Sobre a passagem do tempo
Hoje - o meu primeiro dia de férias daquelas que serão, provavelmente, as minhas últimas férias grandes - fui fazer uns recados, incluindo uma ida ao correio, que fica mesmo ao lado da minha escola secundária. Como de costume estava meio mundo dentro dos CCT - uma pessoa perde uma vida de cada vez que lá vai. Tinha vinte pessoas à minha frente e o que me sobrou foi tempo para ver o que me rodeava.
Pouco depois de eu ter entrado, entrou também um grupo de amigas que tinham claramente aproveitado o intervalo da escola para enviar qualquer coisa. Ficaram ali perto de mim e eu estive a reparar nelas, de calções curtinhos ou super skinny jeans, mochila pousada só num ombro mas, ainda assim, com o caderno de fora para mandar alguma pinta e uma maquilhagem mais perfeita do que eu alguma vez consegui fazer a mim mesma. Nos aspetos físicos eram diferentes de mim, mas as conversas delas fizeram-me retroceder no tempo. Falaram dos professores, das aulas, dos testes, dos dramas do tão afamado concurso de dança que sempre houve lá na escola - e, por fim, inventaram uma desculpa conjunta por chegarem atrasadas às aulas seguintes por estarem nos correios com meio mundo à frente delas (tal como eu estava). E nisso eram iguaizinhas a mim. No fundo, iguais a todos os estudantes do secundário.
E eu sinto que aquela realidade me é super próxima. Sempre que passo em frente à escola sinto que continua a ser a minha escola; espreito sempre para ver se estão professores à porta e sinto que aquele ainda não deixou de ser um mundo meu. Não sei porquê, mas a minha cabeça dá o salto automático desde o secundário para a fase em que estou agora, pré-mercado de trabalho, sem dar grande conta dos três anos da faculdade. De tal forma que, quando me perguntam que idade tenho, disparo automaticamente "18". E isto não aconteceu uma ou duas vezes: acontece sempre. O meu cérebro parou ali e acho que também por isso continuo a achar que só saí da escola o ano passado e que tudo continua igual a sempre.
É difícil acreditar como as coisas passam tão rápido. Como há decisões que custam tanto a tomar, como nos dói e como sofremos e, depois de tomadas, a vida avança como se nada fosse até à próxima etapa, cheia de novas e difíceis decisões pelo caminho. Sinto que foi há um par de dias que saí de lá com a mala no ombro, sem carta de condução e à espera da boleia do meu pai para me levar a casa; e agora estou a uma cadeira de terminar a faculdade e com um posto de trabalho à minha espera em Setembro. É assustador.