Existe excesso de método e de organização?
Se falarem com a minha mãe é provável que ela vos diga que eu sou um nadinha desarrumada. Eu diria que tenho dias, até porque não consigo viver com as coisas desalinhadas e fora do sítio durante muito tempo. Mas uma coisa é inegável: eu sou organizada. Adoro ter um sítio para tudo, arranjar soluções lógicas para guardar cada coisa num respetivo local. Tenho montes de caixas, caixinhas, caixotes, sacas, saquinhas, sacolas e tudo o que sirva para compartimentar espaços e deixar tudo no seu devido lugar.
Custa-me um bocadinho admitir isto, mas cá vai: organizar as coisas com método e lógica é algo que me dá prazer. Não só por gostar de saber onde estão os objetos mas também porque gosto de pensar em formas inteligentes de as arrumar. Há só um pequeno senão: por vezes meto-me em empreitadas tão grandes, tão complexas, que é preciso muita força de vontade (que, às vezes, perco) para as terminar, acabando as coisas por ficar em banho-maria durante demasiado tempo. Aliás, basta olhar para os meus objetivos para este ano e perceber que dois dos pontos têm que ver com organização (a elaboração do álbum de vida dos meu avós, que implica scannar e catalogar todas as fotos tiradas ao longo da sua vida, e a própria reorganização das minhas fotos, algo que já comecei e que prevejo que me vá demorar um ano inteiro a concluir).
Só há uns dias é que percebi que isto de organizar tudo é uma mania já antiga. Relembrei os tempos em que fazia colares, pulseiras e outras bijutarias e cheguei à conclusão que passava mais tempo na minha bancada a organizar as coisas (pôr as peças por cores, colocar etiquetas nas gavetas, fazer uma utilização optimizada do espaço, pôr os diferentes tipos de mosquetões em saquinhos vários, etc.) do que propriamente a conceber peças.
Sabendo disto e pensando que me enfio em projetos que prevejo que demorem um ano a serem concretizados, ontem passou-me uma ideia terrível pela cabeça: será que há um limite para o método e para a organização? Existe isto da "organização em excesso"? Ou seja: organizar tanto que às vezes não compensa o retorno e as vantagens que traz, acabando por ser trabalho, tempo e até material gasto em vão?
Eu, organizadora assumida, gosto de pensar que não. Que a longo prazo, o tempo que poupamos a não procurar as coisas compensa tudo o resto. Mas suponho que dependa das perspetivas e da forma de ser de cada um de nós. Eu acho que já não tenho cura: só a ideia de me livrar das minhas caixinhas e etiquetas me dá suores frios, por isso prefiro perder tempo a organizar tudo, não me vá dar um fanico. Se me der, ao menos morro descansada: quem ficar a arrumar as minhas coisas saberá onde está tudo. Isto dá ou não dá paz a uma pessoa?