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Entre Parêntesis

Tudo o que não digo em voz alta e mais umas tantas coisas.

16
Jan17

Sobre a complexidade de construir uma história ou uma simplicidade escondida

Não é segredo para ninguém que o meu grande sonho é escrever livros. E quando eu digo "escrever livros" não me refiro a compilações de textos soltos, crónicas e coisas desse género - porque aí já podia ter uns cinco! -, mas sim a ficção. Quero um dia, mais do que partilhar os meus sentimentos, ideias e peripécias, conseguir criar uma história de raiz e fazer com que os leitores se embrenhem nela.

Até hoje tal nunca aconteceu. Sei que há muita gente da minha idade que já tem imensa coisa escrita, mas não é o meu caso - e sinceramente é algo que me apoquenta, porque nunca vi em mim a capacidade de construir histórias. Há imensas pessoas que, desde pequenas, inventam personagens, sítios e enredos, mas eu nunca fui assim; adoro perder-me em mundos criados pelos outros, mas não tenho grande capacidade de criar os meus, e temo que isso me impeça de escrever (bem) uma narrativa. No entanto, tenho esperança que a experiência de vida me dê novas ideias, perspetivas e aprendizagens nesse sentido. Ainda assim, tento ler sempre muito sobre o assunto, tanto por parte de quem sabe como de escritores, que são os melhores mentores possíveis.

E uma das coisas que mais me fascina no processo de criação é a construção das personagens e as suas ligações. Acho que um escritor tem de ter uma mente muito vasta para imaginar toda uma árvore em que tudo se liga para um determinado fim, tendo de ser realista e humano enquanto descreve todos aqueles acontecimentos. No entanto sempre me questionei até que ponto é que a profundidade dessas ligações é de facto criada pelos escritores ou se são os leitores, às vezes de forma obsessiva (eu, Carolina, me confesso) que as criam. Para além disso, acho sinceramente que são feitas leituras excessivas de todas e quaisquer frases que são escritas - um "sim" pode querer somente dizer "sim" e não trinta coisas diferentes; acho que às vezes os leitores têm tendência a dar mais significado às coisas do que as próprias pessoas que as escrevem.

Eu explico: peguemos no caso de J. K. Rowling, com os livros do Harry Potter. Há uns meses largos, quando tive a ideia de criar este post (sim, são estes os meus tempos de atraso...), cruzei-me com um post repleto de factos interessantes sobre o HP. Vejamos: "O último livro da saga decorre no ano em que o 1º livro é publicado, e muitos indicam que a frase “I open at the close” tem, realmente, um duplo significado." Outro exemplo: "Se alterarmos a ordem das letras do nome Remus Lupin, podemos escrever “primus lune” que se pode traduzir como “primeira lua”". Eu adoro a J. K., acho-a um génio, mas questiono-me muitas vezes: será que ela pensou, de facto, em tudo isto?! Todos os "potterheads" podem corroborar comigo: há teorias sobre tudo o que envolve o Harry Potter, desde os nomes das personagens, passando pelas suas famílias, feitiços e etc. Mas eu acho humanamente impossível que alguém tenha uma história tão bem construída, que tudo tenha uma razão por detrás, um significado subliminar. Penso, sim, que tal acaba por ser fruto de um trabalho posterior, tentando responder às milhentas perguntas de inúmeros leitores famintos que querem saber de coisas que nem tinham ocorrido ao escritor enquanto escrevia.

Há dias li uma notícia que contava que a autora de um poema que apareceu num manual escolar tinha reclamado devido ao facto de nem ela - que era a autora! - conseguir responder a uma pergunta que era feita sobre o seu texto. Acho que, muitas vezes, temos a tendência de esmiuçar tanto os textos, as frases e as palavras que complicamos tudo e esquecemo-nos de que, como na vida, há coisas que são como são, tão simplesmente. Lembro-me de pensar muito nisto quando dei Camões, altura em que me senti uma completa analfabeta - [supostamente] percebia tudo ao contrário, as minhas interpretações eram completamente díspares daquelas que eram propostas pelos autores e professores. E eu, nessa altura, anuía simplesmente e concordava, mas a verdade é que Camões já não está cá para dizer porquê - e sobre quê - que escreveu determinado soneto, pelo que não há prova dos nove possível para tirar as teimas.

Já foi o tempo em que escrevia textos que só eu entendia - diria que agora 90% daquilo que escrevo é claro como a água, sem mensagens subliminares. Mas a verdade é que se me mostrarem um dos textos que cabem nesses 10% que restam, eu provavelmente já não me vou recordar dessa corrente de "porquês/ para quês/ para quem's" que está por detrás daquilo. As coisas que escrevemos no momento fazem sentido naquele contexto, com aquele sentimento - e depois, como tudo o que é visto a longa distância, vão perdendo o sentido e eventualmente o valor. E a verdade é que nunca são perfeitos, porque são genuínos - porque pouco do que sentimos é racional e extremamente pensado. Por isso contem comigo para desconfiar sempre daquelas pessoas que têm narrativas construídas ao milímetro, com personagens desenhadas até ao âmago, com histórias de vida desde o primeiro minuto de idade - porque a verdade é que, na realidade, nós somos um esboço em constante criação, as coisas mudam e nada é perfeito. E se um livro se quer realista... tem de haver imperfeição, incoerência e irracionalidade à mistura - porque na vida também não há explicações para tudo.

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