo, a trocar as ciências pelas letras; viu-me a entrar na faculdade, a detestar a faculdade, a sair da faculdade; viu-me a estagiar, a fazer as minhas últimas férias grandes, a arranjar o meu primeiro trabalho. E tudo o que se passou no meio disso. Já me "vê" há muitos anos, basicamente.

E isto, tudo isto, é de valor. Eu sei que é e não tenho vergonha de o mostrar. Só tenho medo que não o entendam - porque, lá está, o currículo é curto, o tempo para olhar para ele é pouco e a hipótese de nos explicarmos é menor ainda. Pôr ou não pôr, eis a questão.

18
Fev18

Sobre os recomeços (ainda que este não seja um)

Mais de uma semana sem publicar. Auch. Que rico pontapé no meu ego esperançoso e no meu lema “quanto mais treinares, melhor escreverás”. Estou a passar uma daquelas fases em que parece que tudo está a acontecer ao mesmo tempo. Aniversários aos fins-de-semana, recitais de piano, tentativa de uma maratona pré-filmes-dos-óscares, entusiasmo máximo (dentro do possível) em relação ao ginásio, almoço num lado, workshop à tarde noutro sítio, aulas de piano, fazer bolos para as festas de aniversário, miúdos de férias aqui em casa. Wow. Isto tudo junto com "aquela semana do mês". E não, não é o que estão a pensar: falo no fecho de mais uma edição do jornal. 

O início de cada mês passou a ser uma altura em que quase me retiro do mundo dos comuns mortais e só me consigo dedicar ao trabalho. Vou poupar-vos os detalhes daquilo que é o processo exaustivo de fechar um jornal, mas deixem-me só dizer que é um processo moroso, trabalhoso e muito contraindicado para os nossos olhos - e eu trato de um mensal, pudera se fosse semanal. Ou diário (credo!). Dezembro foi o primeiro mês em que fiz isto - que coincidiu com o meu projeto natalício e tudo aquilo que envolve esta época - e agora senti que tudo voltou a coincidir no mesmo período temporal. Senti o mundo em cima de mim. A pressão do trabalho em cima de mim. A pressão dos outros em cima de mim. E a pior: a pressão que eu faço sobre mim mesma.

Enfim: o jornal já está impresso. Sobrevivi. Mas daqui a três semanas tenho de ter outro nas mãos, o que resume os poucos dias de "descanso" que terei até lá e todos os alertas que continuam "on" nesta cabeça, a piscar intermitentemente. Quero tantas coisas para mim, quero fazer tanto, tenho tantos objetivos (e quando não os tenho, crio-os) que a tendência, após tempos de mais stress, é cair num pico negativo e emotivo que depois demora algum tempo a sarar (porque não consigo fazer as coisas, porque estou cansada, porque os resultados finais não estão como eu quero ou não aparecem...). Se não escrevi durante uma semana por não ter tido tempo, também não escrevi nos dias seguintes porque não queria vir para aqui destilar as minhas frustrações, que estes dois dias de sol ajudaram a sanar.

Entretanto já recheei a minha lista de tópicos para escrever e, haja tempo e vontade, o blog não terá falta de temas num futuro próximo. Mas isto, por si só, leva-me a um outro assunto: os recomeços. Neste caso, aqui no blog, não se trata de um: esta foi uma paragem rara num blog que, desde há quase sete anos, tem uma média de posts dia-sim-dia-não. Mas se há coisa que me tira do sério são pessoas que estão em eternos recomeços, que não aceitam um fracasso (ou, se não quisermos chamar-lhe assim, talvez um projeto mal conseguido ou uma ideia que não conseguem levar avante, independentemente das razões para tal). Blogs (e vlogs) que têm posts de quatro em quatro meses - mas que dizem querer publicar de quatro em quatro dias -, que passam a vida no "agora é que é!", que mudam de look quase como uma forma de auto-incentivo, que fazem dois posts seguidos e que depois deixam os leitores à espera durante meses. É irritante, principalmente quando temos a noção de que já não escrevemos só para nós - que estamos a "produzir conteúdo" (esta expressão agora está em voga, não está?) também para os outros. Faz-me lembrar o meu eterno dilema com os diários - eu achava sempre que ia escrever lá todos os dias, mas na terceira página já adiava a escrita à ad eternum. Até que aceitei que não fui feita para escrever em diários e me deixei disso.

Essa é só mais uma das razões pela qual gosto de escrever diariamente ou, pelo menos, com uma certa rotina. Não tenho um público suficientemente grande nem exigente ao ponto de vir para aqui saber se eu estou viva, exigir posts ou dizer que está com saudades - mas tal como eu gosto de ir a um restaurante, que sei que está aberto de segunda a sábado, e encontrar as portas abertas, também gosto de ir a um blog e saber que tenho lá algo de novo para ler. É quase um compromisso silencioso, que ninguém assinou ou fechou com um aperto de mãos, e que todos sentimos que está lá. Ninguém gosta de dar com o nariz na porta.

20
Jan18

Quatro coisas que me fazem fugir de blogs alheios

Eu não tenho grande tempo para ler blogs – mas a verdade é que também já não tenho interesse em ler muitos. Mas às vezes sinto falta. Naqueles minutinhos preciosos que por vezes temos no sofá ou antes de nos levantarmos da cama, gostava de ver outras coisas para além do meu feed de instagram ou facebook e os blogs sempre foram uma boa alternativa nestes casos. Aliás, até há um ano para cá, o feedly (uma ferramenta que reúne todos os blogs que eu gosto) fazia parte do meu top 3 de aplicações diárias, ao lado das duas redes sociais que falei acima. Mas o meu desinteresse nos blogs intensificou-se de tal forma que agora, se passar lá uma vez por semana, já temos sorte.

E isto não se trata só de tempo: eu podia sacrificar perfeitamente os (demasiados) minutos que passo no facebook a ler coisas com muito mais valor acrescentado. Mas a mim chateia-me a forma como agora tudo é feito e escrito para vender, como nada me soa a genuíno, como as pessoas só criam os blogs para serem ricas, terem a caixa de correio cheia ou só para imitar os outros.

Mas a verdade é que estou de alma aberta para acolher novos blogs, apetece-me ler coisas novas. E ontem, nos momentos que pude, deitei o olho aos espaços destacados no follow friday dos Blogs do Sapo, só para ver se algo me chamava à atenção. E comecei a pensar naquilo que queria encontrar ou naquilo que me faz dar meia volta, clicar no retroceder e sair de um blog tão rápido quanto entrei. Então aqui vai disto - as quatro coisas que me fazem fugir de blogs alheios:

 

Música automática. Eu não tenho nada contra aquelas pessoas que põem na barra lateral a sua playlist pessoal do spotify para quem quiser ouvir. Sou sincera: nunca ouço (e acho que ninguém ouve, mas se calhar estou enganada). Nesses casos, cada um é livre de clicar no play, em explorar as músicas e etc., podendo ler, se assim quiser, a ouvir os grilos a cantar lá fora. Mas aqueles sistemas automáticos, em que passados três segundos de uma pessoa entrar no site já estão a bombar música como se não houvesse amanhã, são coisinha para me tirar do sério e fazer clicar na cruzinha do lado direito do ecrã de forma instintiva. Gostar de um blog, gostar da escrita de uma pessoa ou gostar de alguém que escreve por detrás de um destes espaços não é sinónimo de que gostemos do mesmo tipo de música. Por isso, por favor, não nos obriguem a levar com as vossas músicas preferidas (recordam-se que, provavelmente, não são as nossas).

 

Design ruidoso. Fundos cor-de-rosa choque ou azul eletrizante, padrões minuciosamente florais ou cheios, letras cuja cor não faz contraste com o fundo... tudo o que faça com que o conteúdo do blog seja menosprezado relativamente ao design, para mim, é um não garantido. Até porque me custa “conviver” naquele ambiente, não consigo lidar com tudo o que está a acontecer, é impossível concentrar-me na leitura quando tudo à minha volta pisca, brilha ou chama mais à atenção que os textos em si. Ah! E não me esqueci daquelas borboletas/ flocos de neve/ fantasminhas que às vezes andam atrás do cursor, qual perseguição. Isso é só a pior invenção de todos os tempos, não se metam nisso.

 

Erros de ortografia e de concordância sistemáticos. Eu dou erros, toda a gente dá erros. Quanto mais não seja por culpa dos corretores automáticos, que teimam em não nos deixar escrever as palavras que realmente queremos. Quando releio muitos dos meus textos deteto gralhas aqui e ali (que na altura, por muito que tente, acabo por não encontrar), por isso sou longe de ser perfeita nesse sentido. Mas normalmente são coisas ligeiras: repetições de palavras, trocas de umas letras por outras graças a escrever demasiado rápido ou erros de concordância em frases com 12 orações diferentes que eu sou incapaz de decompor. Outra coisa completamente diferente é trocarem os “há” com os “à”, o coser à mão com o cozer de cozinhar ou de entrarem em estilos de português livre com palavras como “entuição” ou “caxecol”. Há erros e erros. Alguns uma pessoa percebe, outros deixa passar, e depois há aqueles que uma pessoa não consegue tolerar e sai porta fora. E porque tudo o que é demais é erro, todos eles, quando são em demasia, também dão direito a cartão vermelho.

 

Comic-sans. Eu não sei quando é que apanhei este ódio de estimação ao Comic-sans, mas foi uma coisa que aconteceu naturalmente. Quando eu era miúda era a minha fonte favorita – tal como era a fonte de todas as raparigas de 12 anos. Lembro-me perfeitamente de ter este tipo de letra no messenger, em laranja, e adorar. Mas entretanto o comic-sans passou de bestial a besta para o mundo inteiro, e eu não fui excepção. Lembro-me de ter professores de informática e de design que diziam, aquando da entrega dos trabalhos: “o tipo de letra é indiferente. Com excepção de comic-sans! Nem pensem em usar isso!”. E o bichinho ficou. Hoje em dia detesto aquele arrendondado-fofinho do comic-sans e tendo a arrepiar caminho quando vejo um blog com este estilo de fonte nos seus textos. É um preconceito, eu sei – nem toda a gente tem de ter a mesma opinião que eu, nem toda a gente tem o mesmo percurso que eu tive com este tipo de letra e nem toda a gente liga sequer à fonte que usa nos seus textos. Mas a mim lembra-me aquela miúda de 12 anos, que escrevia mal e com erros, e por isso a minha tendência natural é fugir.

17
Nov17

Os meus arrumos são mais bonitos que os teus

Sou uma mulher de blogs. Desde muito nova que adoro o conceito e já conto com mais de uma dúzia deles no cartório - foram tantos que eu nem sequer me lembro de alguns deles. Recordo-me que um dos primeiros foi precisamente sobre o Sims (que falei no outro post), aqui no sapo, ainda os blogs estavam a nascer - perdi-lhe o rasto porque na altura desisti, por achar a plataforma pouco intuitiva. Tive outros pelo caminho, inclusivamente noutras plataformas, mas só lhes comecei a prestar mesmo atenção a partir de 2009, altura em que também comecei a escrever.

Este é, sem dúvida, o mais importante de todos: é o fio da minha vida. Já me acompanha desde 2011, passa por muitas fases, e é aquele em que eu dispenso sempre mais energia e atenção. Já tive outros blogs de escrita propriamente dita, mas por falta de interesse (da minha parte ou do público) ou por falta de tempo e vontade para escrever acabavam por morrer. Os blogs que tenho agora - para além dos relacionados com o Twilight, que ainda não morreram, mas não são alimentados por mim a não ser que haja algo de excecional - são o que chamo "blogs de arquivo": um com receitas, que infelizmente não tenho atualizado muito porque não me tenho dedicado como gostaria à cozinha/doçaria; outro com citações de livros, que é atualizado quando tenho coisas para lá pôr (o que só acontece quando leio com abundância, o que não tem sido o caso); e por fim a razão deste post, o meu blog dos arrumos, onde ponho tudo e mais alguma coisa. Podiam perfeitamente ser blogs privados, porque não têm vertente comercial: não há uma constância nas publicações, não são posts necessariamente bem apresentados - que por vezes até têm erros por serem escritos do pé para a mão - não há nenhuma publicitação nas redes sociais e afins. Mas nunca vi nenhuma razão para os esconder: se eu guardo coisas é porque as acho úteis e, se são úteis para mim, também podem ser úteis para mais alguém.

De qualquer das formas, ressuscitei de forma mais intensa um desses blogs aqui há uns tempos. Já aqui tinha falado dele, porque sempre achei que, dos três, podia ser o que tinha mais interesse para o público - mas acabei por nunca investir tempo nele. Comecei por lhe chamar "aquele baú", no sentido em que era um baú virtual onde arrumava todas as coisas que não têm sítio; mas esse nome não puxava por mim, não me dava grandes opções de imagem, e desde aí que nunca mais alimentei o blog, apesar de sempre ter gostado da ideia original. Há uns tempos tive um vipe que não me saía da cabeça e pus as mãos na massa: remodelei toda a imagem do estaminé, mudei-lhe o nome e comecei a organizar toda a tralha que tinha aqui no computador para a ir colocando lá, de forma ordenada.

Porque esta é a vantagem dos blogs de arquivo: com as tags, eu consigo organizar (e encontrar) tudo com muito mais facilidade do que estando apenas numa pasta algures no meu computador. Eu tenho aqui centenas de imagens, de sites, de vídeos, de ferramentas e links que nunca pego ou sequer abro - muitos porque nem me lembro da sua existência! Estão em pastas alheias, escondidas, cheias de teias de aranha, porque de facto não têm grande utilidade prática... muitas delas contém apenas coisas giras, que outrora me inspiraram, que me alegraram o dia, que eu achei que podiam fazer sentido no futuro, mas que, naquele estado, nunca iriam servir para nada. 

Quem me segue através dos Blogs do Sapo já se tem apercebido, mas quem só vê os posts por email ou através do facebook desconhece que nasceu o "Ideias nos Arrumos" e eu acho que, pelo menos uma vez, devem ir lá espreitar. Tenho aqui coisas no computador suficientes para meio ano de publicações diárias e é isso que tenho tentado fazer: posts todos os dias. Mas descansem, o Arrumos é a antítese do Entre Parêntesis: é light, tem poucos textos, vive de imagens e traz, quase todos os dias, algo de inspirador. Diria mesmo que é para um público bem diferente deste que por aqui anda. Mas no fundo, tem tanto de mim como este blog, mas numa versão muito mais ligeira e superficial, onde só se apanham praticamente coisas boas.

Não tenciono criar um facebook para ele nem vou fazer muitas vezes isto (publicita-lo no meu blog principal) por isso, se gostarem da ideia e o quiserem acompanhar, sugiro que subscrevam as suas publicações por email, que o leiam através de um feed rss ou que simplesmente percam um minuto e meio do vosso dia e vão lá dar um passeio. Acho que é capaz de valer a pena: e digo isto porque, apesar de ser eu a "criadora", acho que era um blog que eu gostaria de visitar se fosse de outro alguém.

 

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29
Set17

Blogs do Ano: vamos lá pôr a boca no trombone

Confesso que esperei ansiosamente pelas nomeações dos blogs do ano. E porquê, perguntais vós? Para me rir um bocadinho! Porque, avaliando pela edição do ano passado, quase punha o mindinho no fogo apostando que nesta edição ia virar o disco e tocar o mesmo. E não é que não me enganei?! O "best of" da blogosfera está todo lá... pena é esse mesmo "best of" não ter modificado de um ano para o outro. Pelo meio há ainda umas boas pérolas, quase para disfarçar que este é um concurso decente. Ora vejamos.

Precisamos primeiro de esmiuçar o conceito de blog. Um blog é uma página de facebook? Um blog é um sítio virtual com um domínio próprio - e bem estabelecido, que nunca teve como sufixo "sapo" ou "blogspot" à partida - e com não sei quantas pessoas envolvidas por detrás, incluindo programadores e gestores de conteúdo para fazer a coisa acontecer? O conceito é de facto abrangente mas, para mim, um blog é (era?) um sinónimo de autenticidade - um espaço para quem não tem espaço na opinião pública mas que, ainda assim, se quer fazer ouvir ou mostrar algo sobre assuntos do seu interesse. Para mim é impensável que alguém que não o próprio dono do blog lá escreva ou o gira; para mim, um blog é algo com uma estrutura relativamente simples, sem grandes floreados e ramificações, porque - lá está - parte de alguém sem grandes condições para fazer tudo isso e que só quer carimbar o seu nome em algo. A meu ver, há diferenças entre um blog e um site - um sendo muito mais complexo que o anterior. E nem vale a pena mencionar o facebook - acho que já sabem o que eu acho.

É por isso necessário perguntarmo-nos o quê que a Bumba na Fofinha está a fazer na categoria de "Entretenimento" quando, na verdade, ela não tem um blog: tem uma página no facebook, onde publica vídeos - bem engraçados, mas isso já não é para aqui chamado - que por acaso também estão no YouTube. (Engraçado, ia jurar que há uma categoria precisamente sobre vídeos de entretenimento... mas devo ter visto mal). 

Depois chamam-se ao caso todos os "blogs" de figuras públicas. Cláudio Ramos, Júlia Pinheiro (a sério que o "Júlia" é o um blog? ah ah ah), Ana Rita Clara, Leonor Poeiras, Pedro Teixeira, Raquel Strada ou Jéssica Athayde são alguns dos nomes que me surgem. Penso que já aqui escrevi sobre esta questão, sobre a necessidade de todas as figuras públicas agora terem um espaço e chamarem-lhe de "blog" e como acho isso ridículo - e estou pacientemente à espera que tal passe de moda. Isto para mim não são blogs por várias razões, muitas das quais já enumerei acima: primeiro porque são assinados por alguém que já tem exposição e espaço na opinião pública; segundo porque são raros (existentes?) aqueles que são genuínos, totalmente geridos pelos supostos autores; terceiro porque já têm todo um trabalho de agência envolvido, tanto na parte de produção de conteúdos, como de gestão de redes sociais, que têm só um propósito: vender, fazer publicidade e parcerias. A parte do "genuíno" e da "partilha de ideias" é posta num saco e mandada ao fundo do rio com pedregulhos bem grandes. Quase tudo o que fazem é vender-nos coisas: se não são produtos, são muitas vezes estilos de vida que não podemos alcançar. Ou seja: há toda uma máquina por detrás de todos estes "blogs" que, para mim, lhes tira logo esse estatuto. E ainda podemos ir mais longe: muitos destes sites são "apadrinhados" pela TVI - entidade que, coincidentemente, promove o concurso...

Depois há um par de questões que me apoquentam. A primeira chama-se "Nêspera no cu". Até gosto do conteúdo, mas primeiro o facto de estar inserido na categoria "Vlog Entretenimento" (ah, afinal sempre existe!) irrita-me um bocadinho, tendo em conta que aquilo não é bem um vlog - é só um podcast com umas figurinhas dos intervenientes a mexerem a boca de forma muito pouco natural. Para além disso, tendo em conta que o concurso é anual, parece-me lógico que se nomeiem (e premeiem) canais/blogs que estiveram ativos nesse mesmo período - o que não é o caso da Nêspera. Dei-me ao trabalho de ir ver e o último vídeo publicado neste canal foi no dia 25 de Maio do ano passado. Ou seja, temo que exista aqui um erro e os senhores do júri se tenham confundido um pouco, trazendo do ano passado um candidato esquecido. Uma chatice. A segunda questão também se insere no capítulo "porquê que este site está nesta categoria?", onde temos a La Dolce Rita - uma das minhas favoritas, toda a gente sabe - que está incluída nos "Vlogs de Lifestyle". Ora bem, se for um "lifestyle" para pessoas como eu, lontras, que gostam é de comer, de fazer bolos e aprender sobre como fazer doçaria conventual... até concordo. Fora isso, acho só um bocadinho descabido. Mas enfim, eu percebo: não há dinheiro para tudo, e não se pode criar uma categoria para culinária, porque o troféu ainda fica caro e a vida está difícil.

Mas enfim, isto tudo são "pormenores", que apenas distraem da questão global de tudo isto. Para mim, era lógico e expectável que os concorrentes iriam ser em todo semelhantes aos do ano passado. Porquê? Porque estamos em Portugal, uma país pequeno, onde não emergem propriamente blogs populares todas as semanas. Aqueles que eram líderes o ano passado, continuam a sê-lo agora. E por isso, a continuar neste formato, os mesmos blogs e as mesmas pessoas vão continuar a arrumar troféus nas suas prateleiras - ainda por cima quando o voto final é feito pelo público, o que vai fazer com que os mais lidos sejam também os mais votados. A continuar assim, mais vale fazerem o concurso de cinco em cinco anos, na esperança de que algo mude no panorama da blogosfera nacional. 

Eu sei que a maioria das pessoas acha que existe uma correlação entre o sucesso de um blog e a sua qualidade - ou seja, se um blog é bem sucedido é porque é bom naquilo que faz. Mas eu não concordo, ainda para mais com a quantidade de sites de figuras públicas aqui envolvidos, com autênticas máquinas de publicidade por detrás deles. Aliás, desconfio até que a maioria das coisas lá escritas tenham sequer um dedo dos supostos envolvidos, mas enfim, essa é toda uma outra luta. Hoje em dia, o sucesso de um blog depende muito da gestão das redes sociais, da publicidade, do passa a palavra - e pouco da informação que realmente lá é veiculada. Mas neste sentido, o que eu acho que era bom - eventualmente até se mantendo este formato de "líderes dos blogs" (porque é isso que este concurso é) - era mostrar ao mundo blogs mais pequenos, com muito menos exposição, muito menos contaminação por marcas/publicidade/mentiras, muito mais genuínos e reais (e não, não estou a puxar a brasa à minha sardinha, porque não quero nem preciso de ter milhares de pessoas a lerem-me, a criticarem-me e a mandarem-me postas de pescada de cada vez que troco um "a" por um "o"). Mas enfim, como isso não vende, arruma-se a ideia para debaixo do tapete e organiza-se, ao invés, uma gala de arromba com pseudo-figuras-públicas - algo que dá pano para mangas nas revistas, sites e redes sociais, rendendo mais cliques, dando mais dinheiro de publicidade e, no fim de toda esta cadeia, enchendo os cofres de alguém. Nada a que já não estejamos habituados, portanto.

Como nota final, resta-me contar-vos que a minha mãe me perguntou porquê que não me inscrevi neste concurso. A resposta é simples e divida em três partes: a primeira é porque não tenho exposição mediática para ganhar o que quer que seja deste género. A segunda é porque escrevo posts destes, porque ponho a boca no trombone, porque digo as verdades que ninguém quer dizer e isso não é propriamente bem-vindo nestes meios. E a terceira é porque eu, de facto, tenho um blog: genuíno, pobrezinho às vezes, nem sempre com conteúdo e muito menos com conteúdo interessante - e, claramente, não é de blogs que trata este concurso.

06
Jun17

Que mundo estranho este [sobre os pseudo-famosos desta vida]

Há dois fins-de-semana deu-me na realgana ir ao Summer Market Stylista, que acontecia no Estoril. Já tinha pensado ir, não por uma questão de compras, mas para conhecer novas lojas - algo que me é útil também por questões de trabalho. Mas entre o vai-não-vai, o fim-de-semana que passa a correr e dá tanto jeito para se fazer tudo o que não se fez ao longo da semana e uma preguiça do demónio que se apodera sobre nós... no sábado acabei por andar a arrumar umas tralhas e dar metade do roupeiro e no domingo tencionava jiboiar por aí (mais especificamente no meu sofá, sejamos sinceros). 

Mas mudei de ideias, levantei o rabo e já era quase domingo quando comprei os bilhetes de comboio para baixo - e lá fui eu, às nove da matina, no intercidades para Lisboa. Estive com o pessoal do costume e, à tarde, lá fomos à feirinha. Tivemos algum azar, porque a chuva decidiu dar de si e em alguns momentos foi mais do que uma "molha tolos" - aliás, no final, foi mais "molha todos", porque saí de lá encharcadinha. Não esperava que a feira fosse tão grande, que tivesse tantas marcas e espaço (embora achasse as barracas em si um bocado apertadas). Não comprei nada, fui só ver e fazer "sourcing", para depois espreitar as marcas que posso potencialmente "atacar" no futuro.

Mas não era sobre isso que vinha falar aqui. Como alguns de vós devem saber, aquele evento é organizado por uma blogger conhecida da praça e, naturalmente, há muitos outros que por lá andam - ora a expor, ora a visitar. Eu vi muitos e, talvez porque sou do Porto e não estou habituada a ver famosos (ou, neste caso, pseudo-famosos - não sei bem qual é a linha que separa uma coisa de outra), fez-me pensar muito sobre o assunto. Vi bloggers e vloggers e, naquele voyerismo um bocado estúpido mas praticamente impossível de evitar, pus-me a ver as diferenças entre as fotos e a realidade e a partilhar as minhas conclusões. E depois pensei: eu sei o nome dos filhos desta, o nome dos cães daquela, lembro-me de quando esta casou, "olha esta teve uma filha há pouco tempo, está em óptima forma", "ah, mas não sabia que o namorado dela fumava", "será que o marido dela veio para ajudar?". No fundo, estava dentro daquelas vidas sem estar, na realidade, dentro delas. E isso foi estranho.

Nós estamos habituados a estar a par da vida dos famosos - que são, normalmente, pessoas da televisão, do cinema ou da música, que se expõem devido a uma profissão artística (em alguns casos) que escolheram. Mas estas pessoas - lá está, "pseudo-famosas" - escolheram expor-se, estar naquela situação. E talvez a mim me faça mais confusão porque eu acho que deve ser horrível ser famoso, ter os media em cima de nós e ter toda a gente a exigir-nos simpatia constante - mas por outro lado também percebo que faz parte de algumas profissões, que umas coisas não são independentes de outras e que temos de as aceitar se queremos levar avante certos projetos. Tenho pensado muito nisso até por causa do Salvador Sobral - a minha crush do momento, não sei se já deu para entender. Percebe-se que ele quer fazer música, que quer sucesso - mas que lida muito mal com todas as suas implicações, selfies e explorações dos media.

E transito isso para mim própria, porque acho que seria igual. O meu derradeiro sonho é escrever - e embora um escritor não tenha de ter metade da exposição de um ator ou de um cantor, nos dias de hoje tem de se saber mostrar para a máquina funcionar (porque ser só o menino dos olhos da crítica não basta - e, a meu ver, até vale pouco). E isso assusta-me - assim como me assusta este blog, que apesar de eu gostar que seja lido, comentado e partilhado, também gosto que seja tímido, sem grandes alvoroços. Assusta-me a fama, que hoje em dia aparece tão depressa como desaparece, por razões que às vezes nem sequer controlamos.  

Enquanto via ali alguns dos blogger e vloggers que sigo, pensei nisto tudo. Pensei que, tal como eu sabia o nome dos cães de uma rapariga que por lá passava, vocês também podem saber o nome dos meus - assim como quantos irmãos eu tenho, as cidades que visito e o tipo de trabalho que faço. Simplesmente, como não sou conhecida, não tenho de me confrontar com esse tipo de situações. Ainda assim, na viagem para casa, vim sempre a divagar em como estou e não estou dentro da vida daquelas pessoas, que gosto mas não sei quem são, que sinto que conheço mas nunca vi. No fundo, em como este mundo que vivemos é estranho.

07
Jan17

Blogs, os livros da vida real

E eis que esta semana caiu uma bomba no mundo blogosférico: a blogger mais badalada do país anunciou, por meias palavras, o divórcio de um casamento que todos acompanhávamos há anos. Quando li a notícia, enquanto passeava descontraidamente no meu feedly e via as horas passar enquanto devia estar a fazer alguma coisa de útil, caiu-me tudo. E, nesse momento, senti pena. Naqueles segundos precisamente a seguir foi como se uma amiga com quem já não falava há muito me tivesse dito que o casamento - que na minha cabeça achava ser perfeito - tinha acabado. E fiquei triste por ela.

Só depois é que me caiu a ficha. Eu não a conheço, não o conheço a ele, não me dizem nada e nem sequer sou particularmente fã de nenhum deles: a única relação que mantemos - e que é unilateral - é a de eu ler as coisas que escrevem há uns sete anos. Nada mais. Mas, de facto, a nossa [dos leitores] perceção é de que estamos "dentro" da vida daquelas pessoas, qual livro aberto, que está a ser escrito em direto enquanto a vida se desenrola. Esquecemo-nos é que, ao contrário de um livro, o narrador não nos conta tudo, não está dentro da cabeça das personagens, não sabe - ainda que secretamente - o fim da história. 

Já vi muitas fases da blogosfera e estou pacientemente à espera que esta que vivemos agora passe de moda: estou cansada de todos os blogs de celebridades, sem grande conteúdo; das marcas nos verem simplesmente como portadores de mensagens e produtos, como se não quiséssemos mais nada para além de fama e dinheiro; de todo este conteúdo falso, hipócrita, que passa a ideia de vidas perfeitas, quais revistas de moda. Por tudo isto, neste momento, o mundo dos blogs está completamente descredibilizado para mim: e foi com espanto que olhei para aquele post e senti qualquer coisa. Algo verdadeiro, um sentimento que vai para além do dinheiro, patrocínios e interesses. Algo que sentia no início, quando lia blogs que gostava, de gente genuína e sem agendas. Essa coisa de que falava antes, essa sensação de conhecer a pessoa de algum lado e me doer por ela.

Foi estranho, porque era algo que já não sentia há muito tempo e que só podia ser despoletado por algo de grande dimensão, mas também esperançoso e nostálgico; um abanão da vida, como quem diz "ainda é possível"! Às vezes este tipo de coisas fazem-nos descer um pouco à terra: por vezes recebo mensagens que acho serem estranhas, de pessoas que aparentemente quase "vivem" a minha vida tanto como eu... que me saúdam pelas vitórias, que ficam tristes pelas derrotas, que me querem conhecer. Às vezes há coisas que me comovem, outras que nem sequer sei como reagir, mas em grande parte aquilo que hoje percebo é que normalmente me esqueço do poder que a blogosfera tem; do calor humano que consegue transportar, mesmo sendo meramente virtual.

Nós - bloggers - somos personagens de livros abertos que algumas pessoas gostam de acompanhar; não sei se há quem escreva a nossa história ou o nosso destino, papel dos escritores nas obras comuns, mas o que é certo é que mesmo nos livros em papel não são poucas as vezes em que nos emocionamos em nome das nossas personagens favoritas, choramos ou sorrimos com elas. E acho que, no fundo, aqui se passa precisamente a mesma coisa - as personagens são pessoas da vida real, mas o que queremos é o mesmo: que o final seja feliz. 

03
Dez16

Sobre a publicidade em blogs alheios (e neste em particular)

Há dias escrevi um post onde já se vislumbrava um pouquinho sobre os meus pensamentos sobre a publicidade em blogs, mas na altura não era esse o tema principal. Hoje é. É um assunto que eu sinto necessidade de falar, porque sinceramente tenho ideia de que se mente e finge muito por essa blogosfera fora - e se há coisa que eu quero ser é sincera e genuína, tanto para convosco como comigo própria.

A verdade é que eu já não me acredito em nada do que leio em blogs alheios, porque acho sempre que têm o dedo de marcas por detrás. Percebo que as empresas tenham visto nos blogs a oportunidade de promoverem melhor os seus produtos nesta plataforma, mas creio que quem fica a perder no meio disto tudo são muitas vezes os próprios bloggers, que ficam totalmente descredibilizados perante o olhar dos outros (principalmente os que fazem disto vida e cujas despesas são pagas com posts e parcerias comerciais). A culpa é nossa (aka bloggers), que nos deixamos corromper e aliciar por ofertas ou dinheiro em troca da nossa escrita e da confiança que demorou anos a conquistar - mas enfim, o dinheiro tem essa capacidade.

E não me perguntem como, mas eu topo à distância os posts que são patrocinados. Leio as duas primeiras linhas desse tipo de publicações e percebo logo que me estão a tentar impingir qualquer coisa - e acho que quem os escreve não se apercebe disso, tentando escrever exatamente da mesma forma e no mesmo estilo, com todas as graçolas e comparações... mas há algo que ali que foge do seu controlo e que eu deteto, não sei bem como. E é triste ver que os leitores estão a começar a ficar desgastados deste modelo, a afastar-se dos blogs à custa disto: porque a confiança se quebra, porque aquela pessoa que líamos para rir um bocado só nos quer impingir produtos à força e porque aqueles conselhos espetaculares que dava há uns anos agora têm todos notas por detrás. Entro muitas vezes nas caixas de comentários desses posts e vejo coisas como "já não escreves um post como antigamente há semanas", "nos últimos sete dias não publicaste nada que não fosse patrocinado". E sabem que mais? É a triste verdade. Quando, finalmente, essas pessoas escrevem alguma coisa que lhes sai da alma, os comentários também são sempre os mesmos: "ufa, afinal ainda existe aquela pessoa que eu lia há x anos!". 

E eu sinto necessidade de escrever sobre isto porque ando há vários meses a empurrar parcerias de publicidade com a barriga, sem saber o que fazer. Por um lado é bom para mim: é sinónimo de notoriedade, de que as coisas estão no caminho certo, embora eu nunca tenha tido nos planos (nem tenho!) fazer disto vida. Por outro, e sendo também eu leitora e estando farta de publicidade enganosa em tudo quanto é blog, fico de pé atrás. Porque, sinceramente, eu não estou aqui para enganar ninguém e tudo o que eu conquistei nos últimos 7 anos se deveu ao meu esforço, autenticidade e sinceridade para com quem me lê. Falo muitas vezes aqui de produtos mas nunca, em ocasião alguma, foram publicidades encapotadas ou coisas oferecidas pelas marcas; a rubrica "review da semana" seria, por exemplo, ideal para este tipo de coisas, mas tudo o que está lá saiu do meu próprio bolso e experiência, nada mais que isso.

Este blog tem diferentes objetivos: o primeiro é libertar-me dos meus fantasmas, fazer-me ficar mais leve e desabafar quando a alma está pesada; o segundo é treinar a escrita, escrever todos os dias, mesmo naqueles em que a "desinspiração" bate à porta e é preciso contraria-la; o terceiro é conquistar um público, perceber o que gosta e não gosta, para mais tarde - quando escrever um livro - saber o que esperar; o quarto é a interação com as pessoas, que está patente em todos os outros pontos e que se torna essencial a partir do momento em que já temos alguns leitores (hoje em dia é impensável para mim escrever num diário, porque não tenho ninguém a responder-me). E só depois de tudo isto é que vem a publicidade, o dinheiro e os produtos. No fundo, vem no fim de todas as minhas prioridades, porque este blog é muito mais do que qualquer coisa que me possam dar em troca e assume, hoje em dia, uma importância na minha vida difícil de qualificar. Nunca este espaço será mais publicidade que posts vindos do fundo da minha alma, nunca será politicamente correto, nunca dirá só bem. O Entre Parêntesis sou eu. Porque no meio dos meus muitos defeitos e algumas qualidades, destaco a autenticidade: e no dia em que isso acabar, o blog morreu. 

Algumas das marcas que me contactaram têm produtos que eu gosto, que se calhar até já tenho, uso e sobre os quais nunca escrevi. Outras nem por isso. Nenhuma delas teve resposta até agora, porque tenho andado a refletir sobre o assunto, e venho aqui anunciar as minhas conclusões, porque só assim acho justo para convosco (embora mau do ponto de vista comercial mas, como disse, essa é a parte menos importante): posso garantir que, como de costume, tudo o que lerem neste blog é sincero, desde as opiniões positivas às negativas. Este é um espaço meu, onde partilho aquilo que acho que vale a pena ser partilhado (ou criticado), e será sempre assim, até ao último dia - porque no dia em que não for, ficará desvirtuado e é preferível parar. Não quero e não vou viver disto - tenho muitos planos para mim e vários passam pela escrita, mas de livros -, por isso só aceitarei mostrar as coisas que de facto gostar e caberá às marcas terem confiança suficiente nos seus produtos para os colocarem à mercê de alguém que vai ser sincera (ou ficar calada, que também é uma opção). Todos os (poucos) posts feitos neste blog com a parceria de alguma marca serão devidamente identificados, sendo que as mesmas serão sempre avisadas que aquilo que aqui é escrito é sincero, independentemente se isso é bom ou mau para a reputação delas - e sim, isto vai fazer com que os potenciais convites sejam ainda menos do que os que são atualmente, mas só assim consigo dormir descansada com a minha consciência.

Desculpem o post longo, mas este era um esclarecimento que tinha de fazer se queria dar este passo aqui no estaminé. Obrigada pela paciência!

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