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Entre Parêntesis

Tudo o que não digo em voz alta e mais umas tantas coisas.

10
Ago23

Doze anos depois, uma carta

Querido blog,

Passaram-se doze anos. Quando te criei ainda andava às turras com a matemática e não sabia que curso escolher; o meu sobrinho mais novo ainda não tinha nascido e eu descobriria nesse verão um problema crónico no pé; o Falcão ainda jogava no Porto, a Kate e o William acabavam de casar e o Bin Ladden tinha sido morto há pouco tempo; a saga Twilight ainda não tinha chegado ao fim, o Salvador Sobral ainda não tinha ganho a Eurovisão e Portugal ainda não tinha vencido o Europeu. Não adivinhávamos que ia haver uma pandemia. E eu não sabia que ia encontrar o amor da minha vida ou que me ia casar; da fábrica, nessa altura, era capaz de recordar o cheiro a óleo e pouco mais, não pensando que um dia pudesse chamar de "meus" todos aqueles teares e máquinas bonitas.

Passaram-se doze anos. Ia escrever que tinham sido anos basilares da minha vida, onde tanta coisa aconteceu - mas a verdade é que são mais de quatro mil e trezendos dias e, independentemente da fase da vida em que nos encontremos, muita coisa pode acontecer nesse período de tempo.

Passaram-se doze anos. Acabei o secundário, tirei um curso, comecei a trabalhar num jornal, tirei uma pós-graduação, dei aulas de piano, fiquei com a fábrica, conheci o Miguel, comecei a namorar, fiquei noiva, casei-me, aprendi a não odiar desporto. Viajei muito. E, pelo meio, escrevi alguma coisa. Devia ter escrito mais, não devia?

Passaram-se doze anos - tempo suficiente para eu me esquecer do dia em concreto em que nasceste. Por isso, desculpa: a verdade é que, ao longo deste período, a memória não tem vindo a melhorar. Achei que o teu aniversário era dia 11 de Agosto - mas, quando fui aos registos, reparei que afinal era dia 6 e que havia deixado escapar a data especial. Já não tenho 16 anos como antigamente. Sabes que já tenho muitos cabelos brancos, querido blog?

A vida passa, mas tu ficas. Os amigos vão e vêm, mas tu ficas. A casa muda-se, as pessoas entram e saem, os empregos trocam-se, mas tu ficas. As recordações desvanecem-se, mas como tu ficas, elas vêem-se na obrigação de ficar retidas também. És o meu livro de memórias, o meu caderno de apontamentos, o meu álbum fotográfico, o meu guia de viagens. És o espelho do que fui - e do que vou sendo todos os dias. Tens o aroma do mar nos posts sobre os cruzeiros, o cheiro a livros nas minhas críticas literárias e a bafio nos dias em que escrevo chateada. Guardas em ti as lágrimas de saudade quando recordo alguém e a dor que me sai do peito quando finalmente consigo passar para palavras aquilo que me ferra a alma. És a minha vida em meia dúzia de palavras - que, parecendo muitas quando olhamos somente aos números, são poucas para tudo aquilo que penso e reflito ao longo dos dias.

Registam-se em ti 4059 entradas e quase 16 mil comentários. Este ano vai a pouco mais de meio e já escrevi mais do que em 2022 - uma promessa que fiz e que, apesar de dura, me está a dar muito gozo cumprir. Quero muito continuar. Tinha saudades tuas e do relatar da minha vida. Tenho saudades do tempo e da disponibilidade mental que antes tinha para escrever - passaram doze anos e nada é como dantes. Mas a vida continua, e tu com ela. Que seja por muitos mais anos.

Parabéns atrasados, Entre Parêntesis!

Sempre tua,

Carolina (versão 2023)

18
Abr23

Eu não quero ser como a Kodak

Escrevo porque gosto. Também escrevo porque acho que tenho jeito - e fazer coisas que nos saem bem naturalmente é meio caminho andado para gostarmos de algo, não é? Mas a verdade é que nos últimos anos perdi o hábito de me agarrar ao teclado e deixar tudo aqui - as minhas emoções, os meus pensamentos, as minhas opiniões. Nunca escrevi noutro sítio ou noutro formato - simplesmente deixei de escrever. Completamente.

Isso aconteceu por razões várias, que hoje não vale a pena enumerar. A questão é que estou a esforçar-me para retomar. Porquê? Porque acho que a escrita está a tornar-se, lentamente, numa das derrotas da minha vida. Explicando: nunca esteve nas minhas previsões fazer deste o ramo a minha vida, mas também nunca achei que este meu lado fosse (e ficasse) tão desvalorizado. Escrevi neste blog diariamente, durante muitos anos; fazia-o não só porque gostava (e porque, em algumas fases, precisava de deitar cá para fora) mas também porque sempre acreditei que a prática leva à perfeição e que este percurso me ia levar a algum lado. À minha volta, nesta comunidade e noutras, testemunhei caminhos de sucesso a serem traçados: o nascimento de diferentes projetos, a criação de marcas, o avanço para colunas de jornais em vez de simples posts num blog e até a publicação de livros. Eu achei que a minha consistência e o algum talento que os outros pareciam vislumbrar em mim me iriam levar por um trilho semelhante. Que algumas portas se iriam abrir. Mas esse dia nunca chegou - tive um ou outro rebuçado que me foi adoçando este longo caminho de 12 anos, mas nada que seja sequer ligeiramente memorável.

A verdade é esta: eu sempre escrevi porque gostava, mas cheguei a um ponto em que queria algo em troca. E não era dinheiro - era reconhecimento. Aliás, essa é também a razão para não escrever em papel; às vezes, quando digo que há cercas coisas que não posso dizer num blog aberto ao público, sugerem-me que o faça à moda antiga, num caderno. Mas eu habituei-me ao feedback dos outros - e essa é a moeda de troca mais básica que se pode ter, mas também uma das mais recompensadoras. O decaimento dos blogs não ajudou neste processo: se no início se recebiam muitos comentários, a partir do momento em que houve cruzamento de outras plataformas e redes sociais tivemos de aprender a contentarmo-nos com meros likes ou, na loucura, com um "favorito" aqui no Sapo. Hoje até isso está quase extinto.

No meio disto tudo a vida aconteceu. As horas que eu gastava a escrever eram muitas e foram surgindo mais prioridades na minha vida. Para além de ter outras coisas para fazer, saí do jornal onde trabalhava e integrei no meu projeto de vida, na área textil - e, aí sim, as palavras deixaram de ser o centro da minha vida. Eu soube-o no momento em que tomei a decisão de me despedir - de tal forma que fiz uma tatuagem para ter a certeza de que eu podia sair do mundo das letras, mas as letras nunca sairiam de mim. E os dias passaram. Passaram semanas. Meses! Houve meses em que uma palavra não foi publicada neste blog. Quão triste ficaria a Carolina de 2014 - a que lutava por consistência, que fazia por escrever todos os dias - se visse uma coisa destas acontecer. E, também por isso, no início deste ano foquei-me em dar a volta e retomar um daqueles que foi um dos meus primeiros objetivos desde que me considero gente. Escrever todos os dias é impensável, mas fazê-lo todas as semanas é exequível - e, melhor ou pior, tenho-me safado. Mas, hoje, questiono-me.

Os blogs que eu seguia estão mortos - alguns ainda por enterrar, mas claramente com funeral à vista. E eu não sei, honestamente, se esta é uma plataforma que esteja para durar. Os influenciadores - quem faz disto vida - adaptaram-se aos novos mercados e aos "spots" de maior destaque e fugiram daqui para fora, para primeiro aterrarem no Facebook, depois no Instagram e agora no TikTok - e algo estará certamente ao virar da esquina para mais uma mutação qualquer. Nenhuma destas plataformas substitui o que está aqui: todas elas escondem o texto quando os caracteres são muitos, os algoritmos atiram logo os posts para baixo quando detetam muitas letras e esta capacidade de narrar a vida com calma e espaço é impossível em qualquer uma das redes sociais que hoje frequentamos.

Mas será que daqui em diante vai haver, de facto, tempo para ler textos grandes? Ou o nosso cérebro vai começar a ficar formatado para vídeos de 15 segundos e a ver a vida contada em imagens, como quem lê banda desenhada?

Eu sei que se fez o funeral de muitas modas e objetos de forma precoce - os livros não deixaram de existir por terem sido criados os leitores digitais, as molduras não foram extintas por se terem inventado aquelas coisas horríveis que mudavam de imagem a cada segundo e até ainda há quem leia jornais em papel! Na verdade ainda existem pessoas que tiram fotos analógicas e que mandam revelar fotos. Mas também sabemos que a Blockbuster fechou, que já é difícil encontrar um leitor de cassetes funcional e, não precisando de ir tão longe, até um leitor de DVD é uma raridade. Há realidades que conseguiram manter-se "mistas", misturando o tradicional e o contemporâneo, há ideias que nunca pegaram... e há outras que destronaram para sempre objetos que estavam perfeitamente consolidados nas nossas vidas. A pergunta é: e os blogs, em que categoria irão cair?

Tenho medo de estar a investir tempo e dedicação em algo que não tem futuro - não só pela plataforma mas também pelo meu estilo de escrita e de posts: porque são grandes, pormenorizados, detalhados, extensos. São, talvez, demasiado. Eu adoro, por exemplo, escrever relatos de viagens - mas apercebo-me de que são poucos os que os lêem e ainda menos os que os utilizam em futuras ocasiões, que é na verdade o meu maior propósito. Provavelmente o melhor era fazer uma série de instastories, pôr tudo num destaque para a posteridade e a coisa resolvia-se rapidamente, como hoje se quer. 

Acho que espaços como este, em que a escrita é privilegiada e o tempo e os caracteres não são contados, poderão continuar a existir: mas serão um nicho, tal e qual como a fotografia analógica. E, honestamente, isso entristece-me: primeiro porque tenho quase metade da minha vida aqui refletida e, segundo, porque seria o consolidar de uma missão falhada. Gostava de ter ido mais além e penso que, eventualmente, este não será o caminho - mas também não acho que ele passe pelo estilo das novas plataformas que estão a surgir, em que regredimos progressivamente para a capacidade de concentração de um peixe e a inteligência de uma formiga. Eu tenho mais do que fotos para mostrar; tenho opiniões para dar, tenho pensamentos para partilhar, emoções que quero deitar cá para fora.

Talvez, um dia, escreva um livro - e talvez alguém lhe pegue, depois de provavelmente muito esforço da minha parte (pois o mercado editorial não é uma guerra em que se deva entrar de ânimo leve). Hoje... não sei. Não sei se há público para o que escrevo - se as minhas opiniões sobre livros valem de algo, se os meus extensos relatos de viagens são úteis ou prazerosos para alguém ou se as minhas reflexões cada vez mais espaçadas vêm acrescentar algo. Não sei se vale o investimento de tempo. Não sei se sou capaz de escrever sem publico. E acho que não quero ser uma Kodak, tão presa no tempo que não se apercebeu de que estava a ficar obsoleta. 

 

Deixem as vossas opiniões nos comentários. Obrigada. 

06
Ago21

Há uma década a escrever neste blog

O festejo dos 4008 posts que estão para trás, uma retrospetiva e desejos de futuro

Faz hoje dez anos que criei este blog. Foi o terceiro na minha linha de blogs pessoais (o primeiro foi criado em 2009) - cada um com o seu nome e com um cunho diferente no que dizia respeito à forma e ao conteúdo que expunha, principalmente em tudo o que dizia respeito à minha esfera privada.

Parei aqui, no Entre Parêntesis, com aquele que eu achei que era o equilíbrio ideal - conseguindo por um lado demonstrar os meus sentimentos, mas por outro resguardando tudo aquilo que eu considerava que não devia estar à tona da água. Tinha 16 anos, acabava de descobrir um problema no pé (que, na altura, não sabia que viria a ser crónico) e estava prestes a entrar no 11º ano, um dos anos mais atribulados da minha vida de estudante. Hoje, com 26, estou à frente de uma fábrica têxtil, casada, já com os cursos no currículo e a vida de estudante para trás das costas, sentido que agora sim, tenho uma vida pela frente, guiada pelas minhas ambições e vontades mais concretas.

São dez anos de trabalho. Escrever num blog dá trabalho - e , mais do que isso, rouba muito tempo. Quando o criei era fácil ter motivação para escrever - vivíamos o boom destas plataformas e o feedback era rápido, quase imediato - mas os anos foram passando e a paciência das pessoas para ler textos (em vez de ver vídeos, por exemplo) foi diminuindo gradualmente. Hoje só escreve quem gosta mesmo de o fazer; quem não tem a ilusão de que o faz para influenciar, para vender ou para ganhar dinheiro. Há dez anos surgiram muitos blogs pelas razões erradas - que desapareceram igualmente rápido, ou simplesmente migraram para plataformas mais amigas da imagem e da venda fácil. Em 2011 os blogs do Sapo eram uma cidade do litoral, com vista praia; hoje, com o êxodo, somos uma vila no interior do país. E quem diz que não se está melhor na montanha? Aqui só vem quem quer, quem gosta, e não só os veraneantes.

São dez anos de mudança - e ainda bem. Na verdade não podia ser de outra forma - seria muito mau sinal se nada tivesse mudado na minha vida desde os 16 anos. Mudei de vertente na escola secundária, mudei de turma; entrei e saí da faculdade com o curso concluído e fiz mais tarde uma pós-graduação; estagiei, arranjei emprego, despedi-me; comecei a trabalhar na fábrica, tornei-me sócia; arranjei namorado, saí de casa, casei-me. É talvez a fase mais transformadora na vida de alguém - e está aqui toda, documentada, com os seus altos e baixos, assim como os vales, alguns mais silenciosos que outros.

São dez anos de gestão de expectativas. Escrevo acima de tudo porque gosto, porque é a minha auto-terapia, porque me faz bem. Mas também porque, ao longo dos anos, construí o sonho de, no fundo, me pedirem/pagarem para escrever. Não falo de posts patrocinados ou parcerias - eu queria escrever livros, queria que as minhas palavras estivessem nas mãos de alguém, que chegassem a mais gente. E, nisso, saí frustrada. Passou uma década e nunca consegui. Confesso: olho com alguma inveja para "miúdos" de 19 e 20 anos a escrever no Observador e no P3 e pergunto-me com frequência: mas como? Na minha cabeça trilhei o caminho certo: escrevi, escrevi, escrevi. Sobre tudo e mais alguma coisa. Li muito (hoje não o faço, porque ainda não consegui retomar todos os hobbies de que gosto). E, ainda assim, não consegui atrair a atenção de quem de direito. 

Hoje percebo que quando defini a "linha editorial" deste blog pensei nele como "mais comercial" que os anteriores por ser de livre acesso, por eu não ter a obrigação de pensar antecipadamente se esta ou aquela pessoa podiam ler este texto ou ficar ofendidos com o outro e por, acima de tudo, haver uma distinção clara daquilo que era íntimo e privado. No entanto não olhei para as coisas do ponto de vista literalmente comercial; nunca me preocupei com números, não me ajustei nem mudei o meu estilo porque achei que assim teria mais leitores. Sou uma escritora egoísta - mas, ao mesmo tempo, genuína. Não acho que se possa ter o melhor dos dois mundos - o comercial e o puramente genuíno - e eu escolhi facilmente o lado em que queria estar. Sei que escrevo textos demasiado grandes e, muitas vezes, para nichos. Dedicar toda uma temporada de textos aos preparativos do casamento é uma jogada arriscada - mas a verdade é que escrevo estes textos para mim, para um dia mais tarde me conseguir recordar destes tempos. A única diferença para todos aqueles que registam este tipo de coisas em cadernos de apontamentos ou diários é que eu partilho, o meu diário é aberto, e o dos outros não. 

Tal como num diário, não há aqui nenhuma linha de raciocínio lógica que eu procure seguir; navego ao sabor dos dias e escrevo quando e sobre aquilo que me apetece. Pode ser sobre o casamento, sobre o novo iogurte que descobri no supermercado, sobre as eleições ou uma simples opinião sobre um livro; podem ser dicas sobre o que escrever em fitas universitárias ou como pendurar as sardinhas da Bordallo Pinheiro. Muitos destes textos são preciosos anos depois de terem sido escritos - tenho muita gente que os encontra no Google e vem comentar - mas que, na altura em que os partilhei, são só mais uns para os arquivos, sem grande valor acrescentado. Mas a verdade é que, daqui a uns anos, talvez uma noiva desesperada venha aqui ver como é que eu fiz isto e aquilo, da mesma forma que vêm procurar dicas sobre viajar sozinho, como é fazer uma excursão ou um cruzeiro. 

Dez anos volvidos, já não espero nada. Tudo o que vier é bom. Fico feliz com um comentário, contente com um novo like no facebook, extasiada com um destaque e radiante (e com o coração quentinho) quando recebo um email como um que recebi há dias, relembrando-me que não estava só, que era compreendida e que ainda há gente desse lado.

Também já não estabeleço metas. Não penso em chegar aos 900 seguidores no facebook no final do ano nem em escrever cinco posts por semana. E muito menos ponho pressão em mim própria para escrever imenso com o objetivo de ser notada por alguém, para um dia me pedirem para escrever em qualquer lado. Acredito que, tal como no meu trabalho, o caminho se faz caminhando - e o que temos de fazer para algo acontecer é, simplesmente, seguir o nosso percurso e estar atentos aos sinais.

Sinto que, principalmente nestes últimos dois anos, falhei muito para com este blog e com quem o lê; é curioso como uma coisa tão simples nos pode pesar nos ombros, apesar de não termos qualquer tipo de compromisso explícito. Porque a verdade é que eu posso não escrever todos os dias, mas todos os dias penso em escrever. Por isso estou a tentar trabalhar em rotinas para conseguir satisfazer a minha vontade e necessidade de escrever para conseguir, também, reconquistar algum território perdido - porque sei que a consistência é uma das formas mais fáceis de (re)construir uma plateia, após meses ausência a perder leitores.

Quando festejei o 8º aniversário deste blog falei do que era, para mim, ser adulto. Ser adulto é esquecer. E escrever é um antídoto para todas as falhas de memória que o nosso futuro nos promete - não impedindo que cresçamos mas, talvez, que não envelheçamos tão rapidamente. Não sei se vou escrever aqui durante mais dez anos; não sei quem vou ser ou o que vou estar a fazer daqui a uma década. Mas gostava de continuar a fintar a memória e poder rebobinar a minha vida, como se de um filme de tratasse, simplesmente acedendo aos arquivos deste diário aberto. Pode ser que sim. Esperemos que sim - acho que seria bom sinal.

Parabéns Entre Parêntesis! 

 

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22
Nov20

Olá? Está alguém desse lado?

Um desabafo sobre rotinas e reajustes

Alguns anos depois da minha irmã ter saído de casa dos meus pais eu ocupei o quarto dela. Não por ser maior, mas por ter mais luz. Pedi-lhe autorização e fui de móveis e bagagens para o quarto na outra ala da casa - e foi lá que fiquei até sair. Na altura da mudança achei que me ia enganar dezenas de vezes no caminho para o quarto; que ia continuar a virar à esquerda no corredor quando agora tinha de virar à direita. E desde o dia em que para lá fui que nunca me enganei. Nem uma vez. A mudança na minha cabeça foi automática e a rotina pareceu nunca ter sido alterada.

Mas nem todas as mudanças são assim. Saí de casa dos meus pais (vou chamar-lhe assim para vos facilitar a vida, pois para todos os efeitos continuo a considera-la a ser a "minha casa") há sensivelmente um ano e a minha cabeça ainda não se ambientou. Não é que me engane e vá para casa dos meus pais quando quero ir para a minha, ou vice-versa; trata-se mesmo de, mentalmente, ainda não estar totalmente situada. Acontece-me muito acordar de noite desnorteada, pensando estar no meu antigo quarto. Não me faz sentido estar a ver luz num determinado sítio, nem ouvir barulhos da rua... e por momentos tenho de me re-localizar. "Ah, espera. Não estou no meu quarto. A porta é ali. Tenho alguém a dormir ao meu lado".

Acho que isto acontece porque a minha saída de casa foi dos maiores desafios da minha vida, um ajuste constante, uma dor terrível. Não lhe chamo decisão (porque não foi), mas sim um acontecimento natural - fui ficando e ficando... até que um dia fiquei de vez. E se por um lado isso tornou as coisas mais soft, por outro não houve o romper de toda uma rotina que até aí tinha vindo a construir.

O que fiz foi adequar a minha rotina - e a minha vida - às minhas duas casas; às pessoas mais importantes para mim - os meus pais (e irmãos) e o meu namorado. E essa rotina, hoje, não é igual há de um ano quando tudo se transformou. Muda constantemente, num incessante equilíbrio de uma balança com muito mais de dois pratos. Isto porque também eu tenho de entrar na equação - preciso de ter tempo para mim, para as minhas coisas, para estar mentalmente sã. Porque também tem de entrar o meu trabalho, a minha nova vida doméstica e a parca vida social que me resta. E eu vou constantemente mudando, adequando, tentando, ajustando. Até acertar.

Houve uma altura em que tirava as pré-manhãs (o tempo que estou em casa entre acordar e ir trabalhar) para fazer coisas que gostava: tocava 15 minutos de piano, às vezes começava um texto ou acabava de editar outro... Mas era um tempo tão limitado que passava-o constantemente a olhar para o relógio, a saber que tinha de sair dali a cinco minutos. Entretanto, através da Rita Ferro Alvim, descobri o método da "fly lady" (trabalhado pela Secret Slob), que pretende optimizar e organizar a limpeza de uma casa; diria que a base deste método é nunca deixar as coisas em modo-caos, de forma a que em pouco tempo consigamos ter tudo minimamente organizado sem perdermos uma vida a arrumar a casa. Não me quero esticar sobre este assunto (no instagram da Rita há um destaque só dedicado a isto), até porque estou longe de ser especialista e não implementei o método na íntegra, tendo aproveitado apenas algumas coisas que achei que poderiam fazer diferença no meu dia-a-dia.

Alguns exemplos: deixar o lava-loiças limpo à noite e no dia seguinte arrumar logo de manhã toda a loiça que esteve a secar ou na máquina de lavar; fazer a cama antes de sair de casa (não fazia porque preferia deixar a arejar, mas a verdade é que chegava à hora de deitar e só puxava os lençóis para cima e não entrava numa cama feita, tal como gosto); tirar dois minutos do dia para arrumar o(s) hotspot(s) - locais onde temos tendência para acumular tralha (no meu caso é o banco da entrada e a cadeira que acumula roupa no quarto). O objetivo é não deixar acumular tudo para o final do dia, em que já temos de fazer jantares, estender, apanhar e dobrar roupas, entre tantas outras tarefas que fazem parte do dia-a-dia da maioria das famílias. 

Assim, no que diz respeito ao equilíbrio em termos de tempo que dedico às pessoas que amo, diria que o dia é dedicado à família (tomo o pequeno-almoço com a minha mãe e irmã, almoço com os meus pais e por vezes irmãos) e o fim do dia ao meu namorado. A premissa é simples: passar tempo de qualidade com cada um deles. E isso implica uma gestão de tempo muito bem calculada.

No meio disto tudo nem sempre sobra tempo de qualidade para passar comigo mesma, para os meus passatempos. Tocar piano. Tirar fotografias, editá-las. Escrever.

Apesar de às vezes até me sobrar tempo nas alturas em que é suposto - quando o jantar acabou, a cozinha está arrumada, o banho tomado e o sofá e a manta à minha espera -, hoje em dia não consigo ter a disponibilidade mental que tinha há dois anos para conseguir fazer certas coisas. Chego às 21h mentalmente exausta - do trabalho, do planeamento rígido da minha vida, do stress constante em que já me estou a habituar a viver. E talvez por isso (ou por influência do meu namorado) tenha de dormir mais do que antigamente, para no dia seguinte ter forças para fazer tudo de novo. Escrever e até ler exigem um tempo, uma concentração e uma dedicação que, neste momento, não consigo dispensar a essas horas. Preferia mil vezes escrever do que ter visto uma ou duas séries da Netflix - mas as séries não me cansam e, entre isso e jogar Candy Crush, prefiro algo cultural. 

Quando comecei a escrever num blog, fazia-o por necessidade de libertar a alma. Tinha 14 anos - e tinha tempo. Hoje tenho 25 - e aquilo que perdi em tempo ganhei em responsabilidades. Já passei por muitas fases em relação à escrita: já precisei de escrever de como quem precisa de pão para a boca; já me apeteceu não escrever; já me obriguei a escrever; houve alturas em que, em dois dias, escrevia textos para a semana inteira. Passei por fases de desleixo e por fases de um rigor imenso, quase digno de colégio militar. Já estive totalmente desinspirada e, outras vezes, inspiradíssima. Já estive cheia de motivação e ideias - mas também já estive desmotivada ao ponto de achar que não valia a pena continuar com esta página aberta.

Mas este blog é como a vida: ele continua. E por muito que me custe não o atualizar durante duas semanas, obrigo-me a aceitar esta realidade. Se ainda hoje acordo a meio da noite a pensar que estou no meu antigo quarto, completamente desnorteada, é sinal de que ainda não atingi o equilíbrio certo na minha vida - e não posso exigir de mim aquilo que exigia antes, como escrever todos os dias. A minha vida ficou virada do avesso e é natural que eu demore a encontrar as novas costuras. E, desenganem-se: o avesso não é uma coisa má - mas é uma coisa nova. E eu ainda estou a aprender como gerir tudo isto.

Não sei se vocês ainda estão desse lado - mas eu ainda estou aqui. E planeio ficar. 

Continuo a acreditar no ditado inglês que diz que "practice makes perfect" (a prática leva à perfeição). Continuo a desejar escrever todos os dias, porque sei que quanto mais escrever, melhor o vou fazer. Continuo a acreditar em sonhos - e que um dia vou escrever livros. E contínuo a achar que esta é a plataforma certa para ir treinando e ir ganhando uma base de leitores que, construtivamente, me fazem crescer e ser melhor a todos os níveis.

Sei que agora não escrevo todos os dias - mas gostava de o fazer e sei que um dia hei-de voltar a conseguir. E vocês? Ficam por aí?

01
Mai20

11 anos de blogs em 45 minutos de conversa

2020 tem sido uma caixinha de surpresas. Acho que ninguém, enquanto tocavam as doze badaladas, sabia aquilo que se avizinhava. Eu estou longe de ser exceção. Também fui abalroada pelas notícias do vírus, também me vi imbuída numa sensação de letargia tremenda quando me apercebi que havia muita coisa que ia pelo cano. É fácil deixarmo-nos invadir pela sensação de má sorte que toda esta situação nos leva. Apesar dos dias maus, tenho tentado olhar para estes quatro meses de forma diferente. O que correu bem já ninguém me tira. As conquistas já não as esqueço. E as surpresas boas guardo-as com carinho.

Receber um email da equipa do Sapo foi uma dessas coisas boas - tudo isto antes da bomba da pandemia ter arrebentado sobre nós. Esse email resultou numa conversa com pouco mais de 45 minutos que está disponível desde a última quarta-feira para todos ouvirem. Falou-se sobre o início do meu percurso por estas bandas (numa altura em que ainda nem sequer sabia que gostava de escrever), as várias fases deste meu diário aberto que viria a dar origem ao Entre Parêntesis, a importância da escrita na resolução de alguns problemas interiores, os meus objetivos a longo prazo e até um bocadinho sobre o meu processo de escrita. 

Foi das poucas ocasiões em que, ao voltar a ouvir aquilo que disse, não me senti envergonhada. Uma das coisas boas deste blog é que revela uma das minhas facetas mais puras - e é essa faceta que está presente nesta conversa com o Pedro, com quem adorei falar e reviver alguns momentos do passado, que recordo com saudade.

Para quem tiver curiosidade - nem que seja para saber como é a minha voz e de detetar o meu sotaque portuense - a conversa está disponível aqui, no Blog da Equipa do Sapo (a quem eu agradeço, mais uma vez, este convite que me deixou tão feliz). Posso nunca vir a ser um blogger de sucesso - mas, caramba, até já participei numa espécie de podcast (algo que está mais na moda do que as calças de cinta subida)! Já faz de mim uma pessoa feliz. 

 

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06
Ago19

Ter um blog é lembrarmo-nos do que fomos. Há oito anos que faço por recordar.

Escreve Ricardo Araújo Pereira no seu último livro: "Ser adulto é esquecer o que foi ser criança." O Ricardo é um génio, mas não é preciso muito para chegar a esta conclusão. Bato de caras com ela de cada vez que vejo um carro de condução a ser pressionado por um outro condutor, que tenta ultrapassar pela esquerda, pela direita e só não passa por cima porque o automóvel (ainda) não tem asas. Isto tudo porque já não se lembra do pânico que é estar ao volante de um carro pela primeira vez; do chato que é estar constantemente a ser mandado e corrigido por um instrutor; do suor que toma conta das mãos e do tremor que invade as pernas. Já se esqueceu. Ser adulto é esquecer.

É por isso que sei que ainda não sou adulta. Pelo menos, na maioria dos casos. Ainda me lembro de muita coisa - e, ai!, se me recordo daquelas aulas de condução! E, sobre o que não me lembro, (re)leio.

Este blog faz hoje oito anos e sinto que essa é a maior vantagem que ele me traz: lembrar-me de quem sou, de quem já fui, o que senti, o que pensei, pelo que passei. Tenho uma regra de ouro: nunca apagar um post. Por muito que me envergonhe, que não goste ou já não me identifique, ele está lá; porque em algum momento eu senti que ele fazia sentido. 

Racionalizar as coisas de forma a escreve-las é um exercício que me faz crescer todos os dias. Encontro as minhas próprias contradições, argumento contra mim mesma. Apuro as minhas ideias. E lembro-me delas com mais facilidade. Não me esqueço. Torno-me adulta, mas nem tanto.

Consigo recordar com precisão o impasse da minha mudança de área no secundário; a escolha do curso, o tormento do primeiro ano; a ânsia do primeiro trabalho, o terror de ter de me despedir; a aventura de entrar nos negócios de família, a loucura de começar a dar aulas de piano, a falta de vontade de tirar uma pós-graduação. Ter tirado a carta, ter entrado na faculdade, ter-me formado, ter sido tia mais uma vez, ter arranjado namorado, ter ultrapassado a morte de familiares, ter sido operada. Ter viajado - tanto!, e poder reviver tudo com tanto pormenor.

Ter um blog é ter a oportunidade de viajar no tempo. De não esquecer.

Ter um blog há oito anos é saber que temos parte da nossa vida escrita - no meu caso, um terço da minha história está aqui, para relembrar o que fui. E, em parte, para me lembrar todos os dias o que quero ser.

 

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21
Abr19

Uma Páscoa com direito a novo visual

Há muitos meses que não tinha um fim-de-semana assim: sem planos, sem trabalhos da faculdade para fazer, sem saídas programadas, sem trabalho em atraso, sem aulas de piano para dar. Ontem cheguei ao ponto de perguntar "e agora, o quê que eu faço?", de tão perdida que estava. Aproveitei o sol maravilhoso que estava para me pôr a tostar e tentar acabar com este tom albino que tomou conta da minha pele há meses. Resultado? Escreve-vos uma Carolina em modo camarão. Mas antes camarão do que copo de leite!

Dada a minha incapacidade de estar parada e a impossibilidade de continuar a tostar - vamos mesmo falar sobre este domingo de Páscoa maravilhoso? -, arranjei-me um trabalho para fazer. Algo que já queria há muito: dar uma refrescadela no look do blog (se bem se lembram era um dos objetivos que constava nesta minha lista para 2019). Já o tinha tentado fazer por diversas vezes, mas isto é algo que exige inspiração, tempo e, acima de tudo, muita paciência. Reuni hoje todas essas condições e pus mãos à obra.

Queria mudar porque gosto de renovar o blog de vez em quando. E porque apesar de apreciar muito aquela "biblioteca" que tinha ali no topo, a verdade é que estou numa fase da minha vida que pouco leio (ao contrário de outras, em que passava o tempo a publicar opiniões e críticas a livros) - e por isso era uma imagem não muito fidedigna daquilo que é o blog neste momento. Queria algo sereno, adulto, não-enjoativo e equilibrado, que é aquilo que estou a tentar tornar-me. E também dar uma nova vida ao blog - estou a empenhar-me para que de alguma forma ele "renasça" e cresça, depois deste ter passado uma fase mais "em baixo". Acho que os tons pastel que reinam no cabeçalho e as flores trazem tudo isso, a par da elegância, que é coisa de que gosto muito.

No fim, penso que o resultado foi harmonioso. Gostava de ter a vossa opinião, tanto em termos de design como de funcionalidade (as letras lêem-se bem? é tudo perceptível? perdeu-se alguma coisa em termos de leitura?). Sei que muitos de vós me lêem nos vossos smartphones e não é fácil optimizar um blog para este tipo de ecrãs (principalmente a parte do cabeçalho, que fica sempre esquisito e uma salgalhada), mas prometo que estou a trabalhar nisso.

Aguardo o vosso feedback.

Até lá... uma boa Páscoa!

 

imagem_fb_final.jpg

A antiga versão (para os mais esquecidos):

EP_livros.JPG

 

22
Jan19

Ainda há blogs com gente dentro

Faz este ano 10 anos que criei o blog que, mais tarde, daria lugar a este Entre Parêntesis. As coisas mudaram muito desde essa altura - só para ser simpática e não dizer que mudou tudo. Mudou a minha forma de escrever, de ver as coisas, de as expor; mudou a fase da minha vida, mudaram os meus objetivos; mudaram as razões pela qual escrevia, as pessoas para quem escrevia. Difícil é encontrar pontos em comum. Acho que só resto eu, enquanto esqueleto, e enquanto personalidade (que, por muito que se tenha alterado, continuará sempre a ser dura de roer).

A própria forma como os blogs são vistos mudou radicalmente. Sempre fui uma velha do Restelo e critiquei um bocadinho toda esta nova forma de ver estes espaços, que passaram a ser vistos como um meio de publicidade e de se fazer dinheiro. É uma posição anti-evolução, eu bem sei, mas só acontece por uma razão: porque eu estava cá antes de tudo isso e sei o quão bom era. Lembro-me da sensação total de partilha que tinha com as pessoas que, sem qualquer objetivo ou segundas intenções, desabafavam nos seus blogs - espaços esses que eram, na sua maioria, simples ou feios, porque as opções de costumização eram baixas ou só acessíveis àqueles que sabiam dar uns toques em HTML ou CSS. Espaços que não eram feitos de boas fotos, de bons designs e às vezes nem sequer de boas escritas - mas que tinham alma e coração lá dentro. Espaços que não eram regidos por agências de comunicação, que não tinham pop-ups, que não tinham como objetivo máximo o número de clicks. Espaços onde não havia parcerias, onde um creme que tirava as espinhas era mesmo um creme que, naquele caso, tirou as espinhas. Espaços cujos bloggers não sentiam a necessidade de ser eleitos para os Blogs do Ano para serem alguém na comunidade. 

Sinto que a única coisa que queria na altura era que alguém me lesse, compreendesse, e dissesse: "eu também sinto isso". Que nos dias maus, deixasse lá um: "deixa lá, amanhã vai ser melhor". E que, nas vitórias, escrevesse: "eu sabia que ias conseguir". A partilha era o essencial. Tão importante que eu ainda hoje, passada quase uma década, ainda me lembro do nome de muitas das pessoas que me acompanharam nessa altura.

Eu própria passei de um registo pessoal - para não dizer íntimo - para algo mais comercial. Passei de escrever porque precisava, para escrever porque gostava - e, às vezes, por saber que os outros gostavam. Mas sempre me orgulhei de nunca ter vendido a alma ao diabo, de nunca ter aceite parcerias duvidosas, de nunca me ter privado de escrever o que quer que fosse porque achava que alguém não ia gostar de ler. Não passei a escrever textos pequenos porque agora o pessoal só quer micro-vídeos e não passei a tirar melhores fotos só porque a qualidade de imagem é essencial para o crescimento de um blog. Preferi manter a minha essência em detrimento de um potencial crescimento, mas só mais tarde vim a perceber que o caminho e a evolução da blogosfera me tirou muita da vontade que tinha de escrever e de partilhar coisas com os outros. Deixei de ler blogs, deixei de responder a comentários - até porque poucos há, neste mundo onde as reações são feitas de likes, smiles e emojis - e, o ano passado, senti que pouco escrevi. E isso entristeceu-me imenso, sentir que estava a deixar morrer algo que outrora foi tão importante para mim.

Hoje - altura em que ando muito empenhada em voltar a escrever diariamente, tanto para bem da minha sanidade mental como, espero, para alegria de quem me lê - acordei com uma notificação, aqui nas minhas reações, que dizia ser um link para o Sapo Blogs. Quando fui ver, era uma menção na entrevista da Jules, que dizia que este era o blog onde passava todos os dias, e que já o fazia há muitos anos. E é difícil descrever esta sensação, quando se escreve para todos e, ao mesmo tempo, não se escreve para ninguém. É difícil, e tão bom, perceber que somos alguma coisa (ainda que pouco) na vida de alguém - e é inacreditável a facilidade com que nos esquecemos disso.

A Joana que me perdoe esta inconfidência, mas recordo-me de um episódio com ela que me marcou, e lembro-me de ter pensado: "ela nunca mais volta a cá pôr os pés". Foi na altura da tragédia do Meco, que serviu de pretexto para dizer aquilo que sempre achei sobre a praxe - e que ainda acho, só não o digo muitas vezes de viva voz. Já não me recordo do conteúdo do comentário (nem quero revisita-lo, não vale a pena chorar sobre leite derramado, e penso que o post fica mais genuíno se não o fizer), mas sei que na sua essência ele me magoou - primeiro pelo seu conteúdo, segundo por vir de alguém com quem eu trocava comentários e sentia que conhecia. Deu para perceber, como ela diz na sua entrevista no Meet the Bloggers, que éramos diferentes - e eu sempre achei que há certas diferenças que são inconciliáveis, modos de vida e de pensar que não se coadunam. Naquele dia, por causa daquele post, recebi muitos insultos, muitas palavras desagradáveis, algumas ameaças; nunca tive vontade de não o ter escrito, mas fiquei de certeza com menos motivação para escrever o que quer que fosse. E tenho a certeza que perdi muitos seguidores após o ponto final daquele texto. Na altura, achei que a Jules era um deles. 

Enganei-me. Já o sabia, porque eu e ela vamos trocando comentários esporádicos aqui e ali, mas achei que hoje era o dia certo para contar esta história. Porque hoje, passados 10 anos de ter entrado nos blogs a pés juntos, ela fez-me sentir algo que eu já não sentia há muito. Relembrou-me o porquê de esta troca ser tão boa. Relembrou-me que não escrevo só por treino, por ter uma meta diária para alcançar, porque gosto ou porque numa altura da minha vida precisava de o fazer para respirar. Relembrou-me que existo para alguém, mesmo que não veja essa pessoa, que não a conheça. E que, por ventura, até posso fazer a diferença. 

Obrigada Jules, por me relembrares que os blogs têm gente dentro (e não só dinheiro e fogo de vista). Um grande beijinho.

15
Out18

Posts entupidos

Não sei se já se aperceberam mas tenho uma série de pancas e manias que, por vezes, não consigo ultrapassar. Uma delas, no que diz respeito ao blog, é não conseguir escrever um post quando outro está por acabar. Isso acontece sempre mas nota-se mais quando estou a escrever diários de bordo: são textos que demoro sempre muito a escrever (pelo menos comparado com o meu padrão), porque implicam uma pesquisa constante nos meus apontamentos, nos itinerários e até noutras fontes (é frequente não saber o nome das igrejas e ando a vasculhar no google, por exemplo) e também uma boa articulação com as minhas fotos. Para além da organização do próprio post - ando muitas vezes com parágrafos e fotos para trás e para a frente para a publicação ficar mais coesa e de leitura mais fácil.

Como não gosto de publicar outros textos enquanto outros estão a ser (lentamente) desenvolvidos nos rascunhos, o blog pára. Num mês escrevi quatro posts por isso mesmo: não foi por falta de ideias ou inspiração - tenho a minha lista de ideias recheada - mas sim porque queria publicar tudo direitinho. Pancas!

E a verdade é que costumo ver sempre o custo/benefício neste tipo de medidas, pois já sei que os diários de bordo são coisas demoradas, o que vai em sentido contrário de uma das coisas que mais prezo aqui no blog: a regularidade das publicações. E a verdade é que o retorno que tenho não é suficiente para o tempo e o trabalho que me dá reunir toda aquela informação e o tempo que passo sem publicar nada. Mas faço destes os meus posts egoístas: canso-me enquanto os faço, "sai-me do pêlo" e privo-me de escrever outras coisas (e a vós de as ler), mas sei que daqui a um ano volto atrás e, enquanto os releio, faço uma autêntica viagem no tempo. Estes posts são melhores que qualquer álbum, qualquer pasta cheia de fotografias, qualquer site turístico. Tudo da minha viagem está ali. E, quando tenho saudades, volto atrás para os ler e é como se tivesse sido ontem.

Por isso desculpem este interregno. Espero ao menos que as anteriores publicações vos façam viajar comigo. Nos próximos tempos vou estar a "desentupir" a minha lista de posts, que foi ficando cheia ao longo deste último mês, que foi um autêntico turbilhão que virou a minha vida de pernas para o ar. Há muito para escrever nos próximos tempos.

18
Fev18

Sobre os recomeços (ainda que este não seja um)

Mais de uma semana sem publicar. Auch. Que rico pontapé no meu ego esperançoso e no meu lema “quanto mais treinares, melhor escreverás”. Estou a passar uma daquelas fases em que parece que tudo está a acontecer ao mesmo tempo. Aniversários aos fins-de-semana, recitais de piano, tentativa de uma maratona pré-filmes-dos-óscares, entusiasmo máximo (dentro do possível) em relação ao ginásio, almoço num lado, workshop à tarde noutro sítio, aulas de piano, fazer bolos para as festas de aniversário, miúdos de férias aqui em casa. Wow. Isto tudo junto com "aquela semana do mês". E não, não é o que estão a pensar: falo no fecho de mais uma edição do jornal. 

O início de cada mês passou a ser uma altura em que quase me retiro do mundo dos comuns mortais e só me consigo dedicar ao trabalho. Vou poupar-vos os detalhes daquilo que é o processo exaustivo de fechar um jornal, mas deixem-me só dizer que é um processo moroso, trabalhoso e muito contraindicado para os nossos olhos - e eu trato de um mensal, pudera se fosse semanal. Ou diário (credo!). Dezembro foi o primeiro mês em que fiz isto - que coincidiu com o meu projeto natalício e tudo aquilo que envolve esta época - e agora senti que tudo voltou a coincidir no mesmo período temporal. Senti o mundo em cima de mim. A pressão do trabalho em cima de mim. A pressão dos outros em cima de mim. E a pior: a pressão que eu faço sobre mim mesma.

Enfim: o jornal já está impresso. Sobrevivi. Mas daqui a três semanas tenho de ter outro nas mãos, o que resume os poucos dias de "descanso" que terei até lá e todos os alertas que continuam "on" nesta cabeça, a piscar intermitentemente. Quero tantas coisas para mim, quero fazer tanto, tenho tantos objetivos (e quando não os tenho, crio-os) que a tendência, após tempos de mais stress, é cair num pico negativo e emotivo que depois demora algum tempo a sarar (porque não consigo fazer as coisas, porque estou cansada, porque os resultados finais não estão como eu quero ou não aparecem...). Se não escrevi durante uma semana por não ter tido tempo, também não escrevi nos dias seguintes porque não queria vir para aqui destilar as minhas frustrações, que estes dois dias de sol ajudaram a sanar.

Entretanto já recheei a minha lista de tópicos para escrever e, haja tempo e vontade, o blog não terá falta de temas num futuro próximo. Mas isto, por si só, leva-me a um outro assunto: os recomeços. Neste caso, aqui no blog, não se trata de um: esta foi uma paragem rara num blog que, desde há quase sete anos, tem uma média de posts dia-sim-dia-não. Mas se há coisa que me tira do sério são pessoas que estão em eternos recomeços, que não aceitam um fracasso (ou, se não quisermos chamar-lhe assim, talvez um projeto mal conseguido ou uma ideia que não conseguem levar avante, independentemente das razões para tal). Blogs (e vlogs) que têm posts de quatro em quatro meses - mas que dizem querer publicar de quatro em quatro dias -, que passam a vida no "agora é que é!", que mudam de look quase como uma forma de auto-incentivo, que fazem dois posts seguidos e que depois deixam os leitores à espera durante meses. É irritante, principalmente quando temos a noção de que já não escrevemos só para nós - que estamos a "produzir conteúdo" (esta expressão agora está em voga, não está?) também para os outros. Faz-me lembrar o meu eterno dilema com os diários - eu achava sempre que ia escrever lá todos os dias, mas na terceira página já adiava a escrita à ad eternum. Até que aceitei que não fui feita para escrever em diários e me deixei disso.

Essa é só mais uma das razões pela qual gosto de escrever diariamente ou, pelo menos, com uma certa rotina. Não tenho um público suficientemente grande nem exigente ao ponto de vir para aqui saber se eu estou viva, exigir posts ou dizer que está com saudades - mas tal como eu gosto de ir a um restaurante, que sei que está aberto de segunda a sábado, e encontrar as portas abertas, também gosto de ir a um blog e saber que tenho lá algo de novo para ler. É quase um compromisso silencioso, que ninguém assinou ou fechou com um aperto de mãos, e que todos sentimos que está lá. Ninguém gosta de dar com o nariz na porta.

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