Somos o que comemos
Sou uma privilegiada. Por ter uma família espetacular, uma casa linda, saúde para mim e para os meus, disponibilidade financeira para ir fazer umas férias de última hora. Mas também por almoçar e jantar sempre com os meus pais, por eles serem (bem) formados e me transmitirem toneladas de conhecimento todos os dias, desde o momento em que pus os pés neste mundo. Ainda por cima complementam-se, em todos os sentidos: um sabe mais de letras, outro de números; um cai para a esquerda na política, outro para a direita; um pensa mais com a cabeça, outro mais com o coração. Tenho sempre os dois lados a puxarem por mim, o que dá um intermédio perfeito e a necessidade de ter a minha própria opinião e personalidade, não caindo sempre (e apenas) para um dos lados.
Isto para dizer que cada vez me apercebo mais da sorte que tenho, em muitos pequenos pormenores. Hoje, por exemplo, vi uma reportagem da SIC que anda aí nas bocas do mundo: "Somos o que comemos". De facto, vale a pena ver e pode ser o impulso para mudanças de vida e um verdadeiro "abre-olhos". Vi muita gente alarmada por esse facebook e blogs fora, dizendo que não imaginavam a porcaria que metiam no corpo e etc. Perante isto, também eu fui a correr ver a reportagem e percebi... que não me deram nenhuma novidade.
O meu pai bombardeia-nos quase todos os dias - às refeições, lá está - com novidades científicas, passando por todos os campos: saúde, nutrição, astronomia, física, enfim... Considero-o um cientista-não-praticante, escondido por detrás de um computador, mas não há dúvidas de que é uma verdadeira fonte de conhecimento ambulante - muito, em parte, por todos os artigos científicos que lê diariamente. E que, depois, nos transmite, de forma resumida e simplificada - e até dissimulada por entre as conversas corriqueiras do dia-a-dia.
E é por isso que quase tudo o que foi dito naqueles três quartos de hora já não eram nada de novo para mim, nem constituíram grande alerta. Aprendi a mal, há uns dez anos atrás, a ler os rótulos, quando descobrimos que o meu irmão era diabético - ele próprio me esteve a explicar, ainda era eu miúda, as partes que importam daquelas tabelas pequeninas, como ver os açúcares e não me deixar levar por publicidades enganosas. Só isso foi um grande avanço e é raro pegar em iogurtes, cereais ou bolachas e não olhar para esses valores.
Mas ao longo dos anos também fomos mudando a alimentação cá em casa: acabaram-se os fritos e os sumos, come-se mais peixe, muito mais carnes brancas. Tenho a sorte de ter horta e animais em casa, por isso muitos dos legumes e fruta que comemos são caseiros, sem todas aquelas porcarias que existem naqueles que compramos nos supermercados; o mesmo se passa com as galinhas e os coelhos, que são criados sem rações de engorda e comem o que gostam e bem lhes apetece. Eu, à semana, só bebo água e como sopa sempre duas vezes por dia (aprendi a gostar); como sempre, pelo menos, uma peça de fruta por dia. E, como sabem, há coisa de ano e meio comecei a praticar exercício físico com regularidade. Peco um bocadinho no sal e, quando estou em dias maus, enfio-me na cozinha a cozinhar doces - mas tudo feito por mim, nada processada, e bem consciente daquilo que estou a meter no corpo (nomeadamente nas ancas). Por isso, embora com falhas pontuais, estou orgulhosa!
Podem ver a reportagem aqui.