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Entre Parêntesis

Tudo o que não digo em voz alta e mais umas tantas coisas.

10
Ago23

Doze anos depois, uma carta

Querido blog,

Passaram-se doze anos. Quando te criei ainda andava às turras com a matemática e não sabia que curso escolher; o meu sobrinho mais novo ainda não tinha nascido e eu descobriria nesse verão um problema crónico no pé; o Falcão ainda jogava no Porto, a Kate e o William acabavam de casar e o Bin Ladden tinha sido morto há pouco tempo; a saga Twilight ainda não tinha chegado ao fim, o Salvador Sobral ainda não tinha ganho a Eurovisão e Portugal ainda não tinha vencido o Europeu. Não adivinhávamos que ia haver uma pandemia. E eu não sabia que ia encontrar o amor da minha vida ou que me ia casar; da fábrica, nessa altura, era capaz de recordar o cheiro a óleo e pouco mais, não pensando que um dia pudesse chamar de "meus" todos aqueles teares e máquinas bonitas.

Passaram-se doze anos. Ia escrever que tinham sido anos basilares da minha vida, onde tanta coisa aconteceu - mas a verdade é que são mais de quatro mil e trezendos dias e, independentemente da fase da vida em que nos encontremos, muita coisa pode acontecer nesse período de tempo.

Passaram-se doze anos. Acabei o secundário, tirei um curso, comecei a trabalhar num jornal, tirei uma pós-graduação, dei aulas de piano, fiquei com a fábrica, conheci o Miguel, comecei a namorar, fiquei noiva, casei-me, aprendi a não odiar desporto. Viajei muito. E, pelo meio, escrevi alguma coisa. Devia ter escrito mais, não devia?

Passaram-se doze anos - tempo suficiente para eu me esquecer do dia em concreto em que nasceste. Por isso, desculpa: a verdade é que, ao longo deste período, a memória não tem vindo a melhorar. Achei que o teu aniversário era dia 11 de Agosto - mas, quando fui aos registos, reparei que afinal era dia 6 e que havia deixado escapar a data especial. Já não tenho 16 anos como antigamente. Sabes que já tenho muitos cabelos brancos, querido blog?

A vida passa, mas tu ficas. Os amigos vão e vêm, mas tu ficas. A casa muda-se, as pessoas entram e saem, os empregos trocam-se, mas tu ficas. As recordações desvanecem-se, mas como tu ficas, elas vêem-se na obrigação de ficar retidas também. És o meu livro de memórias, o meu caderno de apontamentos, o meu álbum fotográfico, o meu guia de viagens. És o espelho do que fui - e do que vou sendo todos os dias. Tens o aroma do mar nos posts sobre os cruzeiros, o cheiro a livros nas minhas críticas literárias e a bafio nos dias em que escrevo chateada. Guardas em ti as lágrimas de saudade quando recordo alguém e a dor que me sai do peito quando finalmente consigo passar para palavras aquilo que me ferra a alma. És a minha vida em meia dúzia de palavras - que, parecendo muitas quando olhamos somente aos números, são poucas para tudo aquilo que penso e reflito ao longo dos dias.

Registam-se em ti 4059 entradas e quase 16 mil comentários. Este ano vai a pouco mais de meio e já escrevi mais do que em 2022 - uma promessa que fiz e que, apesar de dura, me está a dar muito gozo cumprir. Quero muito continuar. Tinha saudades tuas e do relatar da minha vida. Tenho saudades do tempo e da disponibilidade mental que antes tinha para escrever - passaram doze anos e nada é como dantes. Mas a vida continua, e tu com ela. Que seja por muitos mais anos.

Parabéns atrasados, Entre Parêntesis!

Sempre tua,

Carolina (versão 2023)

21
Mar23

28 anos, quatro músicas e um desejo

(este post era para te saído ontem, dia 20 de Março - vamos fingir que recuamos uns minutinhos no tempo, sim?)

Faço hoje 28 anos e estes marcos dão-me para introspeções - ainda mais que os dias costumeiros. Os últimos anos da minha vida têm sido de aprendizagens profundas, muitas vezes cravadas a fogo num coração que, apesar de bem protegido por uma carapaça forte, não deixa de ser dócil, mole e frágil.

Há um antes e depois de 2018 na minha vida, ano marcado por dois grandes acontecimentos: o do aparecimento do Miguel e o desaparecimento do meu avô, que levou à minha entrada no mundo da indústria. Nesse ano arranjei uma base sólida emocional como nunca antes tinha sentido, mas simultaneamente atirei-me de cabeça pelas águas movediças da indústria, do patronato e da incerteza constante. Na altura ia a meio dos meus 23 anos. As hipóteses de futuro eram quase infinitas: um primeiro amor e uma primeira relação, a par de uma herança em forma de trabalho e de projeto de vida. Tinha muitas ideias, esperança no futuro e na mudança que estava a acontecer. 

Fast forward para hoje: 28 anos, cinco depois do ano de maior mudança. A vida agudizou-se, extremou posições. O lugar seguro continua cá - agora já sem dúvidas e sem medos, que foram substituídos pela maior das certezas de que escolhi a pessoa certa para estar ao meu lado. Mas o pântano também apurou as suas armadilhas, mostrou-me bem que não estou num navio de cruzeiro, mas num barco a remos onde tenho de puxar pelo cabedal para o fazer andar em frente. Estou sempre à espera de dias melhores, de sossego, mas não sei até que ponto sonho com uma situação idílica; olho para trás e vejo que não tive muita sorte - pandemia, guerra, crise inflacionária - mas será que alguém teve? Será que há de facto períodos em que o coração não mora constantemente nas nossas mãos, em que são mais as noites que dormimos do que temos de insónias? Ou será que foi esta a vida que escolhi sem saber ao certo ao que vinha?

Qualquer que seja a resposta, uma coisa é certa: os últimos meses não foram fáceis. Os últimos anos, por razões várias, também não - a base está lá (estamos todos vivos, temos todos trabalho) mas o desgaste foi maior do que previsto. Faço hoje 28 anos, mas creio que podia estar a fazer 48 e a sentir-me de igual forma: cansada, desgastada, triste e com pouco alento.

Eu não sei se acredito no destino e em todas essas coisas meio-místicas, mas a sensação que tenho é de que algumas coisas veem ter connosco nos momentos em que precisamos. Pode parecer parvo, mas a verdade é uma: nas alturas em que estou mais triste e me deito no sofá a recuperar forças, a probabilidade de estar a passar algum dos filmes do Twilight é grande - não interessa se é no AXN, na Fox Life, no NOS Studios ou no TVCine, mas normalmente estão lá . Não são grandes filmes, mas tenho com eles uma relação emocional tão forte que me aquecem sempre o coração. 

Ultimamente os dias maus têm sido mais que os dias bons. Não costumo ligar a TV na maior parte dos dias (por isso não dou sequer hipótese do Robert Pattinson me entrar pelo ecrã adentro), mas música oiço sempre - quer seja na rádio ou no computador, enquanto trabalho. O Miguel diz, com razão, que a música tem uma capacidade transformadora e empoderadora - quer seja pela vibe que nos transmite ou pela mensagem que tem. Há uma troca de frases muito engraçada em Castle - uma das minhas séries preferidas de sempre - que nunca mais me esqueci: a Beckett pergunta ao Castle "- How do you know you're in love?", ao que ele responde "All the songs make sense". E não é que é verdade? É um bom teste para sabermos como estamos ao nível do coração - mas vai para além disso, pois quando aguçamos o ouvido há muitas canções que passam a fazer muito sentido. E, nos últimos tempos, eu tenho estado atenta ao que ouço.

Janeiro ficou marcado pela "It Ain't Over 'Til It's Over". É uma música da minha infância - a minha memória leva-me logo para dentro do Volvo branco da minha irmã, enquanto andava com ela por aí, provavelmente com a minha cadela Isis a acompanhar-me no banco de trás. A música não passou uma, mas duas vezes seguidas na rádio, tal foi o impacto nos ouvintes, que mandaram mensagens a pedir para repetir a malha. E eu, deliciada, até parei o carro ao sol, para a absorver.

So many tears I've criedSo much pain insideBut baby, it ain't over 'til it's over

It Ain't Over 'Til It's Over, Lenny Kravitz

 

A vida continuou - e em Fevereiro entortou mais um bocadinho. E, na Rádio Comercial, numa daquelas manhãs difíceis, passava a homenagem que fizeram a Jorge Palma, com vários artistas a cantar a sua "A Gente Vai Continuar".

Enquanto houver estrada pra andarA gente vai continuarEnquanto houver estrada pra andarEnquanto houver ventos e marA gente não vai pararEnquanto houver ventos e mar

A Gente Vai Continuar, Jorge Palma

 

A verdade é que as manhãs são as mais difíceis. Dou muitas vezes por mim meio letárgica, aprisionada no meu escritório, sem saber o que fazer e como sair de situações que muitas vezes me ultrapassam. O comboio continua a andar, mas às vezes faltam as perspetivas claras de futuro. No limite, até a esperança. Mas a verdade é que eu entrei num comboio em movimento, que ainda tem combustível no tanque, e enquanto houver estrada para a andar... a gente vai continuar. A lutar. A procurar um propósito. À procura de um constante refill nesta energia que nos faz andar.

Quando vim para a fábrica sabia que tinha muitos desafios pela frente - o facto de ser mulher, de ser nova, de ser neta e filha do patrão, de ter de provar que o meu valor e a minha vontade de superação são muito maiores que um simples fator hereditário. Nunca é isso que me deita abaixo - mas fazem parte de um conjunto de pequeninas pedras que, num todo, muitas vezes atrasam o percurso. E, há dias, estranhei a nova música da Carolina Deslandes que passava na rádio; fiz cara feia, como quando experimentamos uma comida nova, que à partida não nos agrada muito, mas depois dispus-me a ouvir. E ela cantou:

Cuidado com a Carolina
Que vem de punho cerrado
A saia da Carolina ardeu no meio do mato
A história da Carolina é que ela agora veste fato

A Saia da Carolina, Carolina Deslandes

 

Caraças, não foi isto escrito para mim? Não sou eu que visto fatos para ir para feiras e reuniões importantes? Não sou eu que estou tipicamente num cargo de homens, tentando quebrar estereótipos, vícios e hábitos enraizados há sessenta anos? Sou, pois. 

Entretanto, também há um par de dias, passa na rádio uma música que o ano passado me aqueceu muito a alma e o coração, que diz assim:

Vou viverAté quando eu não seiQue me importa o que serei?Quero é viver

Quero É Viver, Sara Correia

 

Porque, de facto, é o que eu quero. Quero usufruir da companhia do Miguel, do ombro dele no sofá; do ritual de fazer a sopa, de fazer comida que ambos gostamos e de ver wrestling à terça feira à noite e ao sábado de manhã, enquanto comemos a nossa regueifa. Quero estar com os meus pais e com os meus irmãos em momentos de partilha. Quero conhecer o mundo. Quero estar com os meus cães, deixar que me sujem as calças e dar-lhes mimo até que se fartem de mim. Quero continuar rituais felizes: quero ir lanchar um cachorrinho ao Gazela, seguido de uma natinha quentinha em Santa Catarina; quero ir às 11h da manhã ao Natário, em Viana, devorar uma bolinha de berlim acabada de sair do forno; quero  comer a minha rufadinha à sexta-feira de manhã. 

Gostava de continuar o projeto que me deixaram nas mãos, gostava de sentir que continuo a fazer um bom trabalho para a sociedade enquanto alguém que emprega e que se esforça por agradar, gostava de me sentir mais útil e capaz em muitos momentos. Mas o que eu quero mesmo é viver para além de todos os problemas - algo que não tenho consigo fazer. Quero usufruir do caminho, e não continuar a andar na estrada só por andar. Quero usar saia quando quero e o fato quando assim o desejo.

Hoje faço 28 anos e o que eu quero mesmo... é viver. E aprender a saborear a vida, mesmo tendo (quase) permanentemente um sabor amargo na boca.

Que venha finalmente a Primavera.

 

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06
Fev23

Uma ode ao meu irmão mais velho (e aos outros também, mas este em particular)

A família sempre teve um papel preponderante na minha vida. Com uma personalidade e vida que não se coadunavam com grandes amizades, era muitas vezes o sangue  que ditava quem me era mais próximo. Na verdade, tudo se proporcionava nesse sentido: eu, muito adulta para a minha idade, escutava as conversas à mesa (e tentava entrar nelas) como gente grande - acabando por me distanciar dos outros miúdos, com brincadeiras pouco sérias e levianas; sempre estive rodeada por muita gente, tendo um núcleo familiar alargado, com irmãos e respetivos namorados com quem sempre me dei lindamente; e, indo para além da família direta, tinha uma relação estreita com tios e primos. Para além de tudo mais, sempre tive uma veia solitária, por isso a minha família era praticamente tudo o que me bastava para ser feliz. Este círculo invadia até a escola, pois duas das minhas primas estudaram comigo, na mesma turma, até à adolescência. Sempre juntas, tínhamos uma base que nos unia e que, principalmente entre os dez e os treze anos, chamavam à atenção dos que estavam à nossa volta, tanto crianças como adultos. Recordo quatro pontos em particular:

1) Não éramos só as "três primas" - na verdade chegamos a ser seis primos na mesma escola. E quem ainda tem a memória fresca do liceu recordar-se-á bem do charme que é estar no fim da cadeia alimentar (vulgo: sétimo ano) e ver a malta do 12º (o topo da pirâmide), apontar e dizer: "aquele é meu primo". Na loucura, até podíamos passar e dizer um olá - e só isso já bastava para sermos um bocadinho fixes e, claro, termos uma proteção extra no que aos problemas-de-recreio diz respeito. Isto com um primo. Agora imaginem seis. Éramos quase a família real.

2) Outra curiosidade é que todos tínhamos o mesmo encarregado de educação - e todos éramos impreterivelmente chamados à atenção de cada vez que escrevíamos o nome dele nas nossas fichas pessoas. Não porque estivéssemos errados, mas porque a pessoa em causa tem duas vezes "Santos" no nome - uma feliz coincidência causada por um "casamento homónimo", mas que levanta sempre questões.

3) Outra das ações de charme que lançávamos era termos uma "música de família". Foi uma coisa inventada há muitos anos pelo meu avô materno, que normalmente entoamos nos aniversários como forma de união. Foi passando de geração em geração e, de tanto ouvirmos, a música vai ficando no ouvido. Tem uma letra inventada - com uma espécie nova linguagem, cheia de onomatopeias estranhas - e que sempre causou muita curiosidade. "Como é que conseguem decorar isso tudo?", perguntavam-nos vezes sem conta. Nem nós sabíamos - mas gostávamos de a mostrar aos outros, e toda a gente ficava pasmada como cantávamos, todas, a letra indecifrável de forma tão coordenada;

4) Por fim, espantávamos toda a gente com os números da família (grandes e sempre em crescendo) e com as nossas reuniões familiares - primeiro porque éramos trinta e tal no Natal e depois porque nos juntávamos muitas vezes, algumas sob pretextos que já na altura não eram muito comuns, como a matança do porco ou a desfolhada do milho. Mas era para mim que vinha o destaque quando entrávamos mais em detalhe sobre o nosso núcleo familiar. Somos quatro irmãos (algo que na minha geração já não é assim tão normal) e eu sou a mais nova. Muito mais nova. E a jóia da coroa era quando, já sabendo o contexto dos meus colegas, lhes dizia que tinha um irmão que era mais velho que os seus pais. 

E é sobre este último tópico que venho falar hoje.

Quando nasci, o meu irmão tinha 22 anos. Os outros dois, apesar de mais novos, já eram também graúdos: 15 e 16 anos. Mas o meu irmão mais velho podia ser, efetivamente, ser meu pai. 

Em muitas famílias - nas que têm sorte - há normalmente duas camadas de pais: os que são efetivamente pais e os "pais-pais", os avós. É uma dupla camada de apoio, de ajuda à educação e, claro, uma duplicação do mimo. Eu, infelizmente, não tive isto: os meus avós maternos faleceram cedo e os paternos, embora ainda tenham durado até praticamente aos meus vinte anos, tinham um gap geracional que não permitia grandes proximidades ou brincadeiras. No entanto, e por um golpe de sorte incrível, eu tive, ainda assim, esta duplicidade parental - os meus irmãos. Eram eles que cuidavam de mim quando os meus pais não estavam ou não podiam - e faziam-no com uma responsabilidade e um carinho sem igual, muito por culpa de eu ter sido uma irmã tão tardia. Do ponto de vista meramente biológico, eu podia ser filha de qualquer um deles - e eles trataram-me e amaram-me como tal. 

Podia achar-se que a diferença de idades nos acabaria por separar, mas a verdade é que isso nunca aconteceu. Até todos eles terem filhos, fingiam comigo: um levava-me ao cinema aos fins-de-semana, outra fazia os trabalhos de casa comigo enquanto eu chorava baba e ranho, outro dava-me bolas de futebol autografadas pelos jogadores do Porto e uma trotinete elétrica na altura em que ainda não eram comuns ou estavam na moda. Era mimada e educada por eles como se fosse, efetivamente, deles. E isso é uma dívida que eu terei sempre para com eles - e para com os meus pais, por me terem proporcionado tal sorte.

Teria palavras simpáticas e de amor profundo para com os três, mas hoje dedico-as ao mais velho em particular. Porque hoje é um dia importante, pois festeja o seu 50º aniversário. E isso significa que está na terra, há meio século, uma pessoa deveras especial.

Este era o irmão que, em conjunto com a sua namorada (hoje mulher, hoje minha irmã por osmose), me levava ao cinema com os meus primos; foi o que me levou ao meu restaurante favorito (e caro) quando os meus pais foram jantar fora com uns amigos; foi quem me permitiu ir com ele escolher o enxoval do seu primeiro filho mais velho, como se eu tivesse sequer de opinar; foi o que sempre me levou a sério e me deixou até, em muito tenra idade, embrulhar as loiças de sua casa quando se mudou. Também foi aquele que me disse vezes sem conta para não pôr os pés nos assentos quando entrasse no seu Opel (caso contrário teria de o aspirar), que me disse repetidamente que juntaria prontamente leite no iogurte sólido para que este virasse iogurte líquido quando o que eu pedia era um iogurte líquido (de compra!!!). Foi também ele que perpetuou, durante anos, uma espécie de bullying devido à forma como comia bananas e entrava nos automóveis.  (Todas estas últimas eu estou disposta a esquecer.) No passado, foi tudo isto.

Hoje, é a primeira pessoa a quem ligo quando tenho um problema no carro. Ou em casa. Ou na fábrica (quer seja em questão de finanças, recursos humanos ou tecnologia). Hoje é a pessoa que me aquece o estômago quando a alma está mais triste e é um dos meus companheiros semanais de padel. É o meu braço direito no trabalho, a todas as horas e aflições. É um conselheiro e um amigo sem igual.

O Zé Paulo é a pessoa mais consensual que eu conheço - de todas as pessoas que já conheci em toda a vida. Ainda estou para descobrir alguém que não goste dele - porque será algo digno de verdadeira análise. É o indivíduo mais requisitado de todos os tempos (porque não sou a única a ligar-lhe quando tenho um problema no carro, no frigorífico ou no computador) e tem uma paciência e uma disponibilidade sem igual para todas estas solicitações. É ponderado e calmo. Tem um grupo de amigos que me inspirada e mete inveja (daquela boa, se é que existe, não é Bambi?). E, no meio disto tudo, sempre arranjou tempo para as suas verdadeiras paixões - a mulher e os filhos, os carrinhos e os aviões e agora a mota.

É uma inspiração - e, muitas vezes, a minha força. É uma das minhas pessoas. Uma das que amo, das poucas que verdadeiramente adoro. Que, ao contrário do que possa parecer, não tenho nem palavras para descrever.

Parabéns, Zé. Sonho contar mais 50 na tua companhia. És a nossa sorte grande. 

 

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06
Ago21

Há uma década a escrever neste blog

O festejo dos 4008 posts que estão para trás, uma retrospetiva e desejos de futuro

Faz hoje dez anos que criei este blog. Foi o terceiro na minha linha de blogs pessoais (o primeiro foi criado em 2009) - cada um com o seu nome e com um cunho diferente no que dizia respeito à forma e ao conteúdo que expunha, principalmente em tudo o que dizia respeito à minha esfera privada.

Parei aqui, no Entre Parêntesis, com aquele que eu achei que era o equilíbrio ideal - conseguindo por um lado demonstrar os meus sentimentos, mas por outro resguardando tudo aquilo que eu considerava que não devia estar à tona da água. Tinha 16 anos, acabava de descobrir um problema no pé (que, na altura, não sabia que viria a ser crónico) e estava prestes a entrar no 11º ano, um dos anos mais atribulados da minha vida de estudante. Hoje, com 26, estou à frente de uma fábrica têxtil, casada, já com os cursos no currículo e a vida de estudante para trás das costas, sentido que agora sim, tenho uma vida pela frente, guiada pelas minhas ambições e vontades mais concretas.

São dez anos de trabalho. Escrever num blog dá trabalho - e , mais do que isso, rouba muito tempo. Quando o criei era fácil ter motivação para escrever - vivíamos o boom destas plataformas e o feedback era rápido, quase imediato - mas os anos foram passando e a paciência das pessoas para ler textos (em vez de ver vídeos, por exemplo) foi diminuindo gradualmente. Hoje só escreve quem gosta mesmo de o fazer; quem não tem a ilusão de que o faz para influenciar, para vender ou para ganhar dinheiro. Há dez anos surgiram muitos blogs pelas razões erradas - que desapareceram igualmente rápido, ou simplesmente migraram para plataformas mais amigas da imagem e da venda fácil. Em 2011 os blogs do Sapo eram uma cidade do litoral, com vista praia; hoje, com o êxodo, somos uma vila no interior do país. E quem diz que não se está melhor na montanha? Aqui só vem quem quer, quem gosta, e não só os veraneantes.

São dez anos de mudança - e ainda bem. Na verdade não podia ser de outra forma - seria muito mau sinal se nada tivesse mudado na minha vida desde os 16 anos. Mudei de vertente na escola secundária, mudei de turma; entrei e saí da faculdade com o curso concluído e fiz mais tarde uma pós-graduação; estagiei, arranjei emprego, despedi-me; comecei a trabalhar na fábrica, tornei-me sócia; arranjei namorado, saí de casa, casei-me. É talvez a fase mais transformadora na vida de alguém - e está aqui toda, documentada, com os seus altos e baixos, assim como os vales, alguns mais silenciosos que outros.

São dez anos de gestão de expectativas. Escrevo acima de tudo porque gosto, porque é a minha auto-terapia, porque me faz bem. Mas também porque, ao longo dos anos, construí o sonho de, no fundo, me pedirem/pagarem para escrever. Não falo de posts patrocinados ou parcerias - eu queria escrever livros, queria que as minhas palavras estivessem nas mãos de alguém, que chegassem a mais gente. E, nisso, saí frustrada. Passou uma década e nunca consegui. Confesso: olho com alguma inveja para "miúdos" de 19 e 20 anos a escrever no Observador e no P3 e pergunto-me com frequência: mas como? Na minha cabeça trilhei o caminho certo: escrevi, escrevi, escrevi. Sobre tudo e mais alguma coisa. Li muito (hoje não o faço, porque ainda não consegui retomar todos os hobbies de que gosto). E, ainda assim, não consegui atrair a atenção de quem de direito. 

Hoje percebo que quando defini a "linha editorial" deste blog pensei nele como "mais comercial" que os anteriores por ser de livre acesso, por eu não ter a obrigação de pensar antecipadamente se esta ou aquela pessoa podiam ler este texto ou ficar ofendidos com o outro e por, acima de tudo, haver uma distinção clara daquilo que era íntimo e privado. No entanto não olhei para as coisas do ponto de vista literalmente comercial; nunca me preocupei com números, não me ajustei nem mudei o meu estilo porque achei que assim teria mais leitores. Sou uma escritora egoísta - mas, ao mesmo tempo, genuína. Não acho que se possa ter o melhor dos dois mundos - o comercial e o puramente genuíno - e eu escolhi facilmente o lado em que queria estar. Sei que escrevo textos demasiado grandes e, muitas vezes, para nichos. Dedicar toda uma temporada de textos aos preparativos do casamento é uma jogada arriscada - mas a verdade é que escrevo estes textos para mim, para um dia mais tarde me conseguir recordar destes tempos. A única diferença para todos aqueles que registam este tipo de coisas em cadernos de apontamentos ou diários é que eu partilho, o meu diário é aberto, e o dos outros não. 

Tal como num diário, não há aqui nenhuma linha de raciocínio lógica que eu procure seguir; navego ao sabor dos dias e escrevo quando e sobre aquilo que me apetece. Pode ser sobre o casamento, sobre o novo iogurte que descobri no supermercado, sobre as eleições ou uma simples opinião sobre um livro; podem ser dicas sobre o que escrever em fitas universitárias ou como pendurar as sardinhas da Bordallo Pinheiro. Muitos destes textos são preciosos anos depois de terem sido escritos - tenho muita gente que os encontra no Google e vem comentar - mas que, na altura em que os partilhei, são só mais uns para os arquivos, sem grande valor acrescentado. Mas a verdade é que, daqui a uns anos, talvez uma noiva desesperada venha aqui ver como é que eu fiz isto e aquilo, da mesma forma que vêm procurar dicas sobre viajar sozinho, como é fazer uma excursão ou um cruzeiro. 

Dez anos volvidos, já não espero nada. Tudo o que vier é bom. Fico feliz com um comentário, contente com um novo like no facebook, extasiada com um destaque e radiante (e com o coração quentinho) quando recebo um email como um que recebi há dias, relembrando-me que não estava só, que era compreendida e que ainda há gente desse lado.

Também já não estabeleço metas. Não penso em chegar aos 900 seguidores no facebook no final do ano nem em escrever cinco posts por semana. E muito menos ponho pressão em mim própria para escrever imenso com o objetivo de ser notada por alguém, para um dia me pedirem para escrever em qualquer lado. Acredito que, tal como no meu trabalho, o caminho se faz caminhando - e o que temos de fazer para algo acontecer é, simplesmente, seguir o nosso percurso e estar atentos aos sinais.

Sinto que, principalmente nestes últimos dois anos, falhei muito para com este blog e com quem o lê; é curioso como uma coisa tão simples nos pode pesar nos ombros, apesar de não termos qualquer tipo de compromisso explícito. Porque a verdade é que eu posso não escrever todos os dias, mas todos os dias penso em escrever. Por isso estou a tentar trabalhar em rotinas para conseguir satisfazer a minha vontade e necessidade de escrever para conseguir, também, reconquistar algum território perdido - porque sei que a consistência é uma das formas mais fáceis de (re)construir uma plateia, após meses ausência a perder leitores.

Quando festejei o 8º aniversário deste blog falei do que era, para mim, ser adulto. Ser adulto é esquecer. E escrever é um antídoto para todas as falhas de memória que o nosso futuro nos promete - não impedindo que cresçamos mas, talvez, que não envelheçamos tão rapidamente. Não sei se vou escrever aqui durante mais dez anos; não sei quem vou ser ou o que vou estar a fazer daqui a uma década. Mas gostava de continuar a fintar a memória e poder rebobinar a minha vida, como se de um filme de tratasse, simplesmente acedendo aos arquivos deste diário aberto. Pode ser que sim. Esperemos que sim - acho que seria bom sinal.

Parabéns Entre Parêntesis! 

 

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20
Mar20

25 anos em tempo de Corona

Sempre levei muito a sério o provérbio do "não faças aos outros o que não gostas que te façam a ti".

Eu detesto festas de anos. Sempre detestei. Já é assim desde miúda, mas nessa altura as razões prendiam-se com o medo que tinha dos escorregas nos parques de diversões escolhidos para festejar a data e porque abominava aqueles bicos de pato com queijo e fiambre que antecediam ao soprar das velas, num bolo de pastelaria igualmente abominável. Agora que penso, passaram os anos e eu não mudei assim tanto: não ando em escorregas e não vou a parques de diversões; detesto bicos de pato e ainda por cima não como queijo; e continuo a achar que um bolo de pastelaria não é digno o suficiente para festejar uma data tão importante. Se é bolo de anos, é para ser em bom - nem que seja feito pelo próprio aniversariante (que é, na maior parte das vezes, o meu caso).

Pois que hoje completo 25 anos de vida. E, dado ser um quarto de século, ia abrir uma exceção: fazer uma festa. Queríamos que não fosse o simples "soprar das velas"; íamos convidar a toda a minha família e até, na loucura, alguns amigos - algo que sempre evitei, porque me faz confusão a mistura de núcleos que não têm nada em comum entre si a não ser conhecerem o aniversariante. Foi sempre isto que detestei em festas de anos; se no dia-a-dia já me sentia muitas vezes excluída e posta de parte, nestas festas a sensação agudizava-se, pois chegava a não conhecer ninguém, e via-me sozinha no meio de uma multidão. Posta de parte porque não alinhava nas brincadeiras. E à parte, porque nunca fui fã do conceito de festa, que envolve barulho e muita confusão.

Mas são 25 anos. Era ano de exceção - não só pelo número bem redondo mas também pela fase da vida que vivo. É o primeiro ano que festejo com um namorado ao lado, que retirou de mim a sensação eterna de estar só, independentemente de estar só com ele ou ter o mundo à minha volta; é o afirmar de uma nova fase, pessoal e profissional - tão importantes e tão vincadas que é impossível ignorar. Por ter toda a gente que importa à minha volta.

Por todos percebermos isso, queríamos celebrar.

Esquecemo-nos que a vida dá muitas voltas. E que raio de volta esta, que mexeu não só comigo, não só como os outros, mas com o mundo inteiro. As séries e os livros de suspense e ficção científica não podiam ter adivinhado o que se avizinhava - num dia tínhamos uma vida normal, noutro estamos presos em casa. As notícias gritam estado de emergência. Contágio à mínima coisa. Mortes. Infetados. De um dia para o outro fecha tudo, de uma noite para a outra não sabemos se continuamos a trabalhar ou se devemos ficar em casa.

Hoje faço 25 anos. Em 25 anos é a primeira vez que não estou com os meus irmãos, seus cônjuges e filhos neste dia que marca o meu nascimento. Foi a primeira vez que não pude abraçar a minha mãe mal abri a porta da cozinha. Em que não pude dar um beijo ao meu pai quando o vi a chegar. Foi a primeira vez desde que cozinho que não fiz um bolinho para que todos pudéssemos comer ao jantar, depois do cabrito assado da minha mãe (o meu prato de eleição). 

É um dia tão feliz como triste: por saber que os anos continuam a contar e que a minha vida está recheada de coisas boas, mas por outro lado por não as conseguir partilhar com quem verdadeiramente amo e faz parte de mim e desta jornada. Que estes tempos de isolamento e de diversidade sirvam para percebermos a importância de pequenas coisas que há um par de dias tínhamos como garantidas. E não falo da festa de anos.

O beijo de uma mãe.

O abraço de um pai.

O canto em uníssono dos meus irmãos a entoarem-me o "Parabéns a Você" - um momento que até hoje passava à frente sem grandes dramas -, enquanto espero para soprar as velas, sem medo de infetar o bolo. 

 

Façamo-nos valer das novas tecnologias, que nos aproximam em tempos de distância. E que este aniversário, que decerto ficará para sempre na minha memória, sirva de exemplo para perceber o que realmente importa. Bem dizem que a "velhice" traz conhecimento associado.  E um quarto de século já é alguma coisinha ;)

 

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06
Ago19

Ter um blog é lembrarmo-nos do que fomos. Há oito anos que faço por recordar.

Escreve Ricardo Araújo Pereira no seu último livro: "Ser adulto é esquecer o que foi ser criança." O Ricardo é um génio, mas não é preciso muito para chegar a esta conclusão. Bato de caras com ela de cada vez que vejo um carro de condução a ser pressionado por um outro condutor, que tenta ultrapassar pela esquerda, pela direita e só não passa por cima porque o automóvel (ainda) não tem asas. Isto tudo porque já não se lembra do pânico que é estar ao volante de um carro pela primeira vez; do chato que é estar constantemente a ser mandado e corrigido por um instrutor; do suor que toma conta das mãos e do tremor que invade as pernas. Já se esqueceu. Ser adulto é esquecer.

É por isso que sei que ainda não sou adulta. Pelo menos, na maioria dos casos. Ainda me lembro de muita coisa - e, ai!, se me recordo daquelas aulas de condução! E, sobre o que não me lembro, (re)leio.

Este blog faz hoje oito anos e sinto que essa é a maior vantagem que ele me traz: lembrar-me de quem sou, de quem já fui, o que senti, o que pensei, pelo que passei. Tenho uma regra de ouro: nunca apagar um post. Por muito que me envergonhe, que não goste ou já não me identifique, ele está lá; porque em algum momento eu senti que ele fazia sentido. 

Racionalizar as coisas de forma a escreve-las é um exercício que me faz crescer todos os dias. Encontro as minhas próprias contradições, argumento contra mim mesma. Apuro as minhas ideias. E lembro-me delas com mais facilidade. Não me esqueço. Torno-me adulta, mas nem tanto.

Consigo recordar com precisão o impasse da minha mudança de área no secundário; a escolha do curso, o tormento do primeiro ano; a ânsia do primeiro trabalho, o terror de ter de me despedir; a aventura de entrar nos negócios de família, a loucura de começar a dar aulas de piano, a falta de vontade de tirar uma pós-graduação. Ter tirado a carta, ter entrado na faculdade, ter-me formado, ter sido tia mais uma vez, ter arranjado namorado, ter ultrapassado a morte de familiares, ter sido operada. Ter viajado - tanto!, e poder reviver tudo com tanto pormenor.

Ter um blog é ter a oportunidade de viajar no tempo. De não esquecer.

Ter um blog há oito anos é saber que temos parte da nossa vida escrita - no meu caso, um terço da minha história está aqui, para relembrar o que fui. E, em parte, para me lembrar todos os dias o que quero ser.

 

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20
Mar19

Vinte e quatro anos

Simpatizo muito mais com números pares; não sei porquê, mas dão-me uma ideia mais reconfortante e redonda do que os números ímpares, que na minha cabeça estão repletos de  arestas e picos e coisas não tão fofinhas. Por isso disse sempre que até gostava da ideia de me livrar dos 23 anos e passar para um número par.

Comecei a pensar sobre os meus 23 e reparei que houve, de facto, arestas. Lombas, chamar-lhe-ia. Ou uns buracos na estrada. Que, na verdade, fui eu que construi. Aos 23 saí do jornal, comecei a trabalhar com o meu pai, inscrevi-me numa pós-graduação, comecei a dar aulas de piano. E a sensação de estar perdida - algo que aconteceu muitas vezes, quase todos os dias deste meu ano 23 - foi compensada com o conforto de me sentir em controlo da minha vida e de finalmente estar a seguir o caminho que sonhei desde miúda.

Acho que foi o ano em que mais arrisquei e em que mais bati o pé - tanto aos outros como a mim mesma, aos meus preconceitos, medos e ideias demasiado enraizadas. Foi provavelmente o ano da minha vida com mais apostas de longo prazo, em que esqueci o prazer imediato, e em que pus todas as fichas na minha resiliência; sinto que colei os meus pés na terra e gritei "daqui não saio, daqui ninguém me tira", já a antever todos os ventos fortes e tempestades que se avizinhavam. Até ver, aguentei. Aguentei o peso emocional e a carga de trabalho que implicou voltar a estudar e aguentei os pequenos terramotos provocados pelo simples facto de viver com a mesma pessoa com quem trabalho e com quem passei a partilhar opiniões e decisões estratégicas de uma empresa.

Hoje entro nos 24 - número par, redondinho e bonito - e despeço-me dos 23 com um agradecimento profundo a todas as lombas que instalei no meu próprio caminho. Quase que fiz as pazes com os números ímpares, porque percebi que as arestas também podem ser uma coisa boa; se não fossem elas, se tudo fosse redondo e liso, não havia mudanças de direção. E quase tudo o que eu fiz nestes meus 23 foi definir ângulos de mudança, usar a régua e o esquadro e escrever a lápis o caminho por onde é suposto ir - nunca me esquecendo que posso apagar, mudar de ideias e voltar atrás... Mas que ao menos o risco já está traçado. Só falta mesmo percorre-lo.

Que os 24 continuem a ser uma bela viagem. Eu estou aqui, do lado da janela, à espera de ter boas vistas.

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20
Mar18

23! Hoje é dia de comer bolo e ter uma boa desculpa para isso!

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Hoje faço 23 anos.

Como costuma acontecer sempre que festejo o meu aniversário (calha sempre neste dia, coisa estranha!), andava a pesquisar uma imagem para assinalar esta data - que, embora não seja a minha favorita, é sempre algo a festejar. Lá pelo meio, encontrei uma postal um bocado feio que dizia "23: Stay patient and trust your journey". E eu, que nem sequer sei se acredito em coincidências ou destinos, pensei: caraças, é isto! 

Acho que os 23 vão ser diferentes e vão marcar uma viragem na minha vida. Tenho esperança que seja um dos anos em que mais me dedico a mim mesma, antes de me atirar de cabeça (e alma e coração) a projetos que me vão ocupar por inteiro.

Que me tragam força, paciência, perseverança e fé em mim própria, nas minhas decisões e no meu próprio caminho - e que tudo isso comece já hoje, por favor!

Que não seja só mais um. 

Que seja um ano do carago.

20
Mar17

Grata

Não sei porque não gosto de fazer anos, mas é uma coisa quase visceral. É acordar de manhã e pensar "oh não..." e querer e ficar mais um bocadinho na calmia dos lençóis. Tento sempre decifrar este tipo de sentimentos, perceber porquê que ao contrário das pessoas normais eu não consigo estar feliz neste dia que me celebra. Ainda não consegui, pelo menos de forma completa - mas acho que estou a chegar lá. E é o mesmo problema de sempre: as pessoas.

Este dia é um reminder de todas as pessoas que ganhei, que conquistei, que gostam de mim e que me amam; mas também é uma lembrança de todos os que perdi. Todo ele é uma gestão de expectativas. É estúpido, até porque as coisas nem sempre são lineares e eu já me esqueci de dar os parabéns a pessoas importantes para mim - mas é o que é.

É perceber quem se limita a escrever "parabéns" no teu mural do facebook; quem, ainda que não se lembrando, vê no facebook e pega no telemóvel para te mandar uma mensagem; é ver quem te liga e ainda manda uma mensagem como bónus; é ver quem te liga do nada, de forma inesperada e sem qualquer compromisso; é ver quem te escreve coisas bonitas, quem te diz que tem saudades mesmo não falando durante os outros 364 dias do ano  - e tu fingires que acreditas - e é ver quem não faz nada disso. E é perceberes que antes aquela pessoa te ligava e agora só te manda uma mensagem quase monossílabica; e é entenderes e veres na profundezas do teu ser que querias que aquela outra te dissesse mais que "parabéns".

A verdade é que as palavras valem pouco e os gestos falam por si e mais alto que qualquer outra coisa. O aniversário e só um dia - graças a deus! - mas serve de amostra daquilo que temos. Acho que mentimos quando dizemos que não nos importamos quando alguém de quem gostamos se esquece de uma data que, quer queiramos quer não, é especial; tão e simplesmente porque isso quer dizer que não pairamos na cabeça daquela pessoa, que não estamos no seu "espectro". E isso é triste, porque todas as relações - quer sejam de amizade, companheirismo ou amor - que não são correspondidas são simplesmente tristes.

Acredito muito em mim em determinadas coisas e relativamente a certas competências - mas nunca me apercebo do apreço que potencialmente os outros podem ter por mim. Acho sempre que sou o elemento descartável, o que não faz falta, o de substituição. E pode ser paranóia, e em alguns casos sei que sim, mas é algo que não consigo evitar; acho que há feridas que vão ser para sempre mal curadas, há coisas que doem demasiado, há perdas demasiado pesadas para serem esquecidas. E eu tenho, desde cedo, um saco cheio.

Por outro lado, hoje tive surpresas boas - principalmente vindas do mundo do trabalho. Sempre disse que não queria inimigos e sinto que estou a colher os frutos de uma entrada pacífica no mundo do trabalho. Recebi chamadas e mimos que nunca, nem nos meus sonhos, pensei receber. E fiquei mesmo, mesmo sensibilizada - ao ponto de me apetecer chorar um bocadinho de cada vez que clicava no "vermelho" do desligar. Os meus sobrinhos também me fizeram duas surpresas maravilhosas, com um recital de um poema e uma canção para mim, e eu não tenho como ficar derretida perante tantos gestos de carinho.

Obrigada a todos, do fundo do coração, pelos desejos de um bom aniversário. Foi mais um, já acabou e eu estou feliz por ter chegado ao fim. Agora tenho 364 dias de sossego =)

20
Mar17

22 velas

Hoje faço anos. Sempre que me perguntam qual é a minha data de aniversário digo "20 de Março" e, normalmente, acrescento: "ou acabo com o Inverno ou começo com a Primavera". É algo que acho giro. Não gosto de fazer anos, mas gosto do dia que escolhi (ou escolheram) para eu nascer: tanto pelo número como por esta particularidade que, por acaso, acho que tem muito que ver comigo.

Infelizmente, acho que sou um bocadinho desiquilibrada no que diz respeito ao estados de humor: ou estou muito bem ou estou muito mal. Não sou de muitos meios termos. Ou sou Inverno ou sou Primavera. Porque muito embora a estação "rival" do Inverno seja o Verão, a verdade é que a mudança mais drástica se dá na altura da Primavera: passamos de dias frios para um calorzinho bom; de árvores despitas para os troncos em flor; de céu cinzento para céu azul; de camisolas de gola alta para t-shirts de manga curta; de galochas para sandálias. E isso representa-me. Eu tenho verdadeiramente dias - e fases - de Primavera e outras de Inverno. E a verdade é que eu fujo da estação fria - tanto no sentido literal como figurado - como um gato foge de água, mas a verdade é que a vida se faz com todas as estações do ano.

Hoje, para além de fazer anos, começa a Primavera. Em 1995, há precisamente 22, era o último dia de Inverno. Contam-me os meus pais que estava um calor dos ananáses, vindo sabe-se lá de onde. Que passaram dos agasalhos para as mangas curtas, literalmente, do dia para a noite. Só previa aquilo que aí vinha - eu e as minhas mudanças drásticas de "temperatura".

Não escondi que nos últimos tempos o Inverno morou para estes lados. Tenho tentado gerir da melhor forma e passar para o outro lado da barricada - o florido, de céu limpo e todas essas coisa boas - e acho que, pouco a pouco, a coisa está a ir ao sítio. De uma forma geral tive uns 21 muito bons; revolucionaram-me a minha vida, foi um ano de mudança e de coisas muito, muito boas. De férias e momentos espetaculares, que guardo como referência daquilo que quero para os meus dias: leveza, saúde e simplicidade. Acho que o resto vem.

Hoje começa a Primavera. E eu, se pudesse pedir um desejo relativamente a estes 22 acabadinhos de chegar, era isso mesmo: que fosse Primavera durante grande parte dos meus dias.

 

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(desculpem, tinha de ser. são 22... mas com a panca do costume)

 

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