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Entre Parêntesis

Tudo o que não digo em voz alta e mais umas tantas coisas.

09
Dez16

Sobre a complexidade de ser uma "loner"

“Let me tell you this: if you meet a loner, no matter what they tell you, it's not because they enjoy solitude. It's because they have tried to blend into the world before, and people continue to disappoint them.”

Jodi Picoult, My Sister's Keeper

 

Acho que não há nenhuma tradução perfeita a palavra "loner" para português. "Solitário" não é abrangente o suficiente, não tem a carga emocional que "loner" carrega. De qualquer das formas sempre senti que esta era uma das palavras do mundo que mais se ajustam a mim. A sua complexidade encaixa-me como uma luva.
Digo que "loner" tem uma carga emocional complicada porque a entendo profundamente - e sei que toda ela é feita de paradoxos dolorosos e de um confronto com a nossa própria essência. Explicando: eu gosto de estar sozinha - na verdade, chego à conclusão que não sei estar de outra forma. Mas por outro lado é inerente à condição humana precisar dos outros, conviver, amar. E isto abre um gap gigante entre mim e o mundo, porque  preciso e gosto das pessoas, mas a necessidade de estar sozinha faz com que muitas vezes as ponha na prateleira à espera da próxima necessidade, qual frasco de especiarias à espera de ser usado e apetecido na próxima iguaria. Sei que isto soa mal, mas é difícil pôr uma coisa a soar bem quando ela própria não é bonita. É um ato profundamente egoísta e eu lamento que a minha tendência seja sempre esta, muito embora a tente contrariar.
Por outro lado a solidão é algo enraizado em mim. O facto de precisar de estar sozinha em quantidades maiores que o normal e aconselhado, aliado ao facto de ser uma péssima companheira, criaram desde muito cedo um ambiente propício para que o bicho da solidão se mudasse de vez o meu casulo. E ele é caseiro, nunca sai. Porque nunca, independentemente de onde esteja e com quem esteja, deixo de me sentir só - porque sei que, pela condição da vida ou simplesmente pela minha forma de viver e não-amar, tudo é finito e que eu acabarei impreterivelmente só.

Nunca escondi que sempre tive poucos amigos - aliás, muitas vezes não tive nenhuns. Sempre lidei com isso como pude: pensando muito, escrevendo, rindo quando a ocasião é para tal. Gozo com a minha anti-sociabilidade e com a minha agenda social "hiper-preenchida", porque é a forma de tirar peso a algo que ao longo dos anos tenho sabido lidar mas que me demorou muito tempo a compreender e a aceitar. A verdade é que acho que sou assim e a culpa não é dos que me rodeiam, mas minha. Não sou parva ou ingénua ao ponto de pensar que todos eventualmente se afastam por causas exteriores à nossa relação ou por culpa deles próprios ou de algo que essas pessoas fizeram. É como uma turma onde, a uma disciplina, só há negativas e nas outras os resultados se mantêm normais: normalmente a culpa vai para cima dos alunos mas, nesse caso em particular, a culpa pode mesmo ser do professor. E neste caso o professor sou eu: sou eu quem tem o defeito e não todos os outros.

Numa fase inicial cheguei a achar que sim: que tinha azar nas pessoas que me calhavam na rifa, que éramos feitos de matérias diferentes, que tínhamos diferenças inconciliáveis. Se calhar em muitos casos é verdade - houve situações que me magoaram profundamente, que deixaram cicatrizes que não vão passar e que provavelmente são a razão para hoje em dia querer um afastamento constante de todos aqueles que aparentemente têm uma ligação direta ao fundo do meu coração; pode até não passar de um instinto de auto-defesa, mas a verdade é que ele existe e é sentido. Por mim e pelos outros. Faço muitas coisas mal, nisto das relações. Por um lado canso-me das pessoas, por outro sou chata e muito exigente com quem me rodeia; às vezes sinto necessidade de falar e mando mensagem, noutras não respondo durante horas; uns dias são insuportavelmente solitários e só quero é o aconchego de alguém, outros rejeito um café porque me apetece ficar de pijama. Se esta fosse uma fórmula matemática provavelmente daria zero. Zero pessoas, zero amigos - porque ninguém resiste a tanto e eu tenho mais é que compreender. Vale-me a minha família que, por ser grande e incrível, me acompanha e faz as vezes de melhores amigos do mundo - com a mais valia de que não poderem fugir, porque a força do sangue não o permite.

Normalmente, quando defino os temas das minhas publicações, tenho logo em mente um início e um fim. Neste só tinha o início - talvez porque é impossível descrever isto, algo que é tanto uma característica como um defeito, que é tão meu e tão difícil de (d)escrever e admitir. Podia escrever infinitamente mas, no fundo, este post não passa de um pedido de desculpas por ser como sou, quem sou e por uma das piores partes de mim. E um obrigado. [A quem tentou. A quem ainda tenta. E a quem desistiu.]

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